sexta-feira, 21 de outubro de 2011

...MISERAVELMENTE VOTADO AO ABANDONO!! PORQUÊ????

http://www.verdade.co.mz/cultura/22819-tunduro-jaz-num-eterno-abandono

Hoje chama-se Jardim Tunduru.

Em frente ao portão ergue-se um arco de alvenaria em estilo manuelino que comemora o quarto centenário da morte de Vasco da Gama passado em 1924, data a partir da qual o jardim passou a ter esse nome. Do arco foram removidos as esferas e as cruzes de malta.





Comemorando a primeira visita presidencial a Moçambique foi levantado em 1939 em frente da entrada do Jardim Vasco da Gama, um padrão com uma lápide que recorda a visita do Marechal Carmona (pode ser visto na foto dos anos 60).

O Jardim Vasco da Gama, sem dúvida o mais belo que já existiu no Portugal Ultramarino, data de 1885.

Tudo começou com um organismo que foi fundado em Lourenço Marques nesse mesmo ano,denominado Sociedade de Arboricultura e Floricultura, tendo por objetivo a “ Formação de um Jardim e arborização do Pântano da vila de Lourenço Marques que tinha ao tempo nove anos de fundação.


Lourenço Marques no Século XIX



Essa Sociedade teve a sua primeira reunião na histórica Casa Amarela (Por esse tempo residência do governador do Distrito) no dia 31 de Maio de 1885.

É curiosa a ata dessa reunião da qual “ tornou a presidência por acordo de todos o Dr.Sousa teles, servindo de secretário Armando Longle”.Exposto os fins da reunião, elegeu-se a mesa definitiva da sua assembléia geral que passou a ter a seguinte constituição: Presidente, Mesquita Pimentel; Vice-presidente,Dr.Sousa teles. Secretários, Armando Longle e Gonçalves Pereira e tesoureiro Correia de Oliveira.

Dessa reunião saiu ainda uma comissão de trabalhos cuja finalidade seria propriamente a “factura do jardim e arborização do Pântano”.Dela passaram a fazer parte por eleição o major Joaquim Lapa, o comerciante Johanes Bang e o Dr Sousa Teles.

Merece ainda que fiquem registrados os nomes daqueles pioneiros tão inspirados e cheios de boa vontade, que fundaram a sociedade e que em termos tão recuados ainda sonharam em dotar Lourenço Marques, com um jardim público.Foram eles: major Joaquim Lapa, Paulino Fornasini, Correia de Oliveira, O .da Silva, Xavier Lobo, Neto de Vasconcelos, Agostinho Pereira, Borges Pinto, Armando Longle, Moura, Pablo Perez, e Gomes Pereira.

Foi a essa benemérita Sociedade que o Governo fez em boa hora e entrega, em Novembro desse ano, de “um terreno sito na Machamba dos Soldados e na Machamba do Governador” confrontando “ ao norte com a estrada da Ponte vermelha; Sueste com a vala de esgoto e a Noroeste com a Avenida projectada pela referida Sociedade” numa superfície total de pouco mais de treze hectares para que realizassem os seus fins”.

Não perderam tempo esses pioneiros em meter mãos à obra, a valiar pela carta que com a data de 14 de abril de 1886 dirigiram ao engenheiro Joaquim José Machado, que se encontrava em Lisboa, pedindo-lhe o envio de plantas e sementes da Europa para o seu jardim.

Nessa carta, dizem que “O Jardim já estava feito no sítio onde existia a Machamba dos Mouros e tem um grande lago ao fundo que dessecou o terreno pantanoso; está todo cercado por fios de arame, com os terrenos do telégrafo, em cima está o “ lawn-tennis” onde jogam os sócios todos os dias”.

Na realidade não exageravam os dedicados fundadores do jardim na carta tão cheia de entusiasmo que dirigiram ao engenheiro Machado, porquanto do próprio relatório do governador do Distrito, Azeredo e Vasconcelos, publicado no “boletim Oficial N 4, de 22 de Janeiro de 1887pode ler-se: “ A Sociedade de Arboricultura e Floricultura ajardinando uma parte do Pântano e a secção de Obras Pùblicas plantando de eucaliptos e de outras árvores uma outra, iniciaram um trabalho de que há a esperar os melhores resultados. Os homens a cujos louváveis esforços se deve ao impulso dado num sentido tão útil são: Joaquim José Lapa,Mesquite Pimentel, Dr Sousa Teles e o chefe da secção de Obras Pùblicas, Armando Longle”.

Mas não foi preciso muito tempo para se reconhecer que a manutenção de um jardim público era encargo pesadíssimo paea uma sociedade particular, por maior que fosse a dedicação dos seus sócios.





É o que se deduz, por exemplo, da seguinte local publicada na edição de 10 de Agosto de 1889 do Jornal “ O Distrito de Lourenço Marques”:

..."Daqui a pouco vamos ter aqui uma banda de música, como já anunciamos aos nossos leitores.

Agora perguntamos: Qual é o local que melhor se presta para reunir a nossa sociedade e ouvir as composições dos primeiros maestros que se esperam? O Jardim tem sido muito abandonado, ninguém fez caso dele; e realmente é pena que assim seja, porque é ainda hoje o passeio mais aprazível da cidade.

O lago transformou-se em tanque, onde os Srs Indígenas costumam fazer suas Abluções; A fonte faz concorrêencia à da Avenida D.Carlos e todo o resto está completamente descurado.

E, Contudo, parece-nos que é ali o melhor local para irmos ouvir a banda que se espera.

O Coreto para a música, principiado em tempos não se acabou por falta de meios e está a perder-se.

Lembramos aqui aos Srs Sócios do Jardim, que é urgente tomar uma resolução qualquer. Se não se acham com força para continuar a Obra. Reúnam-se e entreguem tudo à Câmara Municipal como foi determinado pelos estatutos”...

Foi o que veio a acontecer. A Câmara tomou conta do Jardim e meteu ombros aos melhoramentos de que estava carecido pra sua dignidade.

Mas tudo levou o seu tempo a avaliar pela deliberação tomada em sessão de 4 de Agosto de 1897 em que se lê:

“ ..tendo-se notado a afluência que vai tendo o Jardim Minicipal que em breve vai ser aberto ao público, que se macadamizem as ruas e se faça a aquisição na Europa de um portão de ferro para a porta do mesmo.”



Ora deve ter acontecido que num período que vai de primeiro arranjo estético do Jardim pela Sociedade de Arboricultura a esta sua nova fase sob administração minicipal em data que não conseguimos precisar, se implantou nesse jardim público um monumento a Vasco da Gama.

A primeira indicação da existência desse monumento encontrou Alfredo Pereira nos anos de 1962 quando adquiriu nun alfarrabista de Johannesburg o livro “ The Key to South África: Delagoa Bay” por Montague George Jessett, editado em Londres no ano de 1889. A página 69 desse livro se dá à estampa um trecho do Jardim Botânico da cidade de Lourenço Marques no qual se vê nitidamente uma estátua a Vasco da Gama.

Partindo desse achado , Alfredo Pereira procurou elementos de outras fontes que havia achado em Lisboa em 1969, num outro livreiro antiquário um preciosíssimo álbum fotográfico editado em 1887 pelo empreiteiro Mac Mundo com vistas da cidade de Lourenço Marques e aspectos da construção da linha férrea à fronteira do Transvaal. Uma das fotografias desse álbum, hoje propriedade dos Caminhos de Ferro de Moçambique, reproduz em grande plano o Célebre monumento a Vasco da Gama que existiu no nosso jardim.

Como se as duas provas em si não bastassem, eis que em pesquisa encontrou uma curiosa publicação intitulada “From Barbeton to Paris by the Eastern Route” de autoria de L.J.Vigneron, editada em 1897.

São impressões de uma viagem em que há referencias à estada do autor em Lourenço Marques naquele ano de 1897 a caminho da Bélgica, via Suez.

Nesse livro, Vigneron descrevendo os passeios que deu em nossa cidade desde a sua instalação no “Hotel de l’Europe”, tudo tendo observado cuidadosamente, diz que encontrou o jardim botânico”Seco e cheio de sede, plantas sem frescura, sem o gorgolejar de fontes nem conversas de passarinhos..” e acrescenta:

“ Não devo contudo deixar de mencionar que foi erguido à entrada do jardim sobre uma coluna de bronze um busto de Vasco da gama. Trata-se de um monumento muito modesto, no entanto é agradável verificar que o grande navegador, o primeiro a arrostar com o Cabo das tormentas não está inteiramente esquecido...”

Estamos portanto perante um testemunho válido de alguém que viu o monumento no seu lugar. Esteve perto dele e até observou que esse monumento era modesto para as dimensões universais do grande almirante.



Em 24 de Dezembro de 1924, sendo o Alto Comissário o comandante Victor Hugo de Azeredo Coutinho comemorou-se o quarto centenário da morte de Vasco da Gama, e para assinalar esta data ergueu-se junto do portão principal, o Arco Manuelino.

Este jardim, o primeiro e melhor de todo o Ultramar Português é uma página da cidade de Lourenço Marques.

A fonte que lá estava era identica a uma fonte Francesa, exatamente localizada no “Champs Elysèe”

As primeiras cinqüenta fontes “Wallace” m, iguais à que se ergue no Jardim Vasco da Gama foram oferecidas à cidade de Paris em 1872 por “Sir” Robert Wallace, um grande filantropo Britânico. ”Sir” Robert encomendou o trabalho a um dos mais famosos escultores de seu tempo, Charles Lebourg e este, inspirando-se no Classicismo Grego, apresentou ao milionário o modelo com as cariátides suportando uma graciosa cúpula. Por esse motivo tais fontes são também conhecidas pelo “Templo das quatrio deusas”.

“Sir” Robert assim que viu, tão entusiasmado ficou com o modelo que mandou que ele fosse imediatamente executado nas famosas fundições “Fonderies d’Art Du Val d’Osne”, de Paris.



A fonte existente no nosso Jardim Vasco da Gama tem as seguintes inscrições :

”FONDERIES D”ART DU VAL D’OSNE - 58 Bd.VOLTAIRE - PARIS e “ CH. LEBOURG SC 1872



A fonte em 2005, Pedro Veludo ao lado dela.



Constitui ainda um enigma por resolver como e quando a curiosa fonte teria vindo parar em Lourenço Marques. Uma das mais prováveis hipóteses é que tenha sido oferecida à cidade de Louenço Marques pelo cidadão francês Eugéne François Tissot que foi concessionário do abastecimento de água à cidade.

No extremo da Ponta Vermelha existia no fim do Século XIX um sistema de captação de água, de que era concessionário o francês Tissot, engenheiro civil, homem culto e de aprimorada educação.

È de se supor que entre o período que medeou entre 1895 e 1900 tivesse feito a oferta da “fonte das Deusas” que teria encomendado de Paris, a expensas suas.

Esta fonte nunca teve placa esplicatória que desse ao público este conhecimento.

Neste jardim pode-se admirar a coleção de cicades e outras plantas indígenas e exóticas

Comemorando a primeira visita presidencial a Moçambique foi levantado em 1939 em frente da entrada do Jardim Vasco da Gama, um padrão com uma lápide que recorda a visita do Marechal Carmona (pode ser visto na foto dos anos 60).

Nos anos 50 e 60 este parque foi por várias vezes palco de muitas exposições e constituía um espaço de descanso e meditação para todos na cidade de Lourenço Marques

Depois da independência este Jardim passou a Chamar-se JARDIM TUNDURU. Atualmente, já que as gigantescas copas das árvores do jardim criam um oásis de sombra e tranquilidade para os trabalhadores e turistas que por ali passam. Foi desenhado em 1885 pelo famoso Arquitecto Paisagista británico Thomas Honney, o qual chegou tambéma desenhar alguns jardins para o Sultão da Turquia e para o Rei da Grécia. Para os amantes da Botánica, muitas das árvores encontram-se classificadas com informação sobre as espécies e sua origem. É possível pedir autorização no escritório ali perto para visitar a estufa. Dentro do jardim, na parte que dá para a Av. Vladimir Lenine, irá encontrar os campos de ténis pertencentes à Federação de Ténis de Moçambique. À entrada tem uma estátua do Presidente Samora Machel.

domingo, 9 de outubro de 2011

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