Manifesto à espanhola
Por Jorge Pacheco de Oliveira
O “Manifesto por uma nova política energética em Portugal”, de que fui um dos subscritores, recebeu variadas e fortíssimas críticas mal viu a luz do dia.
Duas dessas críticas até apareceram nos jornais ainda antes de o texto ter sido divulgado ao público pelos seus autores! Com efeito, a partir de uma versão – por sinal clandestina e não definitiva – publicada na página de internet do semanário Expresso, quer o ex-ministro Manuel Pinho, quer o ex-Presidente da ERSE, Jorge Vasconcelos, entenderam publicar artigos demolidores contra o Manifesto.
Não era necessário muito mais para se perceber que o Manifesto tinha tocado interesses poderosos, mas enfim, isso já à partida se sabia. O que não se previa era que a resposta fosse tão pronta e tão orquestrada.
De facto, num período de muito poucos dias após a divulgação pública do Manifesto apareceu nos jornais uma multiplicidade de artigos críticos. O que se tornou espantoso verificar foi que, numa primeira vaga de assalto, a maioria desses artigos provinha, imagine-se, dos próprios responsáveis dos órgãos de comunicação social e seus colunistas, pessoas sem qualquer currículo na área de energia.
Por exemplo, Pedro Santos Guerreiro (Director do Jornal de Negócios), Bruno Proença (Director Executivo do Diário Económico), Nicolau Santos (Subdirector do Expresso), Ricardo David Lopes (colunista do semanário Sol), Camilo Lourenço (colunista do Jornal de Negócios), nenhum destes “especialistas” do sector energético perdeu tempo em desqualificar o Manifesto e até mesmo os seus subscritores. Da minha parte, todos eles levaram que contar. Uns ignoraram, outros responderam de forma cordata e apenas um deles de forma malcriada. Vá lá...
De facto, um dos sabichões sentenciou, de forma indignada: “É impressionante a desonestidade intelectual de algumas "verdades" do Manifesto (...)”. Outros, que nem sequer leram o texto com atenção, mas como conheciam as preferências pela opção nuclear de alguns dos subscritores do Manifesto, deram por adquirido que o documento contemplaria uma proposta nesse sentido. Azar deles, o Manifesto nem sequer contém o termo “nuclear”. Mas isso não impediu que outro dos sábios da comunicação social começasse o seu comentário com esta preciosidade : “um grupo de 33 membros da sociedade civil veio esta semana defender a implementação da energia nuclear em Portugal”.
Enfim, se tudo isto não fosse revelador da teia de cumplicidades que dominam a vida pública e económica nacional, estas patetices até seriam divertidas.
Ironia das ironias, o que toda esta classe de críticos iluminados não previa era que o Manifesto português encontrasse eco tão rapidamente na vizinha Espanha. Obviamente, não por seguidismo do nosso, mas por obra e graça dos mesmíssimos motivos : os preços exorbitantes da energia eléctrica de origem eólica e fotovoltaica tornaram-se insuportáveis.
É claro que em Espanha estas coisas são tratadas com um vigor que não encontra paralelo no remanso dos costumes nacionais. E em Espanha, a comunicação social não contribui da mesma forma que a nossa para “adormecer” os seus leitores.
Sintomaticamente, os responsáveis dos nossos órgãos de comunicação social e os seus colunistas, que tão atentos se revelaram em relação ao Manifesto, mostram-se agora muito distraídos relativamente à ruidosa contestação das renováveis que está em curso em Espanha.
Os artigos publicados na imprensa espanhola têm sido muitos. Um dos últimos, España admite que la economía verde que vendió a Obama es una ruina, tem um elucidativo sub-título : El Gobierno español filtra un informe que reconoce las nefastas consecuencias económicas de la apuesta por las energías renovables.
Conforme se pode ler, Zapatero começou por ficar furioso com um estudo da Universidade Rey Juan Carlos, de Março de 2009, que denunciava os perigosos efeitos sobre o emprego que poderiam decorrer do apoio governamental às energias renováveis.
Não admira a fúria de Zapatero. Com o título em inglês Study of the effects on employment of public aid to renewable energy sources esse estudo até aconselhava o Presidente dos EUA, Barack Obama, a não seguir o exemplo de Espanha...
Como seria de esperar, o estudo foi "demonizado" pelo governo de Zapatero e à boa maneira socialista o respectivo coordenador, Gabriel Calzada, chegou a ser publicamente hostilizado.
No entanto, agora que a crise financeira veio impor fortes medidas restritivas, é o próprio governo de Zapatero que deixa escapar um documento interno que recupera as conclusões do mesmo estudo para ver se põe um travão aos sobrecustos das renováveis.
Quase se poderia dizer que estamos perante um Manifesto “à espanhola”...!
Em Espanha o rebuliço é enorme, mas a comunicação social portuguesa ainda não deu por nada. Não surpreende. Vejamos porquê. A nossa comunicação social muito raramente divulga críticas às teses oficiais do aquecimento global. Chega a ignorar acontecimentos que fazem furor mediático no estrangeiro.
Ora, o Governo português perfilha claramente as teses do aquecimento global e a generalidade dos dirigentes da nossa comunicação social, por convicção, por ignorância ou por qualquer outro motivo menos confessável, alinha com o Governo na defesa das teses do IPCC.
Sabendo-se que a motivação fundamental da política de apoio às energias renováveis do Governo português é o putativo combate ao aquecimento global, quando a nossa comunicação social promove um ataque cerrado aos que se atrevem a tocar nas energias renováveis, como aconteceu no caso do Manifesto, ou quando ignora olimpicamente as duras críticas às energias renováveis em curso na vizinha Espanha, está a cumprir exactamente o mesmo desígnio.
O “Manifesto por uma nova política energética em Portugal”, de que fui um dos subscritores, recebeu variadas e fortíssimas críticas mal viu a luz do dia.
Duas dessas críticas até apareceram nos jornais ainda antes de o texto ter sido divulgado ao público pelos seus autores! Com efeito, a partir de uma versão – por sinal clandestina e não definitiva – publicada na página de internet do semanário Expresso, quer o ex-ministro Manuel Pinho, quer o ex-Presidente da ERSE, Jorge Vasconcelos, entenderam publicar artigos demolidores contra o Manifesto.
Não era necessário muito mais para se perceber que o Manifesto tinha tocado interesses poderosos, mas enfim, isso já à partida se sabia. O que não se previa era que a resposta fosse tão pronta e tão orquestrada.
De facto, num período de muito poucos dias após a divulgação pública do Manifesto apareceu nos jornais uma multiplicidade de artigos críticos. O que se tornou espantoso verificar foi que, numa primeira vaga de assalto, a maioria desses artigos provinha, imagine-se, dos próprios responsáveis dos órgãos de comunicação social e seus colunistas, pessoas sem qualquer currículo na área de energia.
Por exemplo, Pedro Santos Guerreiro (Director do Jornal de Negócios), Bruno Proença (Director Executivo do Diário Económico), Nicolau Santos (Subdirector do Expresso), Ricardo David Lopes (colunista do semanário Sol), Camilo Lourenço (colunista do Jornal de Negócios), nenhum destes “especialistas” do sector energético perdeu tempo em desqualificar o Manifesto e até mesmo os seus subscritores. Da minha parte, todos eles levaram que contar. Uns ignoraram, outros responderam de forma cordata e apenas um deles de forma malcriada. Vá lá...
De facto, um dos sabichões sentenciou, de forma indignada: “É impressionante a desonestidade intelectual de algumas "verdades" do Manifesto (...)”. Outros, que nem sequer leram o texto com atenção, mas como conheciam as preferências pela opção nuclear de alguns dos subscritores do Manifesto, deram por adquirido que o documento contemplaria uma proposta nesse sentido. Azar deles, o Manifesto nem sequer contém o termo “nuclear”. Mas isso não impediu que outro dos sábios da comunicação social começasse o seu comentário com esta preciosidade : “um grupo de 33 membros da sociedade civil veio esta semana defender a implementação da energia nuclear em Portugal”.
Enfim, se tudo isto não fosse revelador da teia de cumplicidades que dominam a vida pública e económica nacional, estas patetices até seriam divertidas.
Ironia das ironias, o que toda esta classe de críticos iluminados não previa era que o Manifesto português encontrasse eco tão rapidamente na vizinha Espanha. Obviamente, não por seguidismo do nosso, mas por obra e graça dos mesmíssimos motivos : os preços exorbitantes da energia eléctrica de origem eólica e fotovoltaica tornaram-se insuportáveis.
É claro que em Espanha estas coisas são tratadas com um vigor que não encontra paralelo no remanso dos costumes nacionais. E em Espanha, a comunicação social não contribui da mesma forma que a nossa para “adormecer” os seus leitores.
Sintomaticamente, os responsáveis dos nossos órgãos de comunicação social e os seus colunistas, que tão atentos se revelaram em relação ao Manifesto, mostram-se agora muito distraídos relativamente à ruidosa contestação das renováveis que está em curso em Espanha.
Os artigos publicados na imprensa espanhola têm sido muitos. Um dos últimos, España admite que la economía verde que vendió a Obama es una ruina, tem um elucidativo sub-título : El Gobierno español filtra un informe que reconoce las nefastas consecuencias económicas de la apuesta por las energías renovables.
Conforme se pode ler, Zapatero começou por ficar furioso com um estudo da Universidade Rey Juan Carlos, de Março de 2009, que denunciava os perigosos efeitos sobre o emprego que poderiam decorrer do apoio governamental às energias renováveis.
Não admira a fúria de Zapatero. Com o título em inglês Study of the effects on employment of public aid to renewable energy sources esse estudo até aconselhava o Presidente dos EUA, Barack Obama, a não seguir o exemplo de Espanha...
Como seria de esperar, o estudo foi "demonizado" pelo governo de Zapatero e à boa maneira socialista o respectivo coordenador, Gabriel Calzada, chegou a ser publicamente hostilizado.
No entanto, agora que a crise financeira veio impor fortes medidas restritivas, é o próprio governo de Zapatero que deixa escapar um documento interno que recupera as conclusões do mesmo estudo para ver se põe um travão aos sobrecustos das renováveis.
Quase se poderia dizer que estamos perante um Manifesto “à espanhola”...!
Em Espanha o rebuliço é enorme, mas a comunicação social portuguesa ainda não deu por nada. Não surpreende. Vejamos porquê. A nossa comunicação social muito raramente divulga críticas às teses oficiais do aquecimento global. Chega a ignorar acontecimentos que fazem furor mediático no estrangeiro.
Ora, o Governo português perfilha claramente as teses do aquecimento global e a generalidade dos dirigentes da nossa comunicação social, por convicção, por ignorância ou por qualquer outro motivo menos confessável, alinha com o Governo na defesa das teses do IPCC.
Sabendo-se que a motivação fundamental da política de apoio às energias renováveis do Governo português é o putativo combate ao aquecimento global, quando a nossa comunicação social promove um ataque cerrado aos que se atrevem a tocar nas energias renováveis, como aconteceu no caso do Manifesto, ou quando ignora olimpicamente as duras críticas às energias renováveis em curso na vizinha Espanha, está a cumprir exactamente o mesmo desígnio.
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