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10/09/2016

A vendedora de peixe

Na última tarde que passei na Ilha do Sal, despi o traje de turista e vesti, ainda que momentaneamente, a de viajante. Foi um dos momentos que mais me marcou nesta viagem, e tive muita pena de não ter feito uma escapada destas a cada um dos dias.
Sentei-me no chão do passeio, ao lado do Carlos, que estava deitado num papelão aberto de um caixote. Perguntei a uma senhora sentada numa lata de tinta virada ao contrário, ladeada de um carro de mão muito velho cheio de peixe, e um alguidar de peixe já amanhado, se a podia desenhar. Disse que sim.
A Ilisabete Monteiro é natural da Ilha de Santiago, e é vendedora de peixe. Meio envergonhada ou talvez incrédula, pediu-me que não desenhasse as moscas, às centenas em volta daquele carro de mão e do alguidar azulado. Quando me viu a dar aquele carrinho de brincar a um menino que passava, perguntou-me se não tinha outro para um filho pequenino dela. Felizmente que ainda tinha um guardado na mochila, passei-lho para a mão quase tão contente como ela. Daí a nada o Carlos e o Jorge iriam pedir-me para os desenhar e ajudar a comprar uma garrafinha de grogue...

Conclusões desta tarde e de toda a viagem a Cabo Verde:
- Despir a farda de turista pelo menos por um par de horas por dia, em todas as viagens de férias que faça daqui para a frente.
- Levar mais brinquedos na mochila quando voltar a um destino encantador, mas pobre como este.
- Trazer na bagagem pelo menos o dobro dos desenhos e o triplo das estórias que trouxe desta vez...

On the last afternoon I spent in Sal Island, I undress the tourist costume and dress, even momentarily the traveler one. It was one of the emotional moments I had this trip, and I was very sorry not to have made a getaway like this each day.
I sat on the sidewalk floor, next to Carlos, who was lying in an open cardboard  box. I asked a lady sitting on a paint can turn upside down, flanked by a very old wheelbarrow full of fish, and a fish bowl, if I could draw her. She said yes.
Ilisabete Monteiro was bornin Santiago island, and she sells fish for a living. Half embarrassed or perhaps incredulously she asked me to not draw flies, hundreds around that wheelbarrow and blue bowl. When she saw me giving that toy car to a boy who was passing by, she asked me if I had another one to her tiny son. Fortunately I still had stored one in my backpack, I gave it to her almost as happy as she was. In the next minute Carlos and Jorge would ask me to draw them and to support with an euro for them to buy a bottle of grogue ...

Conclusions from this afternoon and the whole trip to Cape Verde:
- Undressing the tourist uniform at least for a couple of hours everyday day in my all holiday trips from now on.
- Take more toys in the bag when you traveling again to a lovely destination, but poor like this one.
- Bring in my luggage at least the double of the drawings and the triple of the stories I brought this time ...


Do lado direito, o Carlos e o Jorge, que desenhei também nesta tarde. 


09/09/2016

Bar da piscina

Não tive grande vontade de desenhar durante o dia. 
Abri uma excepção para desenhar uma das piscinas do hotel, a que tinha uma ponte de madeira a atravessar de um lado ao outro, e um bar mesmo no meio. Íamos a nadar até ao balcão, e por ali ficávamos, sentados dentro de água a beber uma Strela, a cerveja produzida em Cabo Verde e que me matou a sede por estes dias...

I had no special desire to draw during the day.
I opened an exception to draw one of the hotel pools, which had a wooden bridge to cross from one side to the other, and a bar right in the middle. We swam to the counter, and stay there, sitting in the water drinking a Strela, a beer produced in Cape Verde and that killed my thirst for these days ...


08/09/2016

Noite Cabo Verdiana

Num dos serões animados no hotel, assistimos a um espectáculo vibrante de dança e música Cabo-Verdiana. Os corpos atléticos deles e delas luziam debaixo daquelas luzes amarelas do palco, suados pelo calor e pelos movimentos. Uma das dançarinas mais formidáveis tinha uns cabelos meio louros e uma cara linda de morrer. É a que aparece no meio do desenho com os lábios pintados de vermelho muito vivo. Ao meu jeito, também eu saí daquele serão e deste desenho meio apaixonado...

In one of the funny evenings at the hotel, we witnessed a vibrant spectacle of dance and music from the locals. Their athletic bodies shone under those yellow lights of the stage, sweating by heat and movement. One of the most formidable female dancers had a half blond hair and a terrific beautiful face. It is the one that appears in the middle of the drawing with the painted lips in a very bright red. In my own way, I also left that place and this drawing a litlle bit in love ...


07/09/2016

Banhudo e Carnapete

No nosso segundo dia na Ilha do Sal, conhecemos um simpático casal de Portugueses de Cantanhede, que tinha chegado um dia depois de nós ao mesmo hotel. A sua simpatia era proporcional à originalidade dos seus apelidos: Banhudo e Carnapete, Nuno e Vera respectivamente. Estavam com as suas lindas filhas Maria e Sara, de nove e cinco anos, e até à nossa partida para Portugal foram muitas vezes nossos companheiros de praia, piscina, jantares e paródia. 
Desconfio que o meu filho Manel regressou meio apaixonado...

On our second day in Sal Island, we met a friendly couple of Portuguese from Cantanhede, who had arrived a day after at the same hotel. Their sympathy was proportional to the originality of their surnames: Banhudo and Carnapete, Nuno and Vera respectively. They were with their beautiful daughters Maria and Sara , nine and five years, and until our departure to Portugal they were often our beach mates, pool, dinners and drinks.
I suspect that my son Manel returned probably in love ...


06/09/2016

"Sodade"

Todos os serões havia um espectáculo qualquer dentro do nosso hotel, fazia parte do tal "tudo incluído", modalidade que experimentei pela primeira vez e que não me deixou saudades.
Nesta primeira noite havia música ao vivo. Sentei-me no chão, bem perto daquele trio, apesar de no desenho aparecerem apenas dois. Enquanto desenhava, um menino lourinho, talvez inglês que não tinha mais que dois anos, sentou-se ao meu lado. Abriu a minha mochila e começou a espreitar lá para dentro. Tirou os estojos de lápis de cor. Abriu os fechos e espalhou-os pelo chão. Começou a desenhar numa folha pequenina que lhe dei para a mão.
O desenho contagia e diverte, não tenho dúvidas nenhumas...

Every evenings there was a show within our hotel, was part of this "all-included" thing, that I experienced for the first time and didn´t enjoyed.
In this first night there was live music. I sat on the floor close to that trio, although the drawinghas only two. While drawing, a blondie boy, perhaps from England who had no more than two years, sat beside me. He opened my backpack and started to peek inside. He took off my colored pencil cases. He opened the locks and spread them on the floor. He began to draw in a little paper I gave him to the hand.
Draing is contagious and fun, I have no doubt ...



05/09/2016

Praia de Santa Maria

A Praia de Santa Maria fica na extremidade mais a sul da Ilha do Sal. Tem uma areia amarela muito fininha, e uma água morna de cor azul esverdeada. Fiz este par de desenhos debaixo do sol tórrido, antes do meio dia, sem uma pinga de vento ou aragem, a destilar que nem um animal. Nos dias que se seguiram não voltei a fazer tamanho disparate...

Santa Maria Beach is at the south of Sal Island. It has a very thin yellow sand, and a warm water in blue-green color. I made this pair of drawings under a scorching sun, before noon, without a drop of wind or breeze, melting like an animal. In the next days I did not did the same ridiculous thing ...



04/09/2016

A viagem

Existem poucas sensações tão boas como a de viajar para um lugar pela primeira vez. 
Enquanto fazia este desenho, o meu filho Vasco tentava ler um livro que comprou de propósito para esta viagem, com uma calma indisfarçável pela excitação da viagem e pelas férias que daí a nada iriam começar. Sentado ao lado da Susana, o Manel não aparece no banco da frente, que ainda não tem tamanho que chegue.
Três horas depois, pouco antes da meia noite de lá,  aterrávamos na ilha do Sal em Cabo Verde. Descemos as escadas do avião, e atravessámos a pista a pé, abafados por um calor tropical que nos iria acompanhar naqueles oito dias...

There are few feelings as good as traveling to a place for the first time.
While doing this drawing, my son Vasco tried to read a book bought on purpose for this trip, with undisguised calm about the excitement of the journey and the vacations that would start in a couple of hours. Sitting next to Susana, Manel does not appear in the front seat, he has no size to arrive with the head to the top.
Three hours later, just before midnight local time, we landed on Sal Island in Cape Verde. We went down the aircraft stairs, and crossed the landing strip, drowned out by a tropical heat that would follow us those eight days ...


31/08/2016

Gente boa

Este foi o último desenho que fiz na ilha do Sal, onde estive uma semana. 
De todos os desenhos que fiz, este é o mais autêntico, e que me encheu verdadeiramente a alma, deixando-me sentida saudade daquele lugar. Não foi um desenho do turista, mas sim do viajante. 
Guinei à esquerda depois das ruas dos bares e lojinhas de artesanato, que me parecia tudo um bocado postiço. Foi num passeio à sombra que encontrei o Carlos e o Jorge, algures pelo chão. O Carlos deitado em cima de um caixote de papelão aberto, o Jorge de cócoras na beirinha do passeio. Sentei-me ao lado deles a desenhar a Ilisabete, uma senhora que vendia peixe dentro de um carro de mão, com um zumbido de moscas impossível de reproduzir. Enquanto a desenhava, o Carlos e o Jorge foram conversando comigo, estávamos a um palmo de distância. Um rapazinho de dois anos espreitou o meu desenho, dei-lhe um carrinho de corda que levava na minha mochila. O Carlos e o Jorge divertiram-se a lançar o carrinho, papelão acima, papelão abaixo, perante o olhar surpreendido daquele menino. 
O Jorge veio da Ilha de Santiago para vender peixe em Santa Maria. O Carlos é tratador de peixe (tira-lhe as tripas e limpa-os antes de serem vendidos), e veio da mesma ilha. Pediram-me que os desenhasse. Fiz-lhes a vontade, deliciado pelo momento. Perguntaram-se se lhes podia fazer um agrado. Perguntei qual. Pediram-me um euro para juntar a outro que tinham, para comprar uma garrafinha pequenina de grogue, uma aguardente potentíssima feita com cana de açucar. Larguei os lápis de cor por alguns momentos, bebemos um penalti de grogue cada um. Depois terminar o desenho, pediu-me o caderno e desatou dali a correr, radiante, a mostrar a todos os daquela rua o seu retrato. Bebemos mais um copo de grogue. Pedi-lhe a morada, que lhe prometi enviar uns brinquedos e roupas para o seu filhote de dois anos. Disse-me que não tinha morada, mas que enviasse para o posto dos correios, escrevendo o nome dele, que havia de lhe chegar.
Saí dali emocionado, com vontade de permanecer até ficar noite. 
A mesma noite em que iria regressar a Lisboa, com tantos desenhos de viajante por fazer...

This was the last drawing I did on Sal Island, where I was a week ago.
From all the drawings I did, this is the most authentic, and that truly filled my soul, leaving me longing felt that place. It was a drawing from the "non tourist", but from the traveler.
I turned left after the street of bars and craft shops, which seemed all a bit fake. It was in the side walk in the shade I met Carlos and Jorge, sitted on the floor. Carlos lying on top of an open cardboard box, Jorge squatting on the side walh stone. I sat next to them to draw Ilisabete, a lady who was selling fish in a wheelbarrow, with flies buzzing, impossible to reproduce. While drawing, Carlos and Jorge were talking to me, we were a foot away. A boy of two years peeked my drawing, I gave him a car ty that I had in my backpack. Carlos and Jorge started to throw the car, cardboard up, cardboard down, facing the surprised boy.
Jorge came from Santiago Island to sell fish in Santa Maria. Carlos is fish handler (takes away the guts and cleans them before being sold), and came from the same island. They asked me if I could draw him. Of course I said, delighted by the moment. They asked if they could do a treat. I asked what. They asked me one euro to join another one they have to buy a little bottle of grog, a very powerful spirit made from sugar cane. I dropped the crayons for a few moments, we drank a penalty of grog each. After finishing the drawing, he asked me the sketchbook and start running, radiant, to show all people on that street his portrait. We drank another glass of grog. I asked him the address, I promised to send him some toys and clothes for his two-year boy. He told me he had no address, but I could sent the package to the post office, writing his name, will be enough.
I came away thrilled and emotioned, desiring to stay there until night.
The same night I would return to Lisbon, with many traveler drawings to be done...