28/12/2008

PSSST!

A falta que faz um adjectivo…
Desde já aviso que esta crónica é séria. A 21 de Novembro, no telejornal da RTP1, foi afirmado que o último grande sismo em Portugal tinha sido em 1969, em Lisboa. Quedei-me incrédula. Quando finalmente consegui juntar o maxilar inferior ao superior, decidi enviar um e-mail ao Provedor do Telespectador, assinalando a falta histórica e pedindo que a verdade fosse reposta. No dia 26 recebi um e-mail que, após o intróito de agradecimento, dizia “No entanto refira-se que o grau de intensidade do sismo de Lisboa em 1969, foi de 7.9 na escala de Richter, por isso apontado como sendo o maior sismo dos últimos anos em Portugal”. Tal qual. Perante isto, respondi, entre outras coisas, que “Dizer que foi o último grande sismo porque teve 7.9 (contra os 7.2 do de 1980) é pouco […] acrescentem o adjectivo «continental» […] e escusamos de nos lembrar com pesar dos 71 mortos e mais de 400 feridos do terramoto da Terceira.”
Durante dias ansiei por uma resposta do gabinete do Provedor. Nada. Para compensar, mergulhei em investigações. Na Internet, o evento de 1969 é considerado um sismo, com magnitude entre 6.5 e 7.5, epicentro a cerca de 200km a sudoeste do Cabo de São Vicente, sem danos materiais e o último grande sismo a afectar Portugal continental. Lá está, o adjectivo que falhou. O evento de 1980 é considerado um terramoto, atingiu 7.2, teve epicentro a 35km a SSW de Angra do Heroísmo, matou directamente 71 pessoas, destruiu mais de 15.000 edifícios e desalojou 15.000 pessoas.
Creio que não devemos levar essas coisas a peito. É como o ponto mais alto de Portugal: segundo grande parte dos telejornais, é a Serra da Estrela. A esses, aconselho, para o Novo Ano, que pespeguem na divisória do escritório um belo calendário com imagens dos Açores:
2.351 metros delas.
Publicado no Açoriano Oriental a 28 Dez. 08

25/12/2008



Humor natalício... mais para ver aqui, um dos meus sites preferidos, a New Yorker. BF!

22/12/2008

PSSST!


Língua de vaca
Não sei se já viram uma recente publicidade televisiva que parte do seguinte pressuposto: “se as nossas [deles] vacas falassem…”
Segundo o anúncio, diriam maravilhas sobre o leite que produzem — logicamente! Segundo a sabedoria de um certo adolescente de 16 anos, elas diriam o quê? Para nos calarmos.
Incorrendo no risco de igualmente me mandarem calar, acho que faz muito mais sentido. A comunicação, hoje em dia, está cada vez mais pejada de ruído. Sejam novos conceitos ou apenas a ânsia de vender, comunicar é cada vez mais um caminho minado para, às vezes, o nada. E se esse nada não se transformar num saldo negativo, já pode considerar-se uma pessoa cheia de sorte.
Um dos novos conceitos, muito em voga, mas que creio mal apreendido, é o “politicamente correcto”. Mas sabem o que quer dizer? Hein? A expressão não serve para amortecer choques ou embelezar discursos retrógrados. O seu objectivo é neutralizar, em termos de linguagem (por isso o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem passou a ser o dos Direitos Humanos…), a discriminação racial ou sexual. Imagino que a religiosa também. Mas abusar do politicamente correcto pode levar ao campo oposto: é tão, tão, tão politicamente correcto que acaba por cair, novamente, na discriminação. Por excesso de zelo. Por isso, as crenças de cada um são as crenças de cada um.
Sendo assim, volto às vacas. As nossas. Não sei o que nos diriam se ganhassem o dom da fala, mas imagino que seria algo muito sensato. E divertido. Realmente, faz falta sorrir mais…

P.S. — aceitam-se sugestões, críticas e ideias; basta enviá-las para o endereço electrónico pssstcronica@gmail.com. Boas Festas!

Publicado no Açoriano Oriental a 21 Dez 08

18/12/2008

Truncheon


"My girlfriend joined the police without telling me. I didn't find out for two years, and then I came across a truncheon in the magazine rack. Confronted with this evidence she blushed, stammered and looked so pretty that I forgave her. She put on her uniform, and it was like falling in love all over again. I kissed her, and she kissed me. Together we walked into the bedroom. I began to undress. The moment I took down my underpants she arrested me for indecent exposure. She gave evidence against me in court, and I served six months. She didn't visit."


Este é um dos 101 contos de Dan Rhodes em Anthropology and a Hundred Other Stories, um livrinho delicioso de um autor que eu desconhecia mas que tem feito furor no Reino Unido.

17/12/2008

Prémio

É com imenso orgulho que coloco aqui este apontamento (visto no :ilhas) sobre os prémios literários do PEN Clube Português, que este ano, na categoria Ensaio, distinguem António Machado Pires, meu professor dilecto, pelo trabalho Luz e Sombras no Século XIX em Portugal (IN-CM).

15/12/2008

PSSST!


Cota, eu?
Há dias, um amigo e leitor encontrou um erro numa das minhas colunas. Pelo acontecido — por este e outros erros ou gralhas —, mil desculpas. Flagelo-me aqui, sentida e cabisbaixamente… E sem querer desculpar-me, a verdade é que tenho muitas dúvidas. Entre acordos ortográficos e erros comuns tornados norma por uma espécie de usucapião, uma pessoa baralha-se.
Por isso mesmo, dei-me outro dia conta que não tinha a certeza absoluta de todos os sentidos desta palavra: cota? Quota? Quando? Quem? A razão pela qual precisei da palavra, já vos digo; mas deixem-me antes dizer o que descobri.
“Cota” pode ser inúmeras coisas, das proveitosas às inúteis: pode ser uma armadura medieval (a famosa cota de malha) ou uma espécie de gibão; já foi uma unidade de medida na Índia; é o lado oposto ao gume de um utensílio cortante (estas duas eu não sabia!); e ainda um número para classificar peças num processo, um apontamento na margem de um livro, uma diferença de nível geométrico, a distância de um ponto a um plano horizontal de projecções (imensa matemática…), uma medida em desenhos técnicos, um quinhão (ou quota), podendo até — se quiser impressionar os amigos — falar de uma cota piezométrica. Sem esquecer, claro, “cota” de origem angolana, moderno vocábulo usado pelos adolescentes para designar uma pessoa mais velha. “Quota” é um quinhão, uma contribuição, a parte de um capital ou uma prestação, como as quotas de mercado ou a quota-parte.
Agora, a razão por que me lembrei disto? Porque queria cotar umas quotas. E não era capaz. Deve ter sido porque, naquele momento, os meus neurónios, tais como os deputados da nação, sofriam de absentismo!

Publicado no Açoriano Oriental a 14 Dez 08

14/12/2008

Ouch!



(excerto de raríssima síntese noticiosa de 1888, em Londres) ... e hoje Dunlop patenteou o pneu, o deprimido Van Gogh cortou parte da sua orelha esquerda, Jack o Estripador voltou a atacar as prostitutas de Londres e o norte-americano Orson Welles publicou o conto "O Príncipe Feliz". Vamos agora às notícias do desporto...

"O Príncipe Feliz" foi escrito por Oscar Wilde. Pronto, não faz mal, também começa por OW. Exacto. Não faz mal. Até porque OW também significa Obwalden, um cantão da Suíça; um nome chinês; o código IATA para Executive Air; os antigos alunos de qualquer um destes colégios britânicos - Wellington, Westminster e Winchester; ou uma onomatopeia para denotar dor. Como ouch!

12/12/2008

09/12/2008

Santinho!


O único som que tenho emitido nos últimos três dias. Este e "argh"!

08/12/2008

PSSST!


Assado, frito e cozido…
E eu que pensava que, com o tempo, haveria de passar! Mas nem pensar, a moda pegou forte. Há bengalas que duram mais que outras — bengalas linguísticas, pois pelas que ajudam a caminhar tenho eu grande respeito. E não há quem se livre!
Já repararam como as conversas, ultimamente, começam quase sempre da mesma forma? Principalmente se a intervenção for fruto de uma pergunta. Seguem-se alguns exemplos, perfeitamente plausíveis:
— Quando saímos desta crise? — pergunta o jornalista ao ministro das finanças. Diz o ministro, com ar sabedor — É assim…
— Professor, porque é que se pensa que o trabalho de Magritte evidencia um estilo mais representativo do surrealismo? — pergunta o aluno (pronto, é um aluno culto, também há). Responde o professor — É assim…
— Foi falta, foi falta! — vocifera o treinador da equipa. Resposta do árbitro — É assim… (provavelmente acompanhada por gestos, para ficar mais expressiva).
Aos mais modestos basta um despretensioso “é assim”; os mais criativos podem sempre optar por inúmeras combinações: isto é assim; pois é assim; olhem, é assim; então é assim; porque é assim; ah, é assim; claro, é assim; ó meu caro amigo, é assim…
A necessidade de recorrer a bengalas linguísticas é inevitável e universal, desde o clássico “portanto” até ao simples “pois”. No presente caso, sinto que a bengalita condena o discurso, no mínimo, a um tom expositivo; na pior das hipóteses, a um tom imperativo. Ora, discursos condenatórios já temos de sobra, discursos absurdos provavelmente ainda mais. Precisamos é de discurso livre. É assim ou não?
Publicado no Açoriano Oriental a 7 Dez. 08

04/12/2008

Change, We Needed

Christmas cleaning... porque não é Primavera!

03/12/2008

PowerShopping


Pois o Natal tanto pode ser a época de solidariedade, partilha, dádiva... como de tolice, frenesim comercial e consumismo. Pode realmente ser o que cada um quiser, para parafrasear um velho chavão. E a crise? Não chegou a todos! Na Amazon UK descobri uma engenhoca chamada Powerball que, dizem os do marketing da dita coisa, pode ser boa para exercitar os braços de qualquer jogador de ténis, squash, golfe, ou tocador de guitarra, de bateria, pessoal da escalada, etc. Para sumarizar: quem precise de braços potentes. E que tal um exerciciozinho à maneira antiga? Não? Está demodé? Isto até me fez lembrar os Power Rangers ou os Pokemon, heróis de eleição de uma infância já ida do meu filho...

01/12/2008

PSSST!


Sexta-feira passada fui infectada. Um vírus horroroso, disfarçado do que não era (um programazito simpático), entrou no meu computador e fez estragos. Não no computador, graças aos deuses da tecnologia e à manutenção via controlo remoto. Em mim. Porque estive cerca de 4 horas de mãos amarradas e rato inerte: um sofrimento atroz! Não podia trabalhar. E não podia escrever esta coluna, não podia verificar os e-mails, não podia aceder aos blogues habituais; não podia, numa palavra, mitigar o vício do computador.
E então ocorreu-me — será que é um vírus que ataca alguns comentadores de blogues?
Creio que seria interessante aprofundar o caso; apelo aos cientistas para que procedam ao estudo.
Posso até já adiantar alguns sintomas: perda de memória (não se lembram do seu nome e assinam “anónimo” ou “anonymous”, que deve ser uma perda de memória inglesa); confusão de identidade (assinam com nomes não constantes do próprio BI, assumindo um ou mais alter-egos); disfunção lexical (gravíssima perturbação que impede a escrita correcta da própria língua, levando ao uso errado do “Ç”, à preferência por “á” em vez de “à” ou até à colocação do “H” em lugares nunca antes vistos); alteração profunda de referências (comummente conhecida por «misturar alhos com bugalhos»); e, na fase final, assomos de violência.
É uma apoquentação! Já não nos bastava o ritmo acelerado da vida moderna, ainda temos de estar atentos ao que nos entra computador dentro e nos afecta (provavelmente por radiação), contaminando a comunicação. WsLiybvr7ah‼
Publicado no Açoriano Oriental de 30 Nov 08