Os desenhistas de Curitiba encontram-se todos os Domingos para desenhar. Já levam mais de 70 encontros sem falhar, e no dia seguinte ao fim do simpósio, voltaram a fazê-lo, desta vez em Paraty. Para além de persistentes e talentosos, são também muito divertidos, a avaliar pelo José Marconi e a sua encantadora mulher Lia.
Na noite de 5ª feira, eu e o João Catarino saímos meio a correr da Casa da Cultura, quartel general do simpósio e fugidos do concerto que estava a ter lugar àquela hora, porque ainda não tínhamos jantado. Fomos "sequestrados" pela Fernanda Vaz de Campos, talvez a mais incansável de todo o staff do simpósio, que nos levou a um restaurante italiano carregadinho de urbansketchers daqueles bons, dos que estavam em Paraty para ensinar e que conhecemos dos livros. Passava das dez da noite, pedimos uma massa servida num prato fundo daqueles que também podem levar um caldo. Sem dar licença fomos surpreendidos pelo Marconi e pela Lia, que se sentaram ao nosso lado. A Lia mandou vir duas cachaças, e ofereceu-me uma. Não reclamei. Por entre conversas divertidas e gargalhadas da Lia absolutamente inesquecíveis, o José contou uma estória deliciosa:
Num desses domingos dos encontros de Curitiba, foram desenhar para um circo. Foram aparentemente muito bem recebidos, pelo anãozinho, a mulher barbada, os trapezistas, todos, para uma manhã de desenhos insólita. Já depois do almoço, e chegado em casa, o Marconi percebeu que tinha esquecido o desenho em algum lugar. O circo!
Regressou ao circo a meio da tarde, sozinho. Encontrou um lugar diferente, vazio de gente divertida, uma espécie de cenário retirado de um daqueles filmes da máfia. Ninguém o tratou bem. Nem o anãozinho, nem a mulher barbada, nem os trapezistas.
"Ok, não havia mulher barbada, fui eu que inventei. Mas tudo o resto é verdade", disse o Marconi.
Disseram-lhe que não tinham encontrado desenho algum.
"Vai embora!", gritaram.
"Mas eu não saio daqui sem o meu desenho", sublinhou o Marconi, enquanto a Lia ria que nem uma perdida.
Foram chamando gente, nenhum com vontade de ajudar. Chamaram o chefe do circo, o dono dos anões, da mulher barbada e dos trapezistas. Não, afinal não havia mulher barbada.
"Você sabe que no circo tudo tem um preço?", disse o grande chefe.
Parecia que pedia dinheiro pela devolução do desenho, que lhe tinha sido oferecido como um presente muito especial. Existia cada vez mais tensão e vontade de sair dali.
" Eu não saio daqui sem o meu desenho!"
E conseguiu! Parabéns Marconi, um desenhista de Curitiba nunca se deixa intimidar por um qualquer "Padrinho" de meia tijela, tirado de um filme de Francis Ford Coppola...
The Circus burglar
The urbansketchers from Curitiba meet every Sunday to draw. They aready take more than 70 meetings without fail, and following the end of the symposium day, they did it again, this time in Paraty. Besides persistent and talented, they are also very funny, judging José Marconi and his charming wife Lia.
On the evening of Thursday, me and João Catarino went out, running through the Casa da Cultura, the ymposium headquarters, fleeing the concert that was taking place, because we had not eaten yet. We were "kidnapped" by Fernanda Vaz de Campos, perhaps the most tireless of all the staff from the symposium, which took us to a Italian restaurant full with good urbansketchers, those who were in Paraty to teach and we know from the books. It was after ten o'clock, we ordered pasta, served in a deep dish those who can also take a soup. Without asking permission we were surprised by Marconi and Lia, who sat next to us. Lia ordered two cachaças, and offered me one. I did not complain. Through funny stories and a laughter absolutely unforgettable from Lia, José told a delightful story:
On one of those Sunday meetings in Curitiba, they went to a circus to draw. Apparently they were very well received by the dwarf, the bearded lady, the trapeze artists, for a morning of unusual drawings. Already after lunch, at home, Marconi realized that he had forgotten the drawing somewhere. The Circus!
He returned to the circus in the afternoon, alone. He found a different place, empty of fun people, a kind of scenario taken from one of those movies from a mafia place. Nobody treated him well. Neither dwarf nor the bearded lady or the trapeze.
"Ok, there was no bearded lady, I invented. But everything else is true," said Marconi. They told me they had not found any drawing.
"Go away!" they said.
"But I'm not leaving here without my drawing!" said Marconi while Lia laughed as a lost.
No one was there willing to help him. They call the head of the circus, the owner of the dwarves, the bearded lady and trapeze artists. No, there was no bearded lady.
"You know that in the circus everything has a price?" Said the big boss.
It seemed that they wanted money for the return of the drawing, which had been offered to him as a very special gift. José felt an increasing tension and desire to leave.
"I'm not leaving here without my drawing!"
And he did it! Congratulations Marconi, one sketcher from Curitiba can never be intimidated by any ridiculous "Godfather", from a Francis Ford Coppola film ...