morro em inúmeras ocasiões
morro duas ou três vezes ao ano
morro ao contabilizar os danos
[e todas as decepções]
morro em cada encruzilhada ética
morro ao matar meus ideais
morro oca em politicagens letais
[que me transformaram em cética]
morro em vida por perder a essência
morro em cólera insaciável
morro de mão atada e execrável
[a sós com minha consciência]
morro em eleições e por votos
morro ciente de minha hipocrisia
morro para manter a hegemonia
[e sorrir à força em fotos]
morro por alguns reais a mais no salário
morro para engordar o contracheque
morro porque sou capacho e carpete
[de um regime ditatorial e mercenário]
morro pelo excesso e pela falta
morro pelo silêncio e pela fala
morro pela crença e pela certeza
[de não suportar minha própria sujeira]
morro porque morrer é inevitável
morro fadada a esse destino
morro porque meu espírito assassino
poupou apenas o que é censurável
morro quando tento uma sobrevida
morro porque isso me obriga a cair no abismo
morro em prol de um favoritismo
[existo já como pseudo cadáver, fria e vazia].