sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Uma escola para a vida

Para além do número avassalador de escolas que este governo quer encerrar, outro aspecto me deixa preocupado e perplexo.
“Não são critérios economicistas, é para o bem dos nossos alunos”, vociferava há dias o nosso primeiro. (Razão tem o Zé Pedro Gomes, quando diz que Sócrates não fala com os portugueses, grita com eles).

Com certeza que não foram razões orçamentais que levaram a nossa ilustre ministra da educação a defender, em visita a um estabelecimento de ensino, que os alunos deveriam frequentar sempre a mesma escola, desde o 1.º ciclo até ao 12.º ano de escolaridade. Foram, sem dúvida, razões pedagógicas!

Só quem não sabe o que se passa nos intervalos, nos recreios, em zonas mais ou menos abertas, mais ou menos vigiadas, é que poderá conceber um idílico jardim-escola onde alunos de todas as idades e proveniências convivem em sã camaradagem, os mais velhos ensinando as delícias da vida saudável e o prazer do dever cívico, os mais novos, solícitos e ávidos de conhecimento, seguindo o exemplo dos mais experientes.

Só quem desconhece que o vício das drogas é incutido nas crianças de tenra idade por jovens mini-traficantes / consumidores, que alguns alunos se encontram nos recintos escolares com o único objectivo de estarem perto do público-alvo, é que pode ter ideia tão peregrina.

Só quem vive noutro mundo e ignora as cenas de agressão e ameaça e roubo e extorsão de que normalmente os mais novos são vítimas nas escolas deste país, é que poderá propugnar medida tão airosa.

Mais espantoso é ver os elementos dos executivos corroborando a bondade de tal dislate. Será que apenas lhes interessa alargar o seu poder? Terão a ilusão de se engrandecerem mais quanto maior o número de docentes sob a sua alçada e mais variados os graus de ensino?

Por que não manter os cidadãos no mesmo edifício, desde a maternidade até ao lar da terceira idade? isso é que era uma ideia!

Com medidas destas, quem pode e tem testa corre para o ensino privado (embora lá não se livre de tudo isto…). Mas se o interesse oculto, para além de poupar no orçamento, é alimentar o ensino privado em detrimento duma dignificação do ensino público, então, não nos podemos surpreender, pois é isso que se tem vindo paulatinamente a fazer em Portugal desde o cavaquismo e o pulular dos cogumelos do ensino superior.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

BUNDA LARGA


Diz Bill Gates, e alvitra bem, que as tecnologias são importantes, mas o essencial é a formação, é a valorização dos recursos humanos.
Exulta Sócrates com a quase-verdadeira notícia de que todas as escolas portuguesas estão dotadas de banda larga. Sem dúvida que é importante que os utilizadores dos computadores não esperem eternidades para abrir páginas ou não tenham que se apinhar às dúzias em torno de um velho 486. Mas recomenda-se alguma atenção ao conteúdo, à substância, para não se cair na mesma asneira do balofo sucesso escolar. Recusemos esta tendência neo-barroca de sobrepujar as aparências.
É preciso que se saiba que grande parte, se não a parte de leão, dessas auto-estradas da informação não estão ocupadas com investigação útil e actividades enriquecedoras. Quem observa o que se passa por esses templos que são algumas salas de informática, vê bem em que se ocupa essa banda larga: jogos on-line, de preferência com grande profusão de sangue, horas intermináveis de “chats” perfeitamente despropositados (tantas vezes a paupérrima conversação se entabula com o colega que tecla igualmente dois computadores ao lado), sem esquecer rápidas incursões em alguns sites educativos, de onde se sacam airosamente textos e fotos que, depois de uma breve e incipiente reformatação vão constituir os benditos trabalhos escolares que ocuparam os alunos durante trimestres inteiros! E vão pomposamente assinados na própria capa pelos alunos que os compilaram.
Se ninguém fizer nada, em breve depararemos com mais uma daquelas surpresas –OOOOPS! – que só surpreendem por ser surpresa para alguém: milhares e milhares de jovens com certificação informática que pouco mais sabem que utilizar o copy-paste e abrir uma sala de chat.
Se querem mexer nos exames, aí está uma boa oportunidade: submeter a exame prático as competências das TIC’s!