sexta-feira, 29 de agosto de 2008
da maldade
o que se torna idiota e indecente naquilo que as pessoas são capazes de fazer umas às outras é a incapacidade de se olhar em frente no momento final. ao menos que a cenografia do mal fosse respeitada em todos os seus cânones.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
merecemos a vida
há uma ironia em todo este silêncio. um sorriso magoado e vazio. um nada que é mesmo nada mas ironicamente certo. está bem assim.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
abandono
A quem senão a ti direi
como estou triste? Mas se a tristeza vem
de tu não estares, como ta direi, como hei-
-de juntar o que me está doendo ao vento
que não bate mais à tua porta? Eu sei
que a tristeza é só isto, é só isto,
o descoincidir consigo mesmo, eu sei,
descoincidir com os outros, estava previsto
porque dentro de si o mundo não coincide e
não há senão tristeza. Em cada um está Cristo
sempre abandonado, cada um abandonado
a si mesmo, sem princípio e sem fim,
pois no princípio o amor era dado
promessa de te ter sempre junto a mim
não ausência, nem dor, nem habitado
ser por todo este absurdo. Morrer
um pouco, disse, sem saber o que dizia
pois eram só palavras, como se a prometer
tudo aquilo que havia e não havia.
Não haver palavras és tu a desaparecer.
Bernardo Pinto de Almeida
“Hotel Spleen”, p.99, Quetzal, Março 2003, p. 118.
como estou triste? Mas se a tristeza vem
de tu não estares, como ta direi, como hei-
-de juntar o que me está doendo ao vento
que não bate mais à tua porta? Eu sei
que a tristeza é só isto, é só isto,
o descoincidir consigo mesmo, eu sei,
descoincidir com os outros, estava previsto
porque dentro de si o mundo não coincide e
não há senão tristeza. Em cada um está Cristo
sempre abandonado, cada um abandonado
a si mesmo, sem princípio e sem fim,
pois no princípio o amor era dado
promessa de te ter sempre junto a mim
não ausência, nem dor, nem habitado
ser por todo este absurdo. Morrer
um pouco, disse, sem saber o que dizia
pois eram só palavras, como se a prometer
tudo aquilo que havia e não havia.
Não haver palavras és tu a desaparecer.
Bernardo Pinto de Almeida
“Hotel Spleen”, p.99, Quetzal, Março 2003, p. 118.
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