29 setembro, 2008

O que não se pode dizer

Mas que eu, independente, posso! António Nóvoa, reitor da UL, deu há dias uma excelente entrevista à SIC. A certa altura, perguntou porque é que o MCTES tem uma boa política de flexibilidade contratual a prazo com os laboratórios associados, de investigação, e não com as universidades. Eu respondo. Porque o MCTES é dirigido por um homem que julga que sabe é de ciência, embora eu ainda esteja por ver quem é o cientista que está com o mesmo chapéu do ministro. Mas que certamente é muito ignorante e distante em interesses da educação superior. 

Há muito tempo que venho dizendo isto. JMG ainda não contribuiu com alguma coisa que se veja para a evolução do nosso sistema de educação superior. Fala-se do RJIES, mas é tipicamente um exercício político de ignorantes. Coisa politicamente crítica, que acaba por ser o ponto forte da entrevista de AN, a gestão de carreiras, é coisa a que JMG tem fugido como diabo da cruz. E, no entanto, parece ser um ministro seguro de pedra e cal, quando se discorre sobre remodelações.

P. S., 30.9.2008 - Reparo que usei duas vezes nesta entrada o termo ignorante. Não me arrependo e nem é ofensivo, porque define uma situação objectiva que não diminui as características pessoais de quem se fala. No entanto, convém explicar. Escrevi que JMG é ignorante no que se refere à educação superior, em comparação com o que conhece de política científica. É verdade. Onde é que está publicado algum escrito seu relevante sobre este tema?

Escrevi que o RJIES é um exercício de ignorantes. Creio que é verdade e julgo tê-lo demonstrado. É uma mistura incoerente de modelos, está desfasado de muitos conceitos básicos da teoria das organizações, desconhece aspectos fundamentais da cultura institucional, proopõe um modelo alternativo, fundacional, sem o mínimo de fundamentação e esclarecimento, e muitos etc.

28 setembro, 2008

A Madeira de que tanto gosto...

A Universidade da Madeira (UMa) desperta-me sentimentos contraditórios. A ela dediquei muito e estimulante trabalho, com um projecto inédito em Portugal de educação liberal. Lá conheci colegas de excepcional qualidade, de que destaco, com toda a justiça, Nuno Nunes e José Castanheira da Costa. Ao mesmo tempo, é uma universidade que se expõe ao público da pior maneira. Agora, em vários sítios da “net”, chama-se a atenção para um inconcebível processo de nomeação definitiva de um professor auxiliar. Vejam aqui e aqui toda a história.

Isto envolve duas personagens bizarras. Primeiro, a directora do Departamento de Ciências de Educação, Jesus Maria Sousa, pessoa que não tenho o desgosto de conhecer pessoalmente mas que, lamentavelmente, bem conheci como intransigente opositora da nossa proposta de reforma da UMa. Especialista em ciências da educação, só não percebo como é que as universidades de Harvard, Cambridge, Oxford, muitas mais, adeptas do modelo da educação generalista e integral, nunca repararam nesta senhora, ainda por cima notável por, em espaço de meses, dar um parecer entusiasticamente favorável e depois pedir para o retirar, substituindo por um parecer negativo. Só não digo que já chegámos à Madeira porque é muito injusto para todos os colegas de grande qualidade que lá conheci.

Depois (ou antes) o reitor especialista em disparates, Pedro Telhado Pereira (e que telhado de vidro ele tem!…). Começou por quase fracturar a universidade, quando demitiu o vice-reitor Nuno Nunes e fez um braço de ferro tonto com o resto da equipa reitoral, levando à sua demissão. Depois, a história triste que identificou na opinião pública a UMa com um certo lóbi (é pena que já não esteja na “net” o “site” pessoal de um dos vice-reitores). Mais recentemente, os conflitos insensatos com os membros externos da assembleia dos estatutos. Finalmente, a coisa inconcebível de, sendo ainda reitor de uma universidade, estar envolvido numa história pequenina de concurso a um lugar de professor de uma escola do continente. Mas o que é verdade, meus caros amigos madeirenses - e desculpem-me a provocação amiga - vocês é que o elegeram!

P. S. (19:54) - E há mais, segundo mensagem acabada de receber da Madeira.

26 setembro, 2008

Ordem dos professores

O De Rerum Natura tem publicado umas crónicas de Rui Baptista em defesa da criação de uma Ordem de Professores. Na sua última entrada Rui Baptista coloca 10 questões sobre a Ordem dos Professores. Deixo aqui as respostas que dei às referidas perguntas.


1. Porque será que tantos estratos laborais de formação académica superior se estruturaram em ordens profissionais e outros, com formação escolar de igual exigência, se limitam a ansiar por idêntico estatuto?

Para que determinados profissionais se organizem numa Ordem ou numa Associação Profissional não basta terem uma formação superior. Devem cumprir um conjunto de exigências que se encontram explanadas na Lei nº 6/2008 de 13 de Fevereiro. O facto de, no passado, algumas profissões terem conseguido constituir Ordens Profissionais sem que, de facto, reunissem essas condições (estou a pensar, por exemplo, na Ordem dos Economistas) não deve justificar a criação de outras Ordens profissionais. 

2. Porque será que os psicólogos lutaram anos a fio pela sua Ordem e se regozijam hoje por a terem finalmente conseguido?

Sou psicólogo de formação e fiquei satisfeito pelo facto de o Estatuto da Ordem dos Psicólogos ter sido recentemente aprovado pela Assembleia da República, embora os referidos estatutos contenham algumas lacunas e especificidades que considero negativas. De qualquer das formas, a psicologia é, pelas suas características, uma área científica e profissional que se adequa em absoluto ao seu enquadramento numa associação profissional ou ordem. Resulta de uma formação superior e os psicólogos não só devem pautar a sua intervenção por exigentes por critérios científicos como devem obedecer a um código deontológico que obrigue, por exemplo, ao segredo profissional. Este código até ao momento não existe. 
Por outro lado, a atribuição da carteira profissional de psicólogo é actualmente uma prerrogativa do Estado, ao abrigo de uma legislação do Estado Novo. O resultado desta situação fez com que fossem atribuídas milhares de carteiras profissionais a pessoas cuja formação de base não era Psicologia, por exemplo, a licenciados em Filosofia que tivessem defendido uma tese de licenciatura em psicologia…Os psicólogos constituem um grupo profissional que, de facto, pela especificidade da sua área, requer uma ordem profissional que, através de mecanismos de auto-regulação, se substitua ao Estado que tem sido um péssimo regulador da sua profissão. 

3. Porque será que a Fenprof, o sindicato com maior representatividade em número de associados, se inquieta tanto só de ouvir falar na criação da Ordem dos Professores?

Não faço a mínima ideia. Se isso sucede penso não compreendo porquê. A Lei nº 6/2008, de 13 de Fevereiro, é clara ao afirmar, no ponto 2 do Art.º 4º, que as Ordens “estão impedidas de exercer ou de participar em actividades de natureza sindical ou que tenham a ver com a regulação das relações económicas ou profissionais dos seus membros.”

4. Porque será que o partido com a responsabilidade da maioria absoluta parlamentar não deu provimento, na Assembleia da República, a uma petição, apresentada em 2 de Dezembro de 2005, para a criação da Ordem dos Professores, subscrita por 7857 docentes?

Provavelmente porque entendeu, e na minha opinião bem, criar previamente uma lei-quadro da criação das Associações Profissionais antes de proceder à autorização de criação de novas ordens. Foi essa a razão que fez com que o projecto de Estatutos das Ordem dos Psicólogos estivesse tanto tempo na Assembleia da República, tendo dado entrada no Parlamento antes da actual legislatura.  

5. Terá sido por a Ordem dos Engenheiros não ter permitido a inscrição de licenciados pela Universidade Independente que a recente legislação regulamentadora de novas ordens profissionais retirou a essas associações a validação dos respectivos cursos de acesso?

Não foi só a Ordem dos Engenheiros que colocou entraves à acreditação de cursos. A Ordem dos Arquitectos fez o mesmo, sendo obrigada a admitir como associados, em sede de decisão judicial, arquitectos licenciados pela Universidade Fernando Pessoa. A actual legislação fez bem em retirar esse poder às Ordens passando-a para a actual Agência de Avaliação e Acreditação para a Garantia da Qualidade do Ensino Superior

6. Porque será que outras profissões, de idêntica projecção e responsabilidade sociais, se subordinam a um código deontológico específico que lhes impõe direitos e lhes exige deveres, responsabilizando os seus membros por uma prestação de serviços qualificados à comunidade, e os professores não?

Os professores são abrangidos pela Carta Deontológica do Serviço Público, aprovada pela Resolução 18/93 do Conselho de Ministros publicada no Diário da República em 17 de Março de 1993. A questão reside em saber se um outro código deontológico deveria ser aplicado aos professores e quem o deveria aplicar e fazer cumprir.  

7. Não serão merecedores de igual tratamento os usufrutuários de um sistema de ensino consignado como um direito constitucional?

Existem outros direitos consagrados na Constituição. Sugere que todos os profissionais que de alguma forma se encontrem ligados a estes direitos devem ter uma Ordem Profissional? 

8. Será que os professores se resignam ao papel de escravos ao serviço dos mandarins da Avenida 5 de Outubro?

É uma pergunta que deverá colocar aos professores. Mas acrescentaria uma outra: a existência de uma Ordem de Professores asseguraria que os professores deixassem de ser escravos ao serviço dos mandarins da 5 de Outubro?

9. Será que os resquícios de uma política sindical mercantilista, que inscreveu sem qualquer critério de formação académica minimamente exigente indivíduos que lhes batiam às portas na defesa de direitos bastardos e deveres não cumpridos, não contribuíram para a perda de prestígio da classe docente e para a perda da sua identidade profissional?

Estará eventualmente a referir-se a professores não profissionalizados que começaram a leccionar nos Ensinos Básico e Secundário sem a respectiva profissionalização. Mas saberá que, essencialmente ao longo das décadas de 70 e 80, a necessidade de professores que o sistema educativo reclamava era de tal forma avassaladora que ou sistema de ensino público admitia esses professores profissionalizando-os depois ou enfrentaríamos o colapso do sistema com uma falta generalizada de professores. É certo que foram cometidos muitos erros de natureza política e que uma exigência de qualidade ao nível da formação inicial de professores nunca foi uma prioridade da política educativa até, pelo menos, à criação do Instituto Nacional da Acreditação da Formação Inicial dos Professores (INAFOP) no consulado do Eng.º Marçal Grilo. O INAFOP viria a desenvolver um trabalho meritório mas, infelizmente, foi extinto pelo governo de Durão Barroso sendo à altura ministro da educação o Prof. David Justino.

10. Finalmente, considerando um silêncio que, infelizmente, parece não prenunciar a máxima de quem cala consente, qual é a posição dos Ministérios da Educação e da Ciência e Ensino Superior sobre a criação da Ordem dos Professores?

Relativamente a esta pergunta não lhe sei responder. 


Parece-me que o Rui Baptista, à semelhança de outros, sustenta que a criação da Ordem dos Professores permitiria fazer subir a exigência do sistema educativo português e combater as políticas oriundas da 5 de Outubro. Penso que está enganado. 
Mas, essencialmente, estou contra a criação de uma Ordem de Professores porque julgo que a profissão de professor não se enquadra, pelas suas características, nas profissões que exigem a regulação de uma ordem. Os professores dos ensinos básico e secundário do ensino público leccionam programas cuja concepção não são da sua responsabilidade. O currículo também não é da sua responsabilidade. Os seus alunos transitam de ano de acordo com regras emanadas superiormente e são, em muitas circunstâncias, avaliados por exames oriundos de serviços do Ministério da Educação. O enquadramento legal que condiciona a profissão de professor é bastante restritivo da sua actuação. Isso não sucede com algumas profissões que são enquadradas por ordens profissionais. O único grupo de docentes a quem, eventualmente, se poderia admitir ser enquadrado por uma associação profissional seriam os professores do ensino superior. Francamente não vejo nenhuma vantagem nisso.

25 setembro, 2008

Praxe

Início de ano lectivo. Nos corredores e nos jardins os caloiros são praxados. Estão em fila, encostados a uma parede, com a cabeça baixa. Por vezes, nas suas cabeças, vejo umas orelhas de burro feitas de cartão.
No início a praxe chocava-me. Considerava-a um ritual ofensivo e sem qualquer utilidade. Continuo a pensar assim. Mas essencialmente o que agora sinto é indiferença. Não sinto orgulho nisso.

23 setembro, 2008

As duas faces da medalha

Obviamente, não dispenso hoje a net. Com algum sentido crítico e com alguns controlos de qualidade (avaliação da origem da informação, comparação com outras fontes, etc.) é nela que acabo por encontrar mais facilmente a informação que desejo, em vez de horas de procura nos meus livros e papéis. Isto fora o acesso gratuito ou muito barato a jornais estrangeiros em que estou já viciado, à leitura de grandes articulistas, à obtenção de leis que antes tinha de pedir a amigos da função pública, como fotocópias, ou até à reserva de hotéis, de voos, de compra de livros e tanto mais. Tudo isto, evidentemente, já é lapalissada.

No entanto, não há bela sem senão. Hoje dei por um caso exemplar. Ainda ontem tinha recebido um mail de uma amiga minha, culta, bem informada e socialmente muito responsável, a alertar-me e a convidar-me a protestar contra a delapidação de azulejos de Maria Keil em estações do Metro. Esta mensagem via-se que resultava de uma grande cadeia de “forwards”. Hoje, Júlia Coutinho chamou-me a atenção para o abuso que isto representava em relação a uma entrada do seu blogue “As causas da Júlia”. Como não nos conhecemos pessoalmente e nunca nos tínhamos correspondido, imagino que ela deve ter enviado isto a muitos bloguistas. O trabalho que deve ter tido. Mas recomendo que não deixem de ler o seu texto a que me refiro. É um bom exemplo de honestidade e rigor intelectual.

A blogosfera começa a saturar-me e cada vez menos leio blogues. A maioria dos blogues políticos são colecções de “sound bites” ou manifestações de indignação virtuosa, apaixonada e sem objectividade. Os culturais são pobres. Ficam alguns temáticos. Mesmo assim, começo a notar que a leitura e escrita de blogue me prejudicam em relação ao estudo e escrita mais elaborada sobre temas que me são caros e em que penso que posso contribuir com alguma reflexão. Fico também com a impressão de que isto é um exercício um pouco circular, como vejo pelos comentários. Comparando com o número de visitantes, e principalmente com a lista de visitantes regulares, parece-me claro que estou a escrever principalmente para leitores que já pensam como eu, que não têm tempo para comentários de simples concordância, do estilo que por aí se vê, “que lindo, muitos beijinhos”. Aliás, é a minha experiência como leitor de blogues que raramente faz comentários e que, se os faz em relação a coisas que me merecem reparo, ficam submersos no coro de apreciação amiguista.

Esta de comentários evoca-me um exemplo paradigmático, o dos comentários a notícias do Público “online”. São instrutivos. Na sua esmagadora maioria, são desabafos de protesto emotivo e irracional, de mal-dizer, de processos de intenção, de calúnia generalizada sobre a política, a sociedade, o país. São de um primarismo indigente, de óbvia deficiência cultural - a julgar pelos erros de português. Não sei o que o jornal ganha com isto. Minto, estou a ser ingénuo. Deve dar-lhe muitos visitantes ao “site”, coisa que os anunciantes apreciam.

22 setembro, 2008

Nota gastronómica (LXIII)

Pelar batata

Estou sempre a aprender, na cozinha como no resto. Gosto de batatas cozidas com casca. Não em pratos de sabor refinado, mas em pratos rústicos, de bacalhau, de peixe frito, de porco frito, por exemplo. Aborrece-me é pelar as batatas, depois de cozidas. Há dias, por acaso das minhas deambulações pela net, descobri uma técnica num vídeo do YouTube falado e legendado numa língua oriental. Mas creio que percebi. Dá-se um corte pouco profundo, praticamente só na pele, a toda a circunferência do eixo menor. Coze-se a batata e passa-se para um recipiente com água muito gelada, com muitos cubos de gelo. Ao fim de alguns minutos, segura-se a batata entre as duas mãos com o corte ao meio e puxa-se a pele para um lado e outro. Já experimentei e funciona muito bem. Tenho dúvidas é como será com batatas com muitos olhos. Hei-de experimentar.

Nota gastronómica (LXII)

Empadão de peixe

No suplemento P2 do Público do último sábado, David Lopes Ramos dá a receita de um empadão singelo de peixe.
Para 4, são precisos 750 gramas de batatas cortadas em cubos grandes; uma noz de manteiga; três colheres de leite; uns 350 gramas de espadarte cortado aos cubos pequenos; um pouco menos de bacalhau demolhado igualmente cortado aos cubos; 100 gramas de ervilhas; umas hastes de cebolinho; e 200 gramas de natas. Pré-aquece- se o forno a 200º. Cozem-se as batatas em água durante uns 10 minutos. Escorrem-se e esmagam-se com a manteiga e o leite. Tempera- se com sal e pimenta, caso se goste. Cozem-se o espadarte e o bacalhau em água a fervilhar durante uns três/quatro minutos. Escorrem-se. Junta-se aos peixes as ervilhas, o cebolinho, as natas e cozem-se uns dois minutos. Num recipiente que possa ir ao forno e à mesa, colocam-se os peixes e companhia e cobrem-se com as batatas esmagadas. Deixar cozer até começar a ficar dourado.
Gostei da ideia, mas talvez não seja tão singelo como parece e pode ser comparado com uma receita minha, de tom açoriano, com atum fresco, eventualmente também atum de conserva. Não vou dar quantidades, creio que é intuitivo.
Refogar em azeite cebola e alho picados fino, juntar tomate picado ou polpa de tomate, uma folha de louro, meio copo de vinho branco, malagueta, açaflor, salsa, manjericão, sal, pimenta e cravinho. Juntar o atum em posta e deixar estufar. Desfazer tudo muito bem, mas grado, sem moer. Cozer ao dente os legumes e fazer puré bem grosso, com um pouco de leite ou nata e com manteiga. Numa assadeira untada, colocar uma camada de puré, a do peixe em tomatada e outra de puré. Pincelar com gema de ovo batida num pouco de nata e sumo de limão, colocar algumas azeitonas pretas descaroçadas e levar ao forno a gratinar. Referi-me a legumes porque este prato pode ser feito com puré de batata, de batata doce, de caiota (chuchu) ou de misturas destes legumes. Se não tiver malagueta e açaflor, use pimenta da Caiena e um ligeiro toque de açafrão.

21 setembro, 2008

Nota gastronómica (LXI)

Vinho da Madeira

É o tema de uma crónica deste fim de semana no Fugas, o suplemento de lazeres do Público. Espero que tenha sucesso, porque é incrível como o Madeira (e também os verdelhos açorianos do Pico e dos Biscoitos) andem tão esquecidos. Coisa importante desse artigo é o alerta para que, em relação aos Madeira correntes, a classificação não corresponde às castas tradicionais dos vinhos monocasta: sercial, verdelho, bual, malvasia, para não falar dos raros terrantês, listrão (de Porto Santo) e bastardo.

O que me suscita esta nota é a demasiadamente fácil correspondência entre as castas e os "estilos", hoje dos vinhos correntes da casta tinta negra mole. A secura tem de ser equilibrada com a acidez e força dos taninos.  Neste sentido, se a escala habitual é sercial-verdelho-bual-malvasia, eu acho que o mais caracteristicamente de aperitivo, ou a meio da tarde, não é o mais "seco", o sercial, mas sim o verdelho, um pouco mais adstringente e áspero. O sercial é para dez minutos antes da refeição. É gosto pessoal, ficam livres de me contradizer. Importante é que, no continente, antes de uma boa refeição de restaurante, ao pedirem um banal Porto seco, pensem na alternativa de um Madeira (ou Pico ou Biscoitos).

INOVAÇÃO - Frascos de sol e de lua aos pedaços

Ultimamente, para alegria de muitos, ando emudecida; que os meus caros e raros leitores não se aflijam porque só andei e andarei a ocupar o meu tempo - durante a sesta dos responsáveis, num plano de negócio - resolvi enfrascar fatiazinhas de sol e de lua - para satisfazer o exigente e ambicioso nicho de clientes do mercado nacional da educação terciária:
Uns querem mais dinheiro - a fórmula de financiamento não serve, sobretudo, se não for rigorosamente aplicada - inteira razão ou se não os beneficiar selectivamente!
Pouquinhos querem instituições excelentes, a existencia, claramente, não satisfaz;
Uns quantos com ou sem alunos querem financiamento e muitos docentes ao serviço de qualquer jeito mas, de preferência, a sobrarem muito dos dois bens, considerando o gasto e uso previsíveis, mesmo prejudicando tudo e todos os outros, em especial os alunos;
Outros até gostariam de implantar o Processo de Bolonha como deve ser, o que ninguém fez nem fará - os pseudo responsáveis NÃO DEIXAM! - porque querem só uma coisa qualquer que "faça a mesma vista", desde que não altere o stablishment que, eventualmente, os proteje;
Os pouquitos restantes ambicionariam participar no desenvolvimento estratégico da educação terciária portuguesa desde que houvesse um plano devidamente estruturado e participado, e ninguém sabe onde isso anda, pior, a maioria nem sequer quer saber o que isso seja.

Ora bem, DESCOBRI! Afinal o que todos querem(os) são só pedacinhos de sol e de lua engarrafados, foi a isto que me dediquei. Anexo-lhes uma imagem dos «meus» dois protótipos referidos, não «acham» que vão ser um sucesso garantido?

19 setembro, 2008

Finlândia

Desde há algum tempo, somos bombardeados com coisas internéticas variadas produzidas no Brasil. Algumas têm piada, outras são umas lamechices intragáveis, outras ainda, pior, são autênticas fraudes. No entanto, e sem garantir o rigor da apresentação, recebi um ficheiro PowerPoint com belas imagens da Finlândia e com o texto que se segue. Vale a pena dar-lhe uma olhada.

"A Finlândia não tem muitos recursos naturais. O hino nacional já diz: ...somos um país pobre, que não tem ouro. O recurso que temos é o nosso povo.

Assim, investimos no nosso povo. Toda a pessoa tem de receber formação, educação, para ir tão longe quanto a sua capacidade permitir. 

Não é suficiente que uma sociedade possua algumas pessoas muito capacitadas. Toda a sociedade tem de ter a possibilidade de formação durante toda a vida. Não basta que uma criança pobre receba alguma formação quando pequena. Ela tem de poder estudar o quanto quiser. E a Finlândia tem sido um dos países mais competitivos nas estatísticas internacionais com só 5 milhões de habitantes. Imagine o que fariam com 190 milhões.

Se o Brasil busca inspiração para enfrentar dois de seus principais problemas (educação e corrupção), dificilmente poderíamos deixar de visitar um lugar mais apropriado que a Finlândia.

A presidente finlandesa, Tarja Halonen, adianta algumas dicas: “investimento maciço em educação
(6% do PIB na Finlândia, sem contar pesquisa); transparência no governo; e fidelidade partidária”; "É muito importante ter a coragem de alocar os recursos para a educação básica", ressalta ela.

Um povo educado elegerá dirigentes honestos e competentes. Estes escolherão os melhores assessores. Um povo educado não tolera corrupção. Um povo educado sabe muito bem diferenciar um discurso sério e uma falação demagógica. 

Um povo ignorante desperdiça seus recursos e empobrece. Um povo ignorante vive de se iludir.

Um povo educado prospera mesmo em condições adversas!

A Finlândia possui uma economia de mercado altamente industrializada, com produção per capita maior que a do Reino Unido, França, Alemanha e Itália. O padrão de vida finlandês é elevado. O setor chave de sua economia é a indústria - principalmente madeireira, metalurgia, engenharia, telecomunicações (destaque para a Nokia) e produtos eletrônicos. O comércio externo é importante, representando cerca de 1/3 do PIB. Com exceção de madeira e de vários minérios, a Finlândia depende de importações de matérias primas, energia, e alguns componentes de bens manufaturados."

P. S. - Por falar em fraudes na net, recebi hoje uma apresentação muito bonita com imagens de propaganda turística de Cabo Verde. Simplesmente, uma delas era da lagoa do Fogo, da minha ilha de S. Miguel!

16 setembro, 2008

A ecologia da morte

Passo na Rua da Meditação, no Porto, que conduz à entrada principal do cemitério de Agramonte. Nos dois lados da rua existem várias lojas que abastecem todos aqueles que se dirigem ao cemitério, desde marmoristas até às floristas. Numa das lojas reparo num papel colado no vidro de uma montra que diz o seguinte:

VENDEMOS SACOS PLÁSTICOS ECOLÓGICOS PARA OSSADAS.

As preocupações ecológicas chegaram aos negócios da morte.

14 setembro, 2008

Enviar cartas

Dirijo-me a uma estação de correios para enviar uma carta registada. O funcionário que me atende pergunta-me:
‒ Quer comprar um bilhete de lotaria?
Respondo-lhe que não, sorrindo. Enquanto termina entretenho-me a folhear o último romance do Paulo Coelho.
‒ Chegou esta semana, diz-me o funcionário. Gosta deste tipo de literatura?
‒ Nem por isso, respondi. Vim cá só para enviar essa carta.
Pago e saio da estação de correios que parece mais uma pequena papelaria.
Parece que a administração dos Correios decidiu fazer um rebranding, mudar o target do seu público-alvo e formular um novo marketing-mix. Qualquer dia mudam a identidade visual dos Correios como sucedeu recentemente com o Pingo Doce.
Saí da estação com saudades dos Correios de antigamente...

A maquineta (do fim do) da CRIAÇÃO do mundo

Tudo isto não passa de uma selecção de modalidades desportivas - uns quantos, como eu, "caçam gambozinos", mas outros preferem a "pesca de bosons".
Na internet e - por se tratar de um assunto a meu ver, realmente importante - também no MCTES, naturalmente, passou despercebida a notícia que empolgou muita gente esta semana - a do teste do LHC (a 17-mile ring spanning the French-Swiss border. Inside the Large Hadron Collider (LHC), massive, powerful magnets chilled to a few degrees above absolute zero - projecto internacional "tipo Babel", do CERN, 2000, orçamentado em 4 biliões de Euros, instituiçao para o qual os Portugueses pagam uma "renda", meramente, simbolica de uns quantos milharzitos de Euros anuais, para que alguns nacionais possam "brincar de Deus").
A verdade é que, neste último 10 de Setembro, a maquineta foi testada e não é que funcionou? (esquema aqui). Esse teste deve também render zilhões de papers e DVDs, mas lendo a sua descrição fiquei sem perceber se foi ou não de facto encontrado algum boson (não sei o que seja, mas, se conseguiram(em), trata-se da primeira criação humana de uma partícula com massa (não dessa... da GALP, EDP ou da PT..), a partir de uma colisão de partículas (raios?) - bom, uma espécie de big bang artesanal.... Que fixe! (como diria o outro...)
Os meus caros e raros leitores também andam curiosos sobre isto, não é verdade?
Por mim, ando empolgadíssima mas o meu "particulês" tem que ser muitíssimo aperfeiçoado para poder sequer começar a ter dúvidas sobre o que se escreve sobre isso... Se puderem contribuir para fazer esmorecer a minha ignorância, digam-me lá então de vossa justiça.
Vamos nisso? Obrigada!

Preces atendidas

CANDIDATURA AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO - COLOCAÇÕES 2008























FONTE: 1.ª Fase do Concurso Nacional de Acessol (Extracto)

09 setembro, 2008

Adeus, Público

Chega. Não sei porque é que ainda ia lendo o Público. Ia aturando o conservadorismo ex-maoista do director, as calinadas de ignorância cultural, factual e linguística de muitos jornalistas, a farsa "cultural" do suplemento P2, o enviesamento descarado da opinião dita isenta, contra a objectividade mínima (por exemplo, a actual campanha presidencial americana, tudo o que diz respeito a Angola, a atitude geral em relação aos costumes e à ética médica, com relevo recente para a posição anti-lei do divórcio), nos últimos dias uma série ainda a continuar de escandalosos artigos "de opinião" da mais descabelada propaganda da China (alguém paga?). 

O caso da lei do divórcio é bem significativo, na edição de hoje. O PS até vai descontrair a situação, alterando um artigo, quando, para mim e outros bloguistas, a única resposta à atitude de Cavaco devia ser pura e simplesmente a reaprovação integral da lei, votada por maioria absoluta dos nossos representantes parlamentares. Com isto, o Público lembra, com destaque, parecendo ser um aviso a Belém, que o PR fica novamente com poder de veto, como se alguém imaginasse que tal fosse possível, politicamente. Claro que, logo a seguir, escreve que não parece que isso venha a acontecer. Então para quê a sugestão?

Há pouco, li esta notícia espantosa, cúmulo da estupidez ou da leviandade profissional, que fala por si. Nem faço comentários.
Procurador da República pede absolvição de Fátima Felgueiras 
O Procurador da República Pinto Bronze pediu hoje a absolvição de Fátima Felgueiras de seis crimes de corrupção passiva e três de prevaricação. O magistrado preconizou a condenação da autarca e principal arguida do processo do "Saco Azul de Felgueiras" pela prática de cinco crimes de participação económica em negócio.
Com isto, ao fim de 48 anos de hábito diário obrigatório de compra de um jornal, vou mudar de vida, porque o DN também não me parece que valha a pena. Mas não vou perder nada. Vou ter mais tempo para ler na net os meus jornais estrangeiros e dar uma olhadela a alguns sites de notícias caseiras.

05 setembro, 2008

Não dá para crer!

Há anos, uma decisão judicial retirou quatro crianças da guarda da mãe. Viviam em imundície, sem cuidados mínimos, não estavam vacinados, não iam regularmente à escola. Foram entregues a uma instituição social. Anos depois, um deles foi condenado por ter participado no caso horroroso da morte da transexual Gisberta.

Agora, a família exige uma indemnização do Estado por incúria no acompanhamento e educação deste jovem, vítima social! Vamos assistir a idênticos pedidos por parte de outras “vítimas sociais”, excluídos, marginais? Drogados, jovens de gangues, jovens proxenetas de outros ainda mais jovens do Eduardo VII, arrebentas, vejam bem que não são delinquentes. São só vítimas da incúria do Estado na vossa educação e inclusão social. O pós-modernismo dá para tudo, com uns pozinhos de politicamente correcto.

02 setembro, 2008

Reencontro

Voltando de férias, ainda vai hoje um restinho de "silly season", uma piada que me mandaram. Tem a ver com um raro exemplo de honestidade política, na lei do tabaco.