11.5.07

Cátia Silva, Professora do 1 Ciclo, Macau

Desde o meu 12 ° Ano que penso em sair de Portugal, sempre achei Portugal demasiado pequeno, para viver só ali... mas tudo eram sonhos, nunca fui muito entusiasta da minha saída de Portugal até porque pensei sempre que só acontecia aos outros.
Até ao dia em que vi um anúncio para trabalhar num colégio em Angola... nem queria acreditar quando o telefone tocou e me disseram que eu tinha sido uma das escolhidas. Sem dúvida que fui porque não tinha emprego em Portugal, deixei tudo o que mais gostava em Portugal... Mas a possibilidade de uma vida nova, de outra realidade, de outras pessoas, sorriu-me muito mais e nunca coloquei em questão não ir.
Passado um ano voltei a Portugal e sempre pensei que um ano em Angola seria suficiente para me darem emprego em Portugal nem que fosse numa instituição privada… Enganei-me a mim própria sem querer… a realidade era outra, aliás era a mesma que tinha deixado… não havia emprego, era mais um em muitos… Era apenas um número…
Quando tinha chegado de Angola, um grande amigo que tinha estado em Macau falou-me e mostrou-me fotografias da sua experiência. Achei curioso o facto de ele ter estado numa ex-colónia portuguesa tal como eu e fiquei estupefacta com as fotografias do outro lado do mundo. Mandei um currículo por e mail e mais uma vez pensei: isto só acontece aos outros….
Passado um ano e alguns meses, enquanto trabalhava num call center, alguns dias após ter tatuado um caractér chinês, recebo um telefonema a perguntarem-me se ainda estou interessada em trabalhar numa escola em Macau. O meu primeiro instinto foi tentar decifrar quem me estava a tentar pregar uma partida, visto todos saberem do meu fascínio pela cultura chinesa. Só admiti que era mesmo da escola, quando do outro lado, me dizem que não era dos apanhados.
Telefonaram-me numa terça-feira, cheguei a Macau no sábado. Foi tudo relâmpago, não tive tempo para pensar… Ou sim ou não… os meus amigos nem queriam acreditar, a minha família só dizia vai correr tudo bem, mas o namorado foi mesmo o pior. Mas não havia nada a fazer… Portugal não tinha lugar para mim… Era a minha oportunidade, todos nós sabemos como está a possibilidade de um professor recém-licenciado trabalhar na sua área no seu país…
Já estou em Macau há um ano e sete meses e não vou a Portugal desde o Natal. Adaptei-me muito bem, a esta nova vida. No início foi um pouco complicado… tive de começar tudo outra vez: casa, mobília, telefone, etc…
A barreira linguística é e sempre foi a mais complicada de vencer. Eles nem sequer falam inglês… Mas Macau trouxe-me imensas coisas boas, ao nível da experiência profissional que em Portugal dificilmente teria, da oportunidade de viajar, de conhecer, de viver outras pessoas, outras línguas. Tem sido fantástico, não há dúvida…
Mas o tempo não pára, a terra continua a girar e Portugal chama por mim todos os dias… o meu namorado, os meus amigos, a minha família, todos me dizem, não venhas… mas eu só quero ir…
Há uma palavra que dá cabo de mim… a saudade…
A saudade do meu amor, dos meus amigos, da minha família, dos meus lugares, das minhas coisas, da minha cama, do meu espaço, das minhas viagens de comboio, dos sabores das comidas das tias, do céu azul, do sol a brilhar sem haver humidade no ar…
Não sei até quando vou suportar este dilema, este paradoxo que é a minha estadia em terras orientais mas de uma coisa tenho a certeza: vale sempre a pena…
O melhor de viver noutro país que não o nosso, é a possibilidade de conhecermos outras realidades, de ampliar a nossa abertura de espírito, o sentido crítico e principalmente a tolerância que ganhamos em relação ao próximo.
E depois é uma riqueza cultural e humana muito grande, aquela que ganhamos quando viajamos. Estamos sempre em contacto com pessoas novas, fazemos novos amigos conhecemos as suas vidas e quase que nos apetece ir viver com eles… ou então gostamos tanto de uma tradição, de uma palavra, ou de uma crença que a tomamos como nossa para o resto da vida....