Pois é, caí no velho conto da promessa de ano novo. Uma delas foi retomar o blog. Mas sem obrigações, sem perfil definido, um pouco do que penso e quero registrar, um pouco do que leio, do que faço. Do que tiver a fim.
Acabo de concluir a leitura da biografia de Jim Morrison, "Ninguém sai vivo daqui". Não sou fã do The Doors. Curto, mas fã não. Sou fã é dos "loucos", dos que fazem diferente, dos que se apresentam originalmente. Por isso ando lendo bastante biografia nos últimos tempos.
A loucura sempre me fascinou. Desde adolescente, quando uma tia foi trabalhar em hospital psiquiátrico relativamente perto de minha casa. Ia com ela nos domingos à tarde visitar os pacientes. Hospício é deprimente, sempre. Ficava com a impressão de que aquelas pessoas estavam sendo sacaneadas por quem os colocava ali. Que a loucura era só um outro jeito de normalidade. Os loucos, na maioria das vezes para mim, eram apenas incompreendidos. Quando a loucura era do tipo violenta... aí sim, eu aceitava o encarceramento.
Depois expandi o círculo, passei a visitar outros hospícios. O que eu mais gostava de ir era um que ficava perto do Museu do Homem do Nordeste, não sei qual o bairro exatamente. Tinha um professor de física que sabia seis idiomas, e tudo o que falava traduzia nos seis idiomas. Era meio chato pela repetência. Gostava de conversar com uma garota que tinha cerca de 20 anos e estava ali há meses. A família a trancafiou num hospício quando descobriu que fumava maconha. Era louca por isso, na opinião dos nobres familiares. Uma senhora, com cerca de 40 anos, foi trancafiada porque um dia teve um lapso de memória e passou dois dias sem lembrar quem era. Depois lembrou, mas a família achou melhor deixa-la internada "por precaução". Num hospício.
Família ê, família a, família, como cantavam os Titãs.
Agradeço muito meus familiares por pensarem diferente, e ao mundo psiquiátrico do bem que exterminou essa farra dos maus familiares.
E aí criaram para Jim Morrison a fama de ser louco. Louco nada! Era birrento, mimado, lindo, poeta e boêmio. Isso não é loucura, é personalidade.
Pelo que o livro diz, ele levava a vida de um astro de rock - coisa que ele era mesmo. Sexo, drogas e rock. Seu diferencial era o perfil poeta, abafado pelo glamour da carreira. No mais, fiquei com a impressão de ser uma pessoa intragável no convívio diário. Bom livro para quem curte a cena do rock, como eu. Para quem tem curiosidade de descortinar as lendas, ou reforça-las. Queria entender por que Morrison era uma lenda. Descobri: era genuíno.
Agora chegou a vez de Kerouac. Começando On the Road.