O brasileiro médio não consegue entender a comoção que envolve o aniversário de dez anos dos ataques terroristas do 11 de setembro. Muitos acham mais chique ficar
blasé e simular espanto com tanto abalo. Eu não sou particularmente fã da cultura estadunidense, mas se há algo que eu admiro muito neles é a habilidade para criar grandes eventos com o objetivo de engrandecer fatos e pessoas e fortalecer a nação. E não esquecer jamais.
O culto à memória é muito presente na sociedade americana e tem reflexo em todas as instituições do país. Os americanos celebram o
Memorial Day, o
Homecoming, o
Veteran's Day, o
Independence Day, o
Thanksgiving, e todos os outros feriados de forma muito mais efusiva e significativa que qualquer celebração oficial no Brasil. Qualquer aluno de uma
High School americana conhece detalhadamente todos os rituais e significados envolvidos nestas datas. O ensino médio americano se encerra com o baile de formatura (
the Prom) que é um verdadeiro rito de passagem para qualquer adolescente. Todas estas celebrações têm impacto nas vidas dos americanos.
Os eventos que provocam grandes comoções têm até fases que são de difícil tradução para o português, como o
reckoning (algo como interiorizar a dor) e o
closure (fazer as pazes com o luto).
Em termos de premiação, então, ninguém supera os americanos, e o Oscar é só um exemplo. Nenhuma sociedade festeja o valor dos feitos de seus membros como a americana. Nenhuma outra sociedade cultua e registra tanto a própria memória.
Hoje, meus amigos americanos trocaram mensagens consternadas de apoio e confiança em um futuro melhor. Alguns colocaram bandeiras nas varandas das casas. Ninguém pretende deixar que o passado seja varrido para debaixo do tapete.
No Brasil a situação é muito diferente. Se alguém colocou uma bandeira na janela na última quarta-feira para celebrar a independência certamente foi taxado de idiota. Quase não se fala mais no mensalão, por exemplo, e pouca gente ainda deve lembrar do que se trata. Para quem não se lembra, foi uma tragédia que deve ter matado muito mais do que os ataques terroristas aos Estados Unidos. Porque a corrupção surrupia dinheiro público que deixa de construir hospitais, estradas, escolas - e indiretamente acaba matando muito mais gente. O estado do Maranhão está caindo de podre embora tenha sido o estado que mais verbas recebeu do Ministério do Turismo (mais que o próprio Rio de Janeiro, que vai sediar uma Olimpíada). Mas ninguém quer ficar lembrando destas coisas porque dá muito trabalho.
Muita gente está perdendo uma ótima oportunidade de aprender com os americanos. O brasileiro parece que está confundindo "ser
blasé" com "ter preguiça mental". Ainda temos muito chão pela frente.