terça-feira, 30 de novembro de 2010

Os aparelhos




A mais nova está no 3º ano, e nesta altura do campeonato está a dar o estudo do corpo humano. Matéria muito interessante, é certo, e que a mantém absolutamente fascinada.

Todas as tardes, as aulas são passadas e repassadas: "mãe sabes para que serve o coração?, e sabes qual é a diferença entre uma veia e uma artéria?, Leonor, aposto que não sabes a função do estômago!, Zeca tu que não percebes nada disto diz lá o que se forma na boca quando a gente come?, e as simpatias continuam em crescendo (até ao final costumeiro que são uns quantos berros da minha parte, e umas portas a bater...bem sei invariavelmente as coisas acabam assim cá por casa...).

Os aparelhos respiratório, circulatório e digestivo lá vão ocupando as tardes, provocando voltas e mais voltas no estômago da minha pessoa, que sempre sentiu uma ponta de aversão por estas questões científicas. Um bocadinho de nojo até, mas enfim, vou acenando, que sim senhora, que muito bem, que é pá já sabes isso na ponta da língua não queres ir ver a Hanna Montana? (não convém estimular em demasia a inteligência das crianças, até porque a seguir dos aparelhos chegam as músicas de Natal, e depois a coreografia das mesmas e uma pessoa tem coisas pra fazer, tipo jantares e assim).

Ontem o jantar não correu tão bem como habitualmente. A rapariga deu o aparelho excretor, e fez questão de o explicar em pormenor a toda a família, naquele momento diário de partilha que é a mesa.

Foi bonito.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sexo

élá!!!!


exactamente! hoje é isto, e explícito!


Não consigo transcrever o enfado com que os dois mais velhos recebem as aulas de educação sexual. Como toda a gente que sabe, quando se tem determinada idade a malta pensa mesmo que sabe tudo, e não precisa saber mais.

(eu, que já estou a fazer o caminho de volta, também já tendo a pensar assim)

As minhas abordagens a este tema com os miúdos, não são de forma alguma exemplares. A coisa passa mais por ir largando bombas, na maior parte das vezes com um cariz mais para o irónico e tal. Tenho as minhas próprias correntes, as minhas próprias camisas de forças que me foram vestidas de pequenina e que eu fui apertando com o correr dos anos. A diferença é que sei que existem esses condicionantes. Sou uma bota de elástico, admito, e apesar das minhas guerrilhas, este é um tema difícil. Há quem fale muito abertamente dos factos, coloque na mesa todas as cartas, até admiro esse tipo de conduta, mas decididamente para mim não.

Provavelmente há em mim uma série de puritanismos que me impele a agir de determinada maneira, sempre tentei incutir tanto na rapariga como no rapaz o respeito pelo corpo como um templo que é, e o respeito também pelo outro.

Claro que dito assim parece mais uma aula de catequese do século passado, mas, há sempre um mas, há momentos em que é preciso usar de alguma seriedade.

Coisa que não acontece a maior parte do tempo...

Para mim seria impensável andar a sondar o pessoal sobre as suas experiências "fisicas", é óbvio que me preocupa, por tudo o que daí pode resultar e em última análise por um ciume visceral impossível de reprimir, mas deixemos isso.

Ontem lá vinha a mais velha completamente injuriada da aula de ES. O tema "a homossexualidade". A rapariga vinha a bufar de raiva, desconsolada com tudo o que lá tinha ouvido pela boca dos seus colegas rapazes e raparigas, pérolas do tipo "é uma doença", "é uma doença contagiosa", "eu não concordo com os homossexuais" e por aí adiante.

Cá dentro fiquei a abarrotar de orgulho pela reacção dela, pela inteligência que a impede de confundir crenças religiosas e liberdades pessoais. Pensei que talvez eu tenha tido parte na formação daquela opinião vincada, talvez haja ali um dedinho meu naquela quase mulher que empina o nariz e fala e acima de tudo pensa.

Depois conversa puxa conversa, veio o estigma da gravidez na adolescência à baila, e ele, o rapaz, perguntou-me no gozo se eu o ajudava a criar o filho que esperava. Lá lhe disse que quem os fizer que o crie, e que para fazer filhos é preciso saber como, onde é pra encaixar a peça e etc. Perante as gargalhadas da irmã e não querendo ficar mal na fotografia, a resposta veio rápida, que ela (a consorte) não se tinha queixado muito apesar das dimensões fora do comum do seu membro viril e blá blá blá...

Então perante tal informação perguntei-lhe: quem é que não se queixou? a direita ou a esquerda?

Ficou de boca aberta, o quê? agora não percebi...



PS: roubei a ideia do titulo ao Salvador, até porque hoje de manhã quando aqui cheguei três dos meus seguidores tinham dado ares de Vila Diogo, ou de frosques como quiserem, e isso deixou-me um bocadinho magoada.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Incompetências


Ontem, reunião escolar intercalar do rapaz.

Em quase nove anos de vida académica, mais os três de treino na pré, foi a primeira vez que ouvi a melodia tão ansiada e constantemente adiada: o rapaz tem apresentado melhorias ao nível do comportamento que são assinaláveis, já não chora e mesmo o professor x e a professora y, que já o conheciam de outros anos, estão muito surpreendidos blá blá, e o aproveitamento é também reflexo dessa melhoria blá blá.

Nem sei se foi bom o que ouvi. A sério! Fiquei de pé atrás, não há como não ficar. Uma tradição não se quebra assim num abrir e fechar de olhos de dois mesitos, hummm o gaijo deve andar prá tramar...

No outro lado da sala, a mãe do aluno mais brilhante do grupo, o mais brilhante desde sempre, e a todas as matérias; ouve da Directora de Turma que o filho tinha descido um pouco as notas, e que provavelmente haveria alguma coisa que o andaria a perturbar blá blá. A mãe de imediato respondeu que sim, que tinha havido um motivo, mas que já tinha sido identificado e resolvido ponto final.

E foi neste momento que uma parede me caiu em cima. Não literalmente, calma! Mas houve ali um clique. Então eu ando há 9+3 anos a ouvir a mesma música uma e outra vez, vou pra casa num pranto depois de cada reunião, grito que faço e que aconteço e que nunca mais, de dedo e braço em riste, e tudo, e depois vem uma tipa destas e assim com um sorriso Giocondico, uma voz compassada e sem admitir mas; vem esta fulana dizia eu, apregoar que detectou o problema e até o resolveu e está!?

Mas que merda de mãe sou eu!?

Uma pessoa vai, até ouve coisas boas do nosso educando e tudo, e depois toma lá que já almoçaste! Vê se pões aqui os olhinhos filha! Que deve ter sido mais ou menos o que a mãe em questão pensou. De mim e das outras otárias todas que lá estavam a salivar perante tanta competência numa só criatura.

Nestas alturas tenho vontade de ser violenta, e é aí que penso resignada que as crianças não saem às pedras...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Quentes e Broas

Hoje é dia de S. Martinho. Dia de, diz o povo, ir à adega e provar o vinho.

É um daqueles dias em que sou acometida de uma certa nostalgia do antigamente. Verdade!

Neste dia, há alguns anos atrás, ao fim da tarde, depois do dia de trabalho, os homens enchiam as adegas, e muitos copos de vinho depois, enchiam as ruas de cantigas. A malta da escola, também se armava aos cucos e atrevia-se a entrar em duas ou três tascas pra molhar o bico e petiscar um chouriço assado ou umas azeitonas pisadas bem temperadas de oregãos.

Hoje a coisa é mais na base da "Festa da Castanha - com o Dj xxx, madrugada fora" e coise...

Lembrei-me de um texto que escrevi no Meldevespas, há já três anos, e que conta algumas coisinhas desses tempos idos, na então vila agora cidade de Reguengos de Monsaraz. Vão lá dar uma espreitadela faxavôr.

E como as tascas acabaram, as cantigas estão esquecidas, e a idade não perdoa, deixo-vos aqui uma receita, que vai bem com um vinho licoroso, mas também não se esquiva a um tintinho robusto, ou até quem sabe um copinho de água pé.

No meu caso acompanhei com chá e um livro, porque tenho "mau vinho" e não estou pra vir práqui fazer figuras tristes:


Broas de Cheiro


Ingredientes:


-Raspa de 2 tangerinas

-70 g de açúcar mascavado

-80 g de manteiga s/sal amolecida

-4 colheres de sopa de mel

-200g de farinha

-1 ovo

-1 colher chá de fermento

-1 colher café de canela

-1 colher café gengibre

- 150 g chocolate branco


A forma de fazer é sempre a mesma. Bater a manteiga com o açúcar e o mel, juntar o ovo e a raspa das tangerinas, em seguida envolver os ingredientes secos já sem bater e por fim o chocolate partido aos pedacinhos.

Fazer umas bolinhas do tamanho de uma noz, polvilhar com canela e levar ao forno previamente aquecido.
A consumir sem moderação.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Presunção e água benta...


"Oh mãe estás sempre a queixar-te das notas, mas eu explico: vê lá se entendes que eu sou intelectualmente perfeita! Mas tanto tanto tanto, que este tanto não cabe dentro de mim, que sou assim pequena e baixa, e transborda.

... e é só por isso que não consigo ser melhor. "


Palavras da mais velha.

Há gente que tem uma lata...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O Oásis

O facto de viver no interior, mais precisamente no plácido Alentejo, não é só por si sinónimo de ter uma vida sossegada.
Lá em casa, com três gaiatos, marido e gata, a coisa não é simples. Muita testosterona destilada, muita tpm, muitas birras ainda e claro muitos miados.
E há ainda as coreografias que acompanham o som ambiente. Um bater de pé aqui, uns braços que se cruzam em ânsias ali, uma mão na anca em descarado despique e por aí adiante. Coisa animada, acreditem.
No meio de tudo isto não é fácil manter um nível de concentração saudável. Daí que tenha que ler na casa de banho, onde NINGUÉM tem ordem de me incomodar, e mesmo o simples acto de fazer almoço e jantar tem que ser executado a portas fechadas sob pena de deixar queimar o assado ou literalmente ficar o caldo entornado.
Como se tudo isto não fosse mais que suficiente para alimentar calóricamente o meu processo de envelhecimento, eis que a mais velha me apareceu a casa com outro gato. Olha mãe foi a prof de Psicologia que deu. Olha filha e se a prof de Psicologia fosse coitar outra!
No entanto, há sempre uma luz no meio da escuridão. O Tomate, nome do gato novo, é mudo meus senhores. O pobre do animal não emite um único som. Encontrei o meu oásis no meio daquela selva (sim também há oásis nas selvas): o Tomate. Perto dele o frenesim da casa esfuma-se.
Quer dizer... se não contarmos com o "pequeno" problema de flatulência que já lhe diagnosticámos, o Tomate é o gato perfeito.


Pic by: Leonor

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sho(R)t Cake



Isto de ter filhos tem que se lhe diga, e que o diga quem os tem.

Chega a uma certa altura da nossa/deles vida em que é necessário começar a cortar amarras, ir dando aqui e ali um voto de confiança. Desde já devo dizer que sou um bocado avessa a cortar seja o que for. Não sou propriamente aquilo a que se chama mãe galinha, sou muito mais uma espécie de mãe tirana. À pergunta, posso?, apetece-me sempre responder com um redondo não, e se não o faço mais vezes é porque ando a trabalhar num certo auto-controle que já percebi tenho que ter.

Ora na semana passada, o rapaz, pediu-me para ir à festa do Halloween, que era Sexta-Feira à noite, que era organizada pelos finalistas da escola, que ia com uns amigos, que certamente se ia portar bem, etc.

Achei que era melhor engolir o não, e lá lhe disse que sim senhor podia ir à festa. Que sim senhor podia chegar um bocadinho mais tarde, tipo duas da manhã, que não bebesse, que se portasse bem, e coise.

Chegada a Sexta-Feira o rapaz lá se aperaltou todo, roupa a estrear - fico bem?, estou o máximo, não estou? (sim, não é lá grande coisa em termos de modéstia...), e toca de ir prá festa.

Saiu de casa por volta das 11 da noite. O rapaz que não tem ainda os 15 anos feitos, é bom que se diga, e que as poucas vezes que sai, entra sempre às 11 e meia em ponto.

Levou a chave, muito inchado porque iria chegar a casa com o pessoal todo a dormir, a irmã mais velha nem sequer lhe apeteceu ir à dita festa.

Estava eu já "amandada" pra cima do meu sofá. A pequena a dormir, a mais velha a ler no quarto, o pai ainda a trabalhar, o relógio da sala marcava as exactas 12.22, assim mesmo, meia noite e vinte e dois minutos, a chave na porta. Uma tentativa, depois outra, uma terceira e abre-te sésamo. Já chegaste?? (eu incrédula), mmas pouco passa da meia noite! Eu a falar a caminho das escadas. Lá em baixo o rapaz despedia-se dos companheiros, assim um bocado a despachar (achei eu), espetou com a porta na cara de uma miúda que estava à espera de uma despedida mais elaborada coitada, e subiu as escadas a correr. Que sim, que estava giro, mas aborrecido, que não se fazia lá nada, que...e desatou a correr prá casa de banho. A próxima imagem que tenho é dele a "rezar", cabeça enfiada na sanita a despejar os restos de Haaloween. Oh pai, chega cá abaixo que isto é departamento teu. O pai veio. Foi buscar a máquina fotográfica e tratou de deixar para a posteridade a primeira bebedeira do filho. - homem que é homem aguenta firme, e voltou para o trabalho. Entre um vómito e outro, ainda teve tempo de mandar ao pai um olhar de ódio. Nessa noite houve mais duas rondas à casa de banho, parece que a festa teve encores, tipo só mais um, só mais um, só mais um.

O rapazote esteve menos de hora e meia na festa e bebeu dois shots e duas cervejas, o rapazote que não pode com um gato pelo rabo e outras coisas que não digo.

Mas pronto, não houve gritos (nem sei como), nem zangas.

Por minha vontade não põe os pés noutra festa antes dos 25 anos. O pai com a manais das condescendências acha que ele deve ir já na próxima, só pra ver o desfecho.

Na manhã seguinte, toca a levantar às 7 da manhã que era dia de acampamento. Levantou-se aos ziguezagues, tentou engolir o pequeno almoço e novo contra-relógio para a casa de banho!

Cara lavada, branco a fazer jus ao dia das bruxas, implorou-me: mãe fala com o chefe pra não apertar muito comigo hoje faxavôr, é que não me sinto lá muito bem. Tá bem meu amor.

Entreguei os três gaiatos, fardados e de mochilas às costas, claro chamei o chefe Nuno dos pioneiros para um pequeno à parte. Nuno, tu vê lá que ele está em processo de crescimento aperta com ele faxavôr.
 

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