domingo, 31 de julho de 2011
sábado, 30 de julho de 2011
sexta-feira, 29 de julho de 2011
A VOZ
Lembro-me de uma voz quando lhe perguntei como se sentia ele ao aproximar-se dos setenta anos, "Bem, é claro que já ouvi falar da velhice e da morte e dessas coisas todas, mas, no que me diz respeito, não passam de rumores".
quinta-feira, 28 de julho de 2011
PERGUNTAS
Puxo as pestanas até à ponta do nariz e vinco dois veios velhos na testa. Tudo o resto são perguntas.
quarta-feira, 27 de julho de 2011
O CALOR SEM DESTINOS
O vento com incêndio no seu seio varre as cabeças de pulgas, que infectam a cidade com pontos negros. É certo que as tocas do diabo estão cheias dessas castas, mas é certo que a maré matará também as almas com rosas nas orelhas.
terça-feira, 26 de julho de 2011
LOUCURA
Com a torneira de suor aberta, a minha roupa parece a cascata dos Himalaias. Não é de estranhar portanto que o sopé da montanha esteja como o mar das caxinas.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
sábado, 23 de julho de 2011
FRASE
Tenho os dentes presos a palavras, mas faltam-lhe a coerência. Acho que preciso de namorar com a utopia.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
SUGESTÃO
Universalmente considerado com um dos iniciadores da literatura moderna, Dostoiévski é também em muitos aspectos um percursor do pensamento de Freud pela admirável compreensão das motivações profundas e não conscientes, do sofrimento psíquico, da linguagem dos sonhos, dos laivos de loucura que caracterizam os comportamentos.
Em "O Eterno Marido", lançado pela Editorial Presença, o escritor aborda um dos temas mais narrados nas literaturas europeias de meados do século XIX: um triângulo amoroso, com marido, mulher, e amante. O argumento narra este triângulo amoroso através da voz de um homem rico e indolente que é confrontado com o marido, depois viúvo, da sua amante.
O ciúme é o mote deste livro, tal como em "O Idiota", também do mesmo autor, embora neste último caso haja toda uma ironia em volta do tema. No livro que hoje lhe apresentamos a realidade é diferente, uma vez que existe uma dramatização do tema, e onde a fragilidade, ou o abafar dos sentimentos, acabarão por assumir os contornos do crime.
A forma como Dostoiévski dá a conhecer os comportamentos das suas personagens é inigualável. Ao mesmo tempo, é de salientar também a sua intuição poética, o seu alcance filosófico, que deixa o leitor perante o enigma do psiquismo humano como mistério insondável que não obedece a qualquer lei da vida material.
A primeira publicação deste livro ocorreu numa revista no ano de 1870, tendo sido editado em livro apenas no ano seguinte. Natural de Moscovo, Fiódor Dostoiévski foi um dos percursores da mais moderna forma de romance. As obras deste escritor, reconhecido mundialmente, atingem um relevo máximo pela análise psicológica, sobretudo das condições mórbidas, e pela completa identificação imaginativa do autor com as degradadas personagens a que deu vida, não tendo, por esse prisma, rival na literatura mundial.
quinta-feira, 21 de julho de 2011
AJUSTE DE CONTAS
quarta-feira, 20 de julho de 2011
DONOS DO DESTINO
terça-feira, 19 de julho de 2011
FRASE
Cheiro a vida e sorrio, porque ela é apenas um pretexto para voarmos nas malhas do sol, como se fossemos dragões com futuro.
BARULHO DA DESILUSÃO
Num papel invisível escrevo o teu nome e coloco na prateleira do sentimento, que é a mais bela expressão mundana. Porém, numa das praias paradisíacas, ficas atónica e enrodilhas o semblante, “O que tens?”, “Nem queiras saber”, alargo os nervos e suo interrogações, “O que tens? Diz-me, diz-me. O que tens?”, “Já não gosto de ti”, click, desligo a televisão. Não quero ouvir o barulho da desilusão.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
FRASE
Apenas sirvo o prato do meu amor quando sobre a mesa estão dedos macios, que se encaixam na crosta de um paraíso.
FRASE
Quando os mortos vivem nas ruas espelhadas, os sentimentos imaculados estão triturados. É certo que em cada esquina poderá existir uma excepção, mas o conjunto desses sorrisos não servirá para construir uma felicidade.
domingo, 17 de julho de 2011
SIMPLES
Na praia estão palavras deitadas ao sol, como se fossem magotes aos berros. Deito-me sobre as tertúlias e sugo-as para me inspirar.
sexta-feira, 15 de julho de 2011
SUGESTÃO
No Verão de 1643 um jovem fidalgo piemontês, Roberto de la Grive, naufraga nos mares do Sul, indo dar a uma ilha deserta. À sua frente uma ilha que não pode alcançar. Em volta, um ambiente aparentemente acolhedor, rico de maravilhas mas também de inexplicáveis ciladas.
Vive "barrocamente" a sua aventura solitária, toda assente na memória (de paixões insatisfeitas, duelos, assédios e tramas de espionagem à sombra de dois cardeais) e na espera de aportar a uma Ilha que não só está afastada no espaço, mas também no tempo.
Neste Mar da Inocência nada é inocente; e ele sabe-o desde o princípio porque chegou a estes antípodas (onde os homens deveriam andar de pernas para o ar) para tentar (sem o desejar) resolver um mistério: o segredo do Ponto Fixo.
quarta-feira, 13 de julho de 2011
A PORTA COM SORRISOS
Por entre as luzes do além, descubro uma palavra que encaixa num texto. Mas quando os meus dedos agarram-na com delicadeza, o tinir da campainha puxa-me para o real, “Malvadez”, suspiro e ergo o corpo preguiçoso, movendo-o até à porta com bulício, “Quem é?”, “É a tua prima”, coloco um sorriso nos lábios e tiro a parede de madeira dos nossos olhares, “Olé, como vai a menina?”, “Está tudo bem. Como vai o meu priminho?”, “Vou…vou…O que é isto? É aquilo que estou a pensar?”, “É”, abraço-a e desejo-lhe que a escada da felicidade descubra os seus pés, “Não quero choros no casamento, menina”, e sorrio até o dia se perder no horizonte.
ANIVERSÁRIO
O meu pai fez anos ontem. Não esteve sol, mas o meu calor empurrou as nuvens para o esquecimento, permitindo-lhe saltar nos raios da felicidade.
FRASE
"Na praça há um paredão dos velhos que vêem passar a juventude; ele está sentado em fila com eles. Os desejos são já recordações", Italo Calvino no livro "Cidades Invisíveis".
terça-feira, 12 de julho de 2011
FRASE
"...se avanças, deixas para trás a hipótese de recuar", Gonçalo M. Tavares, no livro "Matteo perdeu o emprego".
segunda-feira, 11 de julho de 2011
A INVEJA A MOER OS OSSOS
“Do nevoeiro surge o Rei D. Sebastião, como se o tsunami rasgasse as fronteiras do medo”, “Espera, não avences, meu”, “Porquê?”, “Não é o Rei D. Sebastião”, “Então?”, “É o Rei da Solidão”, coloco as lunetas e vejo minuciosamente os fundos, “Tens razão”, pouco depois confirmo o meu engano. Mas sem lhe dar muita importância, continuo com a gritaria, “Do nevoeiro surge o Rei da Solidão, como se o tsunami rasgasse as fronteiras do medo. Ao pé da donzela com lágrimas, que bebe água na fonte da tristeza, puxa as crinas do Mustang. Quase no mesmo instante, a locomotiva descontrolada estanca a fúria, “Não chores princesa com dentes de ouro, porque os raios do amor estão nos meus olhos”, “Ó voz que encanta, és o único homem que me compreende”, “E beijam-se até aos últimos bocejos”, “Isso já não sei. Só relato o que vejo”, “Vamos pensar que sim”, e sentimos uma grande inveja a moer os ossos dos cotovelos.
domingo, 10 de julho de 2011
SIMPLES
A noite transforma-se em alegria quando o beijo de uma sombra se encosta nos lábios de uma tristeza.
sábado, 9 de julho de 2011
sexta-feira, 8 de julho de 2011
SUGESTÃO
"Não há nem um gesto, a mínima sugestão de violência. Só o peso da multidão portuguesa, de braços para baixo, corajosos ombros contra as portadas institucionais. Nem uma palavra mais dura sequer, apenas uns milhares, um milhão, de almas usando o peso da maneira mais sóbria. Ombros, testas, coxas, imaginem. Começa.»
quinta-feira, 7 de julho de 2011
PUBLICAR NO REAL
“Do riso ao choro…”, a boca da serpente escarra a verdade para os reformados, “…foram precisos minutos”, “Naquela cabeça sem lógica, os parafusos não andavam apertados”, “Por causa disso ela agora chora pelos cantos”, as sombras das árvores penteiam as peles envelhecidas, “O jogo, o jogo…”, “Essa coisa maldita”, enquanto a tarde leva com a cidade na cara, “Temos de ajudá-la, companheiros. Ela é nossa amiga”, ouve-se uns grunhidos afirmativos, “Vasculhem nos bolsos”, pouco depois, um homem com dentes de ferro grita eufórico, “Encontrei umas migalhas”, com a mesma bitola, outros senhores artificiais fazem o mesmo. Sorrio e tiro uma fotografia ao devaneio, com intuito de a publicar no real.
quarta-feira, 6 de julho de 2011
VULCÃO CHATEADO
O grito dos loucos toca com insistência. Parece que o vírus da persistência derrubou a paciência das mãos, “Já vou”, coço a nuca e a barba. A madrugada ainda está nos meus ossos, “Quem é?”, “É o carteiro”, agarro na maçaneta e puxo o monstro, “Assine aqui”, faço uns gatafunhos num papel dobrado e agarro no rectângulo, “Adeus”, pisco-lhe o olho esquerdo e fecho o conforto às intempéries. Quase no mesmo instante, faço coisas malucas com os braços e bocejo longamente, caminhando até à cozinha. E quando me sento na cadeira de ferro, abro o secretismo, “Por causa de factores alheios à empresa, o seu condomínio será agravado nos próximos meses”, blá, blá, blá e mais blá, blá, blá, “Trabalhamos para o servir”, depois da frase surge apenas silêncio, “Tratantes!”, esbofeteio a mesa, “Na próxima reunião vou atirar-lhes com o chicote”, e bocejo como o vulcão chateado.
terça-feira, 5 de julho de 2011
CHEIROS DA MANHÃ
Estico os músculos preguiçosos e bocejo como um lagarto cansado. No fim dos gestos malucos, coloco o cabelo à tolo a espreitar o mundo, “Mexe-te, morcão”, “Vai passear os piolhos, cão assassino”, e vejo as máquinas com botões a cuspir vapores agressivos. Nas pedras com memórias, os corpos enfurecidos empurram o vento de leste, “Desenrasca-te, não pago”, “Mas, mas…”, “Não pago, e prontos”, esfrego a sensibilidade e penteio o cabelo. Mas antes de espreitar novamente os cheiros da manhã, fujo para a toca sossegada.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
BOLSOS
Quando a gordura sai do corpo, os ossos moldam a pele ressequida. Não é de estranhar, portanto, que os meus bolsos estejam tísicos. E os vossos?
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Ler
Um Sonho do Tio tem como tema principal a influência daninha do meio sobre o carácter do indivíduo. Mostra a vida das elites provincianas, vazia, amoral, hipócrita. Ridiculariza, em tom de perfeita comédia de costumes, a rotina, os boatos, as intrigas, as posturas baixas e sublimes das personagens. Encena um conflito da província russa, servindo-se do humor e sátira, na peugada de Gógol. Neste livro, Dostoiévski liberta-se mesmo de um certo sentimentalismo e moralismo que às vezes o persegue noutros livros: não pretende resolver o conflito como moralista, capta a força das circunstâncias e não espera vencê-las com discursos didácticos.
Vladimir Nabókov, sem apreciar especialmente todo o trabalho de Dostoiévski, não hesitou em classificar Um Sonho do Tio como uma obra genial.
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