segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Adeus ano velho


Segundo o Towleroad, o maior site americano agregador de notícias para os LGBT, 2012 foi um ano para comemorar. O site lista 150 acontecimentos que fizeram de 2012 o ano mais gay de toda a História da humanidade - comprovando que o momentum a que me referi antes deve entrar arrebentando em 2013 para conquistas ainda mais importantes.

Aproveito para deixar aqui meus agradecimentos a todos os leitores amigos que se tornaram em amigos leitores e que me têm dado o privilégio da convivência por meio deste blog. Que todos consigamos aprender com as lições de 2012 para transformar 2013 em um ano memorável! Um abraço apertado, um beijo gostoso, e nos vemos em 2013!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Quem eram os Irmãos Coragem na primeira versão?

O especial Doce de Mãe exibido pela Globo ontem foi apresentado como filme nacional, o que é um bom sinal. Assim talvez a Globo o disponibilize em DVD e o reprise futuramente em uma sessão da tarde, o que não costuma acontecer com as produções apresentadas apenas como especiais de estação. Foi simplesmente deliciosa a história da mãe idosa (Dona Picucha, interpretada por Fernanda Montenegro) cheia de vida que é o centro da preocupação dos filhos que não têm mais tempo para ela. E o especial se despediu do ano fazendo referência a um assunto que marcou 2012: o mendigo magia (aqui interpretado por Daniel de Oliveira, lindíssimo com visual desgrenhado, esfarrapado e sujo - reveja a cena aqui).

O texto leve, bem-humorado e cheio de verdades ditas de forma rápida e casual foi uma preciosidade. Como quando Dona Picucha cochicha com a vizinha: "meu filho mais novo gasta uma energia enorme para ninguém perceber que ele é gay. Mas todo mundo sabe e ninguém está ligando para isto". A relação dela com o filho Fernando e com o namorado dele - que ele insiste em apresentar como "amigo" - rendeu cenas ótimas, como aqui:

Reveja também esta outra cena de Dona Picucha caminhando distraída pela cidade com o discman no ouvido, e tente não se apaixonar por ela.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Momentum

Não há como entender a realidade do casamento igualitário sem entender uma grandeza física chamada momentum. Momentum de um corpo é, em teoria, o produto da massa pela velocidade, e pode ser melhor compreendido quando comparado com noções simples como o empuxo ou o impulso.

A aceitação do casamento entre duas pessoas do mesmo sexo atingiu um momentum extraordinário que parece ganhar força a olhos vistos.

Muita gente está começando a perceber que está ficando do lado errado da História. A reação de alguns é o desespero, como é o caso do papa em sua mensagem de Natal. Outros começam a perceber que está ficando cada vez mais difícil remar contra a maré, como o político americano Newt Gingrich, que sempre foi arqui-inimigo dos gays e absolutamente contra a igualdade no casamento, e nesta semana teve que jogar a toalha: "temos que admitir que o casamento igualitário é uma realidade". Quando há massa crítica para manter o momentum, não há força da Natureza que consiga brecar o fenômeno.

As Aventuras de Pi


As Aventuras de Pi (Life of Pi, 2012) é tudo que A Invenção de Hugo Cabret tentou ser no ano passado e não conseguiu. Uma história cativante com visual estonteantemente belo (até aí o filme de Martin Scorsese também cumpriu o requisito) contada com muita emoção. A emoção que faltou em A Invenção de Hugo Cabret, um filme frio, transborda em As Aventuras de Pi, que tem produção calorosa e emocionante.

O diretor Ang Lee parece estar se especializando em tirar leite de pedra. O Segredo de Brokeback Mountain era um conto de quinze páginas que podia ser lido em uma sentada de menos de meia hora. Ang Lee e sua equipe o transformaram em uma história sublime de amor e renúncia sem deturpar o original. Imagino que com As Aventuras de Pi não deva ter sido muito diferente. Embora eu não conheça o livro que inspirou o filme, é preciso muita habilidade para que tão poucos elementos rendam na tela uma história tão instigante e tão linda visualmente.

Eu tinha lido muitas críticas positivas do filme e fui ao cinema com a expectativa de assistir a um dos filmes mais bonitos do ano. Saí da sala com a certeza de ter visto um dos filmes mais bonitos da década.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O Impossível


Uma movimentação de placas tectônicas no fundo do mar perto da meia noite do dia de Natal de 2004 provocou uma onda gigante que atingiu 14 países e matou cerca de 260.000 pessoas na manhã seguinte. A Tailândia foi o país mais atingido, e nenhum filme vai conseguir mostrar as dimensões reais desta tragédia épica que é considerada um dos maiores desastres naturais de todos os tempos. O Impossível foca na história de uma família inglesa de cinco pessoas em férias em um resort tailandês durante o tsunami, e se baseia na história real de uma família espanhola que sobreviveu à tragédia.

O filme é impressionantemente chocante, e há muito tempo eu não via uma plateia assistir a um filme no mais absoluto silêncio; tanto que nos momentos mais tensos era possível ouvir a respiração nervosa do espectador do lado. Em poucos minutos a história apresenta a simpática família chegando à Tailândia para as férias (Naomi Watts, Ewan McGregor e três garotinhos lindos com desempenhos bastante convincentes), atravessa os festejos do dia de Natal, e chega à manhã ensolarada do dia 26 quando estão se divertindo à beira da piscina e são subitamente pegos pelo que parece ser o fim do mundo.

A partir daí o filme foca na tragédia pessoal desta família na luta por sobreviver a algo cuja dimensão é impossível de se avaliar, e principalmente na busca pelos outros familiares em uma região do país completamente destroçada.

O diretor espanhol Juan Antonio Bayona optou por descrever uma saga familiar, e acertadamente não caiu no erro de tentar explicar uma tragédia de dimensões incompreensíveis. O impacto e a desorientação pela tragédia são tão grandes que ninguém questiona o quê está acontecendo. É quando o ser humano volta àquele estágio mais primário da vida onde o essencial é apenas reunir forças para se juntar aos seus e continuar vivendo.

Um conselho: não esqueça de levar um lenço. Bem grande. Eu esqueci o lenço em casa e acabei encharcando o carpete do cinema. Mas o filme valeu cada lágrima.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Cala a boca, Ratzinga!

Apesar de não ser religioso, acho o Natal uma época bacana. Tirando o excesso de fofurice das mensagens cheias de frases de autoajuda que todo mundo se acha na obrigação de divulgar nesta época, o resto é muito bonito. O desejo das pessoas se encontrarem, o hábito de presentear quem se gosta, os ajuntamentos familiares, as comidas especiais. O Natal serve como uma espécie de balanço do ano, e como a origem da festa é o aniversário da chegada do profeta dos cristãos, a data é normalmente associada à paz, ao perdão, ao amor, ao recomeço.

Por isto é de se estranhar muito que a mensagem natalina oficial do papa, a autoridade suprema dos católicos, tenha vindo carregada de preconceito, de ódio, e de acusações. Mais uma vez o papa aproveita para destilar todo seu preconceito homofóbico sobre os cidadãos homossexuais e culpá-los pelas tragédias do mundo. Justamente o papa, o chefe de uma organização que proíbe a formação de famílias e que está atolada até o pescoço em acusações de pedofilia, se acha no direito de defender a família apontando o dedo para os homossexuais.

A declaração do papa arrancou respostas do deputado Jean Wyllys, do ministro das relações exteriores da Holanda, e de outros líderes indignados com o preconceito do chefe de uma igreja que cada vez perde mais contato com a realidade.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Eastsiders


Uma informação interessantíssima e superútil que aprendi em Eastsiders é que, para um casal gay, um gato corresponde a mais ou menos 2,8 filhos.

Eastsiders é a nova série sobre relacionamentos gays que está bombando na internet. Dois episódios já foram lançados e os outros estão vindo por aí. O primeiro episódio pode ser visto aqui, e o segundo aqui. E o trailer está aí embaixo. Programão para quem estiver achando este feriado um saco. Eu recomendo.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Parentes e serpentes

É claro que a notícia do rapaz que largou a mulher para ficar com o sogro chama a atenção. E é claro que este é um problema deles e uma questão íntima que nem deveria estar sendo explorada pelos jornais.

Mas eu vejo alguns pontos que merecem reflexão: relações extra-conjugais intra-familiares acontecem no Brasil desde o dia em que Cabral aportou nestas terras. Relações extra-conjugais intra-familiares com familiares de sexo diferente também. A diferença é que no futuro mais pessoas devem ter coragem de assumir este tipo de relação. Não é fácil para ninguém envolvido, mas no futuro a filosofia do "eu vou ser feliz e o resto que se foda" deve ganhar muito mais adeptos. Este caso certamente daria um bom filme.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Quer casar comigo?

Notícia boa para quem mora no estado de São Paulo: a partir do início de 2013 qualquer casal gay pode procurar um cartório de registro de pessoas naturais e dar entrada nos papeis para o casamento civil. Com isto fica facilitado e padronizado o procedimento, que antes requeria o prévio registro de união estável ou a instauração de processo judicial que colocava os casais à mercê da boa vontade e da interpretação pessoal de juízes.

É uma grande conquista e me faz sentir muito melhor. Muita gente não entende isto, e julga que a medida só tem importância para quem pretende se casar. Não poderiam estar mais errados. A luta por direitos não pode ser limitada pelo egoísmo do interesse apenas pelos direitos que pretende usufruir. Eu nunca QUIS casar. Mas eu sempre quis PODER casar. Agora eu tenho escolha.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

2012, o ano em que o mundo não acabou

2012 termina em duas semanas. O ano que foi o último de Whitney Houston, de Donna Summer, e de tantas outras personalidades deve mesmo ficar conhecido como o ano em que o mundo não acabou. E esta é aquela época em que as pessoas começam a fazer listas retrospectivas - talvez para se certificarem que valeu mesmo a pena ter passado por mais estes 365 dias.


Eu já não tenho muita paciência para ler listas dos melhores disto ou daquilo no ano, mas sempre aguardo com ansiedade a montagem de filmes do genrocks, que tem edição primorosa e é realmente uma obra de arte. Ele consegue roubar as cenas dos filmes e fazer algo novo que ultrapassa o conceito de simples colagem. Filmography 2012 é uma nova viagem.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

E assim gira o mundo...

Os deputados do Uruguai aprovaram ontem a lei da igualdade no casamento. Exatamente os mesmos direitos e obrigações, com os mesmos nomes. A lei agora vai para apreciação do senado, onde não deve encontrar nenhum empecilho, e estima-se que esteja em vigência já no começo do próximo ano. Agora, o mais impressionante: dos 87 deputados, 81 votaram a favor!! Exemplo ótimo de homens públicos que legislam para a população e não em causa própria.

No mesmo dia, no Brasil, país situado ao norte do Uruguai e tido como potência do futuro, o projeto que muda a resolução do Conselho Federal de Psicologia para institucionalizar a "cura gay" recebeu aprovação do relator, deputado Roberto Lucena (PV-SP), e continua avançando no Congresso Nacional.

E assim gira o mundo...

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

You ruined my Christmas

E quem disse que o Natal precisa ser sério, solene e chato?

The Pink Choice

Somos muitos, e somos muito diferentes. Alguns têm a sorte de viver em lugares mais civilizados como o Canadá ou a Dinamarca, outros têm que lutar a cada dia para sobreviver em Uganda ou no Marrocos. Mas, em muitos aspectos, somos muito parecidos. Quase iguais.

Esta é a conclusão a que chego ao olhar este trabalho maravilhoso da fotógrafa Maika Elan, que passou um ano fotografando casais gays no Vietnã. Foi há apenas três meses que o Vietnã viu a primeira parada gay de sua história, quando aproximadamente 100 pessoas desfilaram pelas ruas de Hanoi de bicicleta.

As fotos são lindas. Em cada detalhe, uma história. Em cada rosto, uma batalha. Veja aqui.






sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Um novo tempo

Há algo de novo no ar. E é algo bom.

A luta pelos direitos dos homossexuais é o lance atual da eterna guerra pela garantia dos direitos humanos. Os avanços conquistados nos países mais civilizados do planeta têm sido mais rápidos e mais abrangentes conforme a população que apóia os homossexuais cresce e prevalece sobre a parcela conservadora cada vez menor.

A Suprema Corte dos Estados Unidos anunciou hoje que analisará no próximo ano dois casos relacionados com os direitos dos gays. A notícia está sendo bastante comemorada. Ser escolhido para análise pela Suprema Corte nos Estados Unidos é mais ou menos como ganhar na loteria. A Suprema Corte elege pouquíssimos casos para serem analisados, e as decisões são normalmente históricas. Ninguém pode prever o resultado, principalmente se tratando de uma Corte que normalmente toma decisões conservadoras, mas pela velocidade com que a população americana tem abraçado e aceitado a igualdade dos gays, é muito possível que a Suprema Corte surpreenda com uma decisão iluminada. As matérias serão examinadas possivelmente em março, e as decisões deverão ser conhecidas no final de junho.

E no Brasil o caso da agressão covarde ao André Baliera teve, pela primeira vez, um tratamento diferente do que vinha acontecendo a acontecimentos deste tipo até então. Houve uma indignação generalizada, um apoio maior da imprensa (o fato continua notícia de destaque quase uma semana depois), uma condenação sem ressalvas das atitudes homofóbicas, e uma certa sensação de que agora chegamos ao limite. Até o blog da Folha Para Entender Direito, ótima fonte que sempre explica fatos do momento sob uma perspectiva jurídica, aproveitou para explicar hoje porque os dois agressores estão absolutamente ferrados e sem saída ao discorrer sobre como a lei enxerga a teoria das reações razoáveis e proporcionais. Vale a pena a leitura.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Que o homem não separe...

No primeiro dia de expedição de licenças de casamento para casais do mesmo sexo no estado de Washington após a recente aprovação da lei, algumas fotografias contam histórias emocionadas. Em cada rosto os sinais de quem tem vivido batalhas diárias há vários anos. Até o ativista Dan Savage, que já havia casado com o maridão Terry Miller no Canadá em 2005, apareceu para oficializar a união em seu estado.








quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Leve-me pra sair

Um documentário super hiper mega blaster legal sobre a nova geração gay do Brasil. É esta garotada que vai mudar este país e não tem nenhum bispo homofóbico que segure esta onda.



Obrigadíssimo, Herbert!!

Trote real

Nos dias de hoje parece não existir mais limites para as "pegadinhas" que os programas de TV ou rádio inventam na busca por audiência. A última delas foi feita por dois apresentadores de um programa de rádio da Austrália que telefonaram para o hospital onde Kate Middleton está internada e se passaram pela rainha Elisabeth e pelo príncipe Charles. Impressiona a facilidade com que eles obtiveram informações sobre o estado de saúde da paciente, e é visível a emoção da enfermeira chefe ao falar com a "rainha". E, é claro, as imitações ficaram muito engraçadas, com direito aos reais cães corgis latindo ao fundo.

O hospital confirmou o acontecimento e se desculpou por ter caído em uma pegadinha tão boba.

Five dances


Se o filme tiver metade da beleza do trailer já será um excelente negócio. Five Dances. Breve.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A fada do conto

Só agora a história foi revelada, mas em outubro último, a futura rainha da Noruega, Princesa Mette-Marit, que já vive em um mundo parecido com o de um conto de fadas, resolveu agir como a própria fada-madrinha. Muito amiga de um casal gay que trabalha no palácio real, Mette-Marit também estava super animada com o filho de barriga de aluguel que o casal logo conheceria. Os bebês gêmeos nasceram antes do tempo e estavam sozinhos em uma maternidade da India, e os pais impossibilitados de viajar com urgência. A notícia pode ser lida aqui e aqui.

Mette-Marit não pensou duas vezes. Usou seu passaporte diplomático e pegou o primeiro avião para a India. Apresentou-se no hospital como babá das crianças com uma procuração dos pais, e ali passou vários dias cuidando dos bebês até que a nova família pudesse chegar. Ninguém ali sabia que ela era uma princesa de verdade, e na Noruega sua viagem foi mantida em segredo.

Mette-Marit é casada há dez anos com o
Príncipe 
Haakon Magnus e têm dois filhos.
Poucas histórias conseguem ilustrar tão bem o significado de uma amizade verdadeira. 

domingo, 2 de dezembro de 2012

Coração de vidro


Meus pais têm 166 anos (83 cada) e, obviamente, nos preocupamos muito com eles. Quando ligo lá e ninguém responde, normalmente espero uns vinte minutos e ligo novamente e, se continuo sem resposta, começo a ligar para meus irmãos e um vai ligando para o outro numa espécie de teia até descobrirmos o que está acontecendo. Normalmente minha mãe estava no portão conversando com alguma vizinha e não ouviu o telefone enquanto meu pai tirava uma soneca. Mas, é claro, como somos dados a um melodrama, normalmente já imaginamos os dois caídos no chão estrebuchando sem conseguir se levantar.

Eles têm a mesma idade da Fernanda Montenegro - embora não tenham a mesma vivacidade, e também a mesma idade que tinha a Hebe Camargo. Talvez por isso eu tenha me identificado tanto com a entrevista da Fernanda publicada na Folha de hoje. Na entrevista ela conta esta mesma história da preocupação dos filhos, que a gente pensa que os pais não percebem ("Quando toca o telefone e não atendo logo, um telefona pro outro, que telefona pra produtora, que telefona pro secretário. E eu só estava no banho. Como amor de filho, isso me toca."). Ela fala também sobre a realização de estar na fase conclusiva da vida, e a dor de ver sua geração toda morrendo.

Mas o que mais me chamou a atenção foi sua posição tão precisa sobre a idealização que costumamos ter da infância. "Criança sofre muito. É todo um processo de civilização, de coerção e de enquadramento em cima delas. E isso é uma agressão violenta. Quando ouço alguém dizer que a infância foi a parte mais feliz de sua vida, olho com muita desconfiança. Deve ter sido tão terrível que nem se lembra." Li isto várias vezes e a ideia não me saiu da cabeça. Todos costumamos ter uma memória afetiva muito forte da infância, mas, principalmente para um indivíduo gay, o processo de tentativa de conformação na infância deixa marcas profundas para toda a vida.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Tony e Kevin


Eles formam um casal tão bonito que até dói. Fizeram um casamento lindo à beira do lago e emocionaram a família toda com leituras de passagens inspiradoras que tinham a ver com eles - incluindo trechos dos livros do Harry Potter. O casamento foi há quatro meses e agora Tony e Kevin vão ser felizes juntos. Eles parecem um casal de cinema, mas esta é a vida real.


Fala que eu te escuto

Eu fiquei completamente transtornado depois de assistir a este vídeo do Jean Wyllys ontem na Câmara combatendo a proposta da bancada evangélica de instituir a "cura gay" oficialmente como tratamento psicológico no Brasil. É um alento e um grande orgulho ver o Jean se posicionando de forma tão incisiva e afirmativa, mas eu me revolto com a infâmia dos canalhas travestidos de defensores da moral que insistem em afirmar que eu sou uma aberração. Eu me revolto com a necessidade de reafirmar o óbvio e com a torpeza destes pastores desprezíveis. Eu me revolto cada vez que me lembro que é o meu próprio dinheiro suado que sustenta na política estes canalhas da pior espécie.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Café


Tem gente que quando está precisando de consolo espiritual procura uma igreja. Eu sou do tipo que procura um café. Adoro tomar um café bom em um lugar gostoso com bom serviço. Recalibro minha alma, acalmo meu espírito - o tempo para. É o meu templo.

É difícil entender como existem tão poucos lugares bons para se tomar café em um país como o Brasil. Talvez nem todo mundo consiga entender o ritual envolvido no processo e todos os pequenos detalhes indispensáveis. Hoje fui conhecer o Grão Espresso e deparei com o primeiro grande erro ao me acomodar na cadeira e ser saudado com um "tem que fazer o pedido no caixa!". Fazer o cliente se levantar a cada vez que precisar de um copo d'água ou quiser mais um pão de queijo é um verdadeiro pecado. Têm um café passável, mas não entendem nada da liturgia de como servi-lo.

O melhor café que já tomei no Brasil é o da marca Fazenda Pessegueiro, atualmente servido no Havanna. É incomparável no aroma e no sabor. Também gosto do Nespresso que é servido no Brou'nē (franquia de Campinas que começa a se espalhar pela região sudeste) e do café illy que aqui em São José dos Campos é servido no café da livraria MaxSigma. São do tipo que se toma rezando.

Há duas semanas em Buenos Aires fui conhecer o famoso Starbucks que se espalhou por toda a cidade no último ano mais rápido do que notícia ruim. Está em quase toda esquina da cidade. Não será surpresa se os centenários Café Tortoni ou Café La Junta virarem Starbucks nos próximos meses. O Starbucks tem um café delicioso, mas peca pela infalível eficiência americana. É tudo na base do self-service (que não combina com café) e não usa xícaras de louça mas copos de papel encerado - um sacrilégio suficiente para condenar direto ao inferno. Café tem muito mais a ver com a relativa desorganização dos franceses e dos italianos do que com a inabalável eficiência dos americanos.


domingo, 25 de novembro de 2012

Sexo onde não tem sexo

Hoje em dia quase todo mundo fala inglês mais ou menos, o que é bom. Jornalistas podem dar notícias em primeira mão, ler jornais estrangeiros, enfim estar mais por dentro de tudo. O problema é quando o "mais ou menos" atrapalha.

O Globo de hoje traz reportagem com Jane Fonda com o título "Aos 75 anos Jane Fonda diz gostar cada vez mais de sexo". Logo após fazer todo mundo pensar em sexo, uma declaração da atriz: "Dilma, você é meu tipo de mulher". Pronto, está feita a besteira.

O que Jane Fonda disse na entrevista foi, na verdade, "Dilma, you're my kind of woman", que quer dizer "Dilma, você é das minhas!" - expressão usada para indicar aprovação e identificação, sem nenhuma conotação sexual.

Então, calma gente. A Jane Fonda não quer levar a Dilma para a cama. Ela fez um grande elogio à presidente, mas não uma cantada. E O Globo publicou uma grande besteira.

Que falta que faz um terremoto

Agora é oficial: estou órfão de novelas e passando por uma crise de abstinência grave. Sempre gostei de novelas. Gosto de acompanhar as histórias, sofrer junto, ouvir as pessoas conversando na rua como se os personagens fossem seus parentes. Mas, logo depois de uma safra de boas produções que colocou no ar Avenida Brasil e Cheias de Charme ao mesmo tempo, parece que a Globo perdeu a mão.


Lado a Lado é bonitinha e tem uma reconstituição de época muito bem cuidada. É a única que eu consigo assistir de vez em quando, mas mesmo assim sem nenhum compromisso. Fico um pouco irritado com a liberdade de os personagens de cem anos atrás se portarem e falarem como se estivessem nos dias de hoje. As mulheres são liberadas e independentes demais, e as crianças no colégio usam mochilas nas costas!!! Gente, mochila nas costas não se usava nem na minha época de escola, e eu nem sou tão velho assim.

De Guerra dos Sexos não dá pra se falar nada. A novela parece ser simplesmente uma sucessão de cenas com o Tony Ramos gritando ou o Edson Celulari todo descomposto e atrapalhado. Simplesmente insuportável.

E o quê dizer de Salve Jorge? É cheia de boas intenções que não funcionam. Quem ainda aguenta ver a Neusa Borges fazendo o mesmo papel pela enésima vez? É um déjà vu ruim. E tem muita coisa chata ou mal feita. O papel da Betty Gofman chega a ser constrangedor. A única solução viável seria promover um terremoto matando 90% dos personagens e tentar começar de novo.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Pré conceito

Para quem nunca teve contato com o preconceito, um aviso: é um sentimento que pode ser muito mais odioso do que se imagina. Dois eventos desta semana podem dar uma dimensão exata da extensão que o preconceito pode alcançar.

O primeiro vem da Itália e aconteceu durante um jogo de handebol. Um jogador aproveitou a proximidade e tascou um beijo no oponente para desestabilizá-lo. A reação ao beijo é tão instantânea, tão forte, tão violenta - que assusta. O jogador ofendido na sua masculinidade precisa baixar as calças e mostrar o pau para garantir que ainda continua macho. Tem gente assim com a masculinidade tão tênue que acha que pode virar gay por contágio.


O segundo momento foi no show do Russell Brand. Se você ainda não conhece Russell Brand, o ex-marido da Katy Perry, busque outros vídeos no YouTube e morra de rir. Ele tem um raciocínio rapidíssimo, fala o que dá na telha, é muito engraçado, e apesar da aparência bizarra tem um jeito super doce de tratar as pessoas. E um sotaque britânico apaixonante! Pois bem, ele convidou dois brutamontes da Westboro Baptist Church para participar de seu programa, e ao final de toda a sandice que eles disseram, Russell Brand traz ao palco vários amigos gays para dividir a atenção com os dois brutamontes preconceituosos, criando uma saia justa proposital quase explosiva.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Presentão do Christopher Dallman

O Christopher Dallman tem aquele tipo de voz talhada para falar direto ao coração. Eu já curto este cara de montão há tempos, mas não vou falar muito dele para você não perder tempo porque começando neste exato momento, e somente durante esta semana em que se celebra o Dia de Ação de Graças, ele está oferecendo todos os discos dele para download digital absolutamente de graça no site oficial. Clique em cima da capa do álbum que deseja baixar, e ele só vai pedir para você fornecer seu e-mail para enviar as instruções de download e para que ele envie notícias musicais de vez em quando.

Se você ainda tem alguma dúvida se vale a pena, veja os clipes de Over My Head (em que ele contracena com o próprio maridão) e de Ghosts. E corra lá, que este presentão vai acabar logo.


Curta!


Irlanda do Norte, Austrália, França, Estados Unidos, e Canadá são os países de origem destes seis curta metragens que - como diz a reportagem da Out - todo homem gay deveria ter assistido antes de crescer. A forma como a homossexualidade é descoberta na infância vai praticamente determinar como tudo vai acontecer dali pra frente. Na foto, uma cena de Oranges.

domingo, 18 de novembro de 2012

Diversidade


Uma semana depois de ter participado da minha primeira parada gay, ainda estou digerindo a experiência. Eu tinha uma ideia diferente antes - a noção de que era mais importante dar mais visibilidade aos participantes com caras mais convencionais, embora a imprensa sempre preferisse ir atrás dos participantes mais exóticos e chamativos.

Foi quando vi as travestis lindas e exuberantes que percebi que elas representam o ápice do movimento - a ponta do iceberg que fica fora d'água. São elas que mais contribuem para diminuir a sensação de estranheza frente ao diferente, para apresentar a diversidade em sua forma mais clara e sem disfarces. É como em um desfile de moda em que as modelos desfilam roupas extravagantes que ninguém usaria na rua, mas que servem para representar os traços fortes da tendência do autor.

Vi crianças pequenas e famílias querendo ser fotografadas junto delas e sendo atendidas com toda a paciência e educação. Um gesto bonito e cheio de significado, das duas partes. Depois de algumas horas de festa parece que as diferenças tinham desaparecido. Éramos todos só seres humanos.

sábado, 17 de novembro de 2012

Peru com brilhantina

Agora só falta a Tracey Thorn também lançar um álbum de músicas de Natal para este se tornar oficialmente o fim de ano com maior número de lançamentos de discos de músicas de estação de toda a história da indústria fonográfica. Peraí, a Tracey Thorn já lançou o disco natalino no mês passado!

Este Natal da crise já é o mais movimentado no setor de lançamentos de músicas de estação. E a cereja do bolo é o lançamento do CD natalino do John Travolta com a Olivia Newton-John. O disco não escapa do óbvio e assumidamente brega com um setlist bastante previsível (tem Baby, It's Cold Outside, Auld Syne Lang, White Christmas, Silent Night, e I'll Be Home For Christmas entre as treze faixas). A novidade fica por conta da reunião da dupla quase 35 anos depois de Grease - Nos Tempos da Brilhantina transformando as canções de Natal em deliciosos duetos e das participações muito especiais de Barbra Streisand, James Taylor e Tony Bennett. Tradicional, previsível, careta, e inesquecível, como devem ser os Natais.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Casal real


É muito bom sinal o fato de o embaixador da Bélgica Josef Smetz ter feito a apresentação formal de seu marido Cristophe Degraeuwe aos diplomatas durante a cerimônia de posse em Brasília no começo da semana. Eles vivem juntos há mais de três décadas e estão oficialmente casados há 9 anos. A apresentação foi precedida de uma sondagem ao Itamaraty para evitar ferir suscetibilidades - afinal, a especialidade dos diplomatas é exatamente evitar melindres.

O Itamaraty sempre foi das agências mais abertas do governo brasileiro em relação a costumes. Formado normalmente por funcionários de nível intelectual alto e experiência com culturas diversas, o próprio Itamaraty costuma facilitar que funcionários homossexuais transferidos para outros países sejam acompanhados de seus parceiros.

Para mim, a exibição de casais reais como Josef e Cristophe é o melhor argumento que se pode utilizar no combate à homofobia. Já é tempo de no Brasil as celebridades da mídia televisiva também comparecerem aos eventos de mãos dadas com seus cônjuges como já é relativamente comum nos Estados Unidos, e que parem de perder tempo desmentindo rumores óbvios. Dariam grande visibilidade ao sentido de orgulho com um simples gesto, e nem precisariam dizer uma única palavra.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Confissões de um homem suave

É até irônico que na mesma semana em que a Veja publica um artigo homofóbico lamentável, a revista Época traga um artigo agradecendo aos gays por tudo de bom que têm feito pelos homens heterossexuais assinado por Ivan Martins, jornalista e editor-executivo da Época, um homem suave.

 

Homo sapiens

Dos pontos de encontros para homens gays eu sou do tipo que prefere sauna a boate. Não sou da noite, gosto de dormir cedo, prefiro papo a música alta, e não me impressiono por carão em roupinha de grife. Sem contar que na sauna what you see is what you get.

Aqui em Buenos Aires já conheci várias saunas. Todas têm um aspecto decadente como a cidade. Mesmo as que tinham uma cara melhorzinha como a Full Spa estão atualmente gritando por socorro.

Ontem fomos conhecer a Homo Sapiens, na rua Gascón, em um lugar tranquilo de Palermo. Estava super curioso quanto à frequência, que é o que normalmente define a atmosfera do lugar. A Energy Spa, por exemplo, é frequentada por homens mais velhos com cara de casados fazendo arte escondido e a Full Spa é frequentada por garotões sarados que nem te enxergam se você tiver mais do que um grama de gordura no corpo e não tiver sinais de modernidade como brinquinhos e tatuagens.

A Homo Sapiens me surpreendeu pelo ecletismo. É feia na entrada, que mais parece a bilheteria de um cinema velho, e o bilheteiro tem cara de quem já estava morto há algum tempo. Depois atravessa-se umas cortinas de palco vermelhas que dão acesso ao bar. Para quem está chegando pela primeira vez, tudo parece muito estranho.

Depois que a gente se acostuma com o labirinto de corredores, escadas e passarelas (pareceu-me que eram várias casas que foram sendo emendadas), dá pra começar a curtir o lugar. E aí a surpresa: é realmente a sauna mais eclética que eu já vi. Tem homens maduros, garotões, muita gente absolutamente normal - num movimento incrível o tempo todo. O pessoal é simpático, receptivo, e o ambiente do bar é ótimo para um bate-papo assistindo a videoclipes projetados em um telão. A diversidade da fauna com tantas tribos convivendo juntas sem divisões torna o lugar mais interessante

Nestas horas, ser estrangeiro carne nova no pedaço é uma grande vantagem. Conversei com gente interessante, diverti-me bastante e relaxei nas sanas seca e a vapor para curar o corpinho das longas caminhadas dos últimos dias. Saímos de lá renovados.

 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Cabrón de mierda

Devo ter sido uma das poucas pessoas que gostou do artigo do J. R. Guzzo publicado na revista Veja de domingo passado. Por que o artigo é tão ruim, tão mal escrito, tão imbecil, tão incoerente, tão errado, tão preconceituoso, tão ilógico - que funciona de forma contrária à pretendida pelo autor, e ninguém precisa ser um gênio para perceber isso.

Estou achando que ele usou ironia e sarcasmo para chamar a atenção para a luta pelos direitos civis dos gays. Afinal, um jornalista do conselho editorial da Abril não deve ser tão burro, idiota e tacanho assim.

 

La prueba

O domingo, dia do meu aniversário, começou com o principal compromisso da viagem: a corrida YMCA-UTN de Buenos Aires. Eu não corro nem para fugir da chuva, mas já acompanhei o Mr. Ed a muitos eventos esportivos de corrida e natação. Já estou familiarizado com toda a dinâmica do processo, e sempre aproveito para exercitar um do meus hobbies favoritos: fotografar gente. Não há nada mais gostoso do que admirar um homem em sua melhor forma.