Este
post poderia ser incluído na série que intitulei "Literacia ou proficiência?", mas preferi dar-lhe destaque porque irá abordar um tema sugerido num comentário, por um dos meus caros e raros leitores, "fernando", de um outro blog que também subscrevo.
O motivo porque este post deveria pertencer à série referida, prende-se com o facto de que existem, existirão e serão valorizadíssimas, a curto prazo, profissões emergentes cuja designação não constam das actuais - e, por que não dizer, logo à partida, fundamentalistas e retrógrados catálogos formalmente instituídos? (ex. Classificação Nacional de Profissões, ver as razões em em [1] e [2])
Muitas são e serão as profissões emergentes de carácter tecnológico, que requerem uma abordagem pouco convencional no processo de ensino-aprendizagem, porque exigem a conciliação de conhecimentos executivos PRÁTICOS bastante diversificados e de treinamento persistente e extensivo para que os os formandos alcancem, no mínimo, os níveis de proficiência expectáveis ao seu exercício. São formações dessa natureza, que deveriam de ser o objecto de preocupação dominante das instituições politécnicas e para as quais haverá que organizar o pessoal docente.
Esta minha arenga, à laia de introdução, tem que ver com reflexões pessoais sobre o conteúdo do ficheiro - propostas/contributo do CCISP e de dois politécnicos, de Bragança e de Setúbal (?), que auxiliarão a definição do conceito de docente ESPECIALISTA do subsistema politécnico - ficheiro esse, gentilmente, sugerido e indicado pelo «fernando» mas que, em caso de sumiço do site original (Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Algarve), também o podem encontrar aqui.
Para mim, estes docentes especialistas dos politécnicos são elementos chave, porque terão que reunir, manter e actualizar as suas competências profissionais, e ainda saber como as transmitir aos seus formandos, a quem devem conferir indubitáveis capacidades de execução profissional, imediatamente absorvíveis e utilizáveis no nosso mercado de trabalho - refiro-me aos Cursos de Especialização Tecnológica. Esses docentes especialistas, não terão outro remédio, se não acompanhar o desenvolvimento PROFISSIONAL da sua área de intervenção que, tal como as restantes, estarão agora em permanente mutação.
Os requisitos dos docentes especialistas deveriam ser definidos, apreciados, confrontados e concedidos, exclusivamente, por agrupamentos profissionais correspondentes ou, em casos especiais, afins.
Não sei se as nossas organizações profissionais pertinentes são suficientes e dotadas de flexibilidade, para assumirem esse desiderato, mas há sempre o recurso à opinião de especialistas profissionais estrangeiros para esse efeito.
Por outro lado, as instituições de ensino superior politécnico também não estão a demonstrar suficiente interesse ou destreza de pensamento para a resolução dessa questão.
Passo a explicar o meu pensamento, através de indicação genérica dos PRINCIPAIS reparos, à proposta e contra-proposta já citadas:
Proposta do CCISP
Reparo 1 - não entendo porque é que a proposta é ainda mais restritiva, limita apenas os especialistas politécnicos a três dos primeiros grandes agrupamentos, do total de nove agrupamentos, da nossa já obsoleta classificação nacional de profissões: Grande Grupo 1 - Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresa; Grande Grupo 2 - Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas, e Grande Grupo 3 - Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio.
Antes de mais, penso que essa classificação não devia de passar de uma listagem indicativa, jamais exclusiva, a ser utilizada, apenas em casos já pré estabelecidos, mas sempre com a devida precaução.
Mesmo entendendo que seja desnecessário - para o efeito, de enquadramento profissional de "docentes especialistas do politécnico" - eliminar algum grande agrupamento da classificação, se eu fosse obrigada a excluir do leque, alguma classe profissional, excluiria logo o primeiro e o segundo agrupamento, por razões óbvias, dos únicos 3 seleccionados pelo CCISP.
Reparo 2 -Não percebo porque é que um procedimento que, quanto a mim devia ser muito dinâmico, expedito e flexível "precisa seguir um Modelo próximo ao de Provas de Agregação das Universidades. ???? Tenham dó! Mesmo com a configuração actual dessas provas, para mim, essa sugestão é tenebrosa, e traduz apenas aquilo que, a qualquer custo, JAMAIS PODERIA ser A OPÇÃO de um politécnico que se preze!
Reparo 3 - A ter que haver a emissão formal e nominal de um juízo, o júri devia ser exclusivamente constituído POR PROFISSIONAIS ACTIVOS DE EMPRESAS PRIVADAS da ÁREA de candidatura do docente, MAS SEMPRE FORA DE TODO O SISTEMA DE ENSINO, e de preferência por estrangeiros.
O júri, a quem se conferia essa tarefa, deveria ser constituído por um número ímpar de elementos, e ficaria subordinado a um procedimento simples pré fixado, que pode realmente incluir, além de uma grelha padrão de avaliação, documentos comprovativos da especialização, a argumentação directa com o(s (candidato(s), mas por simples vídeo-conferência.
Para mim, está fora de causa a necessidade de se fixar um local específico, para essas reuniões de apreciação. Só este requisito trará como consequência em júris não "pré-cozinhados", o atraso em marcação da datas, que pode ir a muito mais de um ano.
Reparo 4 - Se os politécnicos, obrigatória e conjuntamente, com as organizações de classe profissional, não reunirem condições para avaliação de um seu docente como especialista, não serão as suas parcerias com universidades que colmatam a sua deficiência, tanto mais que, as universidades não são obrigadas a esta classe de docentes e, por definição, deveriam mesmo estar noutro patamar de interesses e de evolução do conhecimento, isto é, noutros níveis de proficiência.
Contra proposta do Instituto Politécnico e Bragança
A meu ver, é uma contraproposta totalmente despropositada porque, tal como é referido na proposta do CCISP, um docente especialista é um profissional da área.
As avaliações pertinentes ao percurso académico ou de investigação aplicada (aplicada agora já não, deve ser INVESTIGAÇÃO ORIENTADA) dos docentes dos politécnicos deverão ter procedimentos específicos de avaliação - não convém aos docentes dos politécnicos, comprovarem, perante o júri, as suas tendências para "assobiar e chupar laranja", em simultâneo ou, o que quer dizer o mesmo, que sabem pouco de nada.
Pode, eventualmente, fazer sentido incluir-se um requisito de investigação aplicada, numa avaliação de carácter profissional da área para a qual o candidato se perfila, desde que essa investigação seja o resultado de projectos de empresas, coordenados e financiados por estas, nos quais alguns pontos tenham sido submetidos a contratação específica dos docentes candidatos. Outra maneira de ver o problema, para mim, é mesmo muito duvidosa.
Análise de Armando Pires (Politécnico de Setúbal?)
Concordo e gostei muitíssimo do preâmbulo e da chamada de atenção de Armando Pires sobre a proposta em causa, mas como discordo das provas públicas para o efeito de especialista, discordo também do procedimento por ele proposto, que resultou tanto ou mais complicado do que o da proposta original.
Na verdade a organização de provas públicas para especialistas, termo este que devia ser usado até com horizonte temporal curto, não fazem nenhum sentido, numa época em que a única constante é a mudança.
Em resumo,
Claro que podemos sempre baralhar ou complicar procedimentos...
É só não resistirmos às nossas tentações.
Ninguém nos impede de o fazer, muito menos o MCTES que, já de si, a meu ver, prefere pensar em sistemas complicadíssimos, que ninguém percebe bem quais os objectivos a atingir, a não ser para hierarquizar pessoas e instituições, nem a estrutura final que terá em mente, nem a calendarização da execução, e muito menos, e o mais grave de tudo, os orçamentos.
(continua)
___________
[1]
Esteganografo - profissão já antiga mas que, sob adequada metodologia de inovação e com o recurso às novas tecnologias, tão em voga, será ser muito valorizada a curto prazo, e não consta da lista de profissões. Vale apostarmos?
De acordo com a WIKIPEDIA,
Esteganografia é o estudo e uso das técnicas para ocultar a existência de uma mensagem dentro de outra.
[2] 37 weird jobs that you actuallymake a living at.
[3] Se quiserem procurem o significado de "canary trap" e vejam se advinham as razões porque coloquei este título, neste preciso post.