A arte imita a vida. Ou a vida imita a arte? Quem imita quem?
Muitas vezes não sabemos distinguir os limites do palco. Esse imenso palco de bilhões de quilômetros quadrados sedia os mais diversos gêneros das artes cênicas: o drama, a comédia, o romance, o terror, o suspense, o protesto. Palco onde simultaneamente a alegria de um é a tristeza do outro; a condenação de um é a justiça do outro; a riqueza de um é a pobreza de muitos.
Palco que também é circo, pois nele se apresentam malabaristas, equilibristas, engolidores de fogo, de espada, de sapos, e milhões de palhaços. Circo onde somos domadores e domados. Onde ilusionistas fazem surgir e desaparecer coisas bem diante dos nossos olhos.
O teatro da vida, por vezes, é um teatro de marionetes, onde não somos donos das nossas falas e nossas ações. Estamos presos pelas cordas das regras e convenções sociais, políticas e religiosas o tempo todo a delimitar nossos movimentos, nossos comportamentos, o que pode, o que não pode, o que é correto. Articulamos palavras e movimentos com o intuito de gerar resultados já esperados, pois o script já está escrito.
Outras tantas vezes somos quem não somos. Somos quem queremos ser, vivemos a vida que desejamos viver, pois esse teatro da vida nos permite criar realidades fictícias. Realidades que satisfazem aos nossos anseios como não envelhecer, ter a aparência que quisermos, ter a formação que quisermos, ter o melhor emprego, mesmo quando estamos desempregados. Ser um super-herói.
Somos atores e platéia, mesclados nessa dinâmica das encenações, misturando papéis, vivendo vários personagens, pois somos ao mesmo tempo pais e filhos, médicos e pacientes, professores e alunos, fornecedores e consumidores.
Esse teatro também nos prega peças. Pega-nos de surpresa nas situações mais inusitadas, roubando nossas falas deixando-nos completamente mudos. Rouba também nossos planos, nossos sonhos, nossas fantasias. Sem a menor cerimônia muda o gênero e o enredo da nossa vida.
As provas são difíceis, ah, como são. Não é qualquer um que passa nos testes para fazer parte desse elenco.
E tudo isso dirigido por quem? Ele mesmo, o destino. Esse diretor que determina nossos papéis, quando entramos ou saímos de cena. É ele quem diz quem é o mocinho e quem é o vilão. Para alguns ele é o próprio vilão.
O destino a nortear os movimentos no palco, a ditar as falas, a determinar o fim do primeiro ato vai compondo esse maravilhoso espetáculo, esse realit show, que quando chega ao fim apagam-se as luzes, fecham-se as cortinas, mas não ouvimos os aplausos.
Má Antunes, 30/08/2010.