Qual será o real conceito de felicidade?
Esse é um tema recorrente e que já ocupou a mente de muitos cronistas e laudas e mais laudas de papel.
Dela,cada um tem a sua visão própria ,mas,ninguém chega a nenhuma conclusão.
É possível a pessoa escolher ser feliz ou infeliz?Deveria ser um direito de todos, assegurado pela Constituição como alguns sugerem?
Seria fácil; o governo baixaria uma medida provisória tipo:
-Art.1º:Todos seriam obrigados a ser felizes.
Revogam-se as disposições em contrário.
E, pronto, estava feita a coisa.
Sorrisos largos, olhos brilhantes,boa disposição...Um sonho utópico,mas,irreal,porque como eu escrevi acima cada pessoa tem o seu conceito de felicidade.Alguém já disse que ela é um cachorro vira- lata,outros que é uma calça jeans azul e desbotada ou dinheiro,saúde e,ainda ,amor.
Mas,as pessoas mais tristes que eu conheci eram muito ricas.Ou muito saudáveis, inteligentes e bonitas.
Vá entender esse mundo!
Para mim não há muita diferença entre felicidade e consciência.Se estou bem comigo estou feliz.Porque a felicidade brota de dentro para fora.
Posso comprar aquele livro que tanto desejei, ou viajar para a praia,ou passear no shopping e almoçar com meu neto,ou receber os livros que escrevi diretos da Editora.
Isso me deixa alegre, mas,não,feliz.Parece complicado?
Porque só me sinto inteiramente feliz quando estou livre,quando faço alguém feliz,quando pratico um ato de bondade. Sinto-me leve,poderia até voar.
Já chorei muito dentro de um carro de luxo e já me senti inteiramente feliz subindo num ônibus cheio, ás seis da manhã.
Descobri, também, que felicidade é despojamento; é sair pelos caminhos livrando-se de cargas que a gente imagina que sejam necessárias para ser feliz; posso ser muito feliz sentada num sofá barato no terraço simples da minha casa e ler um livro.Não precisa ser um móvel de marca ,nem o terraço precisa ter jardins de Burle Marx,porque eu não vivo para impressionar os outros e nem pretendo aparentar o que não sou.
A simplicidade e a auto- confiança é um dos caminhos para felicidade.Dar um sentido á nossa vida,ter uma meta,um projeto, também, é um bom caminho.A viagem é muito melhor que a chegada porque envolve lutas e sonhos. Essa construção laboriosa dos nossos desejos também chamada esperança pode ser uma das faces da felicidade.
Abrir a janela e deixar o sol entrar, ouvir os pássaros ,escutar o vizinho,brincar com as crianças,prestar atenção ao canto das ondas e aceitar as coisas como elas são.Mudar a si mesmo,não aos outros.Procurar dentro de si mesmo as forças necessárias para tocar a vida sem deixar tudo nas mãos de um deus muito ocupado me parece uma boa coisa.Uma comunhão com o infinito,sim;agarrar-se ás forças superiores como um náufrago,nunca.Dependência seja econômica,social ou religiosa é um caminho que nos expulsa para bem longe da felicidade.
OS NINGUÉNS
As pulgas sonham com comprar um cão,
e os ninguéns com deixar a pobreza,
que em algum dia mágico a sorte chova de repente,
que chova a boa sorte a cântaros;
mas a boa sorte não chove ontem,
nem hoje, nem amanhã, nem nunca,
nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte,
por mais que os ninguéns a chamem
e mesmo que a mão esquerda coce,
ou se levantem com o pé direito,
ou comecem o ano mudando de vassoura.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam supertições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não têm cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.”
Eduardo Galeano.
As pulgas sonham com comprar um cão,
e os ninguéns com deixar a pobreza,
que em algum dia mágico a sorte chova de repente,
que chova a boa sorte a cântaros;
mas a boa sorte não chove ontem,
nem hoje, nem amanhã, nem nunca,
nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte,
por mais que os ninguéns a chamem
e mesmo que a mão esquerda coce,
ou se levantem com o pé direito,
ou comecem o ano mudando de vassoura.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam supertições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não têm cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.”
Eduardo Galeano.
MENSAGEM