Vira e mexe eu apareço aqui no blog para reclamar da vida. É assim mesmo.
Se eu for analisar a trajetória desse meu pequeno espaço virtual, me parecerá perceptível que eu majoritariamente recorri às palavras no momento das minhas crises leves.
As crises pesadas me emudeceram de uma maneira assustadora.
A felicidade me faz querer viver, não escrever.
Essa constatação me dá, ao mesmo tempo, uma pequena esperança, mas com um tom triste de autocomiseração. Me sinto ridícula e impotente. Mas me sinto com vontade de dizer. Ainda que eu não saiba muito bem o que.
Minha exaustão deriva de uma preocupação boba que me faz, contudo, oscilar terrivelmente de humor. Não é um questionamento tão existencial assim. Mas não deixa de fazer parte da existência, afinal. Ou talvez seja a mais existencial de todas as questões corriqueiras. Sei lá.
É consideravelmente difícil estabelecer prioridades para os pensamentos que vão habitar as nossas mentes. Tem uma questão muito pontual que me incomoda diariamente. Mas eu não tenho coragem de admiti-la pra mim mesma - e sempre me debulho em lágrimas quando passo perto dela nas sessões de terapia.
Pode ser que eu esteja escrevendo por estar me sentindo profundamente sozinha. Acho que isso já explica muita coisa. Acho que eu já falei o que eu precisava falar.
domingo, 16 de outubro de 2016
segunda-feira, 25 de julho de 2016
July 25th - um dia muito hoje, como todos os outros
"Tem carinho, tem afeto, tudo isso. Mas não estou envolvido. Não era isso o que você queria?"
Era exatamente isso o que eu queria. É exatamente isso o que eu estou sentindo, também, inclusive.
Mas existe um labirinto entre o que a gente quer (o ponto de chegada) e o que achamos que queremos (o ponto de partida). E nem sei se a gente chega a atravessar o labirinto no fim das contas. Então seria mais apropriado dizer que (por mais que o meu orgulho ainda prefira a primeira versão):
Acho que era isso o que eu queria, acho que é isso o que estou sentindo, também, inclusive.
Porque, por mais que eu reflita - e eu penso à exaustão todos os sentimentos que batem à minha porta e até os que eu promovo voluntariamente -, nunca tenho certeza de nada, e nunca nada sai como o planejado.
(E eu também estou supondo a ideia inicial, né? Nem dela eu tenho certeza. Ela nunca foi proferida, só lida nas entrelinhas das ações de um passado que já não existe mais para a minha percepção linear do tempo.)
Sei lá o que é que eu tenho que fazer. Se pá eu vou deixar isso tudo pra lá. Já está circunscrito no passado, mesmo. Cada dia é um novo dia, tudo que passou só diz respeito a mim, e pra mim tudo isso morre em cada dia que nasce.
(Mentira?)
Era exatamente isso o que eu queria. É exatamente isso o que eu estou sentindo, também, inclusive.
Mas existe um labirinto entre o que a gente quer (o ponto de chegada) e o que achamos que queremos (o ponto de partida). E nem sei se a gente chega a atravessar o labirinto no fim das contas. Então seria mais apropriado dizer que (por mais que o meu orgulho ainda prefira a primeira versão):
Acho que era isso o que eu queria, acho que é isso o que estou sentindo, também, inclusive.
Porque, por mais que eu reflita - e eu penso à exaustão todos os sentimentos que batem à minha porta e até os que eu promovo voluntariamente -, nunca tenho certeza de nada, e nunca nada sai como o planejado.
(E eu também estou supondo a ideia inicial, né? Nem dela eu tenho certeza. Ela nunca foi proferida, só lida nas entrelinhas das ações de um passado que já não existe mais para a minha percepção linear do tempo.)
Sei lá o que é que eu tenho que fazer. Se pá eu vou deixar isso tudo pra lá. Já está circunscrito no passado, mesmo. Cada dia é um novo dia, tudo que passou só diz respeito a mim, e pra mim tudo isso morre em cada dia que nasce.
(Mentira?)
sábado, 16 de julho de 2016
Ela
[...]
E o mundo girando
E dançando para nós.
Já sonhei algumas vezes com músicas que eu nunca ouvi. Acontece de o meu cérebro compor músicas durante os seus passeios oníricos - costumam ser canções populares. Me lembrei desses dois últimos versos, cuja melodia me escapa (apesar de saber que o "nós" se esticava numa nota baixa, bem dramática), mas as palavras permaneceram de um jeito muito curioso. Elas tinham uma cadência um tanto melancólica, mas me pareceu uma ideia bela - o mundo girando, inexoravelmente, e esse giro ser um bailar feito apenas para mim e para ela. Gostar deve ter, por uma de suas infinitas definições, a ideia de que o mundo só existe para que se possa estar com a pessoa gostada (e eu não digo "amada" porque 1. é inapropriado para o momento; 2. acho esse sentimento forte demais; 3. acho que meio que já o desconheço).
Pensei em escrever um poema com esses dois versos finais, mas não sei se ainda me resta habilidade para tanto. O primeiro "e" que inicia esse penúltimo verso me desperta uma curiosidade gigantesca de saber o que, afinal de contas, o meu subconsciente estava dizendo a respeito dos sentimentos que ela me provoca - ela, que vem habitando os meus sonhos com alguma frequência, que habita minha vida de forma bela e pontual.
Pensei em escrever um poema para ela, e sabia que, ao mostrá-lo, ela ficaria felicíssima - até porque nós temos uma certeza incerta de que há algo muito indefinível e bonito que nos liga, e que deve nos ligar por algum tempo. Não sabemos dizer, ao certo, por quanto tempo (que eu gostaria que fosse toda essa pequena eternidade do espaço de uma vida) porque nada se afirma com certeza nessa vida estranha. Mas ela evoca em mim um gostar tão desobrigado, tão despreocupado, que deve ser por isso que ela está presente em mim de forma tão sutil e leve. E deve ser por isso que o mundo dança para nós.
A música não tinha título, esse que dei a esse texto, e que seria o título do potencial poema que eu escreveria. Mas eu sabia que a música e o baile e os meus sonhos tinham-na como mote. Ela foi o primeiro pensamento que me ocorreu assim que acordei no dia de hoje - de uma forma curiosa, eu sabia que era ela. E isso não me doer me parece algo suficientemente precioso, porque é bom demais ter sentimentos que não doem de forma alguma.
quinta-feira, 9 de junho de 2016
Conteúdo do subconsciente
Eu estava preparando um avião pequeno, que cabia apenas a
mim, para fazer uma longa viagem de fuga. Eu já havia feito passeios pequenos,
que não haviam me demandado tanto trabalho, mas ao longo do processo de preparo
para a grande viagem (que seria algo como daqui a BH) eu percebi que, para fazer
um voo mais longo, eu precisaria de mais elementos (básicos, como calçar um
sapato fechado, colocar um capacete, um óculos para proteger os olhos, blusas
de frio, tendo em vista que era um avião aberto, daqueles antigos – cujos pedais
eram de madeira, inclusive). Eu curiosamente sabia pilotá-lo, mas mal, com
certa dificuldade, e tinha essa insegurança de não ter certeza se conseguiria
guiá-lo até o destino final (e acabei me recordando de conhecidos, não tão
antigos, que dominavam uma prática relacionada). Foi ao longo da preparação que
eu fui bolando soluções (de improviso) para os problemas que iam surgindo – até
o ponto de usar o Google Maps como mapa de navegação aérea. Alguém, que já
havia pilotado o avião, me alertou para os perigos do manejo, que eu me
depararia com obstáculos e precisaria fazer manobras complicadas. Até que eu
enfim conseguisse sair do lugar onde eu me encontrava – ou seja, decolar com o
avião –, houve muitos percalços, e eu tive que decolar em fuga de um conflito
que estava acontecendo no momento (que era claro, mas eu não consigo me lembrar
agora do que se tratava). Quando enfim eu estava voando (e a sensação de voar
era primorosa), a despeito dos meus esforços de controlar o avião, eu fui
perdendo altitude, até perceber que havia ficado sem combustível. Curiosamente,
parei num posto de abastecimento, em que vim a descobrir que o tanque do avião
era diminuto, e o combustível era caríssimo (mas nada que eu não conseguisse
pagar). Comprei um lanche, enchi o tanque, e continuei a viagem. Daí o avião
parou dentro de um apartamento em que havia um homem (que eu não conheço) que
queria me impedir de prosseguir viagem de todas as maneiras (e eu já não era
mais “eu”, mas havia assumido outra identidade). Apesar de não ser mais “eu”,
senti as dores das investidas violentas dele de me impedir prosseguir, que
incluíam agulhas infectadas com as quais ele me espetou – uma bem na base da
coluna, inclusive, que é a memória física que me restou mais forte. Por fim,
consegui me desvencilhar, mas não sem o pesar e o luto pela agressão que eu
havia sofrido, sabendo que eu teria que arcar com seus efeitos. Acordei sem
chegar ao meu destino final, e sem haver amanhecido.
(Engraçado é que esse é o sonho noturno, que está em total consonância com o sonho vespertino, em que eu também fugia sob condições adversas - em cima do baú de um caminhão de carga, de bordas lisas, sem muito onde me segurar, que andava em alta velocidade. Mas pelo menos no sonho noturno era eu quem controlava o veículo.)
(Engraçado é que esse é o sonho noturno, que está em total consonância com o sonho vespertino, em que eu também fugia sob condições adversas - em cima do baú de um caminhão de carga, de bordas lisas, sem muito onde me segurar, que andava em alta velocidade. Mas pelo menos no sonho noturno era eu quem controlava o veículo.)
quarta-feira, 8 de junho de 2016
Um poema antigo e atual
Marcha
Cecília Meireles
As ordens da madrugada
romperam por sobre os montes:
nosso caminho se alarga
sem campos verdes nem fontes.
Apenas o sol redondo
e alguma esmola de vento
quebraram as formas do sono
com a ideia do movimento.
Vamos a passo e de longe;
entre nós dois anda o mundo,
com alguns vivos pela tona,
com alguns mortos pelo fundo.
As aves trazem mentiras
de países sem sofrimento.
Por mais que alargue as pupilas,
mais minha dúvida aumento.
Também não pretendo nada
senão ir andando à toa,
como um número que se arma
e em seguida se esboroa,
-- e cair no mesmo poço
de inércia e de esquecimento,
onde o fim do tempo soma
pedras, águas, pensamento.
Gosto da minha palavra
pelo sabor que lhe deste:
mesmo quando é linda, amarga
como qualquer fruto agreste.
Mesmo assim amarga,
é tudo que tenho, entre o sol e o vento:
meu vestido, minha música,
meu sonho, meu alimento.
Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudades;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.
Soltam-se os meus dedos tristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento.
Como tudo sempre acaba,
oxalá seja bem cedo!
A esperança que falava
tem lábios brancos de medo.
O horizonte corta a vida
isento de tudo, isento...
Não há lagrima nem grito:
apenas consentimento.
Cecília Meireles
As ordens da madrugada
romperam por sobre os montes:
nosso caminho se alarga
sem campos verdes nem fontes.
Apenas o sol redondo
e alguma esmola de vento
quebraram as formas do sono
com a ideia do movimento.
Vamos a passo e de longe;
entre nós dois anda o mundo,
com alguns vivos pela tona,
com alguns mortos pelo fundo.
As aves trazem mentiras
de países sem sofrimento.
Por mais que alargue as pupilas,
mais minha dúvida aumento.
Também não pretendo nada
senão ir andando à toa,
como um número que se arma
e em seguida se esboroa,
-- e cair no mesmo poço
de inércia e de esquecimento,
onde o fim do tempo soma
pedras, águas, pensamento.
Gosto da minha palavra
pelo sabor que lhe deste:
mesmo quando é linda, amarga
como qualquer fruto agreste.
Mesmo assim amarga,
é tudo que tenho, entre o sol e o vento:
meu vestido, minha música,
meu sonho, meu alimento.
Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudades;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.
Soltam-se os meus dedos tristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento.
Como tudo sempre acaba,
oxalá seja bem cedo!
A esperança que falava
tem lábios brancos de medo.
O horizonte corta a vida
isento de tudo, isento...
Não há lagrima nem grito:
apenas consentimento.
Ah, quando eu penso em você...
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