Eu fui assistir a A Dama de Ferro (The Iron Lady, 2012) preparado para ver um filme chato que faz um retrato confuso da ex primeira-ministra britânica (conforme laudo da crítica especializada), mas animado para ver Meryl Streep em mais um desempenho excepcional. Surpreendi-me duplamente. Achei o filme interessante e nada chato, mas não vi Meryl Streep.
A história começa com Margaret Thatcher já idosa, em alguma época perto da atual, sofrendo de um tipo de demência que a faz confundir a realidade. Ela se sente culpada por ter negligenciado a família a vida toda em prol da política, conversa com o fantasma do marido já falecido, e tem flashes de memórias que servem para contar sua trajetória de filha de quitandeiro a primeira-ministra mais dura que o mundo já conheceu. Com isto o filme ficou mais humano e a mulher de ferro ficou mais mulher e menos ferro.
Quem convive com idosos vai sentir uma pontada no coração com a realização, mais uma vez, de que o final da vida pode ser muito cruel. Margaret Thatcher não queria viver a vida lavando louça na cozinha de forma insignificante como sua mãe - mas nada garantia que ela não terminasse a vida assim.
De resto, o filme pode servir de exemplo para muitos dos políticos de hoje que entortam seus princípios ao sabor do vento. Margaret Thatcher fazia o que acreditava ser certo e não tinha medo da opinião pública. Populismo era palavra que não existia em seu dicionário. Tinha mais colhão que toda sua equipe de homens. Era rápida e sagaz (preste atenção na resposta que ela dá ao ministro americano quando ele tenta dissuadí-la de começar a guerra das Malvinas com o argumento que aquelas ilhas não tinham muita importância).
Algumas das frases que ela diz no filme (não sei se estas citações são reais) ajudam muito a entender os princípios desta mulher inquebrável, como quando ela diz com uma certa nostalgia do passado: "No meu tempo o importante era fazer alguma coisa; nos dias de hoje o importante é ser alguém".
Quanto à Meryl Streep, não vi. Ela está tão engolida pelo personagem, tão perfeitamente desaparecida sob a Margaret Thatcher nos maneirismos, no sotaque, na boca, na entonação, nos gestos, que eu tive que prestar muita atenção para tentar enxergá-la. É um caso para ser analisado à luz da mediunidade.