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Escrevo para lhe agradecer as férias deste ano em Lagos. Gostei muito do V. apartamento, gostei muito da cidade e também gostei muito de estar convosco esta semana. São uma família muito alegre e funcional. Nunca conheci este tipo de ambiente familiar tão saudável, pelo que venho agradecer-lhe ter-me proporcionado tal experiência.
Sinto-me, no entanto, na obrigação de alertar a minha querida pseudo-sogra para algumas situações que a minha querida pseudo-sogra parece fazer questão de ignorar…
Em primeiro lugar, tenho de lhe dizer que o seu filho NÃO É um inútil. Ele sabe lavar a louça, consegue passar uma esfregona pelo chão e, pasme-se!, parece que cozinha melhor do que eu (o que, na verdade, não deve ser muito difícil!). Sabia que foi ele que baptizou o meu vulgar fusilli com peru e natas de “Strogonoff de peru em cama de pasta”? Diga lá se não de chef…?
O que quero dizer com isto é que a minha querida pseudo-sogra já não precisa de o tratar como um bebé, cortando-lhe a frutinha ou fazendo todas as tarefas domésticas por ele. Agradeço, aliás, que não o faça, porque a querida pseudo-sogra não deve ter percebido, mas ele já espera que o trate assim e, portanto, quando a querida pseudo-sogra está por perto o seu bebé acomoda-se. Ora, isso significa problemas entre nós os dois…
Quero deixar aqui bem claro – já o tentei fazer antes, mas talvez tenha suavizado demais as palavras, porque a querida pseudo-sogra parece-me que não percebeu – que o seu bebé não arranjou outra mãe em mim. Isto é, eu não lhe vou cortar a frutinha, nem tirar as espinhas ao peixe, não vou cozinhar para ele (quando muito cozinho para os dois), nem vou fazer a faxina enquanto ele fica no sofá a ver os Jogos Olímpicos. Por isso, agradeço que, de futuro, e sempre que eu estiver presente, a querida pseudo-sogra não o encoraje a acomodar-se, fazendo todas as tarefas que devia ser ele a fazer. A querida pseudo-sogra pode não ter reparado, mas o tempo passou e o seu bebé tem quase 30 anos.
Na mesma linha de raciocínio, agradeço muito que a querida pseudo-sogra pare de me segredar receitas e formas infalíveis de “o A. Comer tudo o que se lhe põe à frente” ou de “fazer a cama do A. bem feita”. Sugiro que lhe conte, a ele, estes segredos fantásticos. Sabe?, sou talvez uma idealista incorrigível, mas sempre acreditei que a auto-suficiência é uma coisa muito bonita…
Agradeço-lhe também – porque sei que vieram do fundo do coração, pelo menos acreditando no largo sorriso com que os disse – os “elogios” que me foi fazendo. Sei que significa muito para a minha querida pseudo-sogra chamar-me de “minha norinha” e dizer que serei “uma boa dona de casa”. Mas, sabe?, a minha intenção não é nem nunca foi tornar-me sua nora nem ser boa dona de casa. Talvez a comparação seja excessiva, mas espero que assim a minha querida pseudo-sogra perceba finalmente o que quero dizer: as palavras “nora” e “dona de casa” são pregos no meu caixão. E, como sabe, eu fujo da morte…
Com isto não quero dizer que as minhas intenções para com o seu bebé não sejam honestas. O que é que pode ser mais honesto do que encorajá-lo todos os dias a encontrar uma outra jovem qualquer que não se importe de lhe cortar a frutinha ou cujo sonho seja andar de branco até ao altar?
O que quero dizer é que, na minha cabeça, quando me imagino com 50 ou 60 anos, não me vejo a tomar conta de uma cozinha para monopolizar a confecção de uma refeição para oito enquanto me queixo do que fizeram mal todos os que foram tentando fazer o mesmo ou do quanto trabalho a mais para manter a família feliz. Não me vejo a chamar as “minhas norinhas” para ajudar enquanto os meus bebés ficam sentados ou deitados no sofá (sem um pingo de vergonha!) a ver TV ou a jogar computador... Mas suponho que isso é uma questão geracional, por isso nunca discuti com a minha querida pseudo-sogra…
Aos 50 ou 60 anos, espero que as minhas preocupações ultrapassem ainda o cotão que poderá existir debaixo da cama. Espero estar a fazer a mala – com ou sem esforço – para a próxima viagem… com ou sem companhia…
Compreendo, por isso, querida pseudo-sogra, se a querida pseudo-sogra não me quiser junto de vós nas próximas férias, uma vez que esta nunca será – assumidamente! – a rapariga que a vai substituir nos cuidados que tem para com o seu bebé. Para dizer a verdade, e apesar do prazer que foi passar férias com uma família alegre e funcional, eu própria não posso garantir que quererei voltar a jogar este jogo…
Despeço-me com carinho, desejando que a minha querida pseudo-sogra consiga sempre manter a sua família unida à sua volta.
Beijinhos,
GK