Cheguei a pensar que teria gostado de me casar com esta grande senhora. Ela escreve divinamente.
Lágrimas ocultas
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Tomo a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
5.1.06
Amai-vos uns aos outros
Amai-vos uns aos outros.
Quando as palavras são repetidas até à exaustão, parece que perdem o significado. Hoje não choca, nem aquece nem arrefece ouvir "amai-vos uns aos outros". Porém, será difícil imaginar palavras mais revolucionárias.
Não sou historiador nem conheço em pormenor os tempos em que viveu Cristo. Porém, quando me tento situar no Israel daqueles tempos ou na Roma daqueles tempos, imagino que essas palavras seriam um choque. Amai-vos uns aos outros. Imaginem um soldado romano. Um senador romano. Um cidadão, um escravo. Imaginem um sacerdote judeu. Um fariseu. Um pescador. Haveria espaço para amar os outros desinteressadamente? É certo que havia quem o fizesse, mas imagino que a maioria da população veria isso como fraqueza. Olho no olho, dentes nos dentes. Os meus interesses primeiro. Dar desinteressadamente é que não.
Talvez os historiadores me contrariem. Pouco importa. Ainda hoje esta é uma mensagem revolucionária. Constato que muita gente não está pronta para a receber. Não sabem dar a outra face, e entendem que quem o faz é fraco. Respondem ao amor com violência. Acham legítimas a raiva e a vingança. Mesmo do mais devoto católico se pode ouvir "haviam de lhe fazer a ele o que ele fez aos outros".
Amai-vos uns aos outros.
Quando as palavras são repetidas até à exaustão, parece que perdem o significado. Hoje não choca, nem aquece nem arrefece ouvir "amai-vos uns aos outros". Porém, será difícil imaginar palavras mais revolucionárias.
Não sou historiador nem conheço em pormenor os tempos em que viveu Cristo. Porém, quando me tento situar no Israel daqueles tempos ou na Roma daqueles tempos, imagino que essas palavras seriam um choque. Amai-vos uns aos outros. Imaginem um soldado romano. Um senador romano. Um cidadão, um escravo. Imaginem um sacerdote judeu. Um fariseu. Um pescador. Haveria espaço para amar os outros desinteressadamente? É certo que havia quem o fizesse, mas imagino que a maioria da população veria isso como fraqueza. Olho no olho, dentes nos dentes. Os meus interesses primeiro. Dar desinteressadamente é que não.
Talvez os historiadores me contrariem. Pouco importa. Ainda hoje esta é uma mensagem revolucionária. Constato que muita gente não está pronta para a receber. Não sabem dar a outra face, e entendem que quem o faz é fraco. Respondem ao amor com violência. Acham legítimas a raiva e a vingança. Mesmo do mais devoto católico se pode ouvir "haviam de lhe fazer a ele o que ele fez aos outros".
Amai-vos uns aos outros.
Cartas antigas - Perdoarás?
Quem diria que eu tinha isto no meu computador, nuns bits empoeirados e muito esquecidos? Vê agora a luz do dia esta carta nunca enviada (do tempo em que ainda escrevia cartas):
Perdoarás
Perdoar-me-ás se souberes que te amo? Se te disser as vezes que chorei por dentro ao esconder o amor que queria mostrar-se, se te contar o silêncio que de livre vontade por ti suportei, se te mostrar a angústia que me tolhe a alma, se quebrar o voto de silêncio a que me votei, perdoar-me-ás?
Não sabia que te amava ao sofrer, não sabia que sofria por te amar. Em ti busquei conforto, amizade, contigo procurei as respostas para o meu sofrimento, mas não imaginei que a resposta fosses tu.
Perdoas-me agora os silêncios e afastamentos, as demasiadas vezes que te telefonei, o demasiado tempo que não liguei, a inconstância de quem sabia que lhe faltava algo e desesperava de encontrar?
Não me perdoei eu quando descobri. Primeiro suspeitei, como quem suspeita a chuva ao ver as nuvens negras, como quem suspeita a lua ao cair do sol. Mas não quis crer. Não podia ser, não era essa a razão do meu sofrer. Perdi-me em demandas ridículas, em quimeras inalcançáveis, em sonhos irrealizáveis. Tive contigo arrufos estúpidos de namorados, quando apenas éramos amigos, o meu coração era teu mas a razão estava tão distante...
Perdoar-me-ás pelas vezes que fui ridículo, inconveniente, prepotente? Pelas vezes que te julguei minha pertença e me afastei envergonhado de mim próprio, sem admitir o que sentia? Por quando te amando me afastei para que os meus sentimentos se perdessem na distância?
Perdoas-me por me ter apercebido? Perdoas-me por me ter afastado? Perdoas-me por me ter re-aproximado? Perdoas-me pelos milhões de vezes que repeti tudo isso? Perdoas-me a constante inconstância com que te exigia o irrazoável? Perdoas-me por pedir desculpa? Perdoas-me por te amar?
Perdoarás
Perdoar-me-ás se souberes que te amo? Se te disser as vezes que chorei por dentro ao esconder o amor que queria mostrar-se, se te contar o silêncio que de livre vontade por ti suportei, se te mostrar a angústia que me tolhe a alma, se quebrar o voto de silêncio a que me votei, perdoar-me-ás?
Não sabia que te amava ao sofrer, não sabia que sofria por te amar. Em ti busquei conforto, amizade, contigo procurei as respostas para o meu sofrimento, mas não imaginei que a resposta fosses tu.
Perdoas-me agora os silêncios e afastamentos, as demasiadas vezes que te telefonei, o demasiado tempo que não liguei, a inconstância de quem sabia que lhe faltava algo e desesperava de encontrar?
Não me perdoei eu quando descobri. Primeiro suspeitei, como quem suspeita a chuva ao ver as nuvens negras, como quem suspeita a lua ao cair do sol. Mas não quis crer. Não podia ser, não era essa a razão do meu sofrer. Perdi-me em demandas ridículas, em quimeras inalcançáveis, em sonhos irrealizáveis. Tive contigo arrufos estúpidos de namorados, quando apenas éramos amigos, o meu coração era teu mas a razão estava tão distante...
Perdoar-me-ás pelas vezes que fui ridículo, inconveniente, prepotente? Pelas vezes que te julguei minha pertença e me afastei envergonhado de mim próprio, sem admitir o que sentia? Por quando te amando me afastei para que os meus sentimentos se perdessem na distância?
Perdoas-me por me ter apercebido? Perdoas-me por me ter afastado? Perdoas-me por me ter re-aproximado? Perdoas-me pelos milhões de vezes que repeti tudo isso? Perdoas-me a constante inconstância com que te exigia o irrazoável? Perdoas-me por pedir desculpa? Perdoas-me por te amar?
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