os grãos continuam a ser algo que gosto trabalhar/colocar nas fotografias. provavelmente isto se deve ao desenho com lápis de carvão e o esfuminho. sempre tive obsessão por ilustração, desde menina. sempre foi muito privada esta tendência e também muita obsessiva a busca pelo volume e luz e sombra no desenho. sempre descontente pela minha imperfeição em desenhar, origem de grandes dores de cabeça. (talvez a minha maior zanga em vida, para compreender todo o processo de desenhar!!) viciada em linhas finas durante muito tempo, e um dia, um mestre de impressionismo deu-me uma grande e esplendorosa bofetada que alterou a minha estúpida mania de perfeição, e nunca mais me preocupei tanto com a linha do desenho e acabei por olhar mais para a noção de luz e sombra e volume. apenas mudei o foco da obsessão e da perfeição. sempre ando com um notebook da Ambar, como também ando sempre com um livro.
[ Minha Vida
Nunca busquei viver a minha vida
A minha vida viveu-se sem que eu quisesse ou não quisesse.
Só quis ver como se não tivesse alma
Só quis ver como se fosse eterno. ]
Alberto Caeiro, in "Fragmentos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
nunca tinha percebido como o vazio era tanto. quase vergonhoso. quase assustador. quase filho da puta. quase tudo para dizer a verdade. sempre acordei todas as manhãs. todas as manhãs foram mentirosas. mentirosas umas atrás das outras. como são quase sempre os vazios que tentamos não ver. somos mestres do disfarce. o disfarce apanha-nos. pode acontecer que esse apanhar surja numa manhã e de repente fiquemos sujos. sujos como são esses esgotos. esgotos entupidos, por mais que esses tubos sejam de ouro.
nunca tinha percebido como o vazio era tanto. como se tornara enorme. tão enorme e monstruoso. uma anaconda mastigando as entranhas da alma e dejectando no corpo. o amor. isso foi tudo uma mentira. uma mentira profunda nunca assumida. nunca houve. o que houve foi nada. nenhuma flor nasceu aos pés desta criança. todos os afagos foram roubados.
NãoSouEuéaOutra in « A Orgia Morta »
« só quis ver como se fosse eterno »
Fotograma «Shanghai Express»
Soube, como sempre soube todas as outras. Soube que iria mudar como a Serpente. Soube que subiria ao cume do mais alto rochedo, da mais alta árvore do mundo, e de lá, tal como a Águia, me transmutaria e ergueria para uma nova vida. Iria experienciar o verdadeiro nascimento da voz. A verdadeira voz. A verdadeira!!
Sei-lo. Vocalizo estranhamente! Esta diferença é o meu demónio, porque deus em mim é simples.
Um dia, alguém, disse-me que «Num passado, cuja memória não sei, roubaram-te a voz e violaram-na. Encharcaram-te com o pior da emoção. No fundo do fundo, o teu magma terra numa ebulição gigantesca se trancou. Infeliz e sombrio. Mas, ouvi mais, que por existir a Eternidade, nunca a prisão durará! Não o suficiente para o teu inimigo rir de ti. Só se rouba a voz uma vez e, uma vez roubada, volta-se a encontrá-la. Há destinos que não têm número na porta! O teu verdadeiro destino não pertence ao homem, mas sim à inexorável vida. Ao verdadeiro Ópio da Vida, o AMOR!!!»
NãoSouEuéaOutra in «As Divas»
'' My Vision of Herpburn (design) ''
« Porque ocultar o meu desejo de ti. Venero a tua beleza, a tua elegância, a tua educação. Venero como quem venera todas as primaveras da vida.
Quem não crê na veneração, poderá (?) achar-me a Louca das Loucas. Venerar não é para todos, dizem. Por dizerem, dizem que: Venerar é penetrar no mistério da boca, é nadar nessa eternidade fecunda. Então, direi que, a imagem da veneração é perpétua em ti.
Confesso – não tendo religião, mas tendo o ópio da vida – que aquilo que venero, é tão pouco em comparação à veneração que a vida tem por ti. »
NãoSouEuéaOutra in «As Divas»