quarta-feira, 17 de outubro de 2018

os crisântemos vão morrendo...



procuro apoio, o sono já me dobra
e o sonho já me convida
dou por mim jovem, sentada à lareira
e minha avó mexendo o café
na cafeteira.... o outono vai adentrando
como a querer chamar o frio,
e ela mulher do seu tempo
no rosto mantém o desgosto e
no olhar o vazio
assaltam-me as saudades destes momentos
dias cinzentos, com a chuva a bater no telhado
e eu com um ar descuidado, libelinha sempre
a crescer, na esperança de voar
tudo em meu redor se aquieta
apenas dos galhos secos o crepitar
lá fora os crisântemos vão morrendo
enquanto eu vou dizendo, o padre nosso a
avé maria, e minha avó agora o terço dedilha

acabada a reza, um ténue suspiro de alento
escutamos a noite e uma solidão sem par
no céu nem uma estrela, o povo recolhido
e eu desenho no bafo do vidro
sonhos de encantar
estou bem acordada ainda
e minha avó sempre com esta tristeza que não finda
degrada-se a lembrança do tempo que foi feliz
e como pomba sem ninho, a felicidade
ficou pelo caminho.
na parede quase nua, apenas um retrato
do homem jamais esquecido
em seu coração de sombra já vestido

à luz da candeia ali ficámos depois da ceia
mais um serão se passou e eu durmo na minha lembrança
adentro-me em mim mesma, vou onde posso sentir-me
escondo-me atrás das horas, deito a cabeça no regaço da avó
e nunca me sinto só...................no sonho deixo-me afundar
e apalpo palavras para a saudade embalar...

natalia nuno
rosafogo




segunda-feira, 15 de outubro de 2018

chega a hora...



a noite envolve a terra cobre-a em breve com manto de escuridão, já a harmonia da tarde se quebra, dormem os vivos, e minha alma erra, canta o rio com voz clara e sonora, enquanto no peito bate lento o coração, chega a hora, recolhem-se os pássaros nenhum ficou de fora, o ar é morno e à escrita retorno... o vento fala-me da saudade e aqui me deixo diante da vidraça enquanto ela me abraça, a noite chega silenciosa, só o vento em desalinho senhor da liberdade faz subir o perfume da última rosa, é então que finjo que existo e no sonho persisto, sacudo o sono dos dedos, invento-me pássaro, poiso nos teus olhos, cruzo-me com teus sonhos, mas não me atrevo a pousar os pés por não saber mais quem és! 

natalia nuno

domingo, 14 de outubro de 2018

a noite morreu...



hoje não lembro onde deixei as mãos, queria tanto baloiçar nelas os sonhos, lapidar ilusões, deixar sentimentos ao rubro, acreditar que o sol ainda é sol, que no meu peito ainda há fogueira, soltar gritos, disfarçar as rugas desta casa velha... a minha cabeça é um baú de memórias, que as minhas mãos vão bordando no silêncio, no frio da insónia... mas, hoje minhas mãos não têm poesia, ficaram paradas no silêncio, a noite morreu e eu não as reconheço, talvez queiram que enlouqueça em paz, com a saudade a viver dentro de mim e a boca cheia de silêncios...

natalia nuno
uma pequenina e muito singela prosa, feita aqui e agora, neste domingo soalheiro, e que ofereço a todos a todos os meus amigos que gostam de ler.