Tempo,
aonde pretendo chegar?
Ainda não sei, depois
que virei gente grande. Cresci?
E o senhor não me dá tréguas,
amolece a carne crua, nervos e ossos,
escava sulcos à flor da pele da gente,
transfigura, descasca o rosto
depois de muitas luas,
depois de muitas luas,
devagar em vagão, aperta-me o cadarço
e no seu bater de cascos incansável
sequer me sobreavisa em alerta ao porvir
- ser outra vez boneco em tuas mãos molengas
quando no ato solene me roubas a cena,
por trás da cortina, de pronto,
ao me fazeres de gato e sapato,
ao brincares de médico
e o diabo a quatro fingindo-se deus,
sem apego, rótulo, bula ou manual,
e o diabo a quatro fingindo-se deus,
sem apego, rótulo, bula ou manual,
(in) justo comigo que nunca fui santo
quando profano me velas pagão, boquiaberto,
ao criar no vão da penumbra um certo lume,
um clarão no espelho da sala de estar
que só me dá 'indizentas' fugas,
que só me dá 'indizentas' fugas,
ao tentares ser outra vez da vogal consoante
ou passatempo à lírica anarquia,
em face do postiço pano de fundo
que não se deslinda no outro
a desmascarar outra vez afinal
quem nunca soube ter alma um dia.