sábado, 30 de julho de 2011

Minha primeira vez


Era muito novo. 

Chego, olho aquela cambada de mulheres, que igualmente me olham. Chamo a atenção no meio daquela mulherada. Acho que pela idade, não é normal um garoto daquele tamanho, naquele local, sei lá... fico tímido pela situação. Mas avanço.

Nas paredes, fotos de mulheres com olhares provocantes. Caras e bocas para instigar o "cliente". No melhor estilo vem-que-tem!  


Até o cheiro era diferente. Confesso que não estava a vontade... sei lá... era muito novo.. todo mundo me olhando... aquele não é um ambiente confortável para um garoto tão novo. Fui na marra. Hoje posso dizer com tranquilidade: "Não queria ir!"


Tinha até uma tabela presa à parede, com o preço para cada serviço oferecido.

A primeira profissional, experiente, se aproxima. Ela vem com cuidado, respeitando minha timidez. "E aí, vai querer o que?"


Bate aquele frio na barriga... olho os preços... lembro que a grana é curta... penso em recuar... duvido se dará certo... enfim respondo: "Passa só uma tesourinha, de leve, em cima, e capricha no penteado". 

Preferi não arriscar no corte, fui no básico mesmo. Afinal, era minha primeira vez em um salão de cabeleireiro. Vejam se gostaram do corte. 




domingo, 24 de julho de 2011

Flashes 19.2

Pois bem. Nosso time de futsal começou a se destacar. Hércules se incomodou com isso e, finalmente, começou a agir. Se incomodou tanto que, às vezes, fazia corpo mole nos jogos. 

Antes, um parênteses sobre o fanfarrão. Eles não era mau caráter. De forma nenhuma. Não nos cobrava nada, aliás, nem ganhava nada. Ele só era enrolado mesmo. Brincava o tempo todo, vivia se iludindo com as coisas, acordava todo dia de bom humor e com a certeza que naquele dia tudo daria certo. Só tinha um problema: não fazia nada para que as coisas funcionassem!

Mas, a partir de então, começou a se mexer. Só que tinha outro problema que nem ele sabia e só descobrimos lá: pela lei, estrangeiro sem passaporte europeu só poderia jogar em times até a segunda divisão. Times da segunda divisão em diante não fazem testes, pois só contratam jogadores de certo renome. O mais próximo que poderiam jogar, seria na quinta divisão (que é time super amador). Eu era o único que tinha passaporte europeu.

Isso deu um baque em todo mundo e estremeceu o relacionamento. Mas continuávamos treinando. O tempo passava... confesso que perdi a noção do tempo... nem me lembro quanto tempo ficamos nesta situação...

Até que apareceu um teste, super-esquisito, no Córdoba, excelente time da segunda divisão. Era longe pra burro, na outra ponta do país. Além de outras esquisitices que não me recordo, tinha que pagar pra poder fazer o teste. É como uma entrevista de emprego paga(?!?!). Eu pergunto: o que é um peido pra quem tá cagado? Fomos!

O deslocamento parecia cena do filme "Pequena Miss Sunshine". Todo mundo amontoado, na dificuldade, mas cheio de esperança. O teste foi, inclusive, divulgado na imprensa. Tinham jogadores de todos os cantos do mundo! Lá, conhecemos Marcio, gente finíssima, outro brasileiro tentando a sorte, que jogava há muitos anos na quarta divisão de Portugal. Lá não tem este problema. Todos jogamos bem. Pessoalmente, fiz um partidaço! Voltamos confiantes.

Foda-se! Depois descobrimos que era a maior enganação, teste fajuto para arrecadar dinheiro. Então o clima começou a pesar... as insatisfações vieram à tona! Rodrigo, o playboy, desde algum tempo já estava muito desanimado, muitos dias nem treinava/jogava. Para azedar ainda mais, todos os times estavam entrando de férias. Que situação...

Não sei como, Roberto (o pastor/sócio/trouxa, digo, investidor), conseguiu pra mim um teste no sub-19 do Rayo Vallecano, time de Madrid. Mais uma vez, me despenquei pra lá (4 horas de viagem) e fiz três testes. Fui aprovado para uma nova temporada de testes com o grupo, que só começaria depois das férias. 

Volto de Madrid com a boa notícia e os amigos vibram. Mas seus olhos denunciavam o desespero. Conto à meus pais a notícia e, no mesmo dia, à noite, embarco de férias pro Brasil, com retorno marcado direto pra Madrid. Foi a última vez que os vi. Depois soube que: 

Missinho e Fabiano largaram Hércules e foram jogar na quarta divisão de Portugal (lá pode) - através de indicação de Marcio, que conhecemos em Córdoba.

Rodrigo abandonou e voltou para o Brasil após uma crise de depressão - se trancou no quarto, apagou a luz  e mal saía para comer. Surtou mesmo! Ficou todo mundo preocupado. Até que o pai mandou ele voltar.

Hércules se separou do Roberto(africano). Parece que a mulher dele (a dentista) deu um basta na brincadeira. A última notícia que tive, Hércules estava em Marrocos, agenciando jogadores. Meu amigo André Torreão foi mais uma vítima de suas lambanças...

Ah, faltou o Gernani, brasileiro que foi achado pelo Hércules. Gernani estava com ele em Marrocos.

Minha vida seguiu. No Rayo Vallecano, depois das férias, ninguém lembrava de mim... mas isso é caso para mais um flashes...


Conforme prometido, segue a foto dos guerreiros. Saudades...    


Eu, o dono da casa que ficamos em Córdoba (sem camisa), Missinho, Fabiano, Marcio, Rodrigo e Hércules (agachado - sempre otimista) 

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Flashes 19.1

Chego em território espanhol e, como combinado, vou direto para a casa de Hércules, um carioca que morava há anos na Espanha e já havia feito de tudo por lá. Em sua aventura como representante, tinha se associado a Roberto, um africano, pastor de igreja, casado com a dominicana Denise - bem sucedida dentista, numa cidade vizinha dalí, Cáceres.

Eles não entendiam absolutamente nada de futebol! A parceria deles era a seguinte: Roberto alugou dois apartamentos vizinhos próximos de sua bela casa. Um morava Hércules e sua família: a mãe Marlene - excelente cozinheira -, a mau-humorada esposa, a recém-nascida, e o gente boa do filhinho, de 3 anos, que só falava portunhol (tinha esquecido o português e ainda não estava alfabetizado em espanhol). Não me lembro seus nomes.

O apartamento ao lado era destinado aos jogadores que viessem, enquanto desempregados. Hércules não conhecia nada nem ninguém, sequer falava espanhol direito. O plano era tentar, na cara (de pau) e na coragem, bater à porta dos clubes e chorar uma vaguinha, um teste.

Gernani, um alagoano que foi tentar a sorte na Espanha, já estava há dois anos por lá, totalmente ilegal. Hércules o encontrou pelas ruas, e o adotou para a família. Quem bancava toda a brincadeira, inclusive as despesas pessoais de Hércules, era Denise que, acreditem, era a única que trabalhava, dentre todos os personagens citados.

Claro que eu só soube deste quadro quando cheguei lá. Morávamos num povoado de 1.000 habitantes, quase todos idosos, o que  dava uma sensação de cidade fantasma. Todos se conheciam, éramos famosos lá.

Pois bem, o tempo passa... e nada de testes. E pior, Hércules ainda aliciava mais jogadores para vir, dizendo ter ótimas oportunidades. E foi nesta ilusão que logo depois chegaram Missinho, Fabiano e Rodrigo.

Missinho era atacante, tipo leve e que joga pelas pontas. Tinha seus 29 anos, com passagens por vários times pequenos do Rio, e com algum destaque no Volta Redonda. Me lembrava dele nas figurinhas de álbum. Era um cara muito engraçado e fazia piada de tudo. Cheio de histórias de boleiro. Me divertia muito com ele. Era solteiro e tinha uma filho pequeno no Brasil, morria de saudades dele.

Fabiano era zagueiro, estilo xerifão. Um Fabio Luciano da vida. Com mais de trinta anos, já havia rodado bastante. De Portugal ao sul do país. Era muito religioso e sua noiva, ex-dançarina do Faustão e agora igualmente religiosa, torcia muito por ele. A foto dela andava sempre na carteira. Ele chorava muito por ela, sempre dizia "assim que eu acertar minha vida, casamos e ela vem!"

Rodrigo era o típico garoto mimado. Não queria nada. Fazia tudo de onda. Na verdade, quem queria era seu pai. E ele ia atrás. Jogou, por influência do pai, na base do Vasco e do Flamengo e, segundo dizia "tinha abandonado porque não estava afim". Era zagueiro do tipo namorador, sempre dava mole pro adversário. Tinha uns 25 anos e afirmava que iria levar a sério, porque sabia que não podia perder mais oportunidades.

Já eu, com 18 anos, tinha caído de paraquedas alí... só queria saber de jogar bola. Achava graça de tudo.

Mais uma vez, o tempo passa... e nada de testes. O momento era ruim, pois estava em final de temporada. Os clubes não abrem testes neste período. A esta altura, por razões óbvias, o clima entre os jogadores e Hércules era ruim.

Então, conversamos e decidimos que nós iríamos correr atrás de tudo. Liderados por Fabiano montamos um plano de treinamento diário (manhã e tarde), formamos um time de futebol de salão - Hércules era o goleiro - e começamos a jogar, inicialmente com times do povoado, depois com times dos povoados vizinhos, e logo com outras cidades. 

Não perdíamos nunca, e isso foi o maior cartaz.  

(Em respeito aos amigos disléxicos, continuo numa próxima postagem (19.2), na qual contarei o destino de todos os personagens envolvidos, inclusive o meu... ah, prometo uma foto de todos)    

sábado, 2 de julho de 2011

Excelências à parte 7.1


Recentemente soubemos da prisão, e soltura relâmpago, do ex-jogador Edmundo. O caso é triste sob qualquer ângulo (jurídico e social).
 
Soubemos, também, de outra briga judicial de Ed, com Wanderley Luxemburgo, atual treinador do Flamengo. O que não foi noticiado são os detalhes do processo (nº 0002756-67.2006.8.19.0001, em curso na 25ª vara cível do RJ), que é uma piada pronta, não precisa nem de comentários ou exageros. É um verdadeiro conto de fadas, um mundo paralelo, distante da realidade dos envolvidos,  principalmente lembrando que os personagens ganham por volta de 400/500 mil por mês. Vamos lá.

Em 1996, Wanderley passou dois cheques para Edmundo, R$ 200 mil cada. Em 1999, o animal os depositou, e ambos voltaram sem fundos. Em 2006 foi ajuizada a ação para cobrança dos valores.

Em defesa, Luxa alegou prescrição – o que não foi aceito – e disse já ter efetuado o pagamento. A juíza, Simone Gastesi Chevrand, porém não engoliu a tese de que pagamentos realizados, no período de Dezembro de 1996 a Agosto de 1998, efetuados em favor da empresa A.J. Gomes Automóveis (?!?!?!), tivesse qualquer relação com a dívida cobrada. Disse mais: "Cópias, juntadas pelo réu, da CPI do Futebol (?!?!?!), também não provam nenhum pagamento; o que prova pagamento é recibo" (traduzi a decisão). Condenou, no pagamento de R$ 1.066.100,03, correspondente aos R$ 400.000,00 corrigidos monetariamente e com juros legais (valores de 2006).

Recursos negados. Acabou o processo? Tudo certo? Que nada, agora tem que receber, né? A juíza, conforme a lei, dá 15 dias para pagamento voluntário sob pena de multa de 10%. Vocês pagaram? Nem ele! O animal pede penhora nas contas correntes de Luxa. Perde-se o processo; acha-se o processo, e na primeira tentativa, um irrisório valor é bloqueado. Na segunda, vem a resposta da magistrada: “o documento, obtido junto ao BANCO CENTRAL, informa acerca de inexistência de numerário nas contas bancárias do réu” – isso mesmo, nenhum centavo na conta!

Frustrada, também, a penhora de um automóvel Mercedes Benz E 500, ano 2003, pois já tinha sido vendido.

O animal fica uma fera e pede informações ao Detran e à Receita Federal sobre outros bens. Alguns carros são penhorados, porém nada que chegasse perto do valor do pagamento.

Sem alternativas (lembrando que não pode penhorar salário – mesmo de R$ 500 mil), o autor pede penhora portas a dentro – o oficial de justiça entra na casa do devedor sai penhorando tudo que vê pela frente -, a juíza concorda, com as seguintes ressalvas:

“Desde já autorizado o arrombamento (somente em caso de necessidade). São impenhoráveis, conforme a lei, o imóvel residencial da família e os móveis que o guarnecem. Podem penhorar veículos de transporte, objetos de arte e adornos suntuosos. Televisão não pode ser penhorada, é objeto útil e não adorno suntuoso. O único terminal telefônico é impenhorável. Se houver outros, pode haver penhora. Aparelhos de som, videocasste (?!?!?!), forno de microondas não são objetos suntuosos, portanto, impenhoráveis. Gravador (?!?!?!) não pode, mas bicicleta sim(?!?!?!). Computador pode.” (traduzi da decisão)

Foi esta decisão que a imprensa divulgou recentemente. E quando a imprensa divulgou, mesmo antes de ser oficial, e, portanto, ainda nem tinha sido cumprida, o ex-craque informou à juíza que Luxa, com a destreza que modifica suas equipes, passou a fazer algumas modificações em seu patrimônio – vendendo os bens que seriam passíveis de penhora (provavelmente a bicicleta, já que o gravador não pode).

Com esta informação, no dia 08/06/2011, a juíza determinou que o oficial de justiça fosse com urgência na casa de Luxemburgo, o que já foi feito, mas ainda não foi informado à justiça o resultado da diligência. Ainda tem um recurso em Brasília, interposto por Luxemburgo, daqueles que não são julgados nunca, querendo anular toda a brincadeira.

to be continued... cenas dos próximos capítulos, numa próxima postagem (7.2)...