- Sabes, Patrícia, quando te falei da minha vida não fui, totalmente, sincero. - João travava uma luta interior sem saber se lhe havia de dizer que era casado ou não. Tinha que tomar uma decisão rapidamente.
Ela olhava expectante, só pensava "é agora que ele me vai dizer que é casado". João pegou-lhe na mão e disse:
- Desculpa não te ter dito antes mas eu tenho um filho. Tem 7 anos. A mãe não o pôde ir buscar ao colégio e ligou-me várias vezes para o ir buscar mas, como eu estava contigo, não ouvi o telemóvel. Ele ficou sozinho no colégio e quem acabou por o ir buscar foi a avó materna. A mãe do Tiago é médica, houve um imprevisto no hospital e ela teve que fazer mais um turno. Quando é assim, eu costumo ficar com ele.
- Ufa, não imaginava que fosse isso.
- Então o que é que pensaste?
- Deixa lá, agora já não interessa. Só não percebo porque é que estás aqui. Saiste a correr para ir ter com ele, certo?
- Sim mas a nossa relação não é muito próxima. Ele é muito mais próximo da mãe. Quando estou sozinho com ele nunca sei bem como ocupar o tempo. Ele pediu-me muito para o deixar ficar em casa da avó que eu acedi. Vou buscá-lo amanhã de manhã.
- Olha, João, não faças isso muitas vezes por mais que o teu filho te peça. Eu também sou filha de pais separados e, infelizmente, quando eu dizia que não me apetecia ir a casa dele ou sair com ele o meu pai não insistia. A pouco e pouco foi-se afastando até a nossa relação ser praticamente inexistente. Não queiras isso para o teu filho. - o olhar de Patrícia tornara-se triste lembrando a falta que o pai lhe tinha feito.
João não conseguiu resistir a acariciar o belo rosto de Patrícia. Ela sorriu-lhe e beijou os dedos que lhe tocavam.
- Não vamos falar do meu passado porque já não o posso alterar. Tu ainda podes mudar o teu presente. Não será difícil arranjar coisas para fazeres com o teu filho, algo que ele possa recordar para a vida. Por exemplo, já o ensinaste a andar de bicicleta? Eu lembro-me bem de quando o meu pai me ensinou a andar de bicicleta. Foi no ano anterior ao divórcio.
- Por acaso, nunca me lembrei disso. Estamos sempre mais em casa.
- Fazes mal. Uma criança de 7 anos precisa de ar livre, precisa de correr e saltar.
- Realmente, és bem capaz de ter razão. Se bem que hoje até podia ter agradecido ao Tiago por ter querido ficar em casa da avó. Assim tive oportunidade de vir aqui jantar contigo. - João exibiu um sorriso tão maroto que parecia um míudo.
Patrícia retribui-lhe o sorriso e levantando-se disse:
- Vou trazer a sobremesa, volto já.
Enquanto ela se atarefava entre o congelador e o micro-ondas, João, não suportando mais o desejo que o consumia, levantou-se, abraçou-a carinhosamente depositando um beijo naquela curva do pescoço que o estava a tentar desde que chegara:
- Nenhuma sobremesa será tão doce como tu, Patrícia.
Ela sentiu-se o corpo ficar mole enquanto se derretia como o gelado que tinha em cima da bancada. Voltou-se, olhou dentro dos olhos de João e viu o desejo que reflectiam. Sentiu-se um pouco assustada mas mesmo assim entregou-se ao beijo que recusara antes...