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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

ENQUANTO ISSO... VÁRZEA, 51 ANOS E UMA SAUDADE DANADA!






















ENQUANTO ISSO...VÁRZEA, 51 ANOS
E UMA SAUDADE DANADA!
Autor: João Maria Ludugero

Meu Eu-varzeano 
Segue cantando, no presente,
Com amor e devoção,
Fazendo versos simples,
Tramando o fio da minha poesia.

Bem sei que o Vapor
Do tempo partiu,
Levando alguém.
Varzeano que parte,
Parte chorando,
Quem fica, saudades tem…

Amigo, o que a gente não sabia:
- Quem parte, parte chorando sim,
Mas leva muita saudade também.
Ah, Várzea, a nossa rua,
A nossa casa, a nossa história.
Velhos tempos, belos dias!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

QUIMERAS

Autor: João Maria Ludugero
Na imensidão desta terra agreste,
Surgiu uma flor no singelo Vapor,
Sua beleza morena e brejeira,
Os nossos campos inunda de cor.

És tu, ó Várzea , terra boa e amiga,
Que a mão de Deus generosa ornou,
Tesouro aberto ao céu
Que quimeras abriga,
Banhada pelo rio Joca
Que esse solo irriga,
Guardada pelas chaves de São Pedro
Que abençoa nossos sonhos acordados
E abre nossos caminhos e a todos instiga,
Desde a igreja azul que a fé enfatiza
Desde o batismo que a vida embalou.

Em sua história assim revelada,
Que Ângelo Bezerra outrora registrou,
De povo simples, fiel desta terra,
De tradições de beleza sem par,
Relicário que a história encerra,
Motivo e encanto deste meu cantar.
Beleza agreste, minha Várzea em flor,
Terra que encandeia, berço de sonhos,
Doce deleite do amor verdadeiro.

É minha Várzea essa flor pura e bela,
Que brota ao sol potiguar,
Em solo tão hospitaleiro e gentil,
Com galhardia o povo desta terra,
Sua glória canta aos rincões do Brasil.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

SÉRIE: VÁRZEA, 51 ANOS DE BOAS IDEIAS PRA VENDER NA FEIRA DE DOMINGO























SÉRIE: VÁRZEA, 51 ANOS DE BOAS IDEIAS
PRAVENDER NA FEIRA DE DOMINGO 
Autor: João Maria Ludugero

Era dia de domingo, dia de feira.
Dia das compras, de farinhas e de macaxeiras.
Acordávamos ainda cedo e já partíamos
Para as barraquinhas, as bancas da feira, livre.
Íamos eu, meu pai Odilon e a minha mãe Maria.

Era gostoso acordar cedinho, ir ao mercadinho, no centro
Já no caminho, ali na Rua Dom Joaquim de Almeida,
A gente dava de caras com o João Carlinhos de Dona Genira,
Com a sua banca de novidades, frutas e legumes de primeira,
Próximo à rua do Cruzeiro, esquina com a rua da pedra,
Comprávamos balaios de feijão de corda, feijão verde, debulhado,
Favas, camarão seco e siri, farinha torrada, goma e polvilho.

E vinha gente de todo lugar: das cidades vizinhas,
Das redondezas, e tinha até cordel, literatura,
Que a gente gostava de ler, passatempo e refrescos.
Além das tantas outras cordas que a gente empunhava:
Cordas de caranguejo goiamum, crustáceo azulado,
Semelhante ao caranguejo comum,

Mas de paladar bastante agradável.

Recordo do 'Picica de Xinene' que já cortava as mantas de carne-de-sol,
Auxiliando seu pai, Cícero Paulino, exímio marchante, cabra bom!
Tica do Mel vendia queijo de coalho, assado na grelha, que delícia!
Enquanto isso, Tota de seu Leopoldo atirava sal nas carnes-secas,
Ao jirau, no açougue. Cestas e mais cestos,
Couros, salmouras e charques, na rua do curtume.
No varal, almas esticadas sob o sol a pino.
Lá se vendia rolinha frita e nhambu, iscas e 'passarinhas',
Além de galinha caipira com farofa e cerveja, geladinha
Ali no bar do Eduardo, Maninho. Quem não se lembra?

Ah, tinha caçuás, uma espécie de cestos grandes e oblongos,
Mais compridos do que largos, ovais, alongado e longos,
Feitos de vime, cipós ou de lascas de bambu, com aselhas,
Para pendurar às cangalhas e que é utilizado
No transporte de gêneros alimentícios,
Para levar galinhas e outras aves ao mercado,
Além de garajaus para transportar peixe seco e rapaduras.

Tinha fumo de rolo, tabaco em pó, rapé e espirros. Atchim!!!
E tantas outras bugigangas, anis-estrelado, cravo, canela e alecrim etc.
Afinal era dia de feira, dia de domingo pede cachimbo...
Céu azul de anil, com cheiro de coisas simples, céu varzeano.
Uma cidade, uma saudade que bate na gente... e dói no peito
e não se acaba o mundo, touro valente!

Dia de domingo, dia de feira, tempo de 'Terezinha
do Couro', de sandálias Havaianas, cuscuz, tapiocas e pé no chão.
Retratos de um tempo, que perdura até os dias de hoje.
Tempo de lambe-lambes, réstias de cebolas e alhos.

Ah, antes que eu me esqueça,
O mercadinho de outrora ficou lá,

Lá no passado mesmo, demolido.
Porque tornava feio o centro da cidade.

Mas a saudade, esta se faz presente
E continua no peito da gente
Sem ter hora para acabar:
Saudade repleta de coisas boas,

Saudade que até dá gosto de lembrar...
Portanto, venha para a feirinha
Aos domingos e confira de perto
A alegria que se acha nesse lugar
Chamado Várzea, a Cidade da Cultura!

FELIZ NATAL!












FELIZ NATAL!
É sempre tempo
De 'renovarzear'
E de viver em paz.
Possa o Natal ser igual a um jardim
Onde a alegria floresça em cada coração
E a felicidade cresça e apareça
Na vida de cada um de nós
Por anos e anos... Amém!
Quem sabe, por mais outros 51 ANOS,
FELIZ CIDADE, VÁRZEA!
Parabéns!
E que venha o Novo Ano!
Um brinde à sua chegada, tim-tim! 
Com saúde e esperanças renovadas,
Pois não existem limites
Para nossos sonhos,
Basta acreditar.  
FELIZ 2011!
Sinceramente,
São os votos do poeta
João Maria Ludugero

domingo, 12 de dezembro de 2010

SÉRIE: VÁRZEA, 51 ANOS DE BOAS IDEIAS: A CHAMA INTERIOR

Autor: João Maria Ludugero.

O interior me chama,
Não há como não cumprir
O que manda o coração...
Não há como dizer não,
Muito menos arredar o pé,
Vou agora lá pra Várzea,
Aquele é o meu lugar!

Lá tem batidas de coco, leite de onça,
Lá tem garapa, caldo de cana-caiana,
Tem suco de umbu-cajá, doce de jaca,
Tem rapadura batida, castanha assada
Tem cocadas da branca e da preta!

Lá tem licor de jenipapo, doce de caju,
Manga espada, pitomba e jabuticaba
Tem raiva, carrapicho, peito-de-moça 
E o famoso bolo-preto de Marinam,
Tem queijo-de-coalho assado na brasa,
Tem macaxeira frita na manteiga-de-garrafa,
Tem torresmo de porco, picadinho e sarapatel.

Tem coalhada e tapioca de coco ralado.
Lá no seu Tida, avô de Tereza Gabriela,
Tem leite de vaca tirado na hora, na caneca de ágata.
Lá tem o cantar do galo a abrir o sol, a alvorada.
Lá temos banho de açude e cavalgada.

Na minha Várzea das Acácias
Tem felicidade a perder de vista.
Ah, isso tem mesmo, sim, senhor!
Lá tem muita moça bonita pra se espiar.
E a gente fica só cubando, sem pigorar...
Quem é besta, de se atrever, pra ver no que dá!
Lá tem muita gente boa e hospitaleira.
Lá tem isso tudo e muita simplicidade.
Diga-me alguma coisa, carece de mais nada?

Lá temos tudo isso, de sobra,
Além de uma rede de algodão
Armada no alpendre ao sol descambando,
Onde a gente se deita sem aperreio
Só pra fazer um balanço da vida,
Só pra sonhar acordado e ser feliz!

DE OLHOS BEM ABERTOS

Autor: João Maria Ludugero

De olhos bem abertos,
Curto a paisagem
Da minha Várzea,
Miro de perto os longes
Que minha vista pode ver,
E alcançar, desde a janela,
Onde o tempo se curva,
Inquieto passa que passa
E não espera por ninguém.
Tempo ingrato,
Tempo que marca
A vida da gente,
De fases algumas
Perdidas no tempo,
Tempo alegre,
Tempo bom.
O tempo bem vivido
Curtido ali
Desde a casa
De Seu Odilon até o Vapor
que ultrapassa o rio Joca
A transportar a vida do meu lugar
Aquela que me leva a embarcar
Nas recordações que me dão cor
E me fazem escrever esses versos
De um amor sem medidas,
De um amor sem parâmetros,
De um amor sem paradigmas,
De um amor varzeano
Que estará sempre vivo
Até depois daqui,
Quando a vida cismar
Em querer me levar
Para outro plano!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

DONA PENHA E SEU OLIVAL

Autor: João Maria Ludugero

Um homem hoje dorme no andar de cima.
Foi chamado pra habitar noutro reino,
Lá onde não se sente mais dor ou frio.
Ele se retirou mais cedo,
Satisfeito do dever cumprido
Fechou com chave de ouro
Sua vitoriosa missão.

Repassou  as chaves à sua Penha,
Que continuará firme e forte
Em sua lida de renovadas esperanças.
Deixemos o homem dormir.
Na paz, do alto do seu novo Retiro,
Ele corre o olhar calmo
e avista o esplendor reverdecido
A ampliar os horizontes da sua Várzea.

Agora ele traz em mãos
Um feixe de fosforescente luz
Que reflete pelos caminhos
Que foram demarcados com suor,
Quando trabalhava e cantava
Resignadamente com a voz
Que provinha de um coração
Contente da vida que levava.

Sua Várzea emudeceu no dia da partida.
Mas a cidade guarda na memória
O exemplo de coragem que deixou de legado
Aos seus três filhos Uilma, Marcos e Uiliane;
Aos netos, parentes e uma legião de amigos.
Várzea adormeceu obedecendo à noite.
Fez-se um torrencial silêncio.
Mas, nada de braços cruzados,
Nada de balcão fechado,
Pois jamais se apagará
Das nossas lembranças a vida digna, rica e simples
Deste homem: Olival Oliveira de Carvalho!

Sua recordação acordará sempre,
Abrindo portas dessa Várzea a fora,
Todo santo dia-após-dia,
No peito da sua gente destemida,
Orgulhosa, sim, pelos seus
Valiosos ensinamentos.

Deram-te um nome. Olival.
É consabido que um homem
Tem de ter um nome:
João, José, Pedro ou Marcos.
À pedra damos nome de pedra
Que o é antes da pedra e a si se basta.
Não é mesmo, ó São Pedro Apóstolo?

Olival teve a sua Penha!
Um homem ladeado
Por uma magnífica senhora,
Por uma rocha em forma de mulher
Uma flor de pedra, de pulso forte, 
Com um nome próprio,
Repleto de significado,
Que lhe dá cor: Penha!

Um homem tem de ter um nome
Para caminhar dentro dele:
Te chamaram Olival, Olival!
E para lhe dar alicerce, completar a base,
Deram a ele uma mulher chamada Penha!
A ambos ora dedico esse poema simples,
Sem precisar recorrer a palavras feitas
Sem precisar recorrer a rimas,
Sem que a vida careça sair de cena,
Afinal, Seu Olival viverá para sempre,
Pois ele se tornou sinônimo de Várzea.
Não há como dissociá-lo de seu amado retiro!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

"QUILARIADO"























SÉRIE: VÁRZEA, 51 ANOS DE BOAS IDEIAS: 
'QUILARIADO'
Autor: João Maria Ludugero

Quando o sol se levanta,
Cedo 'quilareio' as ideias
Escuto o badalar das horas
Do relógio de São Pedro
Vindo da torre da igreja azul 
De onde vejo a beleza
Que atravessa os casarios 
da Cidade da Cultura,
A partir das duas palmeiras
Alçadas para o céu
Feito mãos agradecidas
Pelo presente de Deus
- Ter criado esse lugar
De onde respiro alegria,
De onde tiro forças pra viver.

Várzea, minha Várzea,
Seara de Mãe Claudina,
Rincão de Ana do Rego
E de Joaninha Mulato,
Chão do Mateu Joca Chico
Dos Belos, Bentos e dos Caícos,
Sem esquecer dos Marreiro,
Dos Carvalhos, dos Florêncios
E de tantos outros nomes...
Nesta terra onde nasci
Também quero lá ficar,
Até o fim dos meus dias.

Várzea, minha Várzea amada,
Nunca se esqueça de uma coisa:
Unidos seremos fortes
Por uma luta sem par
E por tua felicidade
A tua pacata gente
Não mede esforços,
Arregaça as mangas na lida
E ainda acredita, não se intimida
Com as adversidades da vida.
Mas, se preciso for, destemida,
Até seu sangue há de dar.

Aos fundadores desta terra
Louvamos sem distinção
Resgatamos nossas raízes
Guardamos as suas glórias
Bem dentro do coração,
Mesmo que passem os anos,
A juventude que hoje canta
Jamais se esquece de ti,
Enaltecendo os pioneiros
Deste solo varzeano.

RELICÁRIO















Autor: João Maria Ludugero

Que maravilha é sentir
O que sinto, e registrar,
Poder escrever essas linhas
Esses versos simples
Sobre minha terra
Sobre a seara de Ângelo Bezerra,
Sobre meu lugar chamado Várzea.

Assim ascende
No meu peito um brilho
A construir toda potência
Do meu ser varzeano,
Germinada neste chão
Agreste de tantas alegrias.
Por isso, dou vazão
À minha verve poética
E não permito que a inércia
Apague nossas raízes.

Faço versos e mais versos,
Teço a minha singular poesia.
E , se me entendem ,
Ao cultuar a vida
Que não cansa,
Que não murcha,
Que leva esta minha gente,
Faço subsistir o que amanhã
Poderá ser lido, guardado,
Não como coisa triste,
Nas asas da descrença,
Mas como relíquias
Do mais verdadeiro Amor
Que nos faz mais nobres,
De uma Várzea abençoada
Por Simão Pedro pescador,
Apóstolo das nossas esperanças.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

DEVOTOS


Procissão de São Pedro Apóstolo - Várzea/RN














MEMÓRIAS DA NOSSA FÉ:  DEVOTOS 
Autor: João Maria Ludugero

A procissão
Sob crédulos olhares
Se arrasta
Na tardezinha
Pelas quatro bocas
Suplicantes
Rezando Ave-Marias.

O velho caminho do Calango,

Se desfaz, passo a passo,
Tranquilo e passadiço,
Engolindo a sombra do dia
Que se avulta no arredores
Das simples casas caiadas,
De onde fumegantes cheiros
De pão, cuscuz e carne assada
Se espalham pelas ruas e becos
Da nossa pequena Várzea.

As mulheres preparam
Suas novenas,
As mulheres preparam
Suas iguarias
E vão se achando
No fio da meada,
Enquanto dona Neves Mulato
Tece seus coloridos fuxicos
Com todo prazer e desvelo,
Outras fazem corda de agave,
Desde meninas, a ver
As próximas cenas,
Os entraves e tramas 

da mesma novela,
Enquanto outras barrigas
Tricotam novelos e crochês
Pelos 'quilaros' da TV.

Enquanto são acesos

Outros candeeiros,
Enquanto outras velas
Ardem suas parafinas,
Enquanto outros seres
Acendem seus pedidos suas sinas...
E os meninos continuam não rezando.

E São Pedro,

Lá no topo da igreja,
Assiste a tudo de camarote,
Enquanto o povo ao andor aclama,
Enquanto a outra imagem retorna
Ao altar-mor, sob uma salva de palmas,
Enquanto o fogo da fé se inflama,
Enquanto o padroeiro não dá as costas
Pra nenhum varzeano, de sorte,
Muito menos pra rua do arame!

O BANQUETE DOS CONTENTES

O BANQUETE DOS CONTENTES
Autor: João Maria Ludugero

Sentir a presença
Da primavera nas flores
Do adorno nos vasos do altar-mor
Do apóstolo São Pedro
Irresignar-se ao ver 
A nua vargem no abandono
Não cruzar os braços às adversidades
Semear sim, apesar da aridez das pedras,
E mesmo assim saborear os frutos 
Que pendem dos cajueiros 
E das bonitas mangueiras
Que amudurecem aos segredo da lua.
 
Lavar as mãos no poço
E perceber na água salobra
As cicatrizes do tempo
Esculpidas ali nas pedras
Nas margens do rio Joca.
No rosto a avidez
De um sonho ainda por sonhar.
Nos mãos calejadas
O significado de perseverar
A insaciável vontade 
De acordar para um novo tempo
Num arrastar de passos renovados
Pelas quatro bocas que há muito 
Suplicam dar cabo às velhas esperanças.
 
Mandar para bem longe a dor.
E em vez da briga a festa, 
Na mesa posta, a fartura
Sem a embriaguez, sem soberba,
A ternura servida a cada varzeano
E convidado o riso.
Silenciado o grito.
Moderadamente, 
Quem dera no infinito,
Pudéssemos afastar da folhagem as sombras
Abrindo-se um vão, um clarão
Capaz de abastar os corações
E brindar ao renascer daquele sonho antigo:
O de que a gente pode ser feliz 
Aqui, na nossa Várzea.

Logo, vamos tentar 
Não mais baquear nossos sonhos!
Nada pode nos deter de sonhar e... 
Assim, quem sabe, pinta a tal felicidade
A querer nos acompanhar de vez na vida
No possível banquete dos contentes!

sábado, 4 de dezembro de 2010

SEBO NAS CANELAS

SEBO NAS CANELAS
Autor: João Maria Ludugero

Percorro teus maracujás a fora,
Adentro-me em tua paixão, viajo, medito para o alto
Como as asas das verdes palmeiras de São Pedro
Que altaneiras beijam o céu varzeano,
Como o vento que sopra as águas do açude do Calango,
Como a brisa que ameniza a tarde saudosa
Percorro o teu corpo, menina nativa,
Atento como o olhar de um menino varzeano,
Que se acha ao se perder percorrendo a Vargem.

Gosto de andar pelas estradas de terra,
Entre juncos e capim, canário-de-chão.
Feito aquele passarinho faminto, boquiaberto,
Com o olhar a percorrer seu ninho,
Sou feito aquele pássaro recém-saído do ovo
Que abre seu bico pedindo alimento em sua boca,
Muito espantado e quase sem ação
Pasmado, estupefacto com as ideias confusas,
Atordoado, perturbado, tonto.

De água na boca, persevero,
Continuo a percorrer teu corpo
Como o rio Joca espalhando o humo na terra agreste,
Fertilizando-a, pronta para fazer nascer,
Renascer, brotar com o sol da alvorada,
Se achar, germinar antiga semente,
Fazer a vida acontecer,
Na certeza de que o sol nasce
Para todos os varzeanos
E ainda nos resta nas mãos o sonho de sonhar;
E varzeanamente acreditar, arregaçar as mangas
E enlaçar, com determinação, a tal burrinha da felicidade!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

MINHA VÓ DALILA







MINHA VÓ DALILA
Autor: João Maria Ludugero

Lembro-me tanto da Senhora,
Qual árvore centenária
Sombreando nossos caminhos.
Eras tal qual aquela frondosa algarobeira
Lá da praça do encontro.
Ninho antigo, que dava colo,
Consolava desenganos
Fazia-nos sentir seguros
Tal filhotes de passarinho,
Longe de quaisquer apuros.

O tempo escaneceu nuvens,
Fez algodão doce e cocadas,
Grisalhou a tua trança, tingiu de cinza
E de branco os teus cabelos,
Guardou também teu carinho
Na liga dos puxa-puxas,
Nas tábuas de pirulitos,
Nos manjares, doces de leite,
Pés-de-moleques, confeitos, balas
E até no pote de caramelos.


Vó Dalila sabia de cor receitas,
Feitas com mãos de amor…
Vó Dalila, tão perfeita,
Benzedeira de mão cheia,
Com seu raminho de fé
Afastava qualquer dor,
Curava espinhela caída,
Tirava até os quebrantos
Com simples galho de flor.

O tempo levou teus passos
E o doce de um olhar manso
Que ainda embala meus sonhos.
Preservo aquela coragem,
Desde os tempos de menino,
Carrego-a sempre comigo,
Aquela que me ensinaste
Na cadeira de balanço.

E ora o que me ampara,
O que me dá fortaleza,
É seguir assim confiante
Lembrando-me da tua beleza,
Nessa saudade tamanha
Curtida no coração.

Ó, Dalila Varzeana,
Eta, mulherzinha de fibra!
Falo com toda certeza:
Quem tem a fé que tu tinhas,
Tem  a força de Sansão!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

SOB O PÔR-DE-SOL DA MINHA VÁRZEA

















Autor: João Maria Ludugero

Cai a tarde...
O sol acende um  fogaréu
No alaranjado poente.
No alpendre da casa
Fogueira quente
Vermelha muito encarnada,
Cheia de cores
Aconchego
Que acalma os passantes
Desde o açude do Calango,
Que aquece a alma
E me deixa encostar
No teu colo
Que me abre o céu
Só pra desfalecer
De amores
A te ver de perto,
Tocar sutilmente
Meu rosto no teu
E dizer-te baixinho:
Fica comigo
E deixa-me ficar aqui,
Em baixo do pé de graviola,
Sempre assim,
Do teu lado,
Assim maravilhado,  
Minha Várzea amada,
Suplicando solenemente: 
-Venha me fazer cafuné!

TRILHAS DE UMA NATUREZA SUSTENTÁVEL


SÉRIE: VÁRZEA, 51 ANOS DE BOAS IDEIAS:





















TRILHAS DE UMA NATUREZA SUSTENTÁVEL
Autor: João Maria Ludugero

Andando pela beira do rio Joca, avistei um verde juazeiro, e percebi que estava repleto de anuns brancos e pretos em seus ninhos de gravetos, feitos ali mesmo na copa da árvore tão enverdecida que tinha a tonalidade da esperança que se renova pelo sítio do Vapor afora, porque permaneço assim  deveras encantado que não vislumbro o fim das minhas lembranças de outrora. Chegando no rio de Nozinho, dei mão de uma cuia e bebi água numa cacimba, depois descansei na sombra de um ingazeiro.

Ainda na margem do rio, fiquei encostado em uma forquilha lembrando dos meus parentes que tantos roçados plantaram ali, de milharal, feijão, macaxeira e jerimuns. Depois de muito pensar, avistei dormindo em cima de um lajedo um camaleão a furtar-cores para se esconder. Decidi prosseguir minha caminhada,  notei que não dava para ir pela estrada de Zé Canindé porque tinha um grande atoleiro impedindo de atravessar, resolvi seguir no sentido dos Seixos, para quando for à noitinha eu já esteja no Angico, pronto para retornar a minha Várzea, agradecendo à natureza por ter-me propiciado poder respirar bons ares, e voltar para casa com os pulmões satisfeitos, o olhar limpo e a alma lavada, pronto para dormir e descansar por mais um dia de boas aventuras. 

E, amanhã, logo cedo, quero poder recomeçar minha viagem por outras trilhas da minha amada terra de Joaninha Mulato.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

DE QUE LUGAR TU ÉS? EU SOU DE VÁRZEA!























SÉRIE: VÁRZEA, 51 ANOS DE BOAS IDEIAS

DE QUE LUGAR TU ÉS?
EU SOU DE VÁRZEA, GRAÇAS A DEUS!
Autor: João Maria Ludugero

Mas, afinal, o que é um lugar?
Falamos: Você vai àquele lugar?
De que lugar você é?
Que lugar bonito!

Concebe-se que, para a geografia, o lugar é uma unidade sensível. É uma porção do espaço onde a gente  vive, onde se passa a vida, onde desenvolvemos vínculos afetivos, que incluem, desde o presente às lembranças do passado, fatos que aconteceram, coisas que marcaram nossas vidas. Diante disso, temos uma extensão subjetiva.

Uma cidade, um lugar pode ter significados diferentes dependendo da cultura, da pessoa e de suas formas de pensar, sentir e agir ou ainda, de como foi nossa experiência ali. Os conflitos ou a felicidades que enfrentamos em determinado lugar dá características a ele. É assim que às vezes lembramos com saudosismo daqueles lugares onde passamos a infância e a juventude e do qual tanto gostamos de lembrar.

É de se ver que a mesma afeição e familiaridade que temos com alguns objetos pessoais também podemos desenvolver por certos lugares. Pegamos, como exemplo, a nossa casa, nela nós nos sentimos mais à vontade que em qualquer outro lugar. Ampliamos esse sentimento para um determinado lugar. É ali que conhecemos muitas pessoas com as quais vivemos e guardamos referências de nosso passado. Sentimentos dessa natureza se aplicam também para uma cidade - essa é a minha cidade, sou filho de tal cidade, foi lá que nasci, lá quero viver até o fim dos meus dias!

Observa-se, de tal maneira, que apesar de imaginarmos um espaço próprio, dimensionalmente reduzido, pois é mais fácil de manter vínculos, ele pode ser ampliado conforme nossa referência, consoante nossas raízes. Dessa forma, uma pessoa que mora em uma cidadezinha do interior terá mais facilidade de desenvolver vínculos por toda sua extensão. É o que ocorre com esse poeta que ora lhes fala, que ama a sua Várzea com toda paixão, apesar de tê-la distante, mas dela nunca saiu, nunca a esqueceu, pois a sente pertinho do coração. Um filho que ama muito tudo isso que só tem no seu lugar, na sua, na minha, na nossa Várzea das Acácias, lugar de gente feliz, onde há mais de meio século (51 anos) a gente sonha e faz desse sonho uma realidade através de boas ideias! Feliz cidade, Várzea!