terça-feira, 27 de agosto de 2013
NADA RESTARÁ DA TROPA A NÃO SER UMA VAGA LEMBRANÇA…
Com a devida vénia ao autor deste artigo republico neste espaço por rever na globalidade.
“Nenhuma coisa desta vida humana é tão
aproveitável aos viventes que a lembrança
e memória dos bens e males passados para
do mal nos guardarmos, regendo a vida para
nele não cairmos segundo os bons fizeram”.
Gaspar Correia, in “Lendas da Índia”
Fui, recentemente, acompanhar um camarada à sua derradeira morada terrena.
É um acontecimento que sempre acompanhou a minha vida militar (mesmo sem nunca ter entrado em combate), mas que a roda da vida tende a tornar mais frequente relativamente àqueles que nos são mais próximos.
Uma das características e prerrogativas que acompanham a “condição militar” é a do direito a que cada um tem de lhe serem prestadas honras militares fúnebres, em função do seu posto – e, até, de algumas condecorações que ostentem – segundo fórmula regulamentar (hoje já muito simplificada em função dos cada vez menos efectivos e meios existentes).
Este direito é sustentado no dever dos que ficam, tanto individual como institucionalmente, em as prestar, condignamente, constituindo uma tradição centenária, que nada nem ninguém deve interromper.
Os cemitérios/talhões de militares são, também, uma homenagem póstuma e perene, a todos aqueles que pereceram ao serviço da Pátria, incluindo os que, mortos em batalha, não puderam usufruir das honras completas.
Mesmo aqueles cuja identidade se perdeu, têm direito a um túmulo a eles dedicado, que entre nós se encontra no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, alumiado por azeite votivo e guardado por sentinelas entre o nascer e o pôr - do - sol: o túmulo do soldado desconhecido.
O féretro do coronel, meu muito caro camarada de armas e de curso, passou o portal do cemitério sem que vislumbrasse peugada da guarda – de – honra, como determinado e previsto.
Enquanto o corpo aguardava a decisão de prosseguir para a tumba, coberto com a bandeira das quinas – a que se devia seguir um militar transportando, numa almofada, o boné, as condecorações e a espada (símbolo da autoridade), do defunto – chegou uma viatura militar de onde saíu, atrasada, a dita guarda.
Uma rápida conferência entre alguns dos presentes, decidiu pelo “mal menor” que foi o de reenviar à procedência o pelotão (menos), com a admoestação – apesar de tudo, simpática – de que o que aconteceu não podia ter acontecido, à qual o oficial comandante da força retorquiu com desculpas contristadas.
Veio a saber-se, mais tarde, as razões do sucedido, que são bem o espelho da triste realidade a que chegámos e que se continua a querer tapar do mesmo modo que se tenta tapar o sol com uma peneira.
Dada a extrema penúria de praças resultado do fim do serviço militar obrigatório, e dos cada vez maiores cortes (catastróficos) efectuados em tudo o que mexe nas FA, é muito difícil que o efectivo das honras fúnebres esteja concentrado numa única unidade militar.
Tal implica que existam militares escalados/de alerta em vários quarteis que é preciso convocar (por SMS, telefone, mail?) – deve aqui referir-se que o funeral se realizou em Lisboa, em que a distância entre a Igreja, o cemitério e as unidades militares era mínima.
Acresce a isto que as unidades encontram-se hoje despidas de militares depois do toque de ordem (se é que ainda existe), excepção feita para o modestíssimo número de pessoal de serviço, pois fora do período de recruta, uma qualquer instrução ou treino, ou alteração do grau de alerta, todo o mundo tem direito a ir para casa.
Tal deve-se (para além do já referido), à quase “regionalização” do serviço militar (a rapaziada parece que não pode estar longe das famílias, tão pouco das escolas – um dos grandes atractivos do voluntariado é a possibilidade de tirar cursos) e ao facto de, aos comandos, não lhes desagradar a ideia de verem os militares fora dos quartéis, dado que se evitam problemas disciplinares e, desde que as mulheres passaram a invadir a vida militar, sempre se minimiza a hipótese de cópula intramuros (Já quando havia SMO abreviava-se sempre que possível a sua presença nas unidades para poupar nas refeições...).
A abundância de transportes ajuda.
Bom, convocar pessoal nestas condições, para a cerimónia em causa aumenta enormemente o risco de atrasos e de faltas.
Com o efectivo finalmente concentrado, o oficial encarregado desta missão teve a presciência de indagar se todos os presentes estavam familiarizados com a “ordem unida” que teriam que efectuar e rapidamente se apercebeu que uma parte das praças não estava, pelo que numa tentativa de resolver o problema, decidiu, ali mesmo, proceder a uma instrução sumária.
Eis pois levantado o véu da causa do atraso. Caberá a quem de direito, tirar as ilações adequadas.
As cerimónias fúnebres e as honras militares são realizadas em memória dos mortos, mas ainda mais a pensar nos vivos. Ou seja o exemplo é para quem fica.
Para além de uma homenagem é uma manifestação de solidariedade de toda a família militar; um sentimento de pertença, coesão, camaradagem, espirito de corpo, etc., de quem serviu segundo os mesmos princípios no cumprimento de uma mesma missão.
Passa por ser um elo que a todos liga – do passado para o presente com vista ao futuro – e que mantém a instituição, que se pretende perene, focada nos seus valores.
Sem sombra de dúvida as FA são a instituição nacional por excelência, em que os seus servidores são acompanhados e cuidados desde que “assentam praça” até que dão baixa para a sepultura.
Só nessa data são desmobilizados…
Assim devia continuar a acontecer de modo a que o profissional das armas possa continuar a “SER” em vez de apenas “ESTAR”.
Posicionamento e filosofia que faz confusão a muito boa gente e que, não poucos pretendem mudar radicalmente.
A velha questão da “instituição” em contraponto ao “emprego”!
Por isso temo bem, que quando se olhar para o fundo da questão abordada, a decisão seja a de não resolver as causas, mas a de iludir os efeitos. Ou seja acabam rapidamente com as honras fúnebres…
Aconselho vivamente os oficiais e sargentos do quadro permanente a tornarem-se historiadores. Só aí, terão futuro.
Pois a continuar a actual senda, da Instituição Militar Portuguesa, irá restar apenas uma (vaga) lembrança.
João J. Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
domingo, 18 de agosto de 2013
FESTA DO PONTAL
Para aqueles que tentam denegrir a Festa do passado dia 16 e que duvidam do fato de terem estado cerca de duas mil pessoas, fica aqui um pequeno exemplo do meu bilhete; a seguir a mim entraram muitas centenas e outros já não puderam fazê-lo.
O partido está galvanizado!
O partido está galvanizado!
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
BOM EXEMPLO DE LUSOFONIA
OPINIÃO
Postal de Lisboa 02 Maio 2013
Escrevo-vos de Edimburgo, cidade declarada pela UNESCO património da Humanidade, onde encontrei o Luís Soares, um cabo-verdiano de Santiago, a dar aulas de português a meninos escoceses filhos de portugueses: “hoje é dia da letra “F” da foca e da Fifi, do fato fino e também de ‘Family’” dizia o Luís, num bilingue inglês/português claro e impecável, a um grupo de dez crianças, correspondendo ao esforço, heróico e comovente, que as famílias fazem todos os sábados, para que os seus filhos, a estudar em escolas escocesas, não percam a língua de Camões. Na mesma sala, a sua mulher, Ilse, natural da Guiné-Bissau, filha de um professor cabo-verdiano, explicava a outras de idades mais avançadas, incluindo a sua filha Alicia, a composição de um poema português.
De Otília Leitão
Luís
Soares, 44 anos, é um homem das Ciências da Comunicação, que já foi jornalista.
Veio para a capital desta região autónoma do Reino Unido há dois anos e meio,
convidado pela Universidade de Edimburgo, onde está a fazer doutoramento sobre
os efeitos do uso do telemóvel na comunidade de pastores Massai do Quénia, no
Instituto para o Estudo da Ciência e Tecnologia no departamento das Ciências
Sociais e Políticas deste centro de investigação, uma das mais importantes
universidades do Reino Unido. Aqui convive com investigadores dos mais diversos
países de África.
A
descoberta de Luís Soares prende-se com o hábito que cultivo de, sempre que me
desloco a um local estrangeiro, saber se existe alguém da comunidade
cabo-verdiana, tanto mais que sendo banal em Londres, seria menos comum numa
cidade onde, mesmo se o sol tenta brilhar, as temperaturas teimam em ser abaixo
de zero grande parte do ano e no máximo no Verão 20 graus positivos. A minha
tentativa começou pela pesquisa, através da Internet, se havia um cônsul
honorário por lá.
Verifiquei
que James Rust aparecia como cônsul de “Portugal e Cabo Verde”. Enviei-lhe uma
mensagem na dúvida de que me responderia, mas James Rust disse primeiro que
desconhecia a existência de qualquer cidadão cabo-verdiano, na região, mas que
iria saber, e fê-lo: Na verdade são pouquíssimos, confirmado por Luís Soares,
que diz ter encontrado um músico Tony e um outro, funcionário de supermercado.
Também
os portugueses não são muitos nesta região fria (estimam-se em cinco centenas)
mas Luís, cujo dom da comunicação não o deixa ficar parado, anda a fazer um
inventário dos portugueses e cabo-verdianos que porventura estejam na capital
escocesa. Até já descobriu uns portugueses a trabalhar numa fábrica de
bolachas, bem no norte da Escócia, nas Highlands, onde o frio é tanto que a
média de esperança de vida das pessoas é inferior à média britânica.
Aliás,
o pequeno grupo de portugueses jovens e em geral casados com parceiros locais,
que se empenha na aprendizagem e divulgação da língua comum, mantém um blogue
designado “Portugueses na Escócia – Tugomania”, além de outro existente “Tugas
na Escócia”, para ampliar a rede de contactos de portugueses residentes e dos
que querem aqui viver. Vários formados, referem o vazio e o abandono que sentem
das autoridades portuguesas. O seu elo de contacto é a professora, leitora do
Instituto Camões, Helena McDonald, portuguesa e residente há muitos anos na
Escócia, a quem chamam “uma verdadeira embaixadora”. A burocracia constitui um
dos maiores obstáculos ao registo dos seus filhos como portugueses, havendo
casos surrealistas de “burocracite” documental.
Luís,
natural da Cidade da Praia, veio para Portugal aos três anos. Fez a sua
licenciatura e mestrado na Universidade Católica, onde foi aluno brilhante. Em
Edimburgo, trabalha em part-time numa empresa internacional de computadores e
mantém um programa musical de rádio às terças-feiras, sobre música dos países
da lusofonia (www.castlefmscotland.com
(19/21H) “Em breve vou mudar o nome do meu programa RAIZES para ECOS, para ser
mais abrangente”, refere o Luís, que projecta criar em Edimburgo um Centro
Cultural português.
Com
ele e a sua família – Alicia depois da aula seguiu para o Ballet – tomei um
café num dos locais, perto do centro da cidade, zona onde o Luís, também atleta
é popular. Das suas motivações, o Luís acentua: “aqui as pessoas são
valorizadas, os cidadãos contam” enfatizou, num tom crítico para situação
portuguesa, contando-me que tem todo o seu tempo ocupado.
“Toda
a gente é ensinado a partilhar, a fazer voluntariado, a ter uma causa a que se
dedicar, facto que antes me intrigara ao folhear uma revista escocesa e ter
verificado que era referenciado nas pessoas que participavam em eventos
públicos, as pulseiras ou adereços de adorno, que significavam tendências na
defesa de causas, quer seja o combate ao cancro, a favor das crianças mais
desprotegidas, de pesquisas de saúde ou culturais”.
Uma
das curiosidades é o facto dos bancos nos jardins ou simplesmente nas paragens
de autocarros terem inscrito o nome de um escritor, de um poeta, de uma
personalidade politica ou científica. As pessoas podem, por exemplo, solicitar
à governação local a inscrição num banco, de um nome seu familiar falecido.
A
convivência com a morte é igualmente notória. Os cemitérios que estão dentro da
cidade, pessoas a que se junta a transformação de igrejas em “pubs”, cafés ou
residências de luxo. O famoso cão “terrier escocês” lá tem a sua campa, um
ícone desta região autónoma que já foi independente e continua a lutar por o
ser. O “Bobby” terrier, quando morreu o seu dono, acompanhou o seu corpo e
sentou-se na campa, deixando-se ali morrer. (v. foto).
“Foi
na Universidade de Edimburgo que aprendi a ver África doutro modo, de forma
mais científica, sem clichés. As pessoas são apreciadas pelo que valem e fazem,
no seu conteúdo e não pelos aspectos físicos”, acrescentou Luís, corroborado
por Ilse, a sua mulher que estudou Gestão em Portugal, agora numa pausa em
benefício familiar. Ilse frisou que em Edimburgo, “se uma criança chama a outra
de “monhé” ou “preta’ ou põe em evidência um aspecto ou deficiência física de
outra é penalizada, existindo mesmo uma multa”. Ilse faz igualmente
voluntariado e nota que na Escócia, há muito cuidado com as crianças: “Se há um
atraso, ou uma falta, a escola liga logo a saber o motivo”.
Não
obstante, os jornais locais dão conta de criminalidade sofisticada e sobretudo
de abusos sexuais em crianças, através do uso das redes sociais, alguns deles
reportados pela polícia e que dão conta de professores a fomentarem os seus
alunos a colocarem no Facebook as suas brincadeiras sexuais.
A
imigração nesta cidade de arquitectura gótico-georgiana sobre uma zona
vulcânica é sobretudo da Índia e Paquistão que em geral trabalha sector da
restauração e comércio de produtos. O nível de vida é superior a Portugal, com
salários mais elevados. Quase não há desemprego havendo também um culto de
empregabilidade de todas as idades em part-time.
Luís
considera a sociedade escocesa extremamente educada, onde “gift” (dádiva) é o
sinal de partilha desde criança e todos aprendem ser úteis porque o Estado tem
pelos seus cidadãos estima e valor.
Por
isso, Luís Soares, já está a preparar-se para a célebre maratona de Edimburgo,
a correr 42 quilómetros, dia 26 de Maio numa capital medieval de mais de 300
qualidades de Whisky escocês, de escritores (Walter Scott, famoso romancista,
tem direito a uma estátua) dos festivais de música e dos clãs culturais e
guerreiros que se esmeram na escolha dos “tartan” ou tecidos em xadrez de
várias cores com que confeccionam os famosos Kilt (ou Quils, saias de pregas)
de origem da cultura Celta, traje obrigatório em cerimónias oficiais e
casamentos tradicionais (v.foto inc.).
As
Highlands (ilhas e lagos do norte da Escócia) de onde vem grande parte da
riqueza em animais, carne, indústria de tecidos de lã, continuam a alimentar a
fantasia de alguém avistar o monstro do famoso lago Loch Ness.
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