quarta-feira, 31 de janeiro de 2007


Uma poesia de Edgar Allan Poe

LENORA


Ah! foi partida a taça de ouro! o espírito fugiu!
Que dobre o sino! Uma alma santa já cruza o Estígio rio!
E tu não choras, Guy de Vere? Venha teu pranto agora,
ou nunca mais! No rude esquife jaz teu amor, Lenora!
Leiam-se os ritos funerários e o último canto se ouça,
um hino à rainha dentre as mortas, a que morreu mais moça.
E duplamente ela morreu, por que morreu tão moça!

"Pela riqueza a amastes, míseros, o seu orgulho odiando,
e, doente, a bendissestes, quando a morte ia chegando.
E como, então, lereis o rito? Os cantos de repouso
entoareis vós, olhar do mal? Vós, o verbo aleivoso,
que o fim trouxestes à existência tão jovem da inocência?"

Peccavimus; mas não se irrites! O réquiem tão solene
e embalador ascenda aos céus, que a morta já não pene!
Para aguardar-te ela se foi, tendo ao lado a Esperança
e tu ficaste, louco e só, chorando a noiva criança,
meiga e formosa, que ali jaz, magnífica, sem par,
com a vida em seus cabelos de ouro, mas não em seu olhar,
com a vida em seus cabelos, sim, e a morte em seu olhar.

"Ide! Meu coração não pesa! Sem canto funeral,
quero seguir o anjo em seu vôo com um velho hino triunfal.
Não dobre mais o sino! que a alma em seu prazer sagrado
não o ouça, triste, ao ir deixando o mundo amaldiçoado.
Ela se arranca aos vis demônios da terra e sobe aos céus.
Do inferno, à altura se conduz e lá, na luz dos céus,
livre do mal, da dor, se assenta num trono, aos pés de Deus!"

A Laranja Mecânica

Kubrik e a sincronia perfeita.

O Iluminado


Stanley Kubrik arrebenta num filme assustador, pertubador, perfeito.

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

O Labirinto do Fauno: Filmaço


O filme combina duas linhas narrativas. A do mundo real, em plena guerra civil espanhola, é brutal e violenta. A outra, num mundo de fantasia, é esteticamente maravilhosa, mas não menos assustadora. Com a desculpa de contar um conto de fadas, o diretor Guillermo Del Toro tece uma narrativa brilhante, um misto de drama, guerra, terror, fantasia, todos os gêneros muito bem desenvolvidos. O filme é belo e assustador desde o primeiro ao último fotograma. Uma obra que é tudo, menos previsivel.

Bom para a alma: Michelle Gemelli

Quando eu crescer, quero ser rede. Clica aí.

Agradecimentos (mais uma vez) ao revistasgratis.

Aqua Teen Hunger Force Colon Movie Trailer (Bwahahahahahahahahahahahahahahahahaha.... Bwahahahahahahahahahahah)

Pearl Jam - Do The Evolution

É a evolução!

Sunshine Movie Trailer (O novo do Danny Boyle promete arrebentar)

Desenhos DC em Breve


03 adaptações em desenho animado de quadrinhos DC foram anunciados, com lançamento previsto para o fim do ano ou começo do ano que vem. São elas:

DC: A Nova Fronteira


A Morte do Superman



Os Novos Titãs: O Contrato de Judas

Todas prometem respeitar o traço e os argumentos originais e, assim, darem um baile nas animações da Marvel (vide a adaptação decepcionante de Os Supremos).
Campanha da Disney com celebridades




O jornal The New York Times conversou com e Quentin Tarantino e Robert Rodriguez . Eles falaram de Grind House, longa composto de dois médias, um de Tarantino e outro de Rodriguez. E, como sempre, os cineastas são os mais empolgados com os seus projetos.

"Acredito que ninguém nunca pensou nisso antes", começou Rodriguez, a respeito da já famosa prótese em forma de metralhadora que Rose McGowan usa em "Planet Terror", o seu média-metragem. "A sua mente vai até as idéias mais loucas para arrastar as pessoas ao cinema, e daí o resto você roteiriza a partir desses elementos." Rodriguez aproveitou para dizer que o média já virou longa. Ficou, ao fim, com 80 minutos de duração.

O verborrágico Tarantino, claro, não ficaria atrás: o seu "ex-média", "Death Proof", terminou com 90 minutos. Para ligar um ao outro, são quatro os trailers falsos: um ainda sem título dirigido por Edgar Wright, diretor de Todo Mundo quase Morto; outro por Eli Roth (Cabana do Inferno), intitulado Thanksgiving; o terceiro de Rob Zombie (A casa dos 1000 corpos, Rejeitados pelo Diabo), Werewolf Women of the SS; e o último de Rodriguez, Machette, protagonizado por seu ator-fetiche, sempre cercado de armas brancas, Danny Trejo.

Como parte da brincadeira, os dois "envelheceram" os filmes, para deixar com cara de produção B, típica das chamadas grindhouses, cinemas de subúrbio nos anos 70 com sessões duplas. "Ficou parecendo um filme popular que já foi exibido várias vezes, tem riscos na película, a textura é de filme velho, como se você estivesse assistindo algo que não devesse", disse Tarantino. Como nos velhos grindhouses alguns filmes eram exibidos com rolos faltando, ele decidiu brincar com a nova geração: seu filme terá, literalmente, lacunas no meio. "Eu garanto, quando aparecer na tela 'Rolo Faltando' o cinema inteiro vai surtar."

Ao que parece, Rodriguez não usará do mesmo recurso. "Meu filme é muito parecido com os clássicos de John Carpenter. Tudo acontece à noite, coisas bizarras acontecem, mas tudo é interpretado com seriedade. Mesmo que ela esteja armada com uma prótese-metralhadora, isso não é pra ser uma piada", completou. Tarantino emenda: "A idéia do meu filme é algo que eu tinha há tempos na cabeça: um dublê reforça seu carro a ponto dele ficar indestrutível. Você pode dirigir a 100 milhas por hora e bater numa parede só pra ver o que acontece".

"Death Proof terá uma das maiores perseguições de carro, senão a maior, jamais feita. Pego Top 3 com certeza. E esse filme tem alguns dos melhores diálogos que eu já escrevi na vida. Quando terminei o roteiro até mandei para Bob Dylan. Achei que ele fosse apreciar a linguagem", concluiu. Até agora Dylan não responde.

Noticia surrupiada do Omelete.

Hobbit como espécie humana

Cérebro de hobbit tem características estruturais cerebrais de um cérebro normal.
Conclusões apontam que é uma espécie humana diferente do homem moderno.

Uma imagem tridimensional virtual do cérebro de um humanóide de baixa estatura, cujo esqueleto foi descoberto em 2003 na Indonésia, reforça a polêmica tese de que pertenceria a uma espécie humana diferente, segundo estudo publicado nesta segunda-feira nos Estados Unidos.

Uma equipe de antropólogos da Universidade do Estado da Flórida (sudeste), dirigida por Dean Falk, reconstruiu com a ajuda de um computador o interior detalhado de uma caixa craniana virtual a partir de dez crânios humanos normais e de 10 crânios pertencentes a pessoas que sofriam de microcefalia, ou seja, uma pequenez do crânio, que coincide com uma detenção do desenvolvimento cerebral provocado por uma doença viral.

Estes cientistas depois recriaram o interior de uma caixa craniana de um anão e a do "Homo Floresiensis" - assim chamado devido ao fato de suas ossadas terem sido descobertas na ilha indonésia de Flores -, mais comumente conhecido como "hobbit", em alusão aos personagens da obra de J.R. Tolkien, autor de "O Senhor dos Anéis".

As diferentes imagens tridimensionais virtuais obtidas permitiram classificar melhor e medir os efeitos da microcefalia no tamanho e no formato do cérebro, explicaram os cientistas, cujo estudo aparece na edição desta segunda-feira dos Anais da Academia Americana de Ciências.

Embora o cérebro do anão tenha sido classificado com o de um indivíduo que sofria microcefalia, o do "hobbit" apresentava "todas as características estruturais cerebrais de um cérebro normal", concluíram os cientistas.

"Estas conclusões tendem a confirmar a tese do Homo Floresiensis, segundo a qual se trata de uma espécie humana diferente do homem moderno e poderia, ainda, servir para diagnosticar casos de microcefalia hoje", destacaram os cientistas.

O esqueleto, inclusive um crânio quase completo deste humanóide descoberto em 2003 nas camadas de sedimento do interior de uma caverna na ilha de Flores, media 1,06 metro. A antigüidade destas ossadas foi calculada em 18.000 anos.

Esta descoberta causou muito alvoroço na comunidade de antropólogos, que pensavam até agora que depois da extinção do homem de Neanderthal, há 30.000 anos, o Homo Sapiens era a única espécie humana sobrevivente.

Os cientistas que fizeram esta descoberta concluíram muito rapidamente que se tratava de uma espécie diferente e igualmente evoluída como o Homo Sapiens ao analisar a impressão do cérebro na caixa craniana.

Utensílios sofisticados e restos de animais, entre eles um elefante anão, uma raça extinta, foram encontrados perto do esqueleto com as ossadas de pelo menos nove humanóides.

"Este indivíduo tinha um cérebro muito pequeno - do tamanho de uma toranja -, mas extremamente bem formado", disse então o professor Richard Roberts, da Universidade de Wollongong, perto de Sydney, na Austrália.

Mas depois outros antropólogos consideraram, após examinar o crânio do "hobbit", que se tratava simplesmente de um pigmeu afetado por microcefalia.

Para o professor Robert Martin, do Museu de Chicago (Illinois, norte), co-autor de um estudo publicado na revista científica americana Science em 2006, o cérebro do espécime era pequeno demais para pertencer a uma nova espécie humana anã.

O tamanho do cérebro, 400 centímetros cúbicos, indicaria a um indivíduo que media apenas 30 cm, um terço do que media o esqueleto do "hobbit", segundo estes pesquisadores.


fonte G1.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Passo Longe

Bwahahahahahahahahahahahahahaha
A DÁLIA NEGRA

Quando eu soube que Brian de Palma iria dirigir a adaptação de A Dália Negra, um dos mais contundentes livros de James Ellroy, fiquei entusiasmado; era a combinação perfeita. O melhor autor noir em atividade atualmente e um diretor que, apesar dos altos e baixos, tem em seu cúrriculo filmaços como Os Intocáveis, Scarface, Dublê de Corpo, Vestida para matar, Carrie, A Fúria, ou seja, alguém com talento suficiente para transformar o livro de Ellroy num filmaço... Bem, nem foi bem assim. Estão lá os ângulos, as sequências perfeitas, verdadeiras aulas de direção, alguns diálogos inspirados, mas... O que posso dizer? Não é um filmaço - longe disso. Também não é ruim. O talento técnico de De Palma não permite que seja. No entanto, o roteiro, que no livro é complexo mas flui com elegância, na película ficou algo confuso, com uma resolução apressada. Os atores também parecem equivocados em seus papeis. Não convencem, e isso é fatal na qualidade do filme. É. Não foi dessa vez. Quem sabe no próximo filme Brian de Palma volte ao tom de mestre que todos sempre esperamos em seus filmes. E quem sabe a prometida adaptação de Jazz Branco (outro livraço de Ellroy) tenha uma melhor sorte e chegue a rivalizar com Los Angeles Cidade Proibida. Veremos.
300
PREPARE-SE PARA A GLÓRIA!







Bom para a alma: Luciele di Camargo

Clique na imagem e... ah, você já sabe.

Agradecimentos ao revistasgratis.

sábado, 27 de janeiro de 2007



A Mulher Vampiro
de E. T. A. Hoffmann

O conde Hipólito tinha voltado das suas extensas viagens, a fim de tomar posse da rica herança do pai, que morrera pouco tempo antes. O solar da família era situado numa das mais pitorescas regiões, e as rendas do patrimônio permitiam embelezá-lo custosamente. O conde resolveu reproduzir ali tudo o que durante as suas viagens o impressionara vivamente pela magnificência e bom gosto. Chamou uma nuvem de artistas e de operários, que começaram logo a embelezar, ou para melhor dizer, a reconstruir o castelo, rasgando ao mesmo tempo um parque do mais grandioso estilo, onde se encravaram, como dependências, a igreja paroquial e o cemitério. Possuidor dos conhecimentos necessários, o conde dirigiu em pessoa os trabalhos e entregou-se completamente a esta ocupação.

E assim decorreu um ano, sem que lhe passasse pela idéia ir brilhar, como lhe aconselhava um tio velho, na sociedade da capital, sob os olhares das meninas casadoiras, afim de desposar a melhor, a mais bela e a mais nobre de todas.

Estava, uma manhã, sentado à mesa desenhando o plano duma nova construção, quando lhe anunciaram uma parente de seu pai. Ao ouvir o nome da baronesa, Hipólito recordou-se logo de que o pai se lhe referia sempre com a mais profunda indignação, de mistura com certo receio. Sem explicar o perigo que havia na convivência, afastara sempre dela as pessoas que lhe eram caras. Se teimavam em pedir-lhe explicações, o conde respondia que havia coisas em que era melhor não falar.

O certo é que na capital circulavam certos boatos a respeito de um processo criminal muito singular, em que a baronesa estivera envolvida e em conseqüência do qual se havia separado do marido e fora obrigada a retirar-se para o campo. Todavia o príncipe perdoara-lhe.

Hipólito experimentou uma sensação desagradável à aproximação da pessoa detestada pelo pai, apesar de desconhecer as razões dessa aversão. Os deveres da hospitalidade, que se respeitam principalmente no campo, impunham-lhe, porém, a necessidade de receber a importuna visita.

A baronesa estava longe de ser feia, mas nunca pessoa alguma produzira no conde repugnância tão manifesta.

Ao entrar, a baronesa cravou no dono da casa um olhar incendido, mas logo baixou os olhos, e pediu-lhe desculpa da sua visita nos termos mais aviltantes de rasteira humildade.

Lastimou que o pai do conde, possuído das mais extraordinárias prevenções inspiradas maldosamente pelos seus inimigos, a tivesse odiado de maneira tão acirrada. Apesar de ter caído em profunda miséria, chegando quase a padecer de fome, o conde nunca a socorrera. Ia agora refugiar-se numa cidade da província, tendo acabado de receber inesperadamente uma pequena quantia. Rematou dizendo que não pudera resistir ao desejo de ver o filho do homem, a cujo ódio irreconciliável sempre correspondera com profunda estima.

Estas palavras, pronunciadas com o acento tocante da verdade, conseguiram comover o conde, para o que também muito contribuiu a presença da graciosa e encantadora menina que acompanhava a baronesa. Calou-se esta finalmente, mas o conde pareceu não reparar em tal, e ficou silencioso e contrafeito. A baronesa pediu-lhe então desculpa duma falta em que o embaraço a fizera incorrer e apresentou-lhe a sua filha Aurélia.

Corando como um rapaz dominado por suave embriaguez, o conde suplicou-lhe que lhe permitisse reparar os agravos do pai, devidos certamente a uma inadvertência, oferecendo-lhe hospitalidade no castelo. Ao certificar-lhe as suas boas disposições, pegou-lhe na mão e estremeceu de terror. Sentiu-lhe os dedos gelados, sem vida, ao mesmo tempo que o vulto descarnado da baronesa, que fixava nele uns olhos embaciados, tomava o aspecto dum cadáver vestido de brocado.

- Valha-me Deus! Que contrariedade! E logo nesta ocasião! - exclamou Aurélia.

E com voz terna, que se insinuava na alma explicou que a sua desgraçada mãe tinha às vezes ataques de catalepsia, mas que estas sincopes passavam de pronto sem auxílio de remédios.

O conde retirou com dificuldade a mão que a baronesa apertava nervosamente, e, no arroubamento dum amor nascente, pegou na de Aurélia cobrindo-a de beijos.

Chegara à idade madura, mas experimentava agora pela primeira vez uma forte paixão, tornando-se-lhe impossível dissimular o que sentia, tanto mais que era animado pela graça encantadora com que Aurélia lhe acolhia as amabilidades.

A baronesa voltou a si passados alguns minutos, sem se recordar do que lhe tinha acontecido. Afirmou ao conde que se sentia honrada com aquele convite, e que este procedimento lhe apagava para sempre da lembrança a injusta conduta do pai de Hipólito.

Foi assim que o viver íntimo do fidalgo mudou subitamente. Chegava a crer que um favor especial do destino lhe trouxera a única pessoa que podia, como esposa, dar-lhe a suprema ventura.

A velha observou sempre a mesma conduta. Silenciosa, séria, reservada, deixava a propósito transparecer uma alma cheia de paz e de bons sentimentos. O conde acostumara-se àquele rosto singularmente pálido e enrugado, e aquela aparência de espectro, e atribuía tudo à má saúde da sua hospeda e ao gosto que ela tinha por sombrios passatempos. Com efeito os criados contaram-lhe que a baronesa dava passeios noturnos pelo parque, para os lados do cemitério.

Sentiu-se envergonhado por se ter deixado arrastar, no começo, pelas prevenções do pai, e o tio velho despendeu em vão a inesgotável facúndia, exortando-o a renunciar ao sentimento que o dominava e a relações que um dia poderiam desgraçá-lo. Convencido de que Aurélia o amava, pediu-a em casamento. É fácil de imaginar o quanto a baronesa ficou encantada com esta proposta, que a arrancava à miséria e lhe assegurava uma existência feliz. A palidez desaparecera do rosto de Aurélia anuviado por uma expressão de invencível pesar, e as delícias do amor deram-lhe aos olhos suave brilho e às faces frescura e colorido.

Um acontecimento funesto retardou, porém, o cumprimento dos desejos do conde. Na manhã do dia da boda, encontraram a baronesa estendida e sem movimento no parque, a pouca distância do cemitério, com o rosto contra o chão. O conde acabava de levantar-se e pusera-se à janela, pensando com embriaguez na felicidade que ia gozar, quando trouxeram a baronesa para o castelo. Pensou que se tratava dum ataque cataléptico, como era costume, mas todos os meios empregados para a chamar à vida foram inúteis. Estava morta!

Aurélia não se entregou a violenta angústia. Parecia consternada e atônita por causa deste imprevisto golpe do destino, mas não verteu uma única lágrima.

O conde, temendo melindrá-la, observou-lhe, com precaução e delicadeza infinitas, que era necessário pôr de parte as conveniências e apressar o mais possível o casamento não obstante a morte da baronesa, afim de evitar maiores transtornos. Ao ouvi-lo, Aurélia deitou-lhe os braços ao pescoço e, derramando muitas lágrimas, exclamou:

- Sim, pela minha salvação, consinto!

O conde atribuiu esta exaltação à desconsoladora idéia de que, órfã e sem asilo, Aurélia não tinha para onde ir e que o decoro lhe não permitia ficar no castelo. Teve o cuidado de colocar junto de Aurélia, até ao dia fixado para a cerimónia, uma aia, matrona respeitável.

No entanto Aurélia estava numa agitação singular, proveniente mais da angústia cruciante que a perseguia incessantemente, do que do desgosto causado pela morte da mãe.

Um dia, quando conversava amorosamente com o conde, ergueu-se de súbito, pálida, num mortal terror, e banhada em lágrimas refugiou-se-lhe nos braços como se quisesse fugir a um perseguidor invisível. Exclamou: - Não, nunca, nunca!

Depois do casamento, que não foi perturbado por nenhum contratempo, é que a perturbação e a ansiedade de Aurélia pareceram dissiparem-se.

Como bem se compreende, o conde suspeitou de que no coração de sua esposa existisse alguma causa desconhecida, que a atormentava. Contudo, foi bastante delicado para não a interrogar enquanto a viu aflita, mas depois, com grandes rodeios, perguntou-lhe o que produzira aquela extraordinária disposição de espírito. Aurélia significou-lhe que ia com vivo prazer patentear o coração ao esposo da sua alma. O conde, surpreendido, soube que a perturbação de Aurélia provinha do procedimento criminoso da mãe.

- Há nada mais horrível, perguntou ela, do que vermo-nos obrigados a aborrecer, e odiar a nossa própria mãe?

Provaram estas palavras que o pai e o tio do conde não se haviam enganado, e que a baronesa captara este último por meio de requintada hipocrisia. O castelão nem tentou ocultar que a morte da baronesa lhe parecia mercê da Providência, mas Aurélia declarou-lhe que fora precisamente a morte da mãe que a enchera de pressentimentos sombrios, e que o receio de que não podera ainda triunfar, lhe dizia que a mãe havia de ressuscitar algum dia, para vir precipitá-la num abismo, depois de arrancá-la dos braços do seu amado esposo.

E falou das recordações que tinha conservado da sua infância. Eram estas.

Um dia, ao acordar, achou a casa em completa desordem. Abriam-se e fechavam-se as portas com estrondo, ouviam-se gritos soltados por vozes desconhecidas. Quando o sossego se restabeleceu, a ama de Aurélia pegou-lhe ao colo e levou-a para uma vasta sala onde estava muita gente. Sobre uma grande mesa, no meio da casa, viu estendido um homem, que brincava sempre muito com ela e lhe dava bolos, e a quem a pequena chamava papá. Estendeu-lhe os braços para o beijar, mas aqueles lábios, que tinha conhecido quentes e cheios de vida, estavam gelados. Desatou a chorar sem saber porquê. Dali a ama levou-a para uma casa desconhecida, onde ficou por muitos dias. Passado tempo a mãe foi busca-la de carruagem e levou-a para a capital.

Completava Aurélia dezasseis anos, quando se apresentou em casa da baronesa um homem a quem ela recebeu com alegria e familiaridade, como antigo conhecimento. Multiplicaram-se as visitas e dentro em pouco operou-se considerável mudança na vida da baronesa. Em vez de morar numa água-furtada, de vestir pobremente, de passar mal, foi habitar uma casa esplêndida no melhor bairro da cidade, passou a ter fatos magníficos, e mesa lauta, sendo seu inseparável comensal o desconhecido, e, finalmente, não faltava a nenhum divertimento público.

Só Aurélia não participava da melhoria, que, segundo era fácil de conhecer, provinha do desconhecido. Não vestia melhor do que dantes e estava sempre fechada no quarto, ao passo que a mãe ia às festas com o tal homem.

Este, apesar de já ter ultrapassado os quarenta anos, parecia muito mais novo. Bonito de semblante e esbelto de figura, nem por isso deixava de repugnar a Aurélia, porque às vezes era ordinário e desastrado de maneiras, contradizendo assim as pretensões que tinha a homem amável e afidalgado. Por este tempo, começou a deitar à rapariguinha certos olhares, que lhe infundiam inexplicável horror.

Até então a mãe nunca lhe falara a respeito dele. Limitara-se a dizer-lhe o seu nome e que o barão era um parente afastado, possuidor de colossal fortuna. Outra vez, gabou-lhe os dotes físicos e perguntou à filha que tal o achava, e, como esta não ocultasse a repugnância que tinha por ele, acoimou-a de tola e dardejou-lhe um olhar de meter medo, mas passou depois a tratá-la com agrado, deu-lhe bons vestidos, e levou-a aos divertimentos. O intitulado barão manifestava tanta solicitude e um tal desejo de agradar a Aurélia, que se lhe tornou verdadeiramente insuportável, tanto mais que ela um dia presenciou, cheia de mágoa, uma cena escandalosa, que lhe tirou todas as dúvidas acerca das relações da mãe com o barão. Este, meio ébrio, apertou-a nos braços, mostrando-lhe claramente as suas intenções abomináveis. O desespero deu forças à donzela, que repeliu o miserável com vigor, fazendo-o cair para trás, e correu a fechar-se no quarto.

A baronesa declarou à filha, com frieza e terminantemente, que se deixasse de esquisitices fora de propósito, pois era o titular quem fazia todas as despesas da casa. Como não estava para recair na miséria de outros tempos, aconselhou-a a ceder à vontade do barão, o qual, em caso de recusa, já ameaçara deixá-las. Longe de se impressionar com as lágrimas e queixumes de Aurélia, a velha recebeu-os às gargalhadas e com zombaria provocante. Gabou-lhe impudicamente uma ligação, que lhe ofereceria todas as voluptuosidades mundanas, servindo-se de termos tão abomináveis e desbragados que Aurélia ficou aterrorizada.

Julgando-se perdida, só viu recurso na fuga imediata. Achou meio de apanhar a chave da porta da rua, e à meia noite, depois de fazer uma trouxa com as coisas mais indispensáveis, encaminhou-se para a antecâmara, que se achava debilmente alumiada. Julgava que a mãe estaria dormindo e ia já para sair, quando alguém subiu precipitadamente a escada e empurrou a porta. Soltos os cabelos grisalhos e vestida com uma camisola suja, que deixava a descoberto os braços e o peito, a baronesa entrou na antecâmara e foi cair aos pés de Aurélia. O suposto barão perseguia-a, armado com um bordão nodoso, e bradando:

- Espera, filha maldita de Satanás, bruxa do inferno, espera que já vou dar-te a refeição de núpcias!

E, arrastando-a pelos cabelos para o meio da casa, começou a maltratá-la cruelmente, espancando-a com o bordão.

A baronesa desatou a gritar desapoderadamente, e Aurélia, quase desfalecida, abriu a vidraça e clamou por socorro. Por acaso ia passando uma patrulha policial e acudiu logo.

- Prendam-no! - bradou aos soldados a baronesa, louca de aflição e de raiva. Prendam-no! Olhem-lhe para o ombro, que está a descoberto! É Urian! Assim que ela pronunciou este nome, o sargento comandante da patrulha soltou um grito e disse:

- Olá! Apanhei-te finalmente!

Os guardas agarraram o desconhecido e levaram-no, a despeito da resistência que empregava para desenvencilhar-se.

Não obstante a violência do que se tinha passado, a baronesa percebeu o que a filha estivera prestes a fazer. Agarrou-a brutalmente por um braço, empurrou-a para o quarto e fechou a porta à chave, sem dizer palavra.

No dia seguinte saiu e só voltou tarde de noite. Entretanto Aurélia, ali encerrada não viu nem ouviu pessoa alguma, e padeceu as torturas da fome e da sede. Nos dias seguintes não recebeu muito melhor tratamento. A mãe deitava-lhe por vezes uns olhos cintilantes de cólera e parecia meditar qualquer projeto sinistro. Afinal recebeu, certa noite, uma carta que pareceu alegrá-la, e disse a Aurélia:

- Foste tu, criatura disparatada, a causa de tudo isto, mas agora, felizmente, tudo vai bem e Deus queira que evites o terrível castigo, que o demónio te reservava.

Dali por diante tornou-se mais complacente, e Aurélia, que desde que Urian se fora já não pensava em fugir, passou a gozar de mais ampla liberdade. Passado tempo, estando sozinha, sentada no seu quarto, ouviu um grande barulho na rua.

A criada de quarto entrou precipitadamente e disse-lhe que a polícia levava preso o filho do carrasco de **. O facínora, acusado do crime de roubo à mão armada, fôra, tempos antes marcado a ferro em brasa e era levado para a cadeia quando conseguiu fugir à escolta. Desta vez não lograria escapar, certamente.

Aurélia teve um sinistro pressentimento e correu à janela. Adivinhara. Era o suposto barão que ia passando algemado e amarrado a uma carroça. Transferiam-no para outra prisão, a fim de cumprir a pena a que o tinham condenado. Ao ser alvejada pelo furioso olhar que o malvado ergueu para ela, ao mesmo tempo que lhe fazia um gesto de ameaça, Aurélia sentiu-se esmorecer e foi cair numa poltrona.

A baronesa ficava muito tempo fora de casa e deixava a filha ao abandono, pensando tristemente nas desventuras que ainda lhe estariam iminentes. A criada de quarto entrara para o serviço depois da cena noturna, e, sabendo que o ladrão tivera relações íntimas com a ama, disse um dia a Aurélia que lastimava sinceramente a senhora baronesa, por ter sido enganada tão indignamente por aquele infame. Aurélia bem sabia o que havia de pensar a este respeito. Parecia-lhe impossível que os guardas, que tinham prendido Urian em casa da baronesa, não ficassem cientes das verdadeiras relações que existiam entre ambos, pois que ela lhes dissera o nome do criminoso e indicara o sinal infamante que ele tinha no ombro. Segundo dizia a criada nas suas palavras ambíguas, falava-se muito àquele respeito. Andava de boca em boca a atoarda de que a justiça fizera uma severa sindicância e que ameaçara a baronesa com a prisão, porque o filho do carrasco tinha revelado casos verdadeiramente extraordinários.

A pobre Aurélia era obrigada a reconhecer a depravação da mãe, visto que, depois daquele terrível acontecimento ela continuava ainda a residir na capital.

A baronesa viu-se enfim reduzida à necessidade de sair de uma cidade onde estava exposta a infames suspeitas, aliás muito bem fundadas, e de fugir para lugar distante. Durante esta viagem é que tinha ido ter ao castelo do conde.

Aurélia considerava-se sumamente venturosa e ao abrigo de receios, mas qual não foi o seu espanto quando, num dia em que manifestava à mãe a alegria que o céu lhe concedera, esta, com os olhos cintilantes, exclamou desabridamente:

- Foste a causa da minha desgraça, criatura abjecta e maldita; mas ainda que a morte me leve repentinamente, a vingança virá surpreender-te no meio da tua imaginária felicidade. É nestes acessos nervosos, cuja origem remonta ao teu nascimento, que os artifícios de Satanás...

A mulher do conde calou-se de repente, e, abraçando-se ao marido, pediu-lhe que a dispensasse de repetir as palavras que a mãe pronunciara numa crise de furor insensato. Sentia o coração esfacelar-se, ao recordar as medonhas ameaças daquela possessa do demónio, ameaças que excediam todos os horrores imagináveis. O conde consolou a esposa o melhor que pôde, sem contudo esquivar-se a ter medo.

Quando sossegou um pouco mais, não deixou de reconhecer que os crimes da baronesa, apesar de ela já ter falecido, haviam lançado uma sombra funesta numa existência que ele futurará cheia de felicidade.

Passado pouco tempo, Aurélia foi mudando sensivelmente. A palidez do rosto e o olhar extinto pareciam indicar doença, mas ao mesmo tempo os seus modos extraordinários e inquietos faziam suspeitar novo mistério. Afastava-se de todos, até do marido; fechava-se no quarto ou buscava os sítios mais solitários do parque; quando aparecia, trazia os olhos vermelhos de chorar, o rosto desfigurado, denunciando o pesar que a devorava.

Em vão o conde se esforçou por indagar as causas que punham a mulher naquele estado. Aurélia caiu em profundo abatimento, de que saiu tão somente depois de consultar uma celebridade médica.

O homem de ciência foi de parecer que a grande irritabilidade nervosa da condessa e os seus incômodos de saúde podiam fazer conceber a esperança de que ia ter fruto aquele casamento venturoso. Um dia, durante o jantar, aludiu ao estado de Aurélia. Esta, a princípio, não deu atenção à conversa do doutor com o conde, mas aplicou depois o ouvido, quando ouviu falar nos singulares caprichos que as mulheres tinham quando grávidas, e a que não podiam resistir sem prejuízo da sua saúde e até da saúde do filho. Fez então ao médico perguntas sobre perguntas, e este não se cansou de lhe citar muitos fatos, alguns altamente burlescos.

- Contudo, acrescentou ele, há também exemplos de desejos desregrados, que levaram diversas mulheres a ações verdadeiramente horríveis. Por exemplo, a mulher dum ferreiro sentia irresistível desejo de comer carne do marido, fez esforços baldados para se dominar, mas um dia em que o viu entrar em casa embriagado, atirou-se a ele com uma faca, e feriu-o tão cruelmente, que o desgraçado expirou poucas horas depois.

Mal o doutor acabava de pronunciar estas palavras, a condessa desmaiou, e as convulsões que se seguiram ao desmaio acalmaram-se com grande dificuldade. O médico reconheceu que andara mal contando semelhante aventura na presença duma senhora tão impressionável.

Pareceu, todavia, que esta crise tivera salutar influência no estado da condessa, dando-lhe algum sossego, mas pouco depois caía ela novamente num acesso de profunda melancolia.

Brilhavam-lhe os olhos com estranho fulgor e o rosto cobria-se-lhe de palidez mortal, sempre crescente. O conde tornou a inquietar-se com a saúde da esposa. Havia no seu estado uma coisa inexplicável: não tomava o mínimo alimento, manifestando invencível horror por todas as iguarias, especialmente pela carne. Quando se servia qualquer prato desta substância, era obrigada a levantar-se da mesa, dando evidentes sinais de nojo.

Foi improfícua toda a ciência do médico, porque Aurélia não quis nunca tocar em remédios, apesar das súplicas do marido.

Passaram-se semanas e meses sem que a condessa tomasse alimento algum. O mistério continuava impenetrável e o médico era de opinião que havia ali qualquer coisa que frustrava o saber humano. Afinal despediu-se, apresentando um vago pretexto, mas o conde percebeu claramente que o estado da esposa parecera muito perigoso e enigmático ao hábil clínico e que ele não quisera tratar por mais tempo duma inexplicável doença, que reputava absolutamente impossível de curar.

Imaginem-se as desagradáveis disposições em que estaria o infeliz. A desgraça, porém, ainda havia de ir mais longe. Um criado velho aproveitou um momento, em que o encontrou sozinho, para o avisar de que a condessa saía todas as noites do castelo e recolhia de madrugada. O conde estremeceu e lembrou-se de que, havia tempos, ao soar a meia noite, se apossava dele uma extraordinária sonolência. Atribuiu-a a qualquer narcótico, que a condessa lhe ministrasse sem ele dar por isso, para poder sair clandestinamente do quarto de cama, que tinham em comum infringindo o estabelecido na sua classe. Aguilhoado pelas mais terríveis suspeitas, Hipólito recordou-se da sogra e do espírito mau de que ela estivera possuída, e que talvez houvesse passado para a filha. Lembrou-se também do filho do carrasco e suspeitou de qualquer ligação adúltera.

A noite seguinte ia desvendar-lhe o mistério abominável, causa única do estado singular de Aurélia.

Tinha ela por hábito ir deitar-se depois de fazer o chá, que só o conde bebia. Teve este o cuidado de não o tomar naquela noite, meteu-se na cama, leu como de costume, e não sentiu a sonolência habitual. Ainda assim, deixou cair a cabeça no travesseiro e fingiu que dormia profundamente. A condessa levantou-se então, sem fazer o mínimo ruído, aproximou uma luz do rosto do marido, examinou-o por momentos, e saiu devagarinho do quarto. Todo a tremer, o conde ergueu-se, embuçou-se numa capa e seguiu a mulher cautelosamente. Esta já ia longe, mas como fazia luar, avistava-se distintamente o seu vestido branco. Atravessou o parque e dirigiu-se para o cemitério, desaparecendo por trás do muro. Hipólito segui-a, quase de corrida; achou aberta a porta e entrou.

Viu à claridade do luar um espectáculo medonho.

A curta distância, aparições hediondas acocoravam-se no chão, formando círculo. Eram velhas seminuas, de cabelos desgrenhados, dilacerando com os dentes, como feras, o cadáver dum homem.

E Aurélia estava no meio delas!... Com que pungente angústia e profundo horror o desgraçado fugiu àquela cena infernal! Correu ao acaso pelas alas do parque, e só caiu em si quando, de madrugada, se encontrou em frente da porta do castelo. Subiu rápida e maquinalmente a escadaria, atravessou as salas e entrou no quarto de cama. A condessa parecia dormir serenamente. Tanto não fora sonho ela sair do castelo, que estava ainda húmida do orvalho a capa. Ainda assim tentou persuadir-se de que tinha sido joguete duma alucinação.

Sem esperar que a esposa despertasse, foi dar um passeio a cavalo. A beleza da manhã, os aromas dos bosques, o gorjeio das aves fizeram-lhe esquecer os fantasmas noturnos.

Voltou mais tranqüilo ao castelo e sentou-se à mesa com a mulher. Quando, porém, serviam um prato de carne cosida e a condessa quis retirar-se mostrando repugnância, o conde reconheceu a realidade dos fatos de que fora testemunha, e exclamou com violência:

- Ah! Mulher abominável e diabólica! Bem sei de que provém a tua aversão pelo comer dos homens. É nas sepulturas que te vais banquetear! Mal ouviu estas palavras, Aurélia atirou-se a ele rugindo, e mordeu-o no peito, com a fúria duma hiena. O marido repeliu violentamente a possessa, que expirou no meio de atrozes convulsões. Veio a enlouquecer o desgraçado.

De: http://www.contosimortais.pop.com.br/portal.htm

Quase que teve Kurt Cobain em Pulp Fiction

Kurt Cobain não quis fazer um pequeno papel no filme “Pulp Fiction”, segundo conta sua viúva, Courtney Love. O casal é que ia fazer os papéis do traficante amigo de Vincent Vega (John Travolta) e de sua namorada cheia de piercings. Como Kurt não topou, quem acabou fazendo foi Eric Stolz e Rosanna Arquette.
“Se Kurt tivesse sobrevivido, a gente estaria indo e vindo em jatinhos particulares agora”, disse Courtney Love em entrevista ao site FemaleFirst.

É uma notícia já meio antiga mas interessante. Já pensou Kurt em Pulp Fiction?
O Poster brasileiro de: 13 em uma (?)


Poster Brasileiro de: 300


Vi primeiro no Cinemacomrapadura.

Tributo a Morricone

Segundo nota divulgada no Blabbermouth.net, é esperado ainda para 23 de fevereiro o álbum "We All Love Ennio Morricone", um tributo ao aclamado compositor italiano Ennio Morricone. O Metallica estará presente no CD ao lado de artistas como Celine Dion, Roger Waters, Andrea Bocelli, Bruce Springsteen e até mesmo Daniela Mercury, dentre outros.
O trabalho de Morricone, que compôs mais de 400 trilhas para filmes e séries de televisão, é melhor conhecido dos fãs do Metallica pela música "The Ecstasy of Gold", composição de Morricone para o clássico filme "The Good, the Bad and the Ugly" e que a banda americana tem usado nas aberturas de seus shows desde 1983.
"The Ecstasy of Gold" é a faixa que o Metallica toca nesse álbum, que contará com as seguintes canções:

01. I Knew I Loved You - CELINE DION
02. The Good, The Bad and The Ugly - QUINCY JONES apresentando com HERBIE HANCOCK
03. Once Upon a Time in the West - BRUCE SPRINGSTEEN
04. Conradiana - ANDREA BOCELLI
05. The Ecstasy of Gold - METALLICA
06. Malèna - YO-YO MA
07. Come Sail Away - RENÉE FLEMING
08. Gabriel's Oboe - ENNIO MORRICONE
09. Conmigo - DANIELA MERCURY apresentando com EUMIR DEODATO
10. La Luz Prodigiosa - DULCE PONTES
11. Love Affair - CHRIS BOTTI
12. Je Changerais d'Avis - VANESSA AND THE O'S
13. Lost Boys Calling - ROGER WATERS
14. The Tropical Variation - ENNIO MORRICONE
15. Could Heaven - DENYCE GRAVES
16. Addio Monti - TARO HAKASE
17. Cinema Paradiso - ENNIO MORRICONE.

fonte whiplash.net

A Mão

de guy maupassant

Há cerca de oito meses, um de meus amigos, Louis R..., reunira, uma noite, alguns camaradas de estudo. Bebíamos ponche e fumávamos, conversando sobre literatura, pintura e contando, de tempos em tempos, algumas cousas cabeludas, como acontece em reuniões de rapazes. De repente a porta se escancara e um de meus bons amigos de infância entra como um furacão.

— Adivinhem de onde é que eu venho — exclamou em seguida.

— Aposto por Mabile — responde um.

— Não, tu estás muito alegre. É que tu acabas de conseguir dinheiro emprestado, de enterrar o teu tio, ou de empenhar teu relógio à minha tia — responde um outro.

— Já sei, andaste bebendo por aí — afirma um terceiro — e como farejaste o ponche de Louis, subiste para recomeçar.

— Pois ninguém acertou. Venho chegando de P..., na Normandia, onde fui passar uma semana e de onde trago um grande criminoso amigo meu, que peço a permissão de lhes apresentar.

Dizendo isto, tirou do bolso uma mão de defunto. Era horrível, escura, seca, muito longa e como que crispada; os músculos, de uma força extraordinária, ressaltavam sob a pele apergaminhada; as unhas amarelas, estreitas, tinham ficado presas nas extremidades dos dedos. Tudo aquilo cheirava a celerado.

— Imaginem — disse o meu amigo — que venderam no outro dia os trastes de um velho feiticeiro muito conhecido em toda a região. Ele ia ao sabá todos os sábados, montado num cabo de vassoura, praticava a magia branca e negra, azedava o leite das vacas e as fazia carregarem o rabo como o do companheiro de Santo Antônio. A verdade é que aquele velho alarife era muito afeiçoado a esta mão, que pertencera, dizia ele, a um célebre criminoso supliciado em 1736, por haver lançado de cabeça para baixo, num poço, a sua legítima esposa (cousa que, a meu ver nada tinha de mal) enforcando depois na torre da igreja o padre que os casara. Após essa dupla façanha, saíra a correr mundo; e na sua carreira tão curta quão bem preenchida, conseguira saquear uma dúzia de viajantes, defumar uns vinte monges num convento e transformar em serralho um monastério de freiras.

— Mas, e que vais fazer desse horror? — exclamamos.

— Ora! Vou botá-lo de aldrava à minha porta, para assustar aos credores.

— Meu amigo — disse Henry Smith, um inglês alto e muito calmo — eu creio que essa mão é simplesmente carne conservada por algum processo novo. Eu te aconselho que faças uma sopa com ela.

— Não brinquem — disse com a maior seriedade um estudante de medicina, já bastante ébrio; — uma cousa eu te aconselho, Pierre: manda enterrar cristãmente esse despojo humano, para que o seu proprietário não venha reclamá-lo. E depois, essa mão decerto já adquiriu maus hábitos, pois, como diz o provérbio: quem matou, matará.

— E quem bebeu, beberá — retrucou o anfitrião, servindo ao estudante um grande copo de ponche. O outro o empinou de um só trago e rolou para baixo da mesa. Esse desenlace foi acolhido por formidáveis gargalhadas. E Pierre, erguendo o copo, fez um brinde à mão :

— Eu bebo — disse ele — à próxima visita de teu dono.

Depois falaram de outras cousas e cada qual foi para a sua casa.

No dia seguinte, passando pela casa de Pierre, resolvi visitá-lo. Eram cerca de 2 horas. Encontrei-o a ler e a fumar.

— E então. como vais ? — perguntei-lhe.

— Muito bem.

— E a tua mão?

— A minha mão, tu a deves ter visto em minha campainha, onde a pus ontem de noite, ao entrar. A propósito, imagina tu que um imbecil qualquer, sem dúvida para me pregar uma partida, veio bater-me à porta pela meia-noite. Perguntei quem era. Mas, como ninguém me respondeu, tornei a deitar-me e adormeci.

Nesse momento, bateram. Era o proprietário, personagem grosseiro e muito impertinente. Entrou sem cumprimentar.

— Senhor — disse ele a meu amigo, — peço-lhe que mande retirar imediatamente a cousa que o senhor pendurou na corda de sua campainha. Em caso contrário, eu me verei obrigado a despejá-lo.

— O senhor — retrucou Pierre com a máxima gravidade — está insultando uma mão que não o merece. Pois saiba que ela pertence a um homem muito bem educado.

O proprietário rodou nos calcanhares e saiu como tinha entrado. Pierre o acompanhou, desprendeu a mão e foi atá-la ao cordão da campainha que se achava no seu quarto.

— Assim é melhor — disse ele. — Esta mão, como o Irmão, devemos morrer dos trapistas, me inspirará pensamentos sérios, todas as noites, antes de adormecer.

Ao cabo de uma hora, deixei-o e voltei para casa.

Dormi mal na noite seguinte, estava agitado, nervoso; várias vezes despertei em sobressalto e, em dado momento, cheguei a imaginar que se introduzira um homem na minha casa. Levantei-me para olhar nos meus armários e por baixo da cama. Afinal, pelas seis horas da manhã, mal começava eu a adormecer, quando uma violenta batida à minha porta me faz saltar do leito. Era o criado de meu amigo, quase em trajes menores, pálido e trêmulo.

— Ah, senhor! — exclamou ele, soluçando. — Assassinaram o meu pobre patrão!

Vesti-me às pressas e corri à casa de Pierre. A casa estava cheia de gente. Discutiam, gesticulavam, havia um movimento incessante e cada qual contava e comentava o acontecimento de todas as maneiras. Com grande dificuldade consegui chegar até o quarto, cuja porta estava guardada, mas dei o meu nome e deixaram-me entrar. Quatro agentes de polícia se achavam de pé, no meio da peça, com uma caderneta na mão. Examinavam, falavam baixo de vez em quando e tomavam notas. Dois médicos conversavam junto ao leito, sobre o qual jazia Pierre sem sentidos. Não estava morto, mas tinha um aspecto horrendo. Seus olhos desmesuradamente abertos, suas pupilas dilatadas, pareciam olhar fixamente, com indizível pavor, uma cousa horrível e desconhecida. Seus dedos estavam crispados, e o corpo, a partir do queixo, se achava coberto com um lençol, que eu ergui. O pescoço tinha a marca de cinco dedos, que se haviam enterrado profundamente na carne e algumas gotas de sangue lhe maculavam a camisa. Nesse momento uma cousa me chamou a atenção: olhei por acaso para o cordão da campainha do quarto e notei que a mão do defunto não se achava mais ali. Os médicos tinham sem dúvida mandado retirá-la para não impressionar as pessoas que entrassem no quarto do ferido, pois aquela mão era de fato assustadora. Não me informei do que fora feito dela.

Recorto agora, de um jornal do dia seguinte, a notícia do crime, com todos os pormenores que a polícia pudera conseguir. Ei-la:

“Foi cometido ontem um horrível atentado na pessoa do jovem sr. Pierre B..., estudante de direito e pertencente a uma das melhores famílias da Normandia. O desventurado jovem recolhera-se a seus aposentos às dez da noite, dizendo a seu criado Bonvin que estava cansado e ia deitar-se imediatamente. Pela meia-noite, esse homem foi despertado de súbito pela sineta do quarto de seu patrão, que agitavam com fúria. Ficou com medo, acendeu uma luz e esperou. A campainha parou durante um minuto. Depois recomeçou a bater com tamanha força que o criado, desvairado de terror, precipitou-se fora do quarto e foi chamar o porteiro; este último correu a avisar a polícia e, ao fim de um quarto de hora, era arrombada a porta do quarto.

“Um horrível espetáculo se lhes deparou. Os móveis estavam virados. Tudo indicava que houvera uma terrível luta entre a vítima e o malfeitor. No meio do quarto, caído de costas, com os membros rígidos, a face lívida e os olhos terrivelmente dilatados o jovem Pierre B... jazia sem um movimento; apresentava no pescoço as marcas profundas de cinco dedos. O relatório do dr. Bourdeau, chamado imediatamente, diz que o agressor devia ser dotado de uma força prodigiosa e ter uma mão extraordinariamente magra e nervosa, pois os dedos, que deixaram no pescoço como que cinco orifícios de bala, quase se haviam reunido através das carnes. Nada faz suspeitar o móvel do crime, nem qual possa ter sido o autor”.

Lia-se no dia seguinte no mesmo jornal:

“Pierre B..., a vítima do horrível atentado que ontem relatamos, recuperou os sentidos, após duas horas de assídua assistência do dr. Bourdeau. Sua vida não está em perigo, mas teme-se pela sua razão. Não há nenhum vestígio do criminoso”.

Com efeito, o meu pobre amigo estava louco. Durante sete meses, fui visitá-lo todos os dias no hospício, mas ele não recuperou um vislumbre de razão. No seu delírio, escapavam-lhe palavras estranhas e, como todos os loucos tinha uma idéia fixa. Julgava-se sempre perseguido por um espectro. Um dia foram procurar-me às pressas, dizendo que ele estava pior. Encontrei-o agonizante. Durante duas horas, permaneceu bastante calmo. Depois, de súbito, erguendo-se no leito apesar de nossos esforços, gritou, agitando os braços e como que tomado do maior terror:

— Olhem ali ! Olhem ali ! Socorro ! Ele me estrangula. Socorro! Socorro!

Deu duas voltas pelo quarto, aos gritos. Depois caiu morto, com a face contra o chão.

Como ele não tivesse pai nem mãe, fui encarregado de conduzir seu corpo à aldeia de P..., na Normandia, onde os seus estavam enterrados. Era dessa mesma aldeia que ele regressara, na noite em que nos encontrara a beber em casa de Louis R... e em que nos apresentara a sua mão de defunto. Seu corpo foi encerrado num ataúde de chumbo. E, quatro dias depois, eu passeava tristemente com o velho cura que lhe havia dado as primeiras lições, no pequeno cemitério onde abriam a sua cova. Fazia um tempo magnífico. O céu, todo azul, transbordava de luz, os pássaros cantavam no bosque da encosta onde, tantas vezes, quando meninos, íamos ambos apanhar amoras. Parecia-me vê-lo ainda esgueirar-se ao longo do muro e enfiar-se pela abertura que eu conhecia tanto, além, no fim do terreno onde se enterram os pobres. Depois, voltávamos para casa, com as faces e os lábios negros do suco das amoras. E olhei por cima do muro. As amoreiras estavam carregadas. Maquinalmente apanhei uma amora e levei-a à boca. O cura abrira o seu breviário e resmungava baixo os seus oremus, e eu ouvia, no fim do caminho, a pá dos coveiros que abriam a cova. De repente, eles nos chamaram. O cura fechou o livro e fomos ver o que queriam. Tinham encontrado um esquife. Com um golpe de picareta, fizeram saltar a tampa e nós avistamos um esqueleto desmesuradamente longo, deitado de costas, e que, com as suas órbitas vazias, parecia ainda olhar-nos e desafiar-nos. Senti um mal-estar e, não sei por que, quase cheguei a ter medo.

— Olhem! — exclamou um dos homens. — O sujeito tem um punho cortado. Aqui está a sua mão.

E ele apanhou, ao lado do corpo, uma grande mão dissecada, que nos mostrou.

— Repara — disse o outro a rir — parece que ele te olha e já vai saltar-te ao pescoço, para que lha devolvas a sua mão.

— Vamos, meus amigos — disse o cura. — Deixem os mortos em paz e fechem esse caixão. Abriremos em outra parte a cova do pobre Pierre.

No dia seguinte, estava tudo acabado, e eu voltava a Paris, após haver deixado cinqüenta francos ao velho cura, para dizer missa pelo repouso da alma daquele cuja sepultura havíamos violado.


Primeiro conto publicado por Guy de Maupassant, no Almanach de Pont-à-Mousson para o ano de 1875.Tradução de Mário Quintana.

Os Vingadores (ou seriam os Simpsons?)











Bwahahahahahahahahaha!
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Vi no www.tocadocalango.com.br

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

BOM PARA A ALMA: 100!

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Agradecimentos ao www.revistasgratis.com
O mUlTiVeRsO eStÁ De VoLtA?

DAVE MCKEAN (E SUAS IMAGENS)























































AlGunS fIlMaÇoS pArA vEr E rEvEr:

TÁXI DRIVER

SUSPIRIA

O EXORCISTA

O BOM, O MAL E O FEIO

CORAÇÃO SATÃNICO
Ilustração de Wilson Vieira para cartaz da exposição sobre os 20 anos de criação de Dylan Dog
Clique aí para ampliar, ora.
(Para quem não sabe, Dylan Dog é um detetive na Londres que investiga casos sobreanturais de primeira.)
Vi no ótimo Nostalgia do Terror
+ 300: Bonecas pra macho