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Brincadeira de Cirança
Por Gisele Rech
Houve um tempo, época que seus pais ou avós devem se lembrar bem, em que os estabelecimentos comerciais vendiam de tudo um pouco. Nos armazéns de secos e molhados era possível comprar toda a sorte de produtos alimentícios. Já nos bazares, a oferta ia desde roupas a brinquedos, geralmente artesanais.
Hoje, entretanto, a palavra de ordem é segmentação de mercado. E é nessa tendência que os pequenos consumidores ganham, cada vez mais, uma atenção toda especial. Segundo dados fornecidos pelo Sebrae, só em Londrina são 110 estabelecimentos dedicados ao setor varejista de brinquedos. Para o consultor do Sebrae, Rubens Fernandes Negrão, como em qualquer área segmentada, para abrir uma empresa é preciso montar um plano de negócio. “É necessário levar em conta a localização e o fluxo de pessoas, os aspectos financeiros e, principalmente o cenário da concorrência, verificando qual será o diferencial do empreendimento”, diz.
Dentre tantas lojas da cidade, uma delas chama a atenção justamente pelo diferencial: a oferta de brinquedos educativos e opções de livros que, em geral, não constam nos catálogos das grandes livrarias. A Ciranda, da empresária Denise Gentil, promove ainda oficinas e atividades para a criançada, unindo com maestria brincadeira e educação.
A ideia da loja surgiu há quase 10 anos, quando Denise era a editora do jornal Toques e Manhas, que tratava da relação entre pais e filhos. “Foi a partir deste trabalho jornalístico que veio a percepção da necessidade das mães em ter um apoio na educação dos pequenos”, explica. O começo foi dedicado aos livros feitos especialmente para a criança, mas que fugiam do lugar-comum dos contos de fadas. Temas que cercam o universo infantil como tirar a fralda ou como lidar com a morte, a separação dos pais ou o medo do escuro sempre estiveram na estante da loja. Hoje dividem espaço com obras de linguagem acessível que iniciam a garotada na gastronomia, nas artes plásticas, na música erudita e nos grandes clássicos da literatura – há, por exemplo, uma versão infantil de Ulisses, do irlandês James Joyce.
Pouco tempo depois de abrir a loja, a empresária percebeu uma demanda também por brinquedos educativos e ampliou o mix do negócio, passando a trabalhar com fornecedores especialmente do eixo Rio-São Paulo. “A ideia sempre foi buscar produtos para pessoas que refletem, não apenas consomem. A intenção é promover sempre uma interação entre a brincadeira e o processo de formação”.
Outro ponto destacado por Denise – e que destoa muito do que costumamos ver em lojas de brinquedos, é que ela costuma negociar diretamente com o pai ou a mãe da criança. “A palavra final tem de ser dos responsáveis, de quem faz a compra. Isso faz parte da educação da criança. É a questão dos limites”.
Aliás, para a empresária, não há nada mais gratificante do que participar do processo de formação dos seus pequenos clientes. “Esses dias entrou na loja um rapaz de barba, que me chamou de “tia” Denise. Não demorou muito para eu reconhecer naquele jovem uma das tantas crianças que vi evoluir nesse tempo. É um prazer fazer parte da história deles”.
Além da satisfação pessoal, a empresária assegura que trabalhar com este público também é rentável. “Além das crianças e dos pais, atendemos muitas escolas que tem demanda por nossos produtos”. E com a aproximação do dia das crianças, as vendas costumam ficar ainda melhores. “Para nós, o Dia das Crianças é melhor do que o Natal. Dobramos as vendas”.