Isto de ter filhos tem que se lhe diga, e que o diga quem os tem.
Chega a uma certa altura da nossa/deles vida em que é necessário começar a cortar amarras, ir dando aqui e ali um voto de confiança. Desde já devo dizer que sou um bocado avessa a cortar seja o que for. Não sou propriamente aquilo a que se chama mãe galinha, sou muito mais uma espécie de mãe tirana. À pergunta, posso?, apetece-me sempre responder com um redondo não, e se não o faço mais vezes é porque ando a trabalhar num certo auto-controle que já percebi tenho que ter.
Ora na semana passada, o rapaz, pediu-me para ir à festa do Halloween, que era Sexta-Feira à noite, que era organizada pelos finalistas da escola, que ia com uns amigos, que certamente se ia portar bem, etc.
Achei que era melhor engolir o não, e lá lhe disse que sim senhor podia ir à festa. Que sim senhor podia chegar um bocadinho mais tarde, tipo duas da manhã, que não bebesse, que se portasse bem, e coise.
Chegada a Sexta-Feira o rapaz lá se aperaltou todo, roupa a estrear - fico bem?, estou o máximo, não estou? (sim, não é lá grande coisa em termos de modéstia...), e toca de ir prá festa.
Saiu de casa por volta das 11 da noite. O rapaz que não tem ainda os 15 anos feitos, é bom que se diga, e que as poucas vezes que sai, entra sempre às 11 e meia em ponto.
Levou a chave, muito inchado porque iria chegar a casa com o pessoal todo a dormir, a irmã mais velha nem sequer lhe apeteceu ir à dita festa.
Estava eu já "amandada" pra cima do meu sofá. A pequena a dormir, a mais velha a ler no quarto, o pai ainda a trabalhar, o relógio da sala marcava as exactas 12.22, assim mesmo, meia noite e vinte e dois minutos, a chave na porta. Uma tentativa, depois outra, uma terceira e abre-te sésamo. Já chegaste?? (eu incrédula), mmas pouco passa da meia noite! Eu a falar a caminho das escadas. Lá em baixo o rapaz despedia-se dos companheiros, assim um bocado a despachar (achei eu), espetou com a porta na cara de uma miúda que estava à espera de uma despedida mais elaborada coitada, e subiu as escadas a correr. Que sim, que estava giro, mas aborrecido, que não se fazia lá nada, que...e desatou a correr prá casa de banho. A próxima imagem que tenho é dele a "rezar", cabeça enfiada na sanita a despejar os restos de Haaloween. Oh pai, chega cá abaixo que isto é departamento teu. O pai veio. Foi buscar a máquina fotográfica e tratou de deixar para a posteridade a primeira bebedeira do filho. - homem que é homem aguenta firme, e voltou para o trabalho. Entre um vómito e outro, ainda teve tempo de mandar ao pai um olhar de ódio. Nessa noite houve mais duas rondas à casa de banho, parece que a festa teve encores, tipo só mais um, só mais um, só mais um.
O rapazote esteve menos de hora e meia na festa e bebeu dois shots e duas cervejas, o rapazote que não pode com um gato pelo rabo e outras coisas que não digo.
Mas pronto, não houve gritos (nem sei como), nem zangas.
Por minha vontade não põe os pés noutra festa antes dos 25 anos. O pai com a manais das condescendências acha que ele deve ir já na próxima, só pra ver o desfecho.
Na manhã seguinte, toca a levantar às 7 da manhã que era dia de acampamento. Levantou-se aos ziguezagues, tentou engolir o pequeno almoço e novo contra-relógio para a casa de banho!
Cara lavada, branco a fazer jus ao dia das bruxas, implorou-me: mãe fala com o chefe pra não apertar muito comigo hoje faxavôr, é que não me sinto lá muito bem. Tá bem meu amor.
Entreguei os três gaiatos, fardados e de mochilas às costas, claro chamei o chefe Nuno dos pioneiros para um pequeno à parte. Nuno, tu vê lá que ele está em processo de crescimento aperta com ele faxavôr.