Mitus: terminologia, origem e evolução
Afinal - perguntam vocês - quem é o Mitus? Pode parecer estranho, mas a verdade é que, apesar das já comprovadas possessões periódicas de que sou alvo periodicamente, o Mitus não é "alguém" mas "alguma coisa".
Tudo começou com um Citroën Zx, branco, objecto andante, pertença do meu pai. Nesse belo dia em comecei por deixá-lo ir abaixo três vezes à beira de uma rotunda, fui sair com a malta. Destino: Seu Café, em Faro. Ora, como "sabeis", o Seu Café é um local frequentado pelos estudantes mais aplicados, que não deixam passar em branco nenhuma quinta-feira.
Aquela era uma noite quente... os copos de cerveja cintilavam na esplanada recheada hormonas masculinas, que, como sempre, não escondiam o desprezo pelo facto de, ao volante, estarem as hormonas femininas.
Sim, confesso que não sou um às ao volante, e depois???
Bom, mas continuemos... A noite era quente e o estacionamento era escasso. Eis quando, se não, ressalta aos meus belos olhos esse lugar, que um dia deixaria marcada toda a minha reputação.
Era perfeito! Cabia lá um carro! Mas... era do lado esquerdo, e como sabeis, nunca aprendemos, nas aulas de condução, a estacionar à esquerda. Afoita, aventurei-me!
E toca de rodar p'ra direita, torce p'ra esquerda, marcha atrás só mais um bocadinho, vira tudo!!! E pronto! Nuns escassos 20 segundos tinha toda a esplanada do Seu Café a dar-me indicações de como havia de estacionar. Irritei-me, resolvi sair dali. Mas... Pânico! O único caminho livre exigia uma marcha atrás de cerca de 10 metros entre duas filas de carros estacionados. Oh, não! Porca miséria! Se ao menos eu tivesse um "Ambrósio", com Ferrero Rocher e tudo...
Não desisti! Estava em causa a minha vida! (Ou não!)
Toca de endireitar, torce mais um bocadito p'ra direita... Não! Olha o espelho!!!
Ok. Era demais. Larguei o volante, abri a porta qual Michael Night a sair do seu saudoso Kit, e, de mãos na cintura gritei, alguém sabe conduzir?
Que pergunta inteligente! Que mimo... Que ternura de pergunta ignorante! Vozes várias se levantaram em meu auxílio! Não convinha mesmo nada que eu partisse os carros todos. Um gaiato acabou por compreender que aquele, era um carro especial.
No carro tocava "Because I got high". Ele achou que sim.
Tirou o carro, momento que se seguiu a um considerável aplauso por parte da plateia do Seu Café. Foi assim.
Do rapaz lembro-me apenas que era alto e que teve de chegar o banco muito para trás. Da noite, ficou o estigma. Sim, tudo não passara de uma ilusão. Algo de que todos falam mas ninguém consegue provar. Um Mito. Baseado apenas na imaginação de quem bebe Carlsberg no Seu Café, às quintas-feiras quentes de Maio. Até porque todos sabemos que quando estas condições se reúnem, a tendência é para ter alucinações e para se criarem mitos. Ou Mitus.
O Citroën, que tantas noites voltou a Faro, é o meu Mitus. O primeiro, genuíno e inigualável Mitus, que às vezes deita fumo quando chove. Aquele cuja porta do pendura nem sempre abre. Aquele que tem o escape roto, mas a polícia não sabe. Aquele que tem um rádio Blaupunkt preso pelas leis da gravidade. Aquele cujo conta-quilómetros tem um problema de nervosismo crónico.
Aquele... único e majestoso Mitus.
(Possessão que durou cerca de 15 minutos)