As estrelas uma a uma,
cobriram-se com o véu da aurora
e sumiram-se no espaço.
A lua azul deixou que o sol amanhecesse no seu regaço.
E as nuvens vadiamente passeavam-se de espanto e de cansaço.
No planeta, as pedras abriram os olhos,
as árvores, as bocas famintas de luz.
E por todo o lado as flores desceram,
fizeram uma roda e dançaram,
deixando os caules nus.
Pelas escadas do céu, degrau a degrau,
estavam aves penduradas
soltando cânticos de magia.
E no coração dos mares,
peixes vestidos de amarelo e negro,
de vermelho-sangue e azul-turquesa,
devoravam poesia.
E os deuses imperfeitos cantavam em silêncio,
bendizendo este pântano de sonhos
profundos, subtis e às vezes perfumados.
E em sinal de amor,
todos os bichos da terra se deram as mãos de cristal,
fizeram uma corrente de aço e destruíram a guerra.
Rio da Fonte, 28 de Agosto de 1998