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Pepe Rodriguez e a Igreja e a mentira do CELIBATO

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , , , , , , , , , , | Posted on 22:32

Links do Tema, retirada dos Véus às Religiões, no blog por ordem: 

 

Mentiras da Igreja Católica

Por Pepe Rodríguez   

PRÓLOGO
(source)

Igreja Católica de São Pedro - Mentiras Da Igreja Católica

Pepe Rodríguez nos desvela nesta magnífica obra as entranhas da Igreja Católica, de que modo, com o passar do tempo, mal interpretaram as sagradas escrituras em benefício e lucro de uma instituição que longe de divulgar fielmente os ensinamentos de Jesus os perverteram para encher suas arcas.

O autor nos demonstra, após uma exaustiva investigação, que aqueles supostos guardiões da palavra de Jesus a transformaram, obrigando de maneira sutil e enganosa muitos fiéis laicos e clérigos a crer na postura do “celibato” como estado ideal para a concepção do divino no ser humano. No entanto, evidentemente, segundo a exposição de Pepe Rodríguez, a idéia do celibato não é apoiada pelos Evangelhos nem muito menos pelo próprio Jesus.

Mostra também o espinhoso tema das más formações psicopatológicas sofridas pelos sacerdotes por estarem obrigados a reprimir a necessidade de uma sexualidade normal.

E se destapam os motivos pelos quais a Igreja Católica prefere manter uma postura tão distante do Cristianismo como a do celibato, ainda que isto pressuponha: danar a saúde mental dos seus clérigos, prejudicá-los no seu desenvolvimento emocional e impulsioná-los muitas vezes a cometer atos “sexuais” delitivos contra menores e adultos.


Capítulo I

COMO A IGREJA CATÓLICA MAL INTERPRETOU DE FORMA INTERESSADA O NOVO TESTAMENTO PARA PODER IMPÔR SUA VONTADE ABSOLUTA SOBRE O  POVO E O CLERO

A hermenêutica bíblica atual garante absolutamente a tese de que Jesus não instituiu praticamente nada e menos ainda qualquer modelo determinado de Igreja. Pelo contrário, os textos do Novo Testamento oferecem diversas possibilidades na hora de estruturar uma comunidade eclesial e seus ministérios sacramentais1.

Segundo os Evangelhos, Jesus só citou a palavra «igreja» em duas ocasiões e em ambas se referia à comunidade de crentes, jamais a uma instituição atual ou futura. Mas a Igreja Católica empenha-se em manter a falácia de que Cristo foi o instaurador de sua instituição e de preceitos que não são senão necessidades jurídicas e econômicas de uma determinada estrutura social, conformada a golpes de decreto no decorrer dos séculos.

Assim, por exemplo, instituições organizativas como o episcopado, o presbiterado e o diaconato, que começaram a formar-se nos fins do século II, foram defendidas pela Igreja como dadas “por instituição divina” (fundadas por Cristo)2, até que no Concílio de Trento, em meados do século XVI, foi mudada habilmente sua origem e passaram a ser «por disposição divina» (por arranjo, por evolução progressiva inspirada por Deus). E, finalmente, a partir do Concílio Vaticano II (documentos Gaudium et Espes, e Lumen Gentium), na segunda metade do século XX, a estrutura hierárquica da Igreja já não tem suas raízes no divino senão que procede “do antigo” (é uma mera questão estrutural que se tornou costume).

São muitas as interpretações errôneas dos Evangelhos que a Igreja Católica realizou e sustentou veementemente ao longo de toda sua história. Erros que, em geral, devem atribuir-se antes à malícia e ao cinismo e não à ignorância - nada depreciável, por outro lado -, já que, não por acaso, todos eles resultaram imensamente benéficos para a Igreja em seu afã de acumular dinheiro e poder. Mas neste capítulo vamos ocupar-nos só de duas mistificações básicas: a que corresponde ao conceito da figura do sacerdote e a que transformou o celibato numa lei obrigatória para o clero.

Os fiéis católicos levam séculos crendo de olhos fechados na doutrina oficial da Igreja que apresenta o sacerdote como um homem diferente dos outros - e melhor que os laicos -, “especialmente eleito por Deus” através de sua vocação, investido pessoal e permanentemente de sacro e exclusivo poder para oficiar os ritos e sacramentos, e chamado para ser o único mediador possível entre o ser humano e Cristo. Mas esta doutrina, tal como sustentam muitos teólogos, entre eles José Antonio Carmona3, nem é de fé, nem tem suas origens além do século XIII ou finais do XII.

A Epístola aos Hebreus (atribuída tradicionalmente a São Paulo) é o único livro do Novo Testamento no qual se aplica a Cristo o conceito de sacerdotehiereus -4 , mas se emprega para significar que o modelo de sacerdócio levítico já não faz sentido a partir de então. “Tu [Cristo] és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedec - se diz em Heb 5,6 -, não segundo a ordem de Aarão”.

Outros versículos - Heb 5,9-10 e 7,22-25 - também deixam assentado que Jesus veio a abolir o sacerdócio levítico, que era tribal - e de casta (pessoal sacro), dedicado ao serviço do templo (lugar sacro) para oferecer sacrifícios durante as festas religiosas (tempo sacro) -, para estabelecer uma fraternidade universal que rompesse a linha de poder que separava o sacro do profano5. E em textos como o Apocalipse - Ap 1,6; 5,10; 20,6 -, ou a I Epístola de São Pedro - IPe 2,5 - o conceito de hiereus/sacerdote já se aplica a todos os batizados, a cada um dos membros da comunidade de crentes em Cristo, e não aos ministros sacros de um culto.

A concepção que a primitiva Igreja cristã tinha de si mesma - ser “uma comunidade de Jesus”- foi amplamente ratificada durante os séculos seguintes. Assim, no Concílio de Calcedônia (451), seu cânon6 era taxativo ao estipular que “ninguém pode ser ordenado de maneira absoluta –apolelymenos - nem sacerdote, nem diácono (...) se não lhe foi atribuído claramente uma comunidade local”. Isso significa que cada comunidade cristã elegia um de seus membros para exercer como pastor e só então podia ser ratificado oficialmente mediante a ordenação e imposição de mãos. O contrário, que um sacerdote lhes viesse imposto desde o poder institucional como mediador sacro, é absolutamente herético6 (selo que, estrito sensu, deve ser aplicado hoje às fábricas de curas que são os seminários).

Nos primeiros séculos do cristianismo, a eucaristia, eixo litúrgico central desta fé, podia ser presidida por qualquer varão - e também por mulheres - mas, progressivamente, a partir do século V, o costume foi cedendo a presidência da missa a um ministro profissional, de modo que o ministério sacerdotal começou a crescer sobre a estrutura sócio-administrativa que se denomina a si mesma sucessora dos apóstolos - mas que não se baseia na apostolicidade evangélica e muito menos na que propõe o texto joanino - em lugar de fazê-lo a partir da eucaristia (sacramento religioso). E daquelas poeiras vêm as atuais lamas.

No Concílio III de Latrão (1179), que também pôs os alicerces da Inquisição, o papa Alexandro III forçou uma interpretação restringida do cânon de Calcedônia e mudou o original titulus ecclesiae -ninguém pode ser ordenado se não é para uma igreja concreta que assim o demande previamente - pelo beneficium - ninguém pode ser ordenado sem um benefício (salário da própria Igreja) que garanta seu sustento-. Com este passo, a Igreja traía absolutamente o Evangelho e, ao priorizar os critérios econômicos e jurídicos sobre os teológicos, dava o primeiro passo para assegurar para si a exclusividade na nomeação, formação e controle do clero.

Pouco depois, no Concílio IV de Latrão (1215), o papa Inocêncio III fechou o círculo ao decretar que a eucaristia já não podia ser celebrada por ninguém que não fosse “um sacerdote válido e licitamente ordenado”. Havia nascido os exclusivistas do sacro, e isso incidiu muito negativamente na mentalidade eclesiástica futura que, entre outros despropósitos, coisificou a eucaristia - despojando-a do seu verdadeiro sentido simbólico e comunitário - e acrescentou ao sacerdócio uma enfermiça - ainda que muito útil para o controle social - potestade sacro-mágica, que serviu para enquistar até hoje seu domínio sobre as massas de crentes imaturos e/ou incultos.

O famoso Concílio de Trento (1545-1563), profundamente fundamentalista - e por isso tão querido para o papa Wojtyla e seus ideólogos mais expressivos, leia-se Ratzinger e Opus Dei -, em sua seção 23, referendou definitivamente esta mistificação, e a chamada escola francesa de espiritualidade sacerdotal, no século XVII, acabou de criar o conceito de casta do clero atual: sujeitos exclusivamente sacros e forçados a viver segregados do mundo laico.

Este movimento doutrinário, que pretendia lutar contra os vícios do clero de sua época, desenvolveu um tipo de vida sacerdotal similar à monacal (hábitos, horas canônicas, normas de vida estritas, tonsura, segregação, etc.), e fez com que o celibato passasse a ser considerado de direito divino e, portanto, obrigatório, dando o ajuste definitivo ao édito do Concílio III de Latrão, que o considerava uma simples medida disciplinar (passo já muito importante por si porque rompia com a tradição dominante na Igreja do primeiro milênio, que considerava o celibato como uma opção puramente pessoal).

O papa Paulo VI, no Concílio Vaticano II, quis remediar o abuso histórico da apropriação indevida e exclusiva do sacerdócio por parte do clero, quando, na encíclica Lumen Gentium, estabeleceu que “todos os batizados, pela regeneração e unção do Espírito Santo, são consagrados como casa espiritual e sacerdócio santo (...). O sacerdócio comum dos crentes e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, ainda que diferem em essência e não só em grau, no entanto se ordenam um ao outro, pois um e outro participam, cada um a seu modo, do único sacerdócio de Cristo”.

Em síntese - embora seja entrar numa chave teológica muito sutil, mas fundamental para todo católico que queira saber de verdade que posição ocupa dentro desta Igreja autoritária -, o sacerdócio comum (próprio de cada batizado) pertence à koinonía ou comunhão dos fiéis, sendo por isso uma realidade substancial, essencial, da Igreja de Cristo. Enquanto o sacerdócio ministerial, como tal ministério, pertence à diakonía ou serviço da comunidade, não à essência da mesma. Neste sentido, o Vaticano II restabeleceu a essência de que o sacerdócio comum, consubstancial a cada batizado, é o fim, enquanto o sacerdócio ministerial é um meio para o comum. O domínio autoritário do sacerdócio ministerial durante o último milênio, tal como é evidente para qualquer analista, tem sido a base da tirânica deformação dogmática e estrutural da Igreja, da perda do sentido eclesial tanto entre o clero como entre os crentes, e dos intoleráveis abusos que a instituição católica tem exercido sobre o conjunto da sociedade em geral e sobre o próprio clero em particular. Mas, como é evidente, o pontificado de Wojtyla e seus assistentes lutaram mortalmente para ocultar de novo esta proposta e reinstauraram as falácias trentinas que mantêm todo o poder sob as sotainas.

Dada a falta de legitimação que tem o conceito e as funções (exclusivas) do sacerdócio dominante até hoje no seio da Igreja Católica, repassaremos também, brevemente, a absoluta falta de justificativa evangélica que apresenta a lei canônica do celibato obrigatório.

No Concílio Vaticano II, Paulo VI - que não se atreveu a restabelecer a questão do celibato tal como solicitaram muitos membros do sínodo - assumiu a doutrina tradicional da Igreja ao deixar determinado - em (PO 16) - que “exorta também este sagrado Concílio a todos os presbíteros que, confiados na graça de Deus, aceitaram o sagrado celibato por livre vontade a exemplo de Cristo7, a que, abraçando-o magnanimamente e de todo coração e perseverando fielmente neste estado, reconheçam este preclaro dom, que lhes foi feito pelo Pai e tão claramente é exaltado pelo Senhor (Mt 19,11), e tenham também ante os olhos os grandes mistérios que nele se representam e cumprem”.

À primeira vista, na própria redação deste texto reside sua refutação. Se o celibato é um estado tal como se afirma, isto é, uma situação ou condição legal na que se encontra um sujeito, igualmente o será o matrimônio e ambos, quanto a estados, podem e devem ser optados livremente por cada indivíduo, sem imposições nem ingerências externas.

Em segundo lugar, o celibato não pode ser um dom ou carisma, tal como se diz, já que, do ponto de vista teológico, um carisma é dado sempre não para o proveito de quem o recebe mas para o da comunidade a qual este pertence. Assim, os dons bíblicos de cura ou de profecia, por exemplo, eram outorgados para curar ou para guiar a outros, mas não podiam ser aplicados em benefício próprio.

Se o celibato fosse um dom ou carisma, sê-lo-ia para ser dado em benefício de toda a comunidade de crentes e não só para uns quantos privilegiados, e é bem sabido que resulta uma falácia argumentar que o celibatário tem maior disponibilidade para ajudar os outros. O matrimônio, por outro lado, sim que é dado para contribuir ao mútuo benefício da comunidade.

Em todo caso, finalmente, em nenhuma das listas de carismas que transmite o Novo Testamento - Rom 12,6-7; 1 Cor 12,8-10 ou Ef 4,7-11- cita-se o celibato como tal. Logo, não é nenhum dom ou carisma por mais que a Igreja assim pretenda.

A pretendida exaltação do celibato pelo Senhor, citada nos versículos 19,10 do Evangelho de São Mateus, deve-se, com toda probabilidade, a uma exegese errônea dos mesmos, originada em uma tradução incorreta do texto grego (primeira versão que se tem de seu original hebreu), cometida ao fazer sua versão latina Vulgata.

Segundo Mt 19,10 Jesus está respondendo uns fariseus que lhe perguntaram sobre o divórcio, e ele afirma a indissolubilidade do matrimônio (como meta a conseguir, como a perfeição à que deve tender-se, não como mera lei a impor), à qual os fariseus lhe opõem a Lei de Moisés, que permite o divórcio, e ele responde8:

Moisés por causa da dureza de vossos corações vos permitiu repudiar vossas mulheres, mas ao princípio não foi assim. Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério. Os discípulos lhe replicaram: Se assim é a situação do homem relativamente à mulher, não convém casar. Mas ele lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido (ou pántes joroúsin ton lógon toúton, all’hois dédotail). Há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe, e há eunucos que foram castrados pelos homens, e há eunucos que se castraram a si mesmos por causa do reino dos céus. Quem pode receber isso, receba-o”.

Neste texto, que aporta matizes fundamentais que não aparecem na clássica Vulgata, quando Jesus afirma que “nem todos podem receber esta palavra” e “quem pode receber isso, receba-o”, está referindo-se ao matrimônio e não ao celibato, tal como tem sustentado até o presente a Igreja. As palavras ton lógon toúton referem-se, em grego, ao que antecede (a dureza do matrimônio indissolúvel, que faz os discípulos expressar que não vale a pena casar-se), não ao que vem depois. O que se afirma como um dom é o matrimônio, não o celibato e, portanto, contrário à crença eclesial mais habitual, não exalta a este sobre aquele, mas o contrário9.

A famosa frase “há os que se castraram a si mesmos por causa do reino dos céus”, tomada pela Igreja como a prova da recomendação ou conselho evangélico do celibato, nunca pode ser interpretada assim por dois motivos: o tempo verbal de um conselho desta natureza, e dado nesse contexto social, sempre deve ser o futuro, não o passado ou presente, e o texto grego está escrito no tempo passado. E, finalmente, dado que toda a frase referida aos eunucos está no mesmo contexto e tom verbal também deveria tomar-se como “conselho evangélico” a castração forçada (“há eunucos que foram castrados pelos homens”), coisa que, evidentemente, seria uma estupidez.

É óbvio, portanto, que não existe a menor base evangélica para impor o celibato obrigatório ao clero. Os primeiros regulamentos que afetam a sexualidade - e subsidiariamente o matrimônio/celibato dos clérigos – foram produzidos quando a Igreja, da mão do imperador Constantino, começa a se organizar como um poder sociopolítico terreno. Quanto mais séculos iam passando e mais se manipulavam os Evangelhos originais, mais força foi cobrando a questão do celibato obrigatório. Uma questão chave, como veremos, para dominar facilmente a massa clerical.



Até o Concílio de Nicéia (325) não houve decreto legal algum em matéria de celibato. No cânon 3 estipulou-se que “o Concílio proíbe, com toda a severidade, os bispos, sacerdotes e diáconos, ou seja, todos os membros do clero, de ter consigo uma pessoa do sexo oposto, a exceção de mãe, irmã ou tia, ou bem de mulheres das que não se possa ter nenhuma suspeita”, mas neste mesmo Concílio não se proibiu que os sacerdotes que já estivessem casados continuassem levando uma vida sexual normal.

Decretos similares foram somando-se ao longo dos séculos - sem conseguir que uma boa parte do clero deixasse de ter concubinas - até chegar a onda repressora dos concílios lateranenses do século XII, destinados a estruturar e fortalecer definitivamente o poder temporário da Igreja. No Concílio I de Latrão (1123), o papa Calixto II condenou novamente a vida em casal dos sacerdotes e avaliou o primeiro decreto explícito obrigando o celibato. Pouco depois, o papa Inocêncio II, nos cânones 6 e 7 do Concílio II de Latrão (1139), incidia na mesma linha - como seu sucessor Alejandro III no Concílio III de Latrão (1179) - e deixava perfilada já definitivamente a norma disciplinar que daria lugar à atual lei canônica do celibato obrigatório... que a maioria dos clérigos, na realidade, continuou sem cumprir.

Tão habitual era que os clérigos tivessem concubinas que os bispos acabaram por instaurar o chamado rendimento de putas, que era uma quantidade de dinheiro que os sacerdotes tinham que pagar para o seu bispo cada vez que transgrediam a lei do celibato. E era tão normal ter amantes que muitos bispos exigiram o rendimento de putas de todos os sacerdotes de sua diocese, sem exceção. E os que defendiam sua pureza foram obrigados a pagar também, já que o bispo afirmava que era impossível não manter relações sexuais de algum tipo.

A esta situação tentou pôr limites o tumultuoso Concílio de Basiléia (1431-1435), que decretou a perda dos rendimentos eclesiásticos aos que não abandonassem suas concubinas após ter recebido uma advertência prévia e de ter sofrido uma retirada momentânea dos benefícios.

Com a celebração do Concílio de Trento (1545-1563), o papa Paulo III - protagonista de uma vida dissoluta, favorecedor do nepotismo em seu próprio pontificado, e pai de vários filhos naturais - implantou definitivamente os éditos disciplinares de Latrão e, além disso, proibiu explicitamente que a Igreja pudesse ordenar varões casados10.

Enfim, anedotas à parte, desde a época dos concílios de Latrão até hoje nada substancial mudou a respeito de uma lei tão injusta e sem fundamento evangélico - e por isso qualificável de herética - como é a que decreta o celibato obrigatório para o clero.

O papa Paulo VI, em sua encíclica Sacerdotalis Coelibatus (1967), não deixou lugar a dúvidas quando assentou doutrina com este teor:

• «O sacerdócio cristão, que é novo, não se compreende senão à luz da novidade de Cristo, pontífice supremo e pastor eterno, que instituiu o sacerdócio ministerial como participação real de seu único sacerdócio» (núm. 19)
• “O celibato é também uma manifestação de amor à Igreja” (núm. 26)
• “Desenvolve a capacidade para escutar a palavra de Deus e dispõe à oração. Prepara o homem para celebrar o mistério da eucaristia” (núm. 29)
• “Dá plenitude à vida» (núm. 30)
• «É fonte de fecundidade apostólica” (núm. 31-32).

Com o exposto até aqui, e com o que veremos no resto deste livro, demonstraremos, sem lugar a dúvidas, que todas estas manifestações de Paulo VI, em sua famosa encíclica, não se ajustam em absoluto à realidade na qual vive a imensa maioria do clero católico.

“Como sacerdote - explica o teólogo e cura casado Josep Camps11-, tive que viver muito de perto - em alguns casos tendo-as praticamente em minhas mãos - terríveis crises pessoais de muitos colegas e amigos. Um deles, um professor prestigiado de uma ordem religiosa muito destacada, confessou-me que esteve dez anos angustiado antes de se decidir por confessar a si mesmo que desejava abandonar o celibato. No decorrer de uns três anos celebrei as bodas de sete sacerdotes amigos, até chegar no ponto de sentir-me o “casacuras” oficial. E recusei em várias ocasiões propostas para casar “por baixo dos panos” e sem dispensa algum sacerdote que desejava legalizar sua situação e deixar o ministério”.

“Simultaneamente, certa aproximação e interesse por temas de psicologia e psiquiatria alertou-me e começou a me preocupar. Não me pesava demasiado um celibato vivido e querido - embora não fosse nada fácil mantê-lo - por uma decisão livre e constantemente renovada, mas comecei a me questionar sua imposição administrativa a uma só categoria de cristãos... porque é sabido que os sacerdotes de ritos orientais católicos podem casar-se, e o mesmo cabe dizer dos ministros das Igrejas surgidas da Reforma protestante”.

“Em pleno fragor do que a Igreja chama de “deserções” de sacerdotes com fins, entre outros, matrimoniais -, apareceu, em 1967, a encíclica de Paulo VI, Sacerdotalis Coelibatus. Havia chegado, para mim, o momento de aclarar todo este assunto do celibato”.

O texto da encíclica é um belo panegírico, sábio e profundo, da virgindade consagrada a Deus, que faz parte dos chamados tradicionalmente “conselhos evangélicos” (por mais que se encontre apenas rastro deles nos evangelhos). Só que ao chegar ao ponto, para mim chave, das razões pelas que se exige o celibato aos sacerdotes seculares, a encíclica perde piso e se afunda estrondosamente: não há verdadeiras razões, só a “secular tradição da Igreja latina”, ou seja, nada. A encíclica matou em mim a idéia do celibato - obrigado, Paulo VI! - e desisti dele. Em teoria, claro, porque não tinha pressas nem especiais urgências, nem tinha aparecido ainda a pessoa com quem estabelecer uma relação profunda e séria.

A Igreja Católica, ao longo de sua história, falseou em benefício próprio tudo aquilo que lhe interessou. Tem imposto sobre o povo um modelo de sacerdote (e de seu ministério) mistificado e cínico, mas lhe foi de grande utilidade para fortalecer seu domínio sobre as consciências e as carteiras das massas.

E, do mesmo modo, tem imposto sobre seus trabalhadores pesos sacros que não lhes correspondem, e leis injustas e arbitrárias, como a do celibato obrigatório, que servem fundamentalmente para criar, manter e potenciar a submissão, o servilismo e a dependência do clero a respeito da hierarquia.

O celibato dos pastores deve ser opcional - afirma o sacerdote casado Julio Pérez Pinillos -, já que o celibato imposto, além de empobrecer o caráter de “Símbolo”, é um dos pilares que sustenta a organização piramidal da Igreja-aparelho e potencia o binômio clérigos-laicos, tão empobrecedor para os primeiros como humilhante para os segundos”.12

Neste final de século, quando muitíssimos teólogos de prestígio alçaram sua voz contra as interpretações doutrinárias errôneas e as atitudes lesivas que comportam, o papa Wojtyla os calou com a publicação de uma encíclica tão autoritária, sectária e lamentável como é a Veritatis Splendor. Esplendor da verdade? De que verdade? A mentalidade de Latrão e Trento volta a governar a Igreja. Correm maus tempos para o Evangelho cristão.

Capítulo II

A LEI DO CELIBATO, OBRIGATÓRIO CATÓLICO: 
UMA QUESTÃO DE CONTROLE,
ABUSO DE PODER E ECONOMIA


O motivo verdadeiro e profundo do celibato consagrado - deixa estabelecido o Papa Paulo VI, em sua encíclica Sacerdotalis Coelibatus (1967 ) - é a eleição de uma relação pessoal mais íntima e mais completa com o mistério de Cristo e da Igreja, pelo bem de toda a humanidade. Nesta eleição, os valores humanos mais elevados podem certamente encontrar sua mais alta expressão”.

E o artigo 599 do Código de Direito Canônico, com linguagem sibilina, impõe que “o conselho evangélico de castidade assumido pelo Reino dos Céus, enquanto símbolo do mundo futuro e fonte de uma fecundidade mais abundante num coração não dividido, leva consigo a obrigação de observar perfeita continência no celibato”.

No entanto, a Igreja Católica, ao transformar um inexistente “conselho evangélico” em lei canônica obrigatória - que, como já vimos no capítulo anterior, carece de fundamento neotestamentário -, ficou anos-luz de potenciar o que Paulo VI resume como “uma relação pessoal mais íntima e mais completa com o mistério de Cristo e da Igreja, pelo bem de toda a humanidade”.

Pelo contrário, o que sim tem conseguido a Igreja com a imposição da lei do celibato obrigatório é criar um instrumento de controle que lhe permite exercer um poder abusivo e ditatorial sobre seus trabalhadores, e uma estratégia basicamente economicista para baratear os custos de manutenção de sua planilha sacro trabalhista e, também, para incrementar seu patrimônio institucional, pelo que, evidentemente, a única «humanidade» que ganha com este estado de coisas é a própria Igreja Católica.

A lei do celibato obrigatório é uma mais entre as notáveis vulnerações dos direitos humanos que a Igreja Católica vem cometendo desde séculos, por isso, antes de começar a tratar as premissas deste capítulo, será oportuno dar entrada à opinião de Diamantino Garcia, presidente da Associação Pró-Direitos Humanos de Andaluzia, membro destacado do Sindicato de Operários do Campo, sacerdote a vinte e seis anos, e pároco dos povos sevilhanos dos Corrales e de Martín da Jara.

Continuará...

1. Cfr., por exemplo, os diversos modelos eclesiásticos de Jerusalém, Antioquia, Corinto, Éfeso, Roma, as comunidades Joaninas, as das Cartas Pastorais, Tessalônica, Colossas...

2. Nos três primeiros séculos não são reconhecidas como tais. São Jerônimo, por exemplo, um dos principais padres da Igreja e tradutor da Vulgata (a Bíblia em sua versão em latim), jamais as aceitou como de instituição divina e, com maior razão, nunca se deixou ordenar bispo. Dado que nos Evangelhos só se fala de diaconato e presbiterado, São Jerônimo defendia que ser bispo equivalia a estar fora da Igreja (entendida no seu significado autêntico e original de Eclésia ou assembléia de fiéis).

3. Cfr. Carmona Brea, J.A. (1994). Os sacramentos: símbolos do encontro. Barcelona: Edições Ángelus, capítulo VII.

4. Hiereus é o termo que se empregava no Antigo Testamento para denominar os sacerdotes da tradição e os das culturas não judias. Seu conceito é inseparável das noções de poder e de separação entre o sagrado e o profano (valha como exemplo, para os que desconhecem a história antiga, o modelo dos sacerdotes egípcios ou dos diferentes povos da Mesopotâmia).

5. «Porque o homem é o templo vivo (não há espaço sagrado), para oferecer o sacrifício de sua vida (toda pessoa é sagrada), em oferenda constante ao Pai (não há tempos sagrados)», argumenta o teólogo José Antenio Carmona.

6. E assim o qualificavam padres da Igreja como Santo Agostinho em seus escritos (cfr. Contra Ep. Parmeniani II, 8).

7. Ou “Quem pode receber isto, receba-o”. Na Bíblia católica de Nácar-Colunga, ao contrário se diz: “Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar. Ele lhes contestou: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido. Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o”. Existe uma diferença abismal entre o “ser capaz de recebê-lo” do texto original e o “ser capaz de entendê-lo” do falaz texto católico, as implicações teológicas e legislativas que se desprendem de um e outro são também diametralmente opostas.

8. Isto, lógica e indubitavelmente, deve ser assim, já que, do ponto de vista sociocultural, dado que Jesus era um judeu fiel à Lei, tal como já mencionamos, jamais podia antepor o celibato ao matrimônio: a tradição judia obriga todos ao matrimônio, enquanto despreza o celibato.

9. A respeito da castração no âmbito da hierarquia eclesial, convém recordar aqui, por exemplo, que o grande teólogo Orígenes castrou a si mesmo - interpretando de forma patológica a frase de Jesus: “Se tua mão ou teu pé te escandalizar, corta-o e atira-o para longe de ti: melhor te é entrar na vida coxo ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno” (Mt 18,8) -, talvez porque seu “membro causador de escândalo” lhe

10. A ordenação sacerdotal de varões casados tinha sido uma prática normalizada dentro da Igreja até o concílio de Trento. Atualmente, devido à escassez de vocações, muitos prelados - especialmente do terceiro mundo defendem de novo esta possibilidade e solicitaram repetidamente ao papa Wojtyla que facilite a instituição do viriprobati (homem casado que vive com sua esposa como irmãos) e seu acesso à ordenação. Mas Wojtyla a descartou pública e repetidamente - atribuindo sua petição a uma campanha de “propaganda sistematicamente hostil ao celibato” (Sínodo de Roma, outubro de 1990)-, apesar de que ele mesmo, em segredo, autorizou ordenar varões casados em vários países do terceiro mundo. No mesmo Sínodo citado, Aloísio Lorscheider, cardeal de Fortaleza (Brasil), desvelou o segredo e aportou dados concretos sobre a ordenação de homens casados autorizados por Wojtyla. Causou uma agonia que hoje deve soar muito ridículo ao clero católico, cujo 60% mantêm relações sexuais apesar de seu celibato oficial. Por outra parte, até o século passado, na corte papal se concedia um lugar de privilégio aos famosos castratí, cantores, selecionados entre os coros das igrejas, que foram castrados sendo ainda meninos para que conservassem uma voz com tons e matizes impossíveis para qualquer varão adulto. Esses sim eram autênticos eunucos pelo reino dos céus!

11. Cfr. Santa Sede (194). Código de Direito Canônico. Madri: Biblioteca de Autores Cristãos, PP. 273-275.

12. Segundo os últimos dados oficiais da Igreja, disponíveis em 1990, só houve trinta sacerdotes diocesanos matriculados em faculdades, de estudos civis, isso é um 0,14% do total de sacerdotes. A este respeito, resulta muito ilustrador saber que o Código de Direito Canônico que esteve vigente entre 1917 e 1983 em seu cânon 129 ordenava: “Os clérigos, uma vez ordenados sacerdotes, não devem abandonar os estudos, principalmente os sagrados. E nas disciplinas sagradas seguirão a doutrina sólida recebida dos antepassados e comumente aceita pela Igreja, evitando as profanas novidades de palavras e a falsamente chamada ciência”. Cfr. Rodríguez, P. (1995). Op. cit.,p. 72.

13. Os notáveis problemas psicossociais que padece uma boa parte do clero católico, especialmente do diocesano, não só derivam das carências afetivo-sexuais, embora sendo esta esfera uma parte fundamental para o desenvolvimento, maturação e equilíbrio da personalidade humana. A própria estrutura formativa do clero e algumas dinâmicas vitais forçadas contribuem para gerar problemas psicológicos que têm sido evitados, em grande parte, entre o clero de outras confissões católicas ou cristãs em geral. A este respeito pode consultar-se o capítulo 5 do já citado estudo: A vida sexual do clero e a bibliografia específica que nele se relaciona.

Nascido de uma virgem

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , , , , , , , , , | Posted on 20:39



O que pode ser afirmado sem provas também pode ser descartado sem provas”. (CHISTOPHER HARRIS).

Era costume muito comum de nossos antepassados colocar seus heróis como provindos de nascimentos sobrenaturais, cujas mães eram invariavelmente jovens virgens; ocorrência que também podemos verificar na mitologia de muitos dos povos da antiguidade, falando de deuses que, em contato com jovens virgens, geravam semideuses, os quais teriam, ao mesmo tempo, a condição de ser humano e divino.

Mulheres virgens se engravidando de deuses, somente se vê isso na mitologia antiga, onde é coisa comum, conforme o que se poderá ver em vários autores, como, por exemplo, nos vários que citaremos a seguir.

Pepe Rodrígues (1953- ), no capítulo III, item “Nascer de virgem fecundada por Deus foi um mito pagão bastante difundido em todo o mundo antigo anterior a Jesus”, do livro Mentiras fundamentais da Igreja Católica, afirma:

Lendas pagãs deste género foram obviamente integradas na Bíblia, não só nos referidos relatos dos nascimento de Sansão, de Samuel ou de João Batista, como, muito mais tarde, no relato do nascimento de Jesus. Regra geral, desde tempos remotos, quando o personagem anunciado era de primeira ordem, a mãe era sempre fecundada por Deus, através de um procedimento milagroso que, fosse ele qual fosse, confirmava claramente o mito da concepção virginal. Esta confirmação era particularmente patente na concepção dos deuses-Sol, uma categoria a que, como veremos, pertence a figura de Jesus Cristo. (RODRÍGUES, 2007, p. 100- 101) (grifo nosso).

E, um pouco mais à frente, completa:

Todos os grandes personagens, tenham sido eles reis ou sábios – como, por exemplo, os gregos Pitágoras (c. 570-490 a.C.) ou Platão (c 417-347 a.C.) –, ou se tenham tornado o centro de alguma religião e acabado por ser adorados como “filhos de Deus” (Buda, Krishna, Confúcio e Lao Tsé) foram mitificados pela posteridade como filhos de uma virgem. Jesus, surgido muito depois, mas destinado a desempenhar um papel semelhante ao que os seus antecessores haviam desempenhado, não podia ter um estatuto inferior ao deles. Desse modo, o budismo, o confucionismo, o tauismo e o cristianismo, ficaram indelevelmente marcados pelo facto de terem sido fundados por um “filho do Céu”, encarnado através do acesso directo e sobrenatural de Deus ao ventre de uma virgem especialmente escolhida e apropriada. (RODRÍGUES, 2007, p. 103) (grifo nosso).

Acrescentamos Hans Küng (1928- ), que também nos traz informações interessantes:

[…] Na mitologia greco-helénica os deuses também contraem “matrimónios sagrados” com filhas de humanos, dos quais nascem filhos de deuses tais como Perseu e Herácles ou também figuras históricas como Homero, Platão, Alexandre, Augusto. É impossível deixar de reparar no seguinte: a concepção virginal em si não é algo exclusivamente cristão! A ideia de concepção virginal, é, pois, segundo a exegese actual, utilizada com o objectivo de apresentar uma “justificação” (grego, “aitía”) para a existência do filho de Deus. […] (KÜNG, 1997, p. 56) (grifo nosso).

Edward Carpenter (1844-1929) traz curiosas observações, quanto ao tema; vejamos:

Mas quase mais notável que a crença mundial nos salvadores é a lenda igualmente difundida de que eles nasceram de Mães-Virgens. Não há quase nenhum deus - como já tivemos a oportunidade de ver - que seja adorado como um benfeitor da humanidade nos quatro continentes, Europa, Ásia, África e América - que não tenha nascido de uma Virgem, ou pelo menos de uma mãe que atribuísse a concepção não a um pai humano, mas sim ao céu. E isso parece, à primeira vista, o mais surpreendente, porque acreditar em tal possibilidade é muito absurdo para nossa mente moderna. Tanto que, enquanto pareceria natural que tal lenda tivesse se espalhado espontaneamente em alguma parte incivilizada do mundo, achamos difícil entender como, nesse caso, teria se espalhado tão rapidamente por todas as partes, ou - se não se espalhou - como podemos explicar seu surgimento espontâneo em todas essas regiões. (CARPENTER, 2008, p. 108) (grifo nosso).

Carpenter lista também vinte e uma semelhanças da história de Jesus com histórias antigas de deuses, o que não deixa de ser algo surpreendente; vejamos o que ele diz:

A história de Jesus, como vemos, tem muita semelhança com as histórias dos antigos deuses Sol e com o percurso atual do Sol nos céus - tantas coincidências, que não podem ser atribuídas à mera coincidência ou até mesmo a blasfêmias do Demônio! Vamos enumerar algumas delas. Há (1) o nascimento da Virgem; (2) o nascimento na manjedoura (caverna ou câmera subterrânea); e (3) em 25 de dezembro (logo depois do Solstício de Inverno). Há (4) a Estrela do Leste (Sírio) e (5) a chegada dos magos (os "Três Reis"); há (6) o Massacre dos Inocentes, e o vôo para um país distante (dito também de Krishna e outros deuses Sol). Há os festivais da Igreja de (7) Candelária (2 de fevereiro), com procissões das velas para simbolizar a luz crescente; há (8) a Quaresma, ou a chegada da primavera; há o (9) dia de Páscoa (normalmente em 25 de março) para celebrar a travessia do Equador pelo Sol; e (10) simultaneamente a explosão de luzes no Sepulcro Sagrado em Jerusalém. Há (11) a Crucificação e a Morte do carneiro-deus, na sexta-feira santa, três dias antes da Páscoa; há (12) a prisão feita com pregos em uma árvore, (13) o túmulo vazio, (14) a Ressurreição (nos casos de Osíris. Attis e outros); há (15) os doze discípulos (os signos do Zodíaco); e (16) a traição de um dos doze. Depois, há (17) o Dia do Meio do Verão, o dia 24 de junho, dedicado ao nascimento de João Batista, e correspondente ao dia de Natal; há as festas da (18) Assunção da Virgem (15 de agosto) e do (19) nascimento da Virgem (8 de setembro), correspondentes ao movimento do Sol por Virgem; há o conflito de Cristo e seus discípulos com os asterismos outonais, (20) a Serpente e o Escorpião; e finalmente há um fato curioso de que a Igreja (21) dedica o dia do Solstício de Inverno (quando qualquer um pode, naturalmente, duvidar do renascimento do Sol) a São Tomé. que duvidava que a Ressurreição fosse verdadeira! Algumas coincidências, mas não todas, estão em questão. Mas elas são suficientes, acredito eu, para provar - mesmo permitindo possíveis margens de erro - a verdade de nossa contenção geral. Entrar no paralelismo dos caminhos de Krishna, o deus Sol indiano, e Jesus demoraria muito tempo; porque, de fato, a semelhança é muito grande." Eu proponho, no entanto, ao final deste capítulo, que nos aprofundemos um pouco na festa cristã da Eucaristia, em parte por causa de sua relação com a derivação de rituais astronômicos e celebrações da Natureza já referidas, e em parte por causa da luz que a festa geralmente, seja ela cristã ou pagã, joga sobre as origens da Mágica Religiosa - um assunto que devo abordar no próximo capítulo. (CARPENTER, 2008, p. 35-36) (grifo nosso).

E, terminado essas citações, trazermos H. Spencer Lewis (1883-1939):

Posso acrescentar que nossos próprios registros de tradições antigas e escrituras sagradas contêm muitas referências a movimentos religiosos da antiguidade, cujo grande líder era considerado “O Filho de Deus”. 

A Índia teve um grande número de Avatares ou Mensageiros Divinos, Encarnados por Concepção Divina, tendo dois deles levado o nome de “Chrishna”, ou “Chrishna o Salvador”. Consta que Chrishna nasceu de uma virgem casta chamada Devaki que, por sua pureza, fora escolhida para se tornar a mãe de Deus. Neste exemplo, encontramos a antiga história de uma virgem dando à luz um mensageiro de Deus divinamente concebido.
 Buda foi considerado por todos os seus seguidores como gerado por Deus e nascido de uma virgem chamada Maya ou Maria. Nas antigas histórias sobre o nascimento do Buda, tais como são compreendidas por todos os orientais e como são encontradas em seus escritos sagrados muito anteriores à Era Cristã, vemos como o poder Divino, chamado o Espírito Santo, desceu sobre a virgem Maya. Na antiga versão chinesa dessa história, o Espírito Santo é chamado Shing-Shin.

Os siameses tinham igualmente um deus e salvador nascido de uma virgem e que eles chamaram Codom. Nesta velha história, a bela e jovem virgem fora informada com antecedência de que se tornaria mãe de um grande mensageiro de Deus e, um dia, enquanto fazia seu período usual de meditação, concebeu através de raios de sol de natureza Divina. O menino nasceu e cresceu de maneira singular e notável, tornou-se um protegido da sabedoria e fez milagres.

Quando os primeiros europeus visitaram o Cabo Comorim, na extremidade sul da península do Industão, surpreenderam-se ao encontrar os naturais do lugar, que nunca haviam tido contato com as raças brancas, cultuando um Senhor e Salvador que fora divinamente concebido e nascera de uma virgem.

E quando os primeiros missionários jesuítas visitaram a China, escreveram em seus relatórios que haviam ficado consternados por encontrarem na religião pagã daquela terra a história de um mestre redentor que nascera de uma virgem por concepção divina. Ao que consta, esse deus havia nascido 3468 anos a.C. Lao-Tse, o famoso deus chinês, também nascera de uma virgem, de pele negra, sendo descrita como a bela e maravilhosa como o jaspe.

No Egito, bem antes do advento do cristianismo e muito antes do nascimento dos autores da Bíblia ou de qualquer doutrina concebida como cristã, o povo egípcio já tivera vários mensageiros de Deus nascidos de virgens por Concepção Divina. Hórus, segundo o sabiam todos os antigos egípcios, havia nascido da virgem Ísis, sendo sua Concepção e seu nascimento um dos três grandes mistérios ou doutrinas místicas da religião egípcia. Para eles, todos os incidentes ligados à Concepção e ao nascimento de Hórus eram pintados, esculpidos, adorados e cultuados como o são os incidentes da Concepção e do nascimento de Jesus pelos cristãos de hoje. Outro deus egípcio, Ra, nascera de uma virgem. Examinei uma das paredes de um antigo templo na margem do Nilo, onde há um belo quadro esculpido representando o deus Tot – o mensageiro de Deus – dizendo à jovem Rainha Mautmes que daria à luz um Divino Filho de Deus, que seria o rei e Redentor de seu povo.

Ao nos voltarmos para a Pérsia descobrimos que Zoroastro foi o primeiro dos redentores do mundo a ser aceito como nascido em plena inocência, pela concepção de uma virgem. Antigos entalhes e pinturas deste grande mensageiro mostram-no cercado por uma aura de luz que inundava o humilde local de seu nascimento. Ciro, rei da Pérsia, também era tido como nascido de origem divina, e nos registros de seu tempo ele é chamado de Cristo ou Filho ungido de Deus e considerado mensageiro de Deus. (LEWIS, 2001, p. 74- 76) (grifo nosso).

Com o dito por esses escritores confirma-se, portanto, o que falamos a respeito de ser comum atribuir-se a certos personagens heroicos o nascimento de uma virgem.

Entendemos como um fato perfeitamente aceitável, em virtude desses fatores culturais, querer-se também atribuir a Jesus essa condição de nascimento sobrenatural e, como não poderia deixar de ser, nascido de uma virgem. O que não é natural é procurar manter, a todo custo, essa visão ingênua, ainda nos dias de hoje.

Por outro lado, os teólogos sempre quiseram colocar o sexo como coisa pecaminosa, motivo pelo qual Jesus não poderia ter vindo de “forma impura”; não é mesmo? Justifica-se, de certa maneira, o celibato sacerdotal, ou seja, os “santos” padres não poderiam praticar coisa considerada impura; assim não poderiam se casar. Outro fator, que provavelmente veio em apoio ao celibato, foi a questão da herança dos padres, que, se casados, não seria incorporada ao patrimônio da instituição religiosa da qual faziam parte, já que teria que ficar com os familiares. Bom; mas isso é uma outra questão; assim, voltemos ao assunto central do texto.

Sempre dissemos que, por ser Jesus o primogênito, evidentemente, e pelo contexto cultural da época, já que viviam numa sociedade extremamente machista, Maria, ao se casar com José, era indubitavelmente virgem; assim, nesse sentido, podemos simbolicamente considerar Jesus como nascido de uma virgem.

Outra coisa que sempre falávamos é quanto à questão do sexo ser impuro. Não admitimos essa hipótese de forma alguma, já que foi Deus que fez o ser humano em duas polaridades; a masculina e a feminina, com órgãos sexuais diferentes. Pensamos que, se o sexo for realmente “pecado”, devemos convir que Deus não foi muito justo conosco, pois, além de o conceber de forma a haver “atração fatal” entre os dois sexos – homem e mulher –, ainda por cima coloca prazer no ato sexual; mas de “espada em punho” diz: Se fizer é pecado ou é coisa impura. Absurdo teológico, que encontra campo fértil somente em cabeça de fanáticos, não na de pessoas dadas a utilizar a inteligência, de que Deus dotou a raça humana.

Vejamos os argumentos de Carlos Torres Pastorino (1910-1980):

A IMPOSIÇÃO DIVINA do uso do sexo para manutenção e multiplicação de Sua criação, nos diversos estágios evolutivos (plantas, animais e homens) vem provar que o sexo é SANTO. Não podemos admitir que Deus, Sábio e Bom, tivesse imposto obrigatoriamente as Suas criaturas uma condição que, ao cumpri-la, as tornasse imperfeitas. Se no ato sexual houvesse uma leve imperfeição sequer, ou um sinal de atraso espiritual, esse Deus seria monstruosamente mau, pois teria obrigado Sua criação a ser imperfeita e atrasada, a fim de manter e multiplicar Suas obras. Portanto, compreendendo o ato sexual em si e a maternidade como perfeições altamente espiritualizantes (porque são o cumprimento de uma Lei Divina), achamos que Maria se engrandece perante Deus com a maternidade normal, porque assim dá demonstração de ser fiel e obediente cumpridora da Vontade Divina. Compreendendo bem esse problema, o jesuíta padre Teilhard de Chardin atribui à sexualidade um sentido cósmico e afirma que o mundo não se diviniza por supressões, mas por sublimação, e ainda: que o homem e a mulher tanto mais se unirão a Deus, quanto mais se amarem, não vendo apenas o objetivo admirável mas transitório da reprodução, mas o de dar plena expansão à quantidade do amor, liberado do dever da reprodução. E diz claramente, sem subterfúgios: a mulher é, para o homem, o termo susceptível de impulsionar esse progresso para a frente. Pela mulher, e só pela mulher, pode o homem escapar ao isolamento, no qual sua própria perfeição se arriscaria prendê-lo. (L'énergie humaine, édition Seujl, pág. 93 a 96). Realmente a união sexual dentro do amor é a imagem mais fiel da união do homem com a Divindade, e por isso os místicos denominam essa unificação do homem com Deus de Esponsalício.

Na profecia de Isaías, o menino seria chamado ץמוד אב Himmanu-El, que significa Deus conosco, exprimindo a grande verdade de que Deus ESTA REALMENTE DENTRO DE NÓS, está CONOSCO. (PASTORINO, vol. 1, 1964a, p. 55).


Se sexo for mesmo pecado, então Deus, de antemão, condenou Adão e Eva a pecar, e por consequência toda a humanidade, quando disse ao suposto primeiro casal: “Crescei-vos e multiplicai-vos!” (Gn 1,22.28).

Se a mulher só “... será salva pela sua maternidade, desde que permaneça com modéstia na fé, no amor e na santidade” (1Tm 2,15), então ficamos num beco sem saída, pois, não havia como ser mãe sem fazer sexo (considerando a época de Paulo).

Vejamos, na narrativa de Mateus, o texto no qual tomam base para afirmar sobre a virgindade de Maria; ampliamo-lo um pouco mais, pois temos uma importante consideração a fazer.

Mt 1,18-25:”A origem de Jesus, o Messias, foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu marido, era justo. Não queria denunciar Maria, e pensava em deixá-la, sem ninguém saber. Enquanto José pensava nisso, o Anjo do Senhor lhe apareceu em sonho, e disse: 'José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e você lhe dará o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados'. Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 'Vejam: a virgem conceberá, e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus está conosco'. Quando acordou, José fez conforme o Anjo do Senhor havia mandado: levou Maria para casa, e, sem ter relações com ela, Maria deu à luz um filho. E José deu a ele o nome de Jesus”.

Veja bem, caro leitor, que no texto bíblico está se afirmando que José, o pai, é filho de Davi, para estabelecer a ligação da criança como descendente do rei Davi. Ótimo isso, pois isso implica dizer que José é pai biológico de Jesus, porquanto, somente dessa maneira ele poderia ser descendente de Davi, a não ser que argumentem que o “Espírito Santo”, que creem ter fecundado Maria, seja também filho de Davi. Mas isso seria o máximo em apelação, não é mesmo?

Lucas afirma que Maria estava “prometida em casamento a um homem chamado José, que era descendente de Davi” (Lc 1,27). E, para não pairar dúvidas, quanto a Jesus ter nascido biologicamente de José, trazemos uma fala de Paulo aos romanos, quando, se referindo ao Mestre, disse: “... nascido da estirpe de Davi segundo a carne” (Rm 1,3). Portanto, admitir que Jesus não seja filho biológico de José está indo contrário ao que se deduz dos textos bíblicos; isso sem mencionarmos que não fere a lógica.

Maria Helena de Oliveira Tricca (1940-1997) em Apócrifos I – Os proscritos da Bíblia, cita a obra “A história de José o carpinteiro”, na qual lemos: “Assim José o Carpinteiro, pai de Cristo segundo a carne, abandonou esta vida mortal e viveu cento e doze anos”. […] (TRICCA, 1995a, p. 197) (grifo nosso), o que corrobora o dito por Paulo. Isso nos induz a concluir que àquela época não tinham Jesus como fruto de fecundação do Espírito Santo, mas um homem, nascido de homem.

Por outro lado, considerando que para os judeus “Ruah é palavra hebraica, feminina, que significa Espírito, […] (TRICCA, 1995b, p. 176), é pouco provável que a utilizassem para sustentar que Maria havia se engravidado de uma mulher. Pode-se ver que em o Evangelho de Felipe, consta exatamente isso:

17. Alguns dizem que Maria concebeu por obra do Espírito Santo. Esses se equivocam, não sabem o que dizem. Quando alguma vez uma mulher foi concebida de uma mulher? Maria é a virgem a quem Potência alguma jamais manchou. Ela é uma grande anátema para os judeus que são os apóstolos e os apostólicos. Esta Virgem que nenhuma Potência violou, […] enquanto que] as Potências se contaminaram. O Senhor não [teria] dito: “Pai meu que estás no céu”, se não tivesse outro pai; do contrário haveria dito simplesmente: “[Pai meu]”. (TRICCA, 1995b, p. 182) (colchetes do original)


Ao que parece, alguns tradutores prenderem-se aos dogmas instituídos; como exemplo, citamos o Pe. Matos Soares, de quem trazemos essa explicação para Mt, 1,16: 

José, esposo de Maria. O Evangelista, descrevendo a genealogia de São José, conforma-se com o costume hebraico de só atender aos homens nas tábuas genealógicas. Todavia, dá-nos, ao mesmo tempo, a genealogia de Jesus, visto que Maria era também descendente de Davi. – Da qual nasceu Jesus. O Evangelista não diz que José gerou Jesus, pois o Salvador foi concebido no seio de Maria, por obra do Espírito Santo. São José não foi pai natural de Jesus, mas somente pai legal, como verdadeiro e legítimo esposo de Maria. (Bíblia Paulinas, 1957, p. 1178) (grifo nosso).

Nosso impasse está no seguinte: Ou Jesus é filho biológico de José, o que fazia dele o Messias esperado, ou é filho do “Espírito Santo” e não é o Messias.

Era de se esperar que a dogmática, querendo sair do impasse, tentasse justificar-se dizendo que Maria também era filha de Davi; entretanto, “a emenda saiu pior que o soneto” (Bocage1), já que os judeus tinham a crença de que somente o homem é que dava a descendência; é por isso que todas as genealogias na Bíblia são traçadas em relação ao pai e não à mãe da pessoa.

Voltemos ao passo de Mateus, especificando os versículos que falam de uma virgem e a suposta profecia dizendo que Jesus, como Messias e filho de Davi, veio cumprir:

 Mt 1,22-23: “Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 'Vejam: a virgem conceberá, e dará à luz um filho. Ele será chamado Emanuel, que quer dizer: Deus está conosco'”.

 Profecia: Is 7,14: “Pois saibam que Javé lhes dará um sinal: A jovem concebeu e dará à luz um filho, e o chamará pelo nome de Emanuel”.

Qualquer estudioso bíblico, não compromissado com alguma teologia, verá que esse passo de Isaías nada tem a ver com Jesus. Devemos, para melhor compreendê-lo, dizer que é preciso ler os versículos anteriores, iniciando pelo 10, porquanto são sempre subtraídos quando tentam apontar essa profecia:

Is 7,10-13: “Javé falou de novo a Acaz, dizendo: 'Pede para você um sinal a Javé seu Deus, nas profundezas da mansão dos mortos ou na sublimidade das alturas'. Acaz respondeu: 'Não vou pedir! Não vou tentar a Javé!' Disse-lhe Javé: 'Escute, herdeiro de Davi, será que não basta a vocês cansarem a paciência dos homens? Precisam cansar também a paciência do próprio Deus?'”

Estritamente dentro do contexto o sinal que Deus promete é ao rei Acaz, cuja mulher, uma jovem, estava grávida, fato que podemos confirmar: 

O reino do Norte (Efraim), cujo rei era Faceia, se aliou a Rason, rei de Aram, numa tentativa de se libertar do perigo assírio. Como o reino do Sul (Judá) não participou da coalizão entre o reino do Norte e Aram, estes dois temeram que Judá se tornasse aliado da Assíria; resolveram então atacar o reino do Sul, para destronar o rei Acaz e colocar no seu lugar o filho de Tabeel, rei de Tiro. Acaz teme o cerco e verifica a reserva de água da cidade. Isaías vai ao seu encontro e o tranquiliza, mostrando que não haverá perigo, pois continua válida a promessa de que a dinastia de Davi será perene, desde que se coloque total confiança em Javé. O sinal prometido a Acaz é o seu próprio filho, do qual a rainha (a jovem) está grávida. Esse menino que está para nascer é o sinal de que Deus permanece no meio do seu povo (Emanuel = Deus conosco). Bíblia Sagrada Pastoral, p. 954-955) (grifo nosso).

Então, temos que, pelo contexto bíblico e confirmado por essa explicação, fica fácil perceber que Deus, na verdade, promete um sinal ao rei Acaz e esse sinal é o filho do rei que estava por nascer. Dar uma explicação fora disso é tentar distorcer a interpretação realista do texto. Ademais, esse sinal é um fato presente e não algo para um futuro longínquo, ou seja, uma previsão; portanto, é agir fora do contexto, quando querem transformá-lo numa profecia a respeito de Jesus. Além do mais, o nome Jesus significa “Deus é salvação”; portanto, incontestavelmente, distinto de Emanuel que quer dizer “Deus está conosco”, exatamente o nome mencionado ao rei Acaz, o que a dogmática, cega pelo fanatismo, não consegue enxergar e, ao que parece, nem pretende.

Ampliando a explicação do verbete Emanuel, transcrevemos:

É o nome dado por Isaías a uma futura criança cujo nascimento será, para o rei Acaz, o “sinal” da assistência divina (Is 7,14-17). A nterpretação deste oráculo deve estar ligada ao significado do nome e ao alcance que terá na conjuntura daquele momento. O reino de Judá é ameaçado pelos sírios e efraimitas aliados, que querem acertar contas com a dinastia reinante, a mesma dinastia que se beneficia das promessas feitas a Davi. Em vez de recorrer a essas promessas, Acaz apela para a Assíria. Isaías condena este modo de agir e proclama: Deus está presente; ele está “conosco”.

Qual será a criança cujo nascimento será portador de uma mensagem como esta? Como é ao rei, contemporâneo de Isaías, que o sinal será dado, o nascimento anunciado deve ocorrer proximamente. Será Ezequias – afirma-se muitas vezes, e com boas razões. Mas esta criança é descrita numa linguagem poético-mítica, concretamente irrealizável. O oráculo abre portanto uma perspectiva que vai além do rei em questão. Graças a este oráculo, os crentes, insatisfeitos com os reis históricos, esperarão por uma personagem que finalmente satisfará a esperança deles. Mateus e os cristãos posteriores a ele reconhecem em Jesus aquele que realiza plenamente o anúncio de Isaías (Mt 1,23). (Dicionário Bíblico Universal, p. 226) (grifo nosso).

Confirma-se, portanto, que a suposta profecia não se refere mesmo a Jesus, conforme ficou bem claro na explicação acima.

Passar por cima do contexto histórico, ignorando as narrativas dos fatos, para aplicar ao que desejam, não é muito saudável, pois, a cada dia que passa, a crítica literária vai revelando.




Para ler mais, ceda ao link; (SOURCE)

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