quarta-feira, dezembro 24, 2008


domingo, dezembro 14, 2008

SE QUERES SABER DE MIM

Se queres saber de mim
não olhes os meus retratos
julgando saber-me assim.

Se queres saber quem sou
não busque nas minhas respostas
quando perguntas onde vou.

Se queres saber quem é
esta que te sorri
não olhe para a mulher.

Que não me saberás pelo sorriso,
não me conhecerás pelas respostas,
meus retratos são imprecisos,
a cada dia traço novas rotas.

Se queres porventura, um dia,
entender deste coração,
olhe meus olhos primeiro:
é neles que mora a poesia
que me explica dia após dia
e me mostra por inteiro.

Se queres saber-me de fato,
recomendo-te menos cuidado,
muito carinho, pouca fala,
mais riso e tato, muito tato.



Débora Cristina Denadai

domingo, dezembro 07, 2008

DUAS QUADRAS








Não sei se tens reparado


Quando passeia, o luar


Pára sempre à tua porta


E encosta-se a chorar:



E eu que passo também


Na minha mágoa a cismar


Para junto dele, e ficamos


Abraçados a chorar!!!






Florbela Espanca
********
Feminista em pleno século XIX
Florbela Espanca (1894-1930) foi uma das precursoras do movimento feminista em Portugal.
Teve uma vida tumultuada e inquieta, transformando seus sofrimentos íntimos em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização e feminilidade. Nasceu em Vila Viçosa, Portugal, em 08 de dezembro de 1894, batizada com o nome Flor Bela de Alma da Conceição, filha de Antónia da Conceição Lobo, empregada de João Maria Espanca, que não a reconheceu como filha. Porém, com a morte de Antónia, em 1908, João e sua mulher, Maria Espanca, criaram a menina. Não obstante, o pai só reconheceu a paternidade muitos anos após a morte de Florbela.
Formou-se em Letras e foi a primeira mulher a freqüentar o curso de Direito na Universidade de Lisboa. Ao longo da vida, casou-se três vezes e enfrentou o preconceito social decorrente disso. Em 1919, após um aborto involuntário, publicou o Livro de Mágoas. Alguns anos depois, depois de um novo aborto, separou-se do segundo marido, lançando, então, o Livro de Soror Saudade (1923).
Seriamente abalada pela morte do irmão, escreveu o livro As Máscaras do Destino. Em 1930 tentou suicídio por três vezes, com falecimento na terceira tentativa, no dia de seu aniversário, após o diagnóstico de um edema pulmonar. Eternizada aos 36 anos, deixou para publicação póstuma sua obra-prima Charneca em Flor (1931).

quinta-feira, dezembro 04, 2008

A DOCE CANÇÃO


Pus-me a cantar minha pena
com uma palavra tão doce,
de maneira tão serena,
que até Deus pensou que fosse
felicidade - e não pena.

Anjos de lira dourada
debruçaram-se da altura.
Não houve,no chão,criatura
de que eu não fosse invejada,
pela minha voz tão pura.

Acordei a quem dormia,
fiz suspirarem defuntos.
Um arco íris de alegria
da minha boca se erguia
pondo o sonho e a vida juntos.

O mistério do meu canto,
Deus não soube,tu não viste.
Prodígio imenso do pranto:
-todos perdidos de encanto,
só eu morrendo de triste!

Por assim tão docemente
meu mal transformar em verso,
oxalá Deus não o aumente,
para trazer o universo
de pólo a pólo contente.



Cecília Meireles

quarta-feira, novembro 26, 2008

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO


Em algum lugar do passado
Você existiu para mim,
E eu já sabia
Que assim virias...

Em algum lugar do passado,
Fomos, nós dois,
Brisa fresca,
Rosas em flor...

Em algum lugar do passado,
Te amei,
Te guardei,
Você me amou e cativou...

Em algum lugar do passado,
Nossos corpos e corações
Foram um só,
Melodia interminável
De nosso amor sem fim...

Em algum lugar do passado,
Nos deixamos
Com a certeza do reencontro,
Como sabemos agora,
Que nos encontramos...

Em algum lugar do passado,
Prometemos jamais nos esquecer
E, agora, no presente,
Carregamos sempre vivas as lembranças
Deste tão sublime querer...

Em algum lugar do passado,
Fomos felizes,
Fomos amantes,
Como a flor e a raiz,
O mar e a areia,
Deste amor sem igual...

Em algum lugar do passado,

Dançamos com o vento,
Corremos pela praia
E tivemos sonhos vindouros
Deste amor infinito
Que jamais nos deixaria...

Em algum lugar do presente,

Nos reencontramos...
Palavras, atitudes
Que despertam as lembranças das almas,
Que sabiam se conhecer...
Em algum lugar do presente,

Olhares, gestos, toques,
Sensações indescritíveis,
Que somente nossos corações identificam...

Em algum lugar do presente,
Saberemos o que somos
E o que fomos:Luz do sol,
Amor verdadeiro,
Nesta busca insaciável
De nós dois...
Em algum lugar do passado...
Em algum lugar do presente...


Autoria: Denise

domingo, novembro 23, 2008

Chamam-te linda, chamam-te formosa,
Chamam-te bela, chamam-te gentil...
A rosa é linda, é bela, é graciosa,
Porém a tua graça é mais subtil.

A onda que na praia, sinuosa,
A areia enfeita com encantos mil,
Não tem a graça, a curva luminosa
Das linhas do teu corpo, amor e ardil.

Chamam-te linda, encantadora ou bela;
Da tua graça é pálida aguarela
Todo o nome que o mundo à graça der.

Pergunto a Deus o nome que hei-de dar-te,
E Deus responde em mim, por toda parte:
Não chames bela ? Chama-lhe Mulher!


Ruy de Noronha

quinta-feira, novembro 20, 2008

MANIFESTO ANTI-DANTAS

Declamado por Mário Viegas

(para ouvir desligue a música do blog)

segunda-feira, novembro 17, 2008

NESTE TEU OLHAR


Há, neste olhar com que me olhas,
alguma coisa a mais que não defino,
algo assim inacessível
e ao mesmo tempo tão chegado.
Há, neste olhar com que me olhas,
uma luz profunda
que me embriaga
e me faz tremer,
ciente de que me vês.
Há, em teu olhar
e no teu jeito,
alguma coisa de íntimo
que me arrebata,
e me atira
num deslumbramento
febril, inebriante.
Sei que me sentes,
embora sem palavras
nos falamos.
Tu sabes que sou a meta,
eu sei que tu és o fim.

Autoria: Maura




sábado, novembro 15, 2008

CHARLIE CHAPLIN


Sorria,
embora seu coração esteja doendo.
Sorria, embora esteja se quebrando.
Enquanto houver nuvens
No céu, você sobreviverá
Se você sorrir
Através dos seus medos e tristezas
Sorria, e talvez amanhã
Você veja o sol brilhando para você.
Ilumine seu rosto com felicidade,
Esconda qualquer traço de tristeza,
Embora uma lágrima
Possa estar sempre próxima.
É o momento em que você precisa continuar tentando.
Sorria,
Qual o motivo de chorar?
Você vai perceber que a vida ainda vale a pena,
Se você sorrir.



Charlie Chaplin

domingo, novembro 09, 2008

NATUREZA

Soneto da Terra


Quem me dera poder retribuir-te
Em vida, tudo aquilo que me deste,
Este sopro de vida sem pedir-me
Nada em troca, daquilo que fizeste.
Gritar em defesa do teu nome
Lamentar por teus filhos avarentos
Morrer, pra saciar tua fome.
Escrever tua saga, teu lamento...
Mãe Terra, de tantas voltas vividas,
Pérola das águas, do poder da vida.
Vida tirana que decreta a morte.
Apesar de tudo, continuas forte.

Teu ciclo de vida...
Maior que o homem

Devolvendo a vida e coroando a morte.



José Manoel dos Santos

terça-feira, novembro 04, 2008

O TEU RISO



Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.



[Pablo Neruda]

domingo, novembro 02, 2008

POEMINHA SENTIMENTAL

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.


Mário Quintana

segunda-feira, outubro 13, 2008

SENTIMENTOS


Junto
às mágoas
dorme o sonho
Amanhã
pela manhã
virão
os olhos acordar-me
O resto
invento.

Domingos Galamba


sexta-feira, outubro 10, 2008

O VERBO AMAR




Te amei: - era de longe que eu te olhava


e de longe me olhavas vagamente...


Ah, quanta coisa nesse tempo a gente


sente, que a alma da gente faz escrava...


Te amava: - como inquieto adolescente,


tremendo ao te enlaçar... E te enlaçava


adivinhando esse mistério ardente


do mundo, em cada beijo que te dava!


Te amo: - e ao te amar assim vou conjugando


os tempos todos desse amor, enquanto


segue a vida, vivendo... e eu, vou te amando...


Te amar é mais que um verbo, é a minha lei:


- e é por ti que o repito no meu canto:


te amei, te amava, te amo e te amarei!




(J.G. de Araújo Jorge)

quarta-feira, outubro 01, 2008

*********


segunda-feira, setembro 22, 2008

BALADA DE OUTONO

Impiedoso Setembro …

Traz a balada de Outono

Que muda na folha as cores

Seduz e despe as flores

Num sestro de abandono...

Em toada persistente

As folhas , essas coitadas

Vão caindo lentamente

Das àrvores amarguradas

Ao ficarem desnudadas

De cada folha cadente...

Será que uma folha sente

Na despedida a tristeza ?…

Como dom da Natureza !…

E que em secreta amargura

Sofre, mas nunca se queixa

Como alguém que a Pátria deixa

Por destino ou desventura ?!…

E em cada folha caída

Resta uma angústia profunda

Num frágil sopro de vida

A sussurrar moribunda:Não fez sentido viver

Esta tão curta existência…

Outono… Sem clemência

Tão cedo me fez morrer !…




Euclides Cavaco

quinta-feira, setembro 18, 2008

PARALELAS


Tu és o sótão e eu o porão
Tu és a cumeeira e eu o alicerce oculto
Tu és a parte exposta do iceberg
Eu sou a metade submersa
Tu és o zênite e eu o nadir
Tu és a cara da moeda e eu a coroa
Eu te conheço porque és a outra parte de mim
Tu me conheces porque sou a outra parte de ti
Para que possas ser a metade exposta
É preciso que eu seja a metade implícita
Para que possas declinar versos angelicais
É preciso que eu derrame versos abismais
Eu não minto e nem tu mentes jamais
Escolhes falar da luz por opção
Escolho rasgar abismos por oposição
Caminhamos paradoxalmente na mesma direção
Para que possas suportar-te na cumeeira
Faço-me a base segura e obscura do teu altar
E nesta junção milenar
Somos qual duas linhas paralelas
Fadadas a andar lado a lado
Sem jamais poder se encontrar.




( Fátima Irene Pinto)

sábado, setembro 13, 2008

SÚPLICA




Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.






Miguel Torga

segunda-feira, setembro 08, 2008

sábado, agosto 23, 2008

CANÇÃO



Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.




Cecília Meireles


quinta-feira, agosto 07, 2008

O TEMPO


A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.


Mário Quintana

quarta-feira, agosto 06, 2008

POESIA

Perguntei a um sábio,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
a Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira. Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.


Willim Shakespeare

terça-feira, agosto 05, 2008

UM DIA DESTES...


Um dia destes

vou perguntar aos ventos
pela menina inquieta
que fugia para a rua
a brincar com os rapazes.
Vou perguntar
ao sol de Outono
pelos carreiros da saudade
onde ela via passar
gado e gente
a caminho
dos outeiros mais próximos;
e vou
de vereda em vereda
perguntar aos riachos
que correm
às aves que cantam
às borboletas
que esvoaçam
onde ficou essa menina
e o que foi feito dela!
Ela que conhecia
os córregos mais escondidos
os galhos
das árvores mais altas
os silvados
onde se escondiam os melros
os frutos mais doces
os campos mais floridos
os largos mais propícios
ao jogo do botão...um dia destes
vou descobrir
onde andam
o seu pião e o seu arco
o seu baloiço
da barraca da palha
a sua corda de saltar...
e vou
olhando-a nos olhos
saber que amor a prendeu
e que idade tem agora
o seu coração!..

MARIA MAMEDE

domingo, julho 27, 2008

quarta-feira, julho 23, 2008

ALMAS GÊMEAS SEPARADAS

©Sicouza


Não viestes
expontaneamente.
Eu chamei por ti
e viestes meiga,sorrindo delicada.
Ainda permaneces aqui.
Ficastes e nos teus braços,
na tua alma agasalhei-me...

Acolhestes a minha carência
e no teu mundo entrei
Nos sonhos,na poesia,
no enternecer de melodias,
[como filho da lua],
foi o mundo em que sempre orbitei
e como entrei no teu,
para o meu te chamei
Nas confidências trocadas
entre queixas e risadas,
descobrimos tantas coisas comuns
que fazem-nos almas gêmeas,
andando por estradas separadas!

sexta-feira, julho 18, 2008



Quando nossas mãos se tocam
Ao caminhar na beira-mar, vem
Logo um gosto de casa, de calor
Das coisas feitas com amor...
Quando nossas mãos se encontram
Há luz no caminho que percorremos
Céu e mar ganham tons de rosa
E o coração fica em paz....
Quando nossas mãos se entrelaçam
O universo conspira em silêncio
Protegendo-nos de todo o mal,
Guardando este amor para sempre...
De mãos dadas você é meu guia,
É uma alma que abraça outra alma,
Para amar e ser amada,
É tarde cinza de inverno
Que se ilumina na beira mar....


Sônia Schmorantz

domingo, julho 06, 2008

*****

Perguntei a um sábio,a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira. Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.




William Shakespeare

sexta-feira, junho 27, 2008

QUANDO FORES VELHA


Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas;


Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto que mudava;


Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.
William B. Yeats

domingo, junho 15, 2008

POESIA




A hora da partida soa quando

Escurece o jardim e o vento passa,

Estala o chão e as portas batem, quando

A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando as árvores parecem inspiradas

Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos

Me é estranha e longínqua a minha face

E de mim se desprende a minha vida.



Sophia de Mello Breyner A.


quarta-feira, junho 11, 2008

TODO O DIA É MENOS UM DIA

Todo dia é menos um dia;
menos um dia para ser feliz;
é menos um dia para dar e receber;
é menos um dia para amar e ser amado;
é menos um dia para ouvir e, principalmente, calar!
Sim, porque calando nem sempre quer dizer
que concordamos com o que ouvimos ou lemos,
mas estamos dando a outrem a chance de pensar,
refletir, saber o que falou ou escreveu.
Saber ouvir é um raro dom, reconheçamos.
Mas saber calar, mais raro ainda.
E como humanos estamos sujeitos a errar.
E nosso erro mais primário, é não saber ouvir e calar!
Todo dia é menos um dia para dar um sorriso.
Muitas vezes alguém precisa, apenas de um sorriso
para sentir um pouco de felicidade!
Todo dia é menos um dia para dizer:- Desculpe, eu errei!
Para dizer:- Perdoe-me por favor, fui injusto!
Todo dia é menos um dia;
Para voltarmos sobre os nossos passos.
De repente descobrimos que estamos muito longe
E já não há mais como encontrar
onde pisamos quando íamos.
Já não conseguiremos distinguir nossos passos
de tantos outros que vieram depois dos nossos.
E se esse dia chega, por mais que voltemos,
estaremos seguindo um caminho, que jamais
nos trará ao ponto de partida.
Por isso use cada dia com sabedoria.
Ouça e cale se não se sentir bem.
Leia e deixe de lado, outra hora você vai conseguir
interpretar melhor e saber o que quis ser dito.




(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, junho 08, 2008

QUANDO EU PARTIR



Ruy Cinatti


Quando Eu Partir


Quando eu partir, quando eu partir de novo
A alma e o corpo unidos,
Num último e derradeiro esforço de criação;
Quando eu partir...
Como se um outro ser nascesse
De uma crisália prestes a morrer sobre um muro estéril,
E sem que o milagre se abrisse
As janelas da vida. . .
Então pertencer-me-ei.
Na minha solidão, as minhas lágrimas
Hão de ter o gosto dos horizontes sonhados na adolescência,
E eu serei o senhor da minha própria liberdade.
Nada ficará no lugar que eu ocupei.
O último adeus virá daquelas mãos abertas
Que hão de abençoar um mundo renegado
No silêncio de uma noite em que um navio
Me levará para sempre.
Mas ali
Hei -de habitar no coração de certos que me amaram;
Ali hei -de ser eu como eles próprios me sonharam;
Irremediavelmente... Para sempre.

sábado, junho 07, 2008

sexta-feira, maio 30, 2008

CASA NA CHUVA

A chuva, outra vez a chuva sobre as oliveiras.
Não sei porque voltou esta tarde
se minha mãe já se foi embora,
já não vem à varanda para a ver cair,
já não levanta os olhos da costura
para perguntar: Ouves?
Oiço, mãe, é outra vez a chuva,
a chuva sobre o teu rosto.


Eugénio de Andrade
Trinta Poemas



sábado, maio 24, 2008

CHOVE...

Chove...

Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?


Chove...

Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.


Poema de José Gomes Ferreira

domingo, maio 04, 2008

PARA TI, MÃE


Os teus olhos escorrem como fontes
E em todo o teu ser existe
O sonho grave, nítido e triste
Duma paisagem de pinhais e montes.

Na tua voz as palavras são nocturnas

E todas as coisas graves, grandes, taciturnas
A ti são semelhantes.


Sophia de M. B. Andresen

terça-feira, abril 22, 2008

HÁ DIAS

Há dias em que julgamos
que todo o lixo do mundo
nos cai em cima
depois ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam
não lhes sei o nome
uma ou outra parece-se comigo
quero eu dizer:com o que fui
quando cheguei a ser luminosa
presença da graça
ou da alegria
um sorriso abre-se então
num verão antigo
e dura
dura ainda...


Eugénio de Andrade

segunda-feira, abril 21, 2008

A TUA VOZ NA PRIMAVERA

Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios húmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!

Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo beijo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!

Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...

Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!




Florbela Espanca

quinta-feira, abril 17, 2008

SEM TITULO


"Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo.
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa! "

Alexandre O'Neill.

sexta-feira, abril 11, 2008

SEM TITULO

Eu sou a que procura uma certeza
Na incerteza de dias sempre iguais.
A que busca a vida na estreiteza
Destes caminhos que não terminam mais.



Eu sou a de infinitos ideais,
A que conhece da vida a aspereza,
A que mais sofre porque ama demsis,
A que mais ri porque tem mais tristeza.



Eu sou a do sonho irrealizado,
Sou a sem futuro e sem passado,
Sou quem mais esoera e mais deseja.



Eu sou um coração desfeito em pranto,
Sou barco perdido em mar de espanto,
Mas sou a que não esmola nem rasteja!





FEIA

domingo, abril 06, 2008

AMIGA!




Quantas vezes somos maltratadas

Pela vida... faz com que perdemos o rumo
O destino com suas armadilhas disfarçadas
Nos pregam peças nos tirando do prumo...

Tempestades caindo sobre a tarde

Trazendo nessas nuvens, solidão...
Nas preces, peço a dor que se retarde
Mas ouço tão somente o mesmo não...

Vencida pelas dores, indefesa,

Evito que a solidão me abraça...
medo o pavor da dor e da tristeza,
Minha lágrima perdida não se disfarça...

Ambas estamos lambendo nossa ferida
A dor tem sido difícil suportar

Nos braços que me deste, minha querida!
Eu não sei por que não soube aportar.





Solange Silva





quarta-feira, abril 02, 2008

NA MÂO DE DEUS

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!



(Antero de Quental)

domingo, março 30, 2008

TEATRO DA BONECA

A menina tinha os cabelos louros.
A boneca também.
A menina tinha os olhos castanhos.
Os da boneca eram azuis.

A menina gostava loucamente da boneca
A boneca ninguém sabe se gostava da menina.
Mas a menina morreu.
A boneca ficou.

Agora já ninguém sabe se a menina gosta da boneca.
E a boneca não cabe em nenhuma gaveta.
A boneca abre as tampas de todas as malas.
A boneca é maior que a presença de todas as coisas.
A boneca está em toda a parte.

A boneca enche a casa toda.
É preciso esconder a boneca.
É preciso que a boneca desapareça para sempre.
É preciso matar, é preciso enterrar a boneca.

A boneca.
A boneca.



Carlos Queirós

domingo, março 16, 2008

POEMA DA MENINA TONTA




A menina tonta passa metade do dia
a namorar quem passa pela rua,
que a outra metade fica
pr'a namorar-se no espelho.
A menina tonta tem olhos de retrós preto,
cabelos de linha de bordar,
e a boca é um pedaço de qualquer tecido vermelho.
A menina tonta tem vestidos de seda
e sapatos de seda,
é toda fria, fria como a seda:
as olheiras postiças de crepe amarrotado,
as mãos viúvas entre as flores emurchecidas,
caídas da janela,
desfolham pétalas de papel...
No passeio em frente estão os namorados
com os olhos cansados de esperar
com os braços cansados de acenar
com a boca cansada de pedir...
A menina tonta tem coração sem corda,
a boca sem desejos,
os olhos sem luz...
E os namorados cansados de namorar...
Eles não sabem que a menina tonta tem a cabeça cheia de farelos.
***
Manuel da Fonseca, Poemas Completos


quinta-feira, março 13, 2008

UM SONHO


Sonhei que me mataste e tive pena

Da dor que de fazê-lo sentirias...

Não te rias, meu anjo, não te rias

Nossa alma pode ser de afectos plena,


Olhar a morte impávida e serena

E sucumbir a alheias agonias.

O mais pungente dessa triste cena

Era, acredita, ver que padecias.


Tendo-me morto tu depois choraste...

Ouvi-te ali, sem me poder mover

Sentindo em dor o coração estalar!...


Sonho maldito que o Senhor afaste:

Ter-te junto de mim, ver-te sofrer

E não ter voz para te consolar.




Maria d'Eça Leal

domingo, março 09, 2008

POESIA




Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.
Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.
Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:
Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.


(William Shakespeare)

quinta-feira, março 06, 2008

SE

Se eu pudesse parar a minha vida
E dar eternidade a um só momento
Se eu não tivesse o meu destino preso
Ao destino das cousas nos espaços
Se eu pudesse destruir todas as leis
E dentro do universo que se move
parar meu mundo:
-havia de escolher esse segundo
em que você estivesse nos meus braços!



(desconheço o autor)

sábado, março 01, 2008

O MESMO CAMINHO


Deixa correr, serenas, estas horas...
Não me despertes, não!... quero sonhar!
Horas felizes, horas redentoras,
Quero gozá-las... podem não voltar!


Embala-me! - são horas tentadoras...
Envolve-me na luz do teu olhar,
De pupilas astrais, encantadoras,
E deixa-me a teu lado caminhar!...

Não me abandones! - deixa-me segir
O teu caminho, que eu vejo, a sorrir,
Entre miragens de felicidade!

Seguiremos, com dúlcido carinho...
O teu será também, o meu caminho
Que nos há-de levar à eternidade!


M.Jose Alves Pereira da Silva