Perdi a infância e as grandes horas
e procuro numa árvore não sei que intimidade
como se um sol para as mãos nascesse deste olhar mas a inocência é rápida como o brilho
silenciosa
e existe em si mesma.
Uma forma, sim, sempre silenciosa
um dia nascida da surpresa e constância
dia a dia nascida da inocência, mas
como fugir a esta inútil presença?
Monólogo, de Ramos Rosa, in Não posso adiar o coração
domingo, 29 de março de 2009
sábado, 28 de março de 2009
Carta de Mitsou a Marilyn...
Tinha-me esquecido de retomar por aqui a saga de “Amados Gatos” de José J. Letria , quando esta semana fui lembrada por uma engraçada crónica de MEC , no Público desta semana ,sobre a sua mudança de casa e o conservadorismo extremo dos seus gatos à casa antiga e os desacatos provocados pela mudança… “ Eles odeiam mudar de casa. Nem é preciso a casa : odeiam mudar. Gostam dos donos (ou” escravos”, na gíria deles) mas não suportam o nomadismo berbere que nos perpassa as almas….”
Lembrei-me então de algumas passagens da carta que , MITSOU, o gato de Marilyn , lhe escreveu .
“Querida Marilyn,
Lembrei-me então de algumas passagens da carta que , MITSOU, o gato de Marilyn , lhe escreveu .
“Querida Marilyn,
Dificilmente poderá ser descrita a mágoa que sinto por te ver partir tão jovem, tão bela e tão amargurada. Tu tinhas o mundo na mão e esbanjaste esse tesouro porque nunca conseguiste ser tão livre e tão rebelde como eu fui, o teu querido Mitsou, o gato persa branco que agora deixas em verdadeiro estado de orfandade, apesar da promessa feita por Joe Di Maggio de que cuidará de mim até eu desaparecer.
Tu bem sabes ,Marilyn , que tentei afastar-te do abismo em que dia a dia te afundavas, bebendo de mais , tomando comprimidos em excesso e entregando-te sem reservas e sem condições aos homens que não podiam nem queriam amar-te como tu esperavas e merecias. Fosse eu homem e não gato, e ter-te-ia dado tudo aquilo de que tu necessitavas para ser feliz.
A tua ligação a Arthur Miller nunca podia ter resultado, porque ele queria paz e sossego para escrever e tu atraíste para ele os projectores de uma fama que ajudava a vender livros e a encher as salas de teatro , mas que o intimidava e deixava tenso, apreensivo e inseguro….
… Di Maggio, esse ídolo da América popular, amou-te cegamente e tu foste o único campeonato que ele não conseguiu vencer…
….Depois tiveste a ilusão de que os dois Kennedy te poderiam fazer feliz…. Nunca trocariam as suas carreiras pelo teu amor pelo fogo da tua entrega física…
O que resta de ti, agora querida Marilyn, beleza estonteante de um tempo apressado e frívolo?... Como eu lamento a tua amarga sorte!
Ainda te sugeri que partíssemos os dois para a Europa, talvez para a Veneza dos gatos, para ficarmos longe de tudo o que te atormentavae, sobretudo daqueles que, por amares de forma excessiva e insensata, te passaram a ver como um fardo e como uma ameaça.
Só de uma coisa tenho a certeza: tu foste a minha deusa e o grande amor da minha vida , e ainda hoje, quando te vejo no ecrã ,tenho pena que os gatos não estejam treinados para chorar , pois havia de verter por ti as lágrimas mais desesperadas que alguém verteu por um ser amado.
…Até sempre , querida Marilyn.
O teu
Mitsou
sexta-feira, 27 de março de 2009
Dia Mundial do Teatro, ou...
Como dizia Jorge Silva Melo "mais um dia mundial da hipocrisia"..."neste dia 27 de Março, dia em que se insiste em comemorar o Teatro, nem isso já pode ser um atributo , nossa especificidade.
Hoje não seremos nós, gente do teatro. stripteseauses da verdade poética, que tem várias caras, que andam fechados os teatros, em ruínas, degradados, em perigo ou já foram demolidos - e poucos espectáculos se farão nesta noite.
Mas haverá almoços, discursos e jantares, debates e inquéritos.
E os hipócritas não seremos nós..."
A ópera, arte suprema do teatro! Porque vivemos num mundo de faz de conta, é a imagem baralhada entre o teatro e a ópera que aqui vos deixo, com os desejos de bom fim de semana!
Para a Maria...
A Primavera está por todo o lado, persegue-nos, e ainda bem! E não será por "morrer uma andorinha" que deixará de ser Primavera!
Li algures esta frase,"Talvez eles tivessem razão ao põr o amor nos livros... Talvez ele não pudesse viver noutro lugar." Ah! estes pensamentos fortes ajudam, são daqules escritos na pedra...
Por isso andamos sempre a remexer nos livros `a procura das palavras certas...
Mas não é o teu caso Maria! Tu já és um livro aberto de amor e raiva no cheiro da tua ilha!
Li algures esta frase,"Talvez eles tivessem razão ao põr o amor nos livros... Talvez ele não pudesse viver noutro lugar." Ah! estes pensamentos fortes ajudam, são daqules escritos na pedra...
Por isso andamos sempre a remexer nos livros `a procura das palavras certas...
Mas não é o teu caso Maria! Tu já és um livro aberto de amor e raiva no cheiro da tua ilha!
Poema - "Narciso e Narciso"
"NARCISO E NARCISO...
Se Narciso se encontra com Narciso
e um deles finge
que ao outro admira
(para sentir-se admirado),
o outro
pela mesma razão finge também
e ambos acreditam na mentira.
Para Narciso
o olhar do outro, a voz
do outro, o corpo
é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.
E se o outro é
como ele
outro Narciso,
é espelho contra espelho:
o olhar que mira
reflete o que o admira
num jogo multiplicado em que a mentira
de Narciso a Narciso
inventa o paraíso.
E se amam mentindo
no fingimento que é necessidade
e assim
mais verdadeiro que a verdade.
Mas exige, o amor fingido,
ser sincero
o amor que como ele
é fingimento.
E fingem mais
os dois
com o mesmo esmero
com mais e mais cuidado
- e a mentira se torna desespero.
Assim amam-se agora
se odiando.
O espelho
embaciado,
já Narciso em Narciso não se mira:
se torturam
se ferem
não se largam
que o inferno de Narciso
é ver que o admiravam de mentira.
De Ferreira Gullar
Se Narciso se encontra com Narciso
e um deles finge
que ao outro admira
(para sentir-se admirado),
o outro
pela mesma razão finge também
e ambos acreditam na mentira.
Para Narciso
o olhar do outro, a voz
do outro, o corpo
é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.
E se o outro é
como ele
outro Narciso,
é espelho contra espelho:
o olhar que mira
reflete o que o admira
num jogo multiplicado em que a mentira
de Narciso a Narciso
inventa o paraíso.
E se amam mentindo
no fingimento que é necessidade
e assim
mais verdadeiro que a verdade.
Mas exige, o amor fingido,
ser sincero
o amor que como ele
é fingimento.
E fingem mais
os dois
com o mesmo esmero
com mais e mais cuidado
- e a mentira se torna desespero.
Assim amam-se agora
se odiando.
O espelho
embaciado,
já Narciso em Narciso não se mira:
se torturam
se ferem
não se largam
que o inferno de Narciso
é ver que o admiravam de mentira.
De Ferreira Gullar
quinta-feira, 26 de março de 2009
Eu te absolvo....
As Cores da Vanguarda Arte na Roménia, uma exposição para ver! Museu do Chiado
De Victor Braun
Até 21 de Junho, 'As Cores da Vanguarda-Arte na Roménia' reúne em Lisboa 65 pinturas de artistas como Victor Brauner, M.H.Maxy ou Hans-Mattis Teutsch.
Que relação se estabeleceu entre a pintura tradicionalista e a vanguarda romena? Como se adaptaram as propostas de ruptura ao sistema comunista? Quais as possibilidades de "fuga" num cenário artístico dominado pelos valores propagandísticos do realismo socialista? Eis as três questões-chave da exposição As Cores da Vanguarda-Arte na Roménia 1910-1950, que hoje se inaugura em Lisboa, no Museu do Chiado.
Que relação se estabeleceu entre a pintura tradicionalista e a vanguarda romena? Como se adaptaram as propostas de ruptura ao sistema comunista? Quais as possibilidades de "fuga" num cenário artístico dominado pelos valores propagandísticos do realismo socialista? Eis as três questões-chave da exposição As Cores da Vanguarda-Arte na Roménia 1910-1950, que hoje se inaugura em Lisboa, no Museu do Chiado.
quarta-feira, 25 de março de 2009
Pintura objecto , de António Viana
Mais um programa de quarta-feira para a memória.
Quadro sem título! Data, 1974.
Talvez uma memória de guerra!
Hoje foi mais um dia do não esquecimento!
Cumplicidades.
Quadro sem título! Data, 1974.
Talvez uma memória de guerra!
Hoje foi mais um dia do não esquecimento!
Cumplicidades.
terça-feira, 24 de março de 2009
Vamos assinar????
Salvar a Casa da autoria do arquitecto António Varela com murais de azulejos da autoria do pintor Almada Negreiros
Na qualidade de cidadãos deste país cansados de assistir à destruição depatrimónio insubstituível devemos assinar a petição.
Em anexo seguem imagens da casa projectada pelo arquitecto António Varela edecorada em parceria por Almada Negreiros. Está em risco de ser demolida ehá uma petição para a salvar, desencadeada pela Ordem dos Arquitectos.
Não custa nada assinar através do link abaixo, e pode fazer a diferença.http://www.petitiononline.com/Alcolena/
Em anexo seguem imagens da casa projectada pelo arquitecto António Varela edecorada em parceria por Almada Negreiros. Está em risco de ser demolida ehá uma petição para a salvar, desencadeada pela Ordem dos Arquitectos.
Não custa nada assinar através do link abaixo, e pode fazer a diferença.http://www.petitiononline.com/Alcolena/
Poema - A ausência
Godess of Sex and Milk
Tu ensinaste-me a fazer uma casa:
com as mãos e os beijos.
Eu morei em ti e em ti meus versos procuraram
voz e abrigo.
em ti guardei meu fogo e meu desejo. Construí
a minha casa.
Porém não sei já das tuas mãos. Os teus lábios perderam-se
entre palavras duras e precisas
que tornaram a tua boca fria
e a minha boca triste como um cemitério de beijos.
Mas recordo a sede unindo as nossas bocas
mordendo o fruto das manhãs proibidas
quando as nossas mãos surgiam por tras de tudo
para saudar o vento.
E vejo ainda o teu corpo perfumado a erva
e os teus cabelos soltando revoadas de pássaros
que agora se recolhem, quando a noite se move,
nesta casa de versos onde guardo o teu nome.
De Joaquim Pessoa, in Poemas Portuguses do Adeus e da Saudade
Subscrever:
Mensagens (Atom)