“Depressa, depressa,
e não é preciso que se meça
a fita de enfeitar
ou o papel de embrulhar!”.
Era a voz do Pai Natal
que, num vermelho quase fatal,
comandava as brigadas
de gnomos, duendes e fadas
que na oficina labutavam
e os presentes embrulhavam,
carregando o seu lindo trenó,
(“cuidado, tens de fazer o nó!”)
que mais parecia um ovo
de tanto brinquedo novo
que lhe enchia as bancadas.
Era tudo às três pancadas!
“Para o ano, prometo,
que noutra assim não me meto:
devia ter começado em Agosto!”.
Mas quem corre por gosto
dizem as vozes que não se cansa
e, na verdade, sempre alcança
o fim a que se propôs.
Ou será que se contrapôs?
E no meio da confusão
ouviu-se a voz de trovão
de um gnomo minúsculo
(era tarde, já crepúsculo...)
que contra a tirania bradou
e no meio da oficina parou
sem mais um só dedo mexer:
“Não quero mais gnomo ser
nem que todos os meninos chorem
ou junto de mim implorem...
tudo o que quero é descansar
e no Natal não mais pensar!”.
De todas as caras de espanto
(todas e outro tanto!)
foi a do Pai Natal que se insuflou
– bem, quase rebentou –
pois tal nunca esperara
de quem tantos séculos trabalhara
correndo de fio a pavio
sem nunca abrir o pio.
Porquê isto agora?
Pois se esta era a pior hora!
Mas ser Pai Natal
é ser alguém muito especial
que a todos compreende
mesmo a quem não se entende
por ser tão pequenino,
quase do tamanho de um ratinho.
“Diz-me, filho, porque estás assim?
Diz-me, aqui, só a mim?”
E o gnomo, capuz à banda,
fez como o Pai Natal manda
e falou de sua justiça:
“Estou farto desta liça!
Todos os anos é trabalho... só...
e tudo o que quero é ir no trenó,
conhecer o mundo inteiro
e ser um aventureiro!”
Quem sempre cala nem sempre consente
pensou o Pai Natal, contente
por esta criatura tão pequena,
quase tão forte como uma rena,
ter sabido assim falar
do que andava a sonhar.
“Oh oh oh, pois será esta a minha prenda
e para que ninguém se arrependa
todos os anos vou levar
no meu trenó de voar
cada um de vocês,
cada um na sua vez!”
E assim ficou declarado
que nas vésperas do feriado
cada gnomo voaria
e muitas casas visitaria
para as prendas entregar
e as crianças fazer sonhar.
E se ninguém leva a mal...
a todos um bom Natal!
Maria das Mercês Pacheco