sábado, 28 de novembro de 2015

Ela



Hoje estou afim de escrever sobre ela. Nem todos nesse mundo tiveram a sorte de nascer com essa graciosidade. Alguns dizem que é um defeito; outros já apostam que é charme puro. Ela se identifica como uma má-formação congênita hereditária. Pesado né?  Bom, eu as tenho, e aprendi a viver com elas sem problemas. Então, deduzimos que nasci com duas más formações. Legal, né? Já descobriu de quem estou falando. Sim, gente, das covinhas.




Nas pessoas que carregam essa má-formação é que o tecido fibroso das bochechas é menor que as que não tem covinhas. Além disso, ele adere entre a pele e o músculo, ou entre o músculo e a mandíbula. Assim, quando a pessoa sorri, esse tecido fica “preso” e acentuando a concavidade. O mesmo acontece quem tem a covinha no queixo. É uma demonstração que nem toda má-formação é ruim, algumas podem ter seu lado “fofo”.

Avaliando sobre o assunto, deduzi que as pessoas que tem covinhas são as mais legais. Então, você vai me perguntar: por que? Tudo que temos demais precisamos guardar, não precisamos estar sempre à disposição, precisamos de um pouco de: “hoje eu não quero aparecer”  As covinhas no rosto é sinal que a pessoa é feliz, e muito. Que riu tanto da vida e pela vida, dos momentos não tão bons que acontecerem com ela, que ela sorri e outros milhões de sorrisos que estão dentro das covinhas se dilatam, e aquele mesmo sorriso brilha de tantos sorrisos juntos. 

Sorri quem é feliz de verdade, quem gosta da vida e do mundo. Sorri quem sabe que mesmo passando por momentos desnecessários, precisamos tornar a vida mais fácil possível. Sorri quem acredita que o amanhã pode ser muito melhor do que hoje. Sorri quem sonha e quem também realiza. Sorri quem ama de verdade.

Quero não acreditar que seja apenas uma característica física, sim que seja uma característica de quem realmente acredita na força e na esperança que temos para a vida, que seja a felicidade escondida entre o começo e o fim de um sorriso. Repare bem, pessoas com covinhas são maravilhosamente gente boa, sempre.

Texto publicado originalmente no jornal: A Novidade em 27/11/2015

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Somos Legião

     Sei que ultimamente estou com as mãos travadas, escrevendo Renato Russo em tudo  o que é texto. Ele fez parte da minha adolescência, ficava tardes lendo Machado de Assis e procurando a rádio que passava alguma música da Legião. Tempo sem internet, e música em MP3, sem tv a cabo, sem livros digitais. Tempo que só o que nos restava era a rede globo, livros feitos de papel. Tempo de gravar as músicas que passava na rádio, no toca fitas do seu três em um. Tempo dos vinis, tempo de ficar até tarde na rua, jogando pau no ombro e correndo pelas avenidas não calçadas das cidades. Não existiam grades nas casas, nem portões eletrônicos, alarmes e tudo mais, tempo de ser feliz, sem pedir licença.  Pergunte para o seu pai, que ele lhe explicará melhor.

        Esse tempo tenho saudade, porém  mais saudade das músicas que o Renato, Marcelo e o Dado faziam com tanta maestria. Eu sempre preferi o Renato que o Cazuza, ele foi mais romântico, mais visionário, idiossincrático, sentimentalista, com certeza mais a forma única de ser Renato.  Sua voz foi a mais bela e, ao mesmo tempo a mais selvagem. Ele foi o nosso porta-voz, da geração coca-cola.  Ensinou um montão de coisas para aqueles que o seguiam. Hoje, ele ainda nos ensina. Então um dia a voz calou-se, no entanto deixou um legado muito grande, que nos emociona, e nos deixa a flor da pele até hoje.  

    Se você não tem nem ideia de quem seja a Legião Urbana, pergunte para a sua tia roqueira, ou, então, procure na internet, pois encontrará um tanto de assuntos, entrevistas, músicas, vídeos, letras e tudo mais. Só sei que o Renato ensinou-me: "que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, que, quando o sol bater na janela do seu quarto lembra e vê que o caminho é um só, que a humanidade é desumana, mas ainda temos chance, o sol nasce para todos, que são as pequenas coisas que valem mais, que ter bondade é ter coragem," Ele gritou no auge da sua carreira: "Que país é esse?  Que ainda é cedo, cedo, cedo, que todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo e o mesmo cantou em alto e bom som: que somos tão jovens!"


     O tempo passou, a vida mudou e a geração coca-cola já está quarentona, mas a vida segue sem a legião, e o que ficou foram os livros, as músicas cantadas pelos jovens daquela época, cada um seguiu sua vida, e fomos felizes do nosso jeito. Errando aqui, acertando naquela outra curva, lembrando das coisas que nos foram ensinadas, não pelos pais, mas como um irmão mais velho, não dando broncas, entretanto de uma forma que nos apaixonamos: a forma musical.  
   
     Uma coisa tenho certeza: que sempre seremos a geração coca-cola:  não por querer ser, no entanto por sermos quem fomos um dia. Na verdade, nosso sentimento foi de imortalidade vivendo em um mundo de trilhas musicais, que levamos para as nossas vidas, onde a trilha sonora não existe mais a legião, mas existe algo maior:  nosso sentimento por um mundo com mais amor, onde as pessoas possam viver de forma igualitária. Não nos importando com as diferenças, e, sim, um país onde cada singularidade seja respeitada. Como diria Renato:  “Tenho saudade de tudo que ainda não vi.”

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade em 15/11/2015

sábado, 7 de novembro de 2015

Um oponente




Como disse Renato Russo na música: "Quem inventou o amor, me explica por favor".  Como também no desenho animado Frozen, quando o personagem de um boneco de neve chamado Olaf ,  vivia dizendo:  "que gostava de abraços quentinhos". Mal sabia ele que se alguém o abraçasse dessa forma, o derreteria. A maior prova que o amor pode  manifestar-se de várias formas e, às vezes, nós nem o percebemos o quanto esse sentimento está presente nos nossos dias rotineiros.



Mas, nós insistimos erroneamente em colocar o amor só na posição de um casal. Esquecemos que, apesar de todo esse sentimento que nos deixa de mãos vazias e pés descalços, ele existe além da nossa própria existência. Esquecemos que, mesmo nos  fazendo de vítima desse sentimento, o primeiro a receber amor somos nós. 

 Sem  amor eu não estaria aqui sentada escrevendo esse texto para vocês. O amor não se resume somente entre o entrelaçamento de um homem e uma mulher, de duas mulheres ou dois homens. Ele vai além. Está presente nas famílias, nos tios, pais, avós, sobrinhos, nas relações entre amigos, na natureza, ele está presente na gastronomia, na arte, na poesia, na religião, na matemática, nos romances, na faculdade que te impulsiona, está presente até nos administradores sérios e engravatados. Essa energia boa que nunca se acaba, só se expande cada vez mais e automaticamente é uma experiência de autoconhecimento.

Esquecemos de falar desse sentimento que já até virou piegas. A moda, agora, são paixões como vulcões em erupção, aquelas que fazem muito barulho. Amor morno, leve, calmo, ninguém quer. Todo mundo quer  arriscar-se para o novo. A paixão é a melhor escolha. Pode parecer clichê e romance barato que se vende na livraria da esquina, porém uma coisa temos que concordar: sem amor nada seríamos. Ele nos impulsiona, ele que nos faz delirar da loucura e o barulho incompreensível que se chama vida.

Uma vez li em algum lugar que o melhor oponente da morte não seria a vida, e, sim, o amor. Eu concordo com as palavras, pois é algo que não podemos abrir mão. A vida em si não teria significado algum se não tivermos amor para oferecer e receber do próximo.  Que sejamos embriagados desse amor constantemente, e azar se parecemos "démodé".


Publicado originalmente no Jornal: A novidade em 06/11/2015