- Você é meio âncora, mas tem uma delicadeza de flor...
Em um desses diálogos perdidos entre madrugadas insones, você assim me descreveu. E eu me pergunto: como é possível pesar e perfumar, simultaneamente? Há tanto para ser dito; entretanto, entre metáforas e não-ditos a gente vai levando na polissemia do silêncio. Amar e calar. Será que isso é certo, ou pelo menos saudável? Amor não se mede, tampouco cabe nas entrelinhas de meras figuras de linguagem.
E se você me questionar se eu entendo o que quer dizer, confesso que sim! Eu sempre compreendo seus contextos, mensagens, quaisquer indiretas virtuais, poéticas, vocais ou até mesmo as que são apenas pensadas. Porém, sacadas não bastam. Eu proponho abrir a boca e declarar sem pudores, medos, ressentimentos, quando der. E que isso se dê com frequência. Entre nós duas, é claro. Não há necessidade de extrapolar a beleza do que é impar por ser par. E nós somos isso tudo: o nó que nos torna sublimes.
Agora parando para pensar, talvez eu esteja começando a interpretar a tal frase daquela conversa que, por mais que tenha parecido desperdiçada, nunca é. Porque conversas com você nunca são em vão. Vejo, então, que por mais que eu seja rígida e dura demais com alguns conceitos, o que me torna até rude e feia às vezes, ainda assim tenho a sorte de estar na sua vida e embelezá-la de alguma forma, nem que seja um pouco... Sou o que te mantém estável, o que te paralisa no fundo e te prende aqui. Mas enquanto isso, o que se vê? A aparência meiga com a palidez apagada de uma sombra manchada e comum.
Só espero que enfim, um dia, eu seja capaz de preencher o seu navio com a plenitude do meu humilde jardim.