Tenho vindo progressivamente a aperceber-me que as gerações vindouras são cada vez menos portuguesas e mais universais (ou americanas). Na verdade é difícil reverter o processo de aculturação agressiva que os media promovem, mas não cesso de espantar-me com as proporções do fenómeno. Se há programação que nunca vi durante mais do que alguns penosos minutos (para tentar alcançar o suposto interesse alheio por tão boçal, primária e teatral manifestação de falta de células cerebrais) é aquela que vulgarmente se designa wrestling (e que é transmitida em diversos programas do género). Ora na escola onde lecciono, (e em todas as outras onde já trabalhei) a consulta de sites do género, para visionar pequenos videos de combates encenados, está no topo das preferências das crianças e adolescentes, e desenganem-se aqueles que simplificam o fenómeno dizendo que é uma tendência claramente masculina, pelos seus contornos mais condicentes com as manifestações de excesso de testosterona, pois já resgatei muitas jovens raparigas dos confins pouco pedagógicos desses sites.
Pensava eu que este interesse fosse um apanágio da cultura norte-americana e que nunca desenvolvesse raízes, de maneira significativa, na Europa ou no nosso país. Enganei-me. As estratégias de publicidade e marketing dirigidas aos públicos mais jovens são cada vez mais eficientes e a quantidade de crianças/jovens que possuem televisões e computadores ligados à internet no conforto do seu quarto não é uma questão que se possa ignorar.
Revolta-me que sejam este tipo de programas medíocres os seleccionados para veicular cultura. Que uma cultura fecunda e variegada com muito mais para oferecer do que homens e mulheres cheios de esteróides anabolizantes nas veias, roupas reduzidas no corpo e identidades mascaradas nos ringues, fique espartilhada por este lugares comuns odiosos em virtude das guerras de audiências. Revolta-me que crianças de 11-12 anos vejam programas deste com consentimento mudo dos pais. O processo de socialização e educação de uma criança é muito complexo e exigente e não se compadece com o deixar andar, o não contrariar, o não saber dizer não principalmente quando o único argumento é "na minha turma toda a gente vê".