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Confissões De Uma Dançarina

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , , , , , , , , | Posted on 19:29

Pintura , Fernando Botero


Confissões De Uma Dançarina
Género: Ficção

Ano: 17-10-2006
Hora: 0:31:41


Por: NãoSouEuéaOutra





(...) perguntou-lhe:
'Linda mulher, filha da graça e do encantamento,
de onde vem tua arte
e como é que comandas
todos os elementos em seus ritmos e versos?'(...)
(Khalil Gibran)


Chego a casa a altas horas da madrugada e o único murmúrio que se ouve é a brisa da noite, onde a alva ainda dorme aconchegada no manto da escuridão. Dispo o casaco que trago vestido e atiro-o para cima da cadeira mais próxima que encontro, escondendo um segredo que ninguém sabe, a não ser aqueles que comigo privam nesse mundo. No corpo trago os cheiros das ambrósias decadentes dos desejos que satisfiz com enorme gozo. O gozo que ninguém desconfia e do qual só as grandes Senhoras são detentoras.


(…) Sou uma Senhora e danço por dinheiro.
Sou uma Senhora durante o dia,
sou uma Dançarina durante a noite
e danço por dinheiro (…)


Sou perfeita no que faço e não faço por menos. Tenho pés perfeitos unidos a um corpo timbrado com esses sons régios que vem das esferas superiores. Mas, hoje tenho cisco nos pés e ainda assim, estou feliz! Ganhei um Diamante. Porque à parte de tudo, sou uma Senhora e não faço por menos. Ganhei-o e nem sei o nome daquele que mo ofereceu e pouco importa os nomes quando tudo o que sei é que sou boa. Danço por dinheiro. Pouco de cismática tenho e tudo o que faço é porque quero e porque sou boa! Não perco tempo e jogo o jogo sem ilusões.


(…) Sou uma Senhora e danço por dinheiro.
Sou uma Senhora durante o dia,
sou uma Dançarina durante a noite
e danço por dinheiro (…)


Olho o diamante por entre os dedos, aproximo-o da luz e mergulho na sua mais íntima essência. Dizem que os diamantes são os amantes das mulheres solitárias e eu rio e rio até não conter mais nenhum riso. Claro, eu não penso assim; penso que são antes o meu wirdarlon por ser uma Senhora, digna de um estatuto de Rainha. Não faço por menos. Danço por dinheiro. Sou uma dançarina privada. Quando eles chegam até mim eu nem os vejo, simplesmente faço o meu trabalho e faço-o com gozo, o gozo que nunca suspeitarão e sou boa, muito boa!! A minha perfeição é tão grande que nem me lembro dos seus rostos, mas, reconheço-lhes os bolsos. Os bolsos de onde voam diamantes presos por fios de seda e que são enlaçados ao meu kleitorís num beijo mortal de gozo.


(…) Sou uma Senhora e danço por dinheiro.
Sou uma Senhora durante o dia,
sou uma Dançarina durante a noite
e danço por dinheiro (…)

Estiro os pés cansados da longa noite e convido-me mais tarde para um belo banho, onde os aromas devastarão os sucos da noite perdidos no corpo e no entanto gozados à tangencia de todas as razões humanas. Sou muito boa, muita boa nesta minha profissão. Faço-a por gozo e por cima de gozo. Danço por dinheiro. Nada mais belo do que avançar por entre a noite dos palcos vestida de forma sumptuosa envolvendo o corpo de tecidos minúsculos e sedosos, com os cabelos reluzindo como o brilho de certas pérolas e de todos os diamantes e o rosto coberto de um véu que esconde o fogo do gozo. Ser um anjo do prazer farto e minucioso e adentrar no desconhecido por puro gozo e chegar perto de ti e agarrar-te no que de mais intenso tens e te ofertar o sumo do prazer numa pequena gota, porque as restantes gotas são todas para mim.


(…) Sou uma Senhora e danço por dinheiro.
Sou uma Senhora durante o dia,
sou uma Dançarina durante a noite
e danço por dinheiro (…)


Os homens chegam nestes lugares e eles não sabem o que procuram, mas, eu sei e faço-o por gozo. Eles são cruéis, mas a minha crueldade não conhece limites e sou mortal. Faço-o por gozo, o gozo que não suspeitam e gozo em cima através dos seus ignorantes véus; e eles dizem: «Obedecer-te-ei!!!» e eu rio e rio. Sou uma dançarina e danço por dinheiro. Não o faço por eles, faço-o por mim. Por gozo que me faz prenhe todos os dias de mim mesma. Renasço, transfiguro e alimento-me como se fosse uma filha do Drácula. Vivo para gozar e gozar em cima do gozo e danço por dinheiro. Eles não sabem e cumpro a minha missão. Sou filha da Afrodite e nasci para fazer-me dançar e deixar o sonho chegar a ti. Mas, faço-o por mim e só por mim, e sou boa, muito boa. Sou Mulher e encarno todos os seus véus, e venero-a em todas as suas dimensões. Por isso sou boa, muito boa. Danço para ti, dançando para mim e gozo o frémito de todos os gozos.


(…) Sou uma Senhora e danço por dinheiro.
Sou uma Senhora durante o dia,
sou uma Dançarina durante a noite
e danço por dinheiro (…)


É hora de me levantar e tomar um banho, limpar o cisco dos pés e deitar-me. Quando acordar pelo meio da manhã vou vestir um outro corpo. O corpo de mulher igual a todas as outras que andam na claridade no mundo. Ser a Senhora que o sou e muito bem o sou. Sigo em meio delas e nem sentem o cheiro da minha outra vida que me põem prenhe todos os dias e sobre qual gozo o gozo dos mil gozos e na claridade do dia sobre a abóbada do mundo eles, os homens, não existem no meu universo adverso ao dia.


(...) A dançarina (...)
Disse:'Majestade, respostas eu não tenho às vossas perguntas.
Somente isso eu sei: a alma do filósofo vive em sua cabeça,
a alma do poeta vive em seu coração,
a alma do cantor vive em sua garganta,
mas a alma da dançarina habita em todo o seu corpo.'(...)
(Khalil Gibran)


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