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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Pleito

bandeiras coloridas
partidos
coletivos
movimentos
ativismo
horário eleitoral nada gratuito

campanha nas campanhas
discursos
além do curso
das horas

jingles mudos 
para candidatos 
que não têm nada a dizer

a militância das palavras
é solitária
não há neutralidade
na ideologia versificada

mudar o mundo
requer urnas
[funerárias

voto no pseudo silêncio
da engajada
lírica luta
fora da caixa
distante da turba
autônoma... singular 
eremitas, uni-vos!

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Gazeta


os poetas alardeiam
o amor
EXTRA! EXTRA!
o amor na manchete
inventa eternidades
põe contratempos em cheque.

"quem quer dá um jeito
quem não quer dá uma desculpa".

os poetas pavoneiam
o amor
mega-sena da virada
o amor da reportagem
comercial de margarina
é miragem.

o amor não é nada disso que os poetas falam.

o poeta é editor
de um jornal sensacionalista
[barato

poetas fake news.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Canudos



Resultado de imagem para pedantismo academico

Locomovem-se adiante
com pés de Curupira
Ordem & Progresso estampados
no estandarte do campus
estrelas tituladas

acadêmicas constelações

Mesquinhez:
diretamente proporcional
ao avanço
as garras invisíveis da soberba
abraçam os diplomas.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Pink Money

Queria conseguir ser capaz
de escrever poesia panfletária
antiódio, antídoto 
para a desesperança do meu país tão sofrido.

Gostaria de levantar bandeiras
em combate à semente conformista do meu povo cansado
que, à beira do abismo,
toma decisões ainda piores contra o mal já instalado.
Eu entendo o motivo deles.
Eu mesma me encontro exausta.
Entre tanta irracionalidade, com o coração na mão,
o absurdo chega até a parecer possível solução.
Mas estou próxima da mudez.
Me calo como minoria
- ou maioria minorizada -
pois tenho medo de minha própria sensatez
[silenciada
Sou fraca. Lamento.
Também me contento
em rezar, torcer
para que o patético, outrora sequer hipotético,
não ganhe o peso necessário para se fortalecer.
Cabisbaixa, me limito
a resistir sob patrióticos gritos
de brasileiros órfãos como eu.
Por enquanto, continuo apavorada.
De sair na rua e não voltar mais pra casa.
Graças ao - ilógico -
apartheid ideológico
sigo desconfiando da vizinha
[cristã:
“Ela se faz de coitadinha”.
Manchete de amanhã,
estatística em algum link,
só sirvo quando gasto meu money... pink.
Sei da lei do equilíbrio.
Sei que tudo se regula
e que as coisas voltam como bumerangue.
Por isso, leia a bula.
A história cíclica se repete.
Os erros do 8 ou 80
nos cortam como Gillette.
Escolhas feitas por revanche
[comemoradas com confete
mancham nossas mãos de sangue.

sábado, 20 de outubro de 2018

Recusa

A brisa na sacada
me saca para fora
com um soco me sacode
quando surge a aurora

Seguro essa ânsia
presa no sofá da sala
entre pixels, polegadas
entre medo e insegurança

O ovo cozido coze
a pipoca pipoca
a noite anoitece
a Netflix cataloga

E a mesmice martela minha mente...

O vento na varanda
com cheiro de lavanda
me convida para a vida...
... Socorro!
Fecho as cortinas.

sábado, 13 de outubro de 2018

Classificados

Precisa-se:
alguém para ocupar
emprego de sonhos
oito horas
jornada diárias às estrelas

Paga-se:
um salário mínimo
pote de ouro depois do arco-íris
tesouro de piratas

Perfil do candidato:
Busca-se
quem seja graduado
em utopia
com mestrado
em encanto
e doutorado
em fantasia

Pré-requisitos:
Exige-se
delírio
um pouco de faz-de-conta
fascínio pela magia

Procura-se
alguém com os atributos
[acima
que seja pontual
e passe autoconfiança
quem cumpre as exigências
ainda é criança.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Calendário


os dias são feitos de papel
contados na folhinha
páginas da agenda
e a noite é troféu

os números são tinta
que pinta liquidações
50% off
no shopping das ilusões

os meses são o próprio tempo
astuto e traiçoeiro
setembro, novembro, dezembro
a gosto de fevereiro

as feiras são sempre as mesmas:
aguardam sábados domingos
em que não há protocolo e memorando
só pão quentinho sobre a mesa.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Imerso

Dizia Heráclito
que nenhum homem se banha
duas vezes
no mesmo rio.

Água corrente
água limpa
sempre água nova
a cada dia
[cristalina

Até um igarapé
ou um arroio estreito
se expandem com o fluxo
[totalmente alheio
em vital transformação.

Mais do que o pulsar dos líquidos
também é restaurado o homem
renascido ao mergulhar.

Eis que a torrente segue adiante
e o homem, ser cambiante,
muda junto com o flúmen
[do Tempo

Ao me dar conta disso
[fugidio
sorrio:
sou rio.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Acaso


Sorveterias sobrevivem de domingos.
Alfajores são vendidos a turistas.
Pet shops enriquecem com a tosa de poodles.
Cinemas encarecem ingressos para filmes 3D.

A parada do Dia de São Patrício desfila.
A fila do banco dá voltas no quarteirão.
O extrato aponta R$0,29 na conta corrente.
Livros emprestados são devolvidos com orelhas.

Carimbos dão ciência em papeladas burocráticas.
A caixa de entrada acumula spams "aumente seu pênis".
A vida segue seu diário curso como sempre.
Minhas mãos criam rugas e a barriga aumenta.

Escadas rolantes levam à praça de alimentação.
Professores tecnológicos passam slides no datashow.
Carteirinhas estudantis concedem meia-entrada.
Bolsonaro propaga discursos de ódio.

O destino tsunami revolve as ondas da rotina.
Um arco-íris se ergue por detrás do outdoor.
A beleza se manifesta na Orla do Rio Amazonas.
Minha retina assiste a tudo com óculos de sol.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Mimimi



trim-trim
Resultado de imagem para urbano rotinachuá
nhac
nham nham
vrum-vrum
biii!
nhenhenhem
blá-blá-blá
clap clap clap
grrr!
*click*
vrum-vrum
uééééé
tim-tim
glub glub
bleh
*smack*
hum!
ui!
ah!
ufa!
zzz
tic-tac
trim-trim...

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Oráculo



nas linhas pálidas de minha mão
o quiromante leu:
criarás filhos que não
são teus.

terás três amores
incompatíveis,
predecessores
de uma solidão incrível.

experimentarás sucesso,
brilhante carreira,
livros reimpressos
enchendo estantes
[de poeira

viverás, pois,
para a esfera profissional.
trabalho, dinheiro, de dois em dois
[anos pares
publicação na Bienal.

família, âmbito nuclear:
fragmentado, interrompido.
mãe, pai, lar
limitado, fechado, contido.

teu sobrenome
fenecerá contigo.
sem herdeiros,
apenas Caronte e o coveiro.

com a morte,
cessará tua linhagem.
subsistirás forte
embarcando em várias viagens.

não partirás cedo.
não partirás tarde.

nas linhas lívidas de minha mão
o quiromante leu minha ventura tardia.
nas linhas coralinas de meu coração
pulsa alguma profecia?

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Autobiografia

Resultado de imagem para palavra escultura poesia concreta

A Fernando Pessoa

O poeta é um escultor.
Modela tão perfeitamente
Que chega a dar forma à flor
Oculta no mármore bruto e dolente.

E os que veem a pedra fria,
Na imagem da rocha enxergam mal,
Não a palavra crua a se tornar poesia,
Mas só o valor do resultado final.

E assim na roda da fortuna
Inquieta, a atordoar tato e visão,
Essa grande lacuna
Que se chama inspiração.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

World Trade Center

Resultado de imagem para world trade center atentado

O 11 de setembro
nova Rosa de Hiroshima
dois números um
verticais
lado a lado
gêmeas torres que juntas nasceram
e extirparam-se no mesmo dia

Pense nos andares
pense nos incendiados
pense nos civis que se jogaram pelas janelas
para não morrerem queimados

Tudo isso graças à guerra
gratuita
estúpida
superpotente-prepotente mundial

O que resta são dois buracos negros
e um memorial
homenagem-cemitério-aberto
tragédia nacional

As consequências são refletidas
em redobrada segurança
no Super Bowl
na alfândega
na imigração
muros invisíveis de desconfiança
horror em resposta ao terror

New York, grande maçã desnutrida
apodrecida
atentado a quase 3 mil vidas
Manhattan destruída
pela própria ambição

A cidade que nunca dorme
nunca mais dormiu.

domingo, 9 de setembro de 2018

Verbete



Tu és quase-ser-mítico
figura eternizada pelo tempo
desejo ilícito
prólogo da ciência:
és instante.
Momento.
Resultado de imagem para poesia verbete
Tu és quase-lenda
- passada geração a geração -
que abre uma fenda
entre múltiplas dimensões:
és portal.
Invenção.

Tu és quase-metáfora
fogo fátuo que não queima
catarse que explora
recônditos da consciência:
és seiva.
Néctar.

Tu és quase-musa
Marília de Dirceu
de Pitágoras, hipotenusa
palavra-linguagem:
és lírico (eu?)
Poesia.

sábado, 1 de setembro de 2018

Sacrilégio

Resultado de imagem


Este poema é um pedido de perdão
a todos os outros poemas
que já desperdicei
amassei
apaguei
deletei
& joguei fora.

Em cada inefável aurora
minha culpa se multiplica
pela subtração arbitrária
de textos
liras
sonetos
silenciados pelo ego.

Ao julgar a qualidade
ou a falta dela
diminuo a mim mesma:
cada poema no lixo
equivale a menos um dia de vida na Terra
ou um dia a mais de penúria no inferno?

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Regresso

Cambaleante em meio às folhas,
meus pés vagueiam sem direção:
penso na morte como uma prece
[um momento de redenção]

não quero ser pó, tampouco fóssil
que petrifica sob a terra
que gera metano para o solo
[pedaço podre que se enterra]

sonho em me tornar algo mais útil
[quiçá eu tenha tamanha sorte]
amenizar as tardes de abril
no calor do hemisfério Norte

desejo dar flores aos namorados
e sombra para as crianças
ter tronco forte e que nenhum machado
me corte o fio de esperança

de segurar um bonito balanço
e gerar frutos aos que têm fome
e acolher em um domingo manso
os casais que vêm eternizar seus nomes.

Não me permito regressar ao nada
se posso fazer-me semente
e, dos pássaros, morada...
Cansei de ser gente:

Quando morrer, hei de ser árvore.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Boicote

Resultado de imagem para autossabotagem


se nada der certo,
eu vou ficar feliz:
é essa autossabotagem
que eu sempre quis.

se falhar é o correto,
planejo o meu fracasso...
o medo me paralisa
no tempo e no espaço.

melhor dar um fim
antes de começar;
melhor renunciar ao sim
antes de negar.

se termina em tragédia,
escapo devagar.
cuidado com a dúvida!
fujo sem sequer pensar.

se vivo ou se congelo,
não sei como lidar.
só preciso de certezas,
porque sou meu próprio lar.

melhor evitar a dor
antes dela se manifestar.
melhor (re)frear o amor
antes dele acelerar.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Roldão

Resultado de imagem para disorganized

este é um poema torto
ou, quem sabe, um poema sem forma
este poema é dedicado a todas as coisas
que nunca consegui organizar
dentro de mim

este poema é um quarto bagunçado
em visível caos
mas que, apesar da desordem,
encontro às cegas aquilo que preciso

este poema é sobre a (não) necessidade de arrumar
o que quer que seja
para ninguém além de nós mesmos
[quem quiser nos visitar que se acostume com a baderna]
também é sobre se aquerenciar
com os quadros enviesados na parede

este poema é uma ode à balbúrdia
à algazarra que me habita
e à indolência que me circunda:
a limpeza para terceiros.

este poema é sobre o alheio
sobre o estranho, sobre o outro
cuja anarquia também é própria
e não me diz respeito

este poema é, enfim, barulho;
uma confissão em tons de tumulto:
este poema é sobre sinônimos
que refletem nossa confusão interior.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Sobrevivência

Resultado de imagem para pernas apressadas

morro em inúmeras ocasiões
morro duas ou três vezes ao ano
morro ao contabilizar os danos
[e todas as decepções]

morro em cada encruzilhada ética
morro ao matar meus ideais
morro oca em politicagens letais
[que me transformaram em cética]

morro em vida por perder a essência
morro em cólera insaciável
morro de mão atada e execrável
[a sós com minha consciência]

morro em eleições e por votos
morro ciente de minha hipocrisia
morro para manter a hegemonia
[e sorrir à força em fotos]

morro por alguns reais a mais no salário
morro para engordar o contracheque
morro porque sou capacho e carpete
[de um regime ditatorial e mercenário]

morro pelo excesso e pela falta
morro pelo silêncio e pela fala
morro pela crença e pela certeza
[de não suportar minha própria sujeira]

morro porque morrer é inevitável
morro fadada a esse destino
morro porque meu espírito assassino
poupou apenas o que é censurável

morro quando tento uma sobrevida
morro porque isso me obriga a cair no abismo
morro em prol de um favoritismo
[existo já como pseudo cadáver, fria e vazia].

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Colarinho


recentemente descobri
que sempre bebi errado.
vi um vídeo no Facebook
com um truque:
a cerveja tem que ter colarinho
por causa do dióxido de carbono
caso contrário
há uma reação química no organismo

recentemente percebi
que sempre amei errado.
vi coisas aparentemente simples
com mais clareza:
o amor tem que por as cartas na mesa
por causa da franqueza
caso contrário
nos engasgamos com aquilo que escondemos

e eu engolia cerveja sem colarinho
e eu engulo certezas e sentimentos

não sou como Bukowski
com um pássaro azul no coração
não sou como os apaixonados
com borboletas no estômago
sou como uma esponja
que absorve palavras tóxicas
e suporta calada
até se encharcar

qualquer dia desses explodo
como vulcão em erupção;
qualquer dia desses transbordo
como autodestruição...

qualquer dia desses não me caibo mais.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Afinal


eu vou te amar pra sempre
podes contar comigo sempre
sempre estarei ao teu lado
quero ficar contigo pra sempre

a ternura do eterno:
tensão contratual
[contraste moderno]

quanto tempo dura o pra sempre?
pra sempre é muito tempo.
o tempo do pra sempre
talvez não seja o tempo dos homens.
então por que cargas d'água
sempre juramos pra sempre?

quiçá estejamos sempre
equivocados:

o pra sempre dura
enquanto se sente.