e foi assim:
um estrondo-estopim
é festa?
foguete?
a rua inteira desembesta
a correr.
na frente do campo de futebol
na frente de casa
no sol
de quatro horas da tarde
um corpo-massacre
em uma poça rasa
absurdo:
o barulho?
um tiro-certeiro
foi ciúme?
queima de arquivo?
naquele horário não passou carteiro,
só a Morte acertando em cheio.
esgoto a céu aberto
o povo boquiaberto
o homem na vala
da indiferença
e do desalento
cercado de gente que fala
sobre a sentença
do esquecimento
a polícia chegará logo
para fechar a avenida
a TV virá fazer filmagens
para o jornal do outro dia
transeuntes já compartilham imagens
pelo Whatsapp.
o homem-fulano
o homem-humano
o homem-na-sarjeta
tinha nome
e identidade
e agora repousa
sob raios ultravioleta
mas o perímetro
está ficando intrafegável
e preciso trabalhar.
é provável que a passagem
fique interrompida.
abro o portão com desgosto
sem sequer olhar
o rosto...
cúmplice-selvagem
da barbaridade
em meio ao zumzum,
sigo rumo a uma noite comum
na universidade.