quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Um conto de natal

Fecho o ano com esse lindo conto de natal de Luís Campos. Feliz 2010!
Ainda Há Esperança!
(Um Conto de Natal)
Um conto de Luís Campos (Blind Joker)
Estava quase à hora da ceia e Armando não sabia onde se metera oYuri. Perguntou à sua mulher, mas ela também não sabia do menino. Rosa indagou à pequena Miucha sobre o paradeiro do irmão e ela disseque não sabia dele. O vira sair em direção ao Campo Grande, por voltadas quatro horas.
Armando e rosa sentaram-se num dos bancos. Nada diziam, apenas olhavam para o nada ou, quando muito, para o céu estrelado. Miucha, alheia à preocupação dos seus pais, nos seus oito anos, brincava com sua boneca.
O homem recordava o sítio. Por que o vendera? Por que viera para Salvador atrás de um sonho que talvez nem fosse o seu? Mas ele tinha certeza que fizera essa bobagem pensando em dar um futuro melhor para as crianças. Aqui elas poderiam estudar, ser alguémna vida e quem sabe, dar-lhes uma velhice tranqüila! Por ele, ficaria no sítio. Cuidar da horta, da rocinha de feijão, milho e mandioca, ordenha Gabiroba, ver Rosa cuidar das galinhas e da Cabriolé e do Fantoche, seu casal de porcos. Sentia agora o cheiro da comida gostosa que Rosa fazia tão bem. Seu colchão de palha, suas noites de lua cheia no terreiro da casa, proseando com sua Rosa. Aquele delicioso café com tapioca toda manhã. Nada disso voltaria!
A mulher também pensava. Nunca condenou o marido e estaria disposta aseguir com ele este caminho do inferno. Procurava não pensar no que ficou pra traz. Ele lhe contara seu sonho e Rosa quis sonhar com ele!
No dia em que chegaram aqui, foram morar num barraco cedido pelopatrão. Rosa procurou uma escola próxima e matriculou as crianças. Com nove e sete anos, ainda não tinham freqüentado uma escola, embora soubessem ler, pois tanto Rosa quanto Armando lhes ensinara. Quase todas as crianças da redondeza do sítio, na idade dos seus, eram analfabetas. Em grande parte da zona rural desse País, até hoje, não há escolas. Também não há professoras. Como poderia haver professoras ou escolas se não existem estradas? A maioria dos sítios e pequenas fazendas são interligadas por caminhos estreitos e esburacados que mal dão para passar uma carroça. Assim acontecia no interior onde vivia Armando. O acesso ao seu sítio e dos vizinhos era tão estreito que quase não dava para ele passar com sua carroça, puxada por Café, seu jeguinho, quando precisava ir à"cidade" levar seus produtos para vender na feirinha e, na volta,trazer açucar, café, farinha de trigo e biscoitos para os meninos. Na região passava um pequeno rio, o que dava alguma tranqüilidade aos moradores. Também havia muitas árvores frutíferas, o que contribuía para que a alimentação das crianças fosse mais saudável. Quando a coisa "pegava", Armando saía em busca do alimento na mata. Como ainda havia alguns animais de pequeno porte por ali, Armando, devez em quando, se aventurava pela mata para caçar, acompanhado de Geléia que, aos latidos, acuava os animais, deixando-os à mercê do tiro certeiro da espingarda-de-socar que o próprio Armando fizera. Com o "almoço" da família garantido, ele retornava para casa e, pelo caminho, pegava algumas raízes e folhas para que Rosa fizesse os "santos remédios" que, nem só matavam as "bichas", como serviam para os ungüentos, usados nos machucados, bem como para os chás e xaropes.
Nem completara dois anos como frentista e fora despedido. Teve que deixar o barraco, tirar as crianças da escola e procurar onde abrigar os seus. Arrependia-se de ter vendido seus bens para vir à Capital em busca de oportunidade para seus filhos. Estava tão aéreo em suas divagações que não percebeu dois carros da Polícia Civil que se aproximavam. Quando as viaturas pararam, Armando nem imaginava a que vinham!
Vez por outra, elas estavam por ali. Algumas vezes paravam, davam uma olhadinha e iam embora. Noutras, apenas passavam devagar, olhando para um lado e para o outro.
Destas desceram quatro mulheres e três homens. Elas traziam algumas sacolas e se aproximaram deles e uma delas perguntou:
- O Senhor é o Armando Jaguaripe?
Armando olhou as mulheres. Elas sorriam. Os homens ficaram à parte, mas observavam a cena e os arredores. Miucha levantou-se do chão e veio ficar junto aos pais. Rosa também olhou aquelas mulheres muito bem vestidas e bonitas. Outros moradores se aproximaram. Armando, antes de responder, pensou em como são curiosas as pessoas.
- Sou eu sim, Senhora...
A mulher, que parecia ser a "mandona", falou para um dos homens:
- Coimbra! Trás o Yuri!
O homem foi até uma das viaturas e voltou trazendo o menino pela mão. A mulher que havia dado a ordem, disse:
- Seu Armando, pegaram o Yuri roubando umas coisas num supermercado. Ele nos contou a história de vocês e então resolvemos trazê-lo atéo Senhor!
Armando olhou para o filho carinhosamente, mas, com ar de reprovação na voz, perguntou-lhe:
- Filho, por que você fez isso? É essa a educação que lhe damos? Você viu alguma vez seu pai ou sua mãe pegar qualquer coisa de alguém?
Yuri, entre soluços e abraçando-se ao pai, respondeu:
- Me perdoe, Paizinho! Eu só queria que a gente tivesse um Natal...
- Que Natal seria esse, filho?
- Pai, um Natal de gente e não de bicho... como agente tinha na roça!
Disse o menino ainda chorando. Armando, com os olhos encharcados, replicou:
- Filho, antes um Natal de bicho a ver meu filho roubando!
- Me perdoe, Paizinho... perdoe, Mãezinha!
A esta altura, todos que estavam presentes à cena, tinham lágrimas nosolhos, até mesmo os "durões" policiais. A Delegada interrompeu esse diálogo, dizendo:
- Bem, Seu Armando... nós viemos cear com vocês e trouxemos algumas coisinhas!
Uma das moças tirou da sacola que trazia, duas toalhas de mesa com desenhos natalinos e as estendeu no chão. As outras colocaram sobre estas alguns panetones, bolos, refrigerantes de dois litros, um queijo-cuia, três frangos assados, uma vasilha com farofa e outra com arroz, além de caixinhas de passas. Um dos homens foi até a viatura. Pegou duas garrafas de "cidra", pratinhos, copos e talheres plásticos e veio juntar-se aos demais. A Delegada, sentando-se no chão, falou para os curiosos:
- Todos vocês que moram aqui na praça, podem sentar-se conosco!
E complementou, indicando um lugar:
- Venha, Seu Armando... sente-se aqui com sua família!
Então todos sentaram-se no chão, em torno das toalhas, inclusive os policiais. As quatro mulheres prepararam os pratinhos e distribuiram entre os presentes, colocando nestes, um pouco de cada coisa. Brindaram com a cidra e depois da ceia beberam refrigerante. E aqueles desafortunados que moravam na praça, nesta noite, tiveram um Natal menos indigno...
Meia hora depois, felizes, os policiais retornavam à Delegacia! Nesta noite, brilhou entre os homens a estrela da solidariedade e dacompreensão!
Ainda há esperança!
FIM

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Negros, índios, portugueses e holandeses

Acabei de escrever um conto sobre escravos, índios, portugueses e holandeses. Sobre raças e missigenação. Sobre escravidão e liberdade. Durante as pesquisas que realizei, acabei encontrando esse vídeo, com Paulo Autran declamando "Navio Negreiro", de Castro Alves, e imagens do filme "Amistad". Muito bom!
Navio Negreiro
Castro Alves


I
'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço Brinca o luar — dourada borboleta; E as vagas após ele correm... cansam Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento Os astros saltam como espumas de ouro... O mar em troca acende as ardentias, — Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos Ali se estreitam num abraço insano, Azuis, dourados, plácidos, sublimes... Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas Ao quente arfar das virações marinhas, Veleiro brigue corre à flor dos mares, Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço? Neste saara os corcéis o pó levantam, Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora Sentir deste painel a majestade! Embaixo — o mar em cima — o firmamento... E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa! Que música suave ao longe soa! Meu Deus! como é sublime um canto ardente Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! ó rudes marinheiros, Tostados pelo sol dos quatro mundos! Crianças que a procela acalentara No berço destes pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba Esta selvagem, livre poesia Orquestra — é o mar, que ruge pela proa, E o vento, que nas cordas assobia... ..........................................................
Por que foges assim, barco ligeiro? Por que foges do pávido poeta? Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas, Sacode as penas, Leviathan do espaço, Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
II
Que importa do nauta o berço, Donde é filho, qual seu lar? Ama a cadência do verso Que lhe ensina o velho mar! Cantai! que a morte é divina! Resvala o brigue à bolina Como golfinho veloz. Presa ao mastro da mezena Saudosa bandeira acena As vagas que deixa após.
Do Espanhol as cantilenas Requebradas de langor, Lembram as moças morenas, As andaluzas em flor! Da Itália o filho indolente Canta Veneza dormente, — Terra de amor e traição, Ou do golfo no regaço Relembra os versos de Tasso, Junto às lavas do vulcão!
O Inglês — marinheiro frio, Que ao nascer no mar se achou, (Porque a Inglaterra é um navio, Que Deus na Mancha ancorou), Rijo entoa pátrias glórias, Lembrando, orgulhoso, histórias De Nelson e de Aboukir.. . O Francês — predestinado — Canta os louros do passado E os loureiros do porvir!
Os marinheiros Helenos, Que a vaga jônia criou, Belos piratas morenos Do mar que Ulisses cortou, Homens que Fídias talhara, Vão cantando em noite clara Versos que Homero gemeu ... Nautas de todas as plagas, Vós sabeis achar nas vagas As melodias do céu! ...
III
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano! Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano Como o teu mergulhar no brigue voador! Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras! É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ... Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho. Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais ... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia, E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece, Outro, que martírios embrutece, Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra, E após fitando o céu que se desdobra, Tão puro sobre o mar, Diz do fumo entre os densos nevoeiros: "Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais... Qual um sonho dantesco as sombras voam!... Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E ri-se Satanás!...
V
Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?! Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados Que não encontram em vós Mais que o rir calmo da turba Que excita a fúria do algoz? Quem são? Se a estrela se cala, Se a vaga à pressa resvala Como um cúmplice fugaz, Perante a noite confusa... Dize-o tu, severa Musa, Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto, Onde a terra esposa a luz. Onde vive em campo aberto A tribo dos homens nus... São os guerreiros ousados Que com os tigres mosqueados Combatem na solidão. Ontem simples, fortes, bravos. Hoje míseros escravos, Sem luz, sem ar, sem razão. . .
São mulheres desgraçadas, Como Agar o foi também. Que sedentas, alquebradas, De longe... bem longe vêm... Trazendo com tíbios passos, Filhos e algemas nos braços, N'alma — lágrimas e fel... Como Agar sofrendo tanto, Que nem o leite de pranto Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas, Das palmeiras no país, Nasceram crianças lindas, Viveram moças gentis... Passa um dia a caravana, Quando a virgem na cabana Cisma da noite nos véus ... ... Adeus, ó choça do monte, ... Adeus, palmeiras da fonte!... ... Adeus, amores... adeus!...
Depois, o areal extenso... Depois, o oceano de pó. Depois no horizonte imenso Desertos... desertos só... E a fome, o cansaço, a sede... Ai! quanto infeliz que cede, E cai p'ra não mais s'erguer!... Vaga um lugar na cadeia, Mas o chacal sobre a areia Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa, A guerra, a caça ao leão, O sono dormido à toa Sob as tendas d'amplidão! Hoje... o porão negro, fundo, Infecto, apertado, imundo, Tendo a peste por jaguar... E o sono sempre cortado Pelo arranco de um finado, E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade, A vontade por poder... Hoje... cúm'lo de maldade, Nem são livres p'ra morrer. . Prende-os a mesma corrente — Férrea, lúgubre serpente — Nas roscas da escravidão. E assim zombando da morte, Dança a lúgubre coorte Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus, Se eu deliro... ou se é verdade Tanto horror perante os céus?!... Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas Do teu manto este borrão? Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! ...
VI
Existe um povo que a bandeira empresta P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!... E deixa-a transformar-se nessa festa Em manto impuro de bacante fria!... Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, Que impudente na gávea tripudia? Silêncio. Musa... chora, e chora tanto Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra E as promessas divinas da esperança... Tu que, da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!... Fatalidade atroz que a mente esmaga! Extingue nesta hora o brigue imundo O trilho que Colombo abriu nas vagas, Como um íris no pélago profundo! Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! Andrada! arranca esse pendão dos ares! Colombo! fecha a porta dos teus mares!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O HOMEM QUE ENGARRAFAVA NUVENS (SHOW)


Para quem ainda não me conhece eu sou o cangaceiro virtual
E serei o apresentador nesse grande show musical

Levante da cadeira e aumente o som
Vai começar o ShowBlog Baião com sucessos que você conhece
E artistas que você adora.

O nosso show está dividido em quatro partes,
Fique até o final e não vá embora,
Eu prometo diversão e muita canção
Nessa Homenagem a Humberto Teixeira
O doutor do baião.

Mas vamos deixar de Blá Blá Blá que o show já vai começar.









































Se você gostou do show dia 15 de janeiro corra para os cinemas
O Homem que Engarrafava Nuvens vai estrear com mais musica e festa para você se divertir e se emocionar.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O HOMEM QUE ENGARRAFAVA NUVENS



FILME SOBRE HUMBERTO TEIXEIRA

Dia 16 de dezembro às 18hrs será divulgado no Blog Oficial do filme "O Homem que Engarrafava Nuvens" em homenagem ao "Dr. do Baião" Humberto Teixeira, parceiro de Luiz Gonzaga, filme que contou com a participação de diversos artistas renomados da música popular brasileira, cantado os principais sucessos do Dr.do Baião.
Esse show conta com a participação de Lenine, Elba Ramalho, Zeca Pagodinho,Cordel do Fogo Encantado, Gilberto Gil dentre outros artístas de sucesso.
Única apresentação deste show será dia 16 de Dezembro às 18 hrs no Blog Oficial.
http://ohomemqueengarrafavanuvens.blogspot.com/