quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Uma Tribuna das Antigas

O meu amigo Afonso lança-se na blogosfera com uma Tribuna que vai dar que falar.
Já não era sem tempo...

Uma Questão de Prioridades (II)

“4. Não nos pronunciamos agora sobre eventuais modos com que o Estado possa ir ao encontro dos problemas e aspirações das pessoas homossexuais. Rejeitamos, contudo, que a união entre pessoas do mesmo sexo possa ser equiparada à família estavelmente constituída através do casamento entre um homem e uma mulher, e o mesmo se diga de uma lei que permita a adopção de crianças por homossexuais. Tal constituiria uma alteração grave das bases antropológicas da família e com ela de toda a sociedade, colocando em causa o seu equilíbrio.”

É inacreditável como todas as preocupações da Igreja com a Palavra de Deus se desvanecem perante a omnipotência do Estado. Por um lado a Igreja rejeita a fecundidade física e espiritual das uniões homossexuais, mas aceita, como quaisquer outras, as aspirações dos defensores dos casamentos homossexuais (não confundir com os homossexuais, onde se encontra tanta gente de valor que não vai em carnavais e simulacros de amorosas relações judaico-cristãs…). Há qualquer coisa de doentio, e profundamente moderno, em tudo isto. Por um lado achamos que não devem ser dados venenos a pessoas com tendências suicida, mas depois encaramos como normal que o Estado legisle nesse sentido. Interessante.
Veremos se quando a Igreja debater o problema da Eutanásia, o Bem também será uma questão nominal ou questão de confluência de vontades. A Igreja então não se importará com essa prática, desde que mascarada de questão civil (a Vida é uma questão tão civil ou religiosa como a Família) e apresentada como Descanso Eterno, ou outro nome que faça esquecer o mal que lhe subjaz.
Esta Igreja não fala claro. O facto da primeira frase do ponto que cito ser claramente contraditória com o resto do mesmo, não é defeito… é feitio.

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Drieu La Rochelle

"a monarchist is never a true fascist. . . . A monarchist is never a modern: he does not have the brutality, the barbaric simplicity of a modern."

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

O Cristo Mágico

Um dos momentos mais tristes do “Prós e Contras” desta semana ocorreu quando um senhor que se diz homossexual e católico, perguntou que direito tem a Igreja de repreender os pecadores e de passar a vida a clamar contra o Pecado.
Sob a máscara de um auto-proclamado Catolicismo, o dito senhor explicou (pena que de forma tão sintética) como deveriam ser removida a visão cristão de São Paulo por possuir uma visão culpabilizadora e uma moral sexual. A Tradição, parte integral da Revelação para um católico, seria assim removida para satisfazer a Mensagem de Cristo, que segundo o dito senhor, contra tudo o que a Igreja crê, seria não o Perdão do Pecado, mas a inexistência do mesmo.
De uma penada percebemos que o senhor é tão católico como um hindu é um monoteísta, ou um budista acredita num paraíso cheio de virgens. A religião é justificação para a conduta e não uma séria compreensão do transcendente. Esta é modelada para satisfazer o ego e não para conformar o ego ao cosmos, como todas as religiões que se prezam, professam. O Cristianismo reduzido a uma forma de “auto-ajuda” é uma adaptação da religião à servidão labrega ao nosso tempo.
Não preciso de dizer o que acontece quando os homens se crêem santos independentemente do seu comportamento, ungidos pelo rumo histórico, pela racionalidade, pelo fim da racionalidade e o apogeu do sentimento, ou demais profecias “joaquinitas” de santificação da humanidade. As heresias antigas entregaram-se à miséria moral e espiritual, as modernas ao genocídio. Com enxadas não se pode ter uma máquina de morte…
Há mais eternidade na culpa de um pecador relapso do que na impenitência do “santarrão” que eliminou, vá-se lá saber através de que revelação, os obstáculos da sua separação de Deus. Tomando-Lhe o lugar, o profeta cria a sua própria “revelação”. Um ideólogo é aquele que constrói um cosmos que o serve. E quando o sexo se torna ideologia, estamos à beira do fim.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Na Igreja Austríaca: O Povo É Quem Mais Ordena!

Em total ausência de comunhão com o Papa, a Igreja da Áustria só aceita progressistas como bispos. Não se percebe porque é que não os nomeiam directamente...

Ainda Pela Vida

























O Vencidos da Vida faz hoje três anos. O que já seria uma data importante, ainda é mais pelo gosto de ver o Lory a correr atrás da Causa Perdida que encima este "post". Que não desista nunca da Verdade e da Vida e de mostrar que a universidade deve reflectir essa mesma harmonia.
Se conseguir sair a tempo, ainda passo na UCP...

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Leituras Imprescindíveis





Eric Voegelin and Christianity, Lee Trepanier.



On Debate and Existence , Eric Voegelin.



On Necessarily Making Us Good, James V. Schall.

A Guerra ao Amor

Ontem, ocupado com coisas mais interessantes, apenas consegui ver vinte minutos daquele tragi-comédia que passa por fórum de discussão da RTP1.
Portugal continua a ser um país de fidalgos. Só assim se explica a presença daquela senhora filha de Adriano Moreira que cometeu a proeza de achar que o argumento jurídico é auto-explicativo, que a questão do “dever ser” é matéria jurídica. A qualquer pessoa que não consegue compreender o lugar da argumentação jurídica numa discussão deste timbre, deve estar vedada a discussão sobre qualquer matéria eminentemente filosófica. Em Portugal vão à televisão…
Acresce a isto a radical incompreensão dos oponentes da dita senhora, de que o “método jurídico” que a senhora invoca é tudo menos unívoco. Porém, quem aceita que a sociedade é fruto das vontades e fonte do político, quem não se levanta contra o igualitarismo vigente, tem de aceitar a dissolução da inspiração cristã das instituições civis. Com este passo, os defensores do casamento cristão aceitam reduzir a questão ao escopo moderno e submeterem-se à tal concepção jurídica vigente, das igualdades.
Fico também triste por um Padre não ter conseguido explicar (pelo menos enquanto vi) à Dra. Moreira que a existência de uma inclinação natural para a homossexualidade e o incesto não torna uma prática lícita e que é precisamente contra a animalidade (as inclinações) que residem no ser humano que o conceito cristão de Natureza se forma.
Quando um Padre se esquece que a sua principal função é salvaguardar a forma de Amor no Bem, aceitando que fórmulas degeneradas de sentimento sejam reconhecidas politicamente como Amor, é altura de repensar esta Igreja.

Num segundo momento em que passei os olhos pelo programa observei um tal de senhor Oliveira afirmar que quem é contra o casamento homossexual é homofóbico, cometendo, portanto, um crime de discriminação. Vai ser interessante constatar que no dia em que o casamento homossexual for aprovado, os portugueses que se manifestaram pelo Não, passarão a ser criminosos, impendendo penas sobre todos eles. É caso para perguntar onde está o argumento, muitas vezes invocado na questão do Aborto, de que não se pode ter a polícia atrás das pessoas por exercerem actos ditados pela sua consciência?
É caso para nos irmos todos entregar à esquadra da polícia.

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Sábado

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Uma Questão de Prioridades











O incompreensível Cristianismo da Conferência Episcopal não cessa de me surpreender. Absorve-se com a questão do casamento homossexual, desincentivando ao voto no PS, como se tivesse começado na semana passada o fito socialista de destruir os últimos resquícios de Cristianismo nas instituições civis.
Durante anos a CEP assistiu impávida ao afrouxamento dos laços da família nas sucessivas simplificações do Divórcio. A questão, diziam, era a liberdade religiosa. De índole meramente civil, o casamento não tinha de espelhar o sacramento do matrimónio. Sobre a importância dos valores na escolha política nada ouvimos.
Depois veio a questão do Aborto. Pouco preocupados com a inocência das vidas em questão, a CEP mostrou-se favorável a um Estado que dispõe da capacidade, por via referendária, de retirar a alguns o seu bem mais precioso: a vida. Mais uma vez, parecia que a forma socialista de ver o mundo, os seus ideais laicos e republicanos, nada tinham a ver com a legitimação deste crime. Acometida de algum inchaço ou miopia intelectual, a Igreja Portuguesa não identificou no partido de onde partiram todas as acções sérias de legalização de tal prática, quaisquer valores anti-cristãos. Chegou mesmo a afirmar que não se deveria imiscuir em política.
Subitamente, na semana que corre, a CEP fez um achado de relevo: o PS defende valores que não são os do Cristianismo! Desde já endereço um abraço a esse verdadeiro conjunto de sábios que, com um ligeiro atraso de quase 40 anos, descobriram a incompatibilidade entre o materialismo socialista e o Cristianismo. Estranho apenas que a compreensão de tal incompatibilidade surja na sequência da questão do casamento homossexual e não tenha vindo a tempo de salvaguardar a família e a vida de inocentes.
Há muito que alguma Igreja Portuguesa (entenda-se, o clero ligado ao regime e muitos daqueles padrecos laicos que não tiveram coragem de tomar votos) anda a preparar uma estratégia de estalo, que consiste na aceitação das relações homossexuais com um nome diferente para impedir a possibilidade de adopção de casais homossexuais. Uma estratégia espetacular que será desmontada em dois minutos por acto legislativo regular, com votos da esquerda parlamentar e do PSD pró-aborto.
Mas, também, o que é que se pode esperar de gente que demorou quarenta anos a perceber que um Cristão não pode ser socialista ou que acha que a prioridade do país é a economia?

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terça-feira, fevereiro 10, 2009

Política, Prudência, Filosofia, Religião














Muitas pessoas que leram o meu artigo sobre os Perigos da Monarquia o interpretaram como um apelo ao “purismo”, uma “imprudência” ou um reflexo da minha incapacidade de fazer compromissos. Os meus textos não são políticos, no sentido em que não estão contaminados pelo compromisso de que a actividade política precisa para poder ser frutuosa. Pelo contrário, os meus escritos tentam ser a parte imprudente de que é composta toda a prudência, o que consiste na compreensão dos limites da mesma.
Se aqui escrevo para alertar dos perigos da Monarquia, faço-o compreendendo os limites do que é a mesma e do que a transforma em qualquer outra coisa, não podendo alguém servi-la ao servir o contrário que se esconde sob um mesmo nome.
Grande parte da suprema virtude política da prudência consiste em saber com que estado-de-coisas não se pode pactuar, pela simples razão de que qualquer acção a que procedamos não atinge qualquer fim desejável.

A política não é lugar para essencialismos. Contudo, qualquer política que não aceite o seu lugar na escala das coisas, de que as essências fazem parte cimeira e são expressão essencial da realidade, é a tal “quadrilha de salteadores” de que falava o Santo. Como já aqui tantas vezes escrevi, a comunidade política não é lugar de santificação, não tendo como objecto a Salvação das Almas (deixamos isso para os protestantes de todas as cores políticas), a eliminação ou repressão do Pecado. A essência da liberdade Cristã recai nessa divergência entre Crime e Pecado (um produto da estrutura tensional e não de qualquer aliança Trono-Altar), sendo o primeiro a violação da justiça política que afecta a comunidade e o segundo o dano da Alma sem repercussões na pólis.
Porém, toda a justiça que não se encontra fundada num elemento moral recai no Despotismo do Soberano (independentemente do número de déspotas). Dado que todas as tentativas de elaborar uma moral cívica independente dos preceitos comunitários caíram em momentos de loucura cosmopolita e que nenhuma comunidade conseguiu alguma vez ter como laços não-religiosos (ou na sua visão sobre Deus), “a Ordem da História é a História da Ordem”, não temos outra solução senão conhecer aceitar que a comunidade se funda nesses laços mais profundos e que toda a Liberdade vem da inviolabilidade do Espírito aos avanços da política.

O que escrevi anteriormente não carece de Dogma e tem a possibilidade de ser contra-argumentado. Como escreveu o Modernista, a filosofia não vem da Fé. É, contudo, um método que sem esta se encontra tão incompleto que o seu fundador compreendeu a imperatividade de encerrar a obra fundadora com uma descrição do Além. Duas faces distintas do real.

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segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Insubstituível





O Átrida despede-se de nós, cansado de blogar e das tricas e tretas da blogosfera.
Compreendo o desânimo que é muito motivado pela incompreensão e pela má-vontade, pelos textos que são mal interpretados e pelo cansaço que afecta os que, depois de um dia de trabalho e de cumprirem as suas obrigações familiares, ainda dão o peito às balas para tentar mostrar aos outros os erros e imjustiças do seu tempo.
Não posso dizer ao amigo Átrida o que fazer, mas nisto dos nossos deveres cívicos devemos saber quando falar e quando calar. Tenho para mim que nos devemos calar quando aparece alguém que diz melhor que nós aquilo que queremos dizer. E sinceramente não me parece que exista por aí alguém que, não sendo católico, não se entrega às ideologias do nosso ecossistema, parando para pensar nos princípios que fizerem desta uma Nação que foi grande. Por isso, e por coisas que guardo para outro dia, acho que ainda não chegou ao fim a Odisseia. Mas é o viajante quem traça o caminho...

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Descartabilidade Selectiva

O leitor João Manuel Vicente, que assídua e discordantemente lê este blogue, deixou um comentário que me parece, sintetiza o problema, as confusões e as incompreensões perante o problema das afirmações do Bispo Williamson.

«(...) um bispo que nada disse contra a Fé? (...)» ??Leio e não acredito...Por isto mesmo que não se devem passar "cheques em branco" a nínguém, ter sempre a cautela máxima face a posições "cristalizadas" (para não dizer dogmáticas e a-históricas), recear sempre as "fontes formais do bem" que, parece, na mente de alguns, por isso mesmo e só por si, são inescrutináveis e não-criticáveis, acertadas.«(...) barulho ensurdecedor para que se castigue(...)»?Mas qual castigo? Uma sanção meramente moral poderia ser vista como castigo?Por mim zero me comove que tal dito Bispo diga o que bem entender, negando a vileza máxima...Apenas me pergunto que CRISTO habitará no seu coração, na sua alma, onde se queira...? Se habitar, haverá de estar sangrante..É, porém, sustentável que se re-acolha, sem "contaminação", sem a banalização indiferente do MAL, na Igreja (tal qual regida por vontade deste Papa) tal dito Bispo? Se no "clube" a que pertencemos se acolhe também alguém que traz o MAL, isso não nos responsabiliza de algum modo, não nos deve incomodar, talvez macular enquanto lá permanecermos...?

Há aqui um conjunto de incompreensões, é certo, mas não se percebe como alguém que não percebe um problema possa seguir para condenação sumária de quem quer que seja, a não ser que se adopte uma acusação “por defeito”. Passo a explicar.
1. As afirmações do Bispo Williamson não são feitas contra a Fé Cristã. Sê-lo-iam se tivesse dito que pessoas inocentes deveriam morrer por pertencerem a uma determinada religião, que os judeus andariam “a pedi-las”, que o nazismo era obra do Senhor ou coisa semelhante. Ora, as afirmações não contêm nada de semelhante.
2. O Bispo Williamson não negou a vileza dos campos de concentração ou a retirada de direitos às populações judaicas. Negou que houvesse um plano de extermínio planeado, ou seja, qualquer tentativa semelhante seria condenável, mas que não crê em tal evento. Podemos obviamente discordar (ainda nos dão essa possibilidade!), mas não podemos ver tal afirmação como um Mal. O Mal seria se, como tantos outros, o Bispo dissesse que não há razões morais para olhar para um homicídio de forma diferente de que olhamos para uma mãe que abraça o filho. Esse sim é o Mal verdadeiro. Descrer num evento histórico sanguinário, mas achar que se tal tiver ocorrido é um Erro e um Mal, é incomparavelmente menos causador de dano do que aceitar o evento e não encontrar uma forma de a condenar moralmente, como é o caso de todos os relativistas, historicistas e niilistas (os que pefilham a adogmaticidade e historicidade de que o JMV tanto gosta...) que se mostram chocados com as declarações do Bispo.
3. O JMV pergunta se Cristo habitará o seu coração? É uma pergunta interessante. O Bispo Williamson acredita que um triste evento histórico não teve lugar, mas que no caso de ter ocorrido seria uma catástrofe. O que lhe pergunto é se considera uma catástrofe os milhares e milhares de crianças mortas em práticas de Aborto (que o JMV aceita como expressões de liberdade e de bem individual), ou se considera isso um não-evento?
Que Cristo vive no seu?

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Pela Liberdade da Igreja














“Rezai por mim, para que eu não fuja, por receio, diante dos lobos.”

Há por aí uma gente que quer que o Papa policie as mentes não em nome da Fé, mas em nome dos dogmas secularistas que por aí pululam. Acusam a Cristandade de sancionar as mentes, mas ao invés de proclamarem a liberdade de consciência, erguem novos dogmas de utilidade política. Nunca vi o Papa reclamar que se reconheça que um crime contra os Cristãos seja matéria doutrinária para outras religiões, ou obrigar quem quer que seja a acreditar na existência terrena e a morte de Jesus como facto histórico. A negação de que houve muitos crimes contra os Cristãos ou de que Jesus existiu e foi morto é uma visão amputada da História, mas não constitui um crime contra quem quer que seja, não merecendo sanção, mas educação e piedade. Acresce a isto que a generalidade dos defensores da Liberdade aceitam de bom grado a existência desses crimes mentais, não se ouvindo uma palavra de piedade pelos massacres de Cristãos que se dão por todo o Próximo e Médio Oriente HOJE, ou pelo tratamento dado aos católicos por todo o Israel.


Como se pode compreender que exista tanta preocupação com o negacionismo no seio da Igreja (quantos haverá na Igreja, 1, 10, 100, 1000?), abaixo-assinados em França e na Alemanha contra o Bispo Williamson, e não exista uma preocupação com os milhares e milhares de católicos que apoiam associações e partidos abortistas. Como pode não existir uma petição pela excomunhão de católicos que se opõem à Doutrina da Igreja e haver um barulho ensurdecedor para que se castigue um bispo que nada disse contra a Fé?
Assim se vêem as preocupações e a Norma dos nossos católicos, sempre prontos a rastejar perante os senhores do mundo. Escolhem o seu lado...

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terça-feira, fevereiro 03, 2009

O Verdadeiro Partidocrata

A Cristina Ribeiro escreveu sobre a independência do Rei como grande argumento para a monarquia constitucional. Toda a teoria monárquica repousa, porém, noutra interpretação dessa mesma independência. O Rei é independente porque apartidário, mas isso é claramente insuficiente, dado que há dezenas de pessoas independentes por aí e com mais educação e sentido de estado do que muitos dos reis da nossa história. A independência do Rei vem da Constituição, da mais profunda e eterna, e não do facto de não ter partido que o suporte. Não podemos ser ingénuos. Todos os reis têm partido e essa é a própria história da Monarquia. E em tempos como o nosso, a ideia de um Rei sem partido ainda é mais rocambolesca, dada a impossibilidade de conseguir gerar qualquer consenso sobre o regime monárquico. A única diferença é que os partidos do Rei sempre se bateram pela existência de princípios e elementos não-voluntários na organização política do país. Os monárquicos (os que o são a sério, pelo menos) sempre foram aqueles que aceitaram que a Norma não provêm da sua vontade. Os monárquicos tornaram-se um partido, no verdadeiro sentido da palavra, quando deixaram de acatar essa Vontade Maior e passaram a canalizar no Rei os seus anseios de classe, os seus interesses económicos, os seus planos de supremacia. Deixaram de ser independentes e livres no momento em que decidiram «não servirei!». É sempre assim...
No meio de tudo isto, resta saber que independência pode um Rei do constitucionalismo moderno ter, quando ele próprio aceita que o seu supremo horizonte não é uma norma moral, mas aquilo que é a vontade popular, por ter jurado uma constituição sufragada pelo verdadeiro soberano, o Povo. E que apartidarismo é esse que tem na fonte como grande autor (é sempre assim numa democracia representativa) os partidos, que têm a capacidade de ditar o que o Rei irá salvaguardar? Que isenção é essa que condiciona na fonte e de que forma se pode confundir isso com liberdade ou independência?
Cá estarei para aprender com os que se dignarem a ensinar-me.

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segunda-feira, fevereiro 02, 2009

O Trono e a Cruz

"Na verdade, não nos compete restaurar monarquias, como não nos está autorizado arreá-las. É poder que não temos. Chamamos revoluções a meras bebedeiras colectivas, mai-las auto-flagelações, vomitórios e folclores decorrentes. O que temos é que restaurar a coluna vertebral, readquirir a postura vertical, a lucidez e a bipedia. Feito isso, a monarquia é o prémio natural, o resultado subsequente. Vem por simpatia. Ou seja, não é a monarquia que temos que restaurar, somos nós próprios. Os reis sempre foram o corolário natural de haver homens, mas jamais foram necessidade ou recompensa de escravos.
Por outro lado, o trono reflecte a cruz. Na monarquia, a de Cristo-rex; na pseudo-monarquia, do naufrágio assistido, a do papelinho anónimo para glória do papelão constituinte. É por isso que na primeira se simboliza o triunfo sobre a urna sepulcral, como na segunda se atesta o triunfo da urna eleitoral. A exacta diferença que medeia entre a vida e a morte lenta dum povo."

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