Para Maysa Brandão
Sou um ser complexo,
Incompleto e de paradoxos convexos,
Repleto de dúvidas e carências insaciadas,
Necessidades incompreendidas e despedaçadas.
A chave para entrar através das portas
Do meu corpo e minha alma morta
Foi jogada no fundo do mar,
Coberta por águas e areia, onde ninguém irá achar.
Jamais terei um amor correspondido,
Fato indiscutível e antigo.
Amar alguém como eu, cheia de problemas?!
Prefiro minha solidão e dilemas...
Que tragédia, que desespero é ter um estranho
Entranhado na mente e no crânio,
Ao mesmo tempo tão próximo,
Entorpecido, preso em algum lugar exótico.
Não posso aguentar tão negra história,
Não posso revelar meu passado sem glória...
Tamanho fardo sobre minhas costas
Apenas esconde minha identidade torta.
Mas a miséria terá um fim:
Um dia alguém chegará até mim
Pois a chave irá achar
Lá no fundo do mar.
Graças a minha oferenda
De gritos, ofensas,
Lágrimas noturnas, sangues alheios
Aos céus e por outros meios,
Por milhões de anos,
Minha carne já cheia de danos,
Por vermes havia sido comida
(E também por outros parasitas)
Quando meu corpo putrefado
Na torre de um castelo foi aprisionado,
Aquela criatura apareceu.
Deparou-se comigo. E morreu.
Mas para não dizer que só tive quedas,
Que meu caminho foi só de pedras,
Posso afirmar que depois de tudo
O ser se deitou comigo em meu túmulo...