Guilherme chegou ao seu apartamento perto das duas e quinze da manhã, passou reto em direção á cozinha evitando olhar o caos que se instalara há tempos. Por sobre a pia nenhuma vasilha limpa e restos de alimentos apodrecidos pela mesa já de vários dias. Seu orçamento não permitia contratar uma faxineira e seu tempo era sagrado.
Não podia contar com Matilde, esse amor era banal, um passatempo sem consequências cujos encontros se davam com seus bolsos recheados e a muito isso não acontecia.
Com uma das mãos pegou uma cerveja na geladeira vazia, e com a outra desatava o nó da gravata, caminhou em direção a sua pequena sacada, jogou o casaco no sofá gasto pelos anos, as paredes sujas e descascadas revelavam um descaso externo exatamente como era o seu interior. Abriu á porta e um dos vidros quebrado rangeu e o vento balançou a cortina desbotada e sebosa, lembrou-se de sua mãe com certa nostalgia passageira, ela não aprovaria sua vida em absoluto!
O que a princípio era dinheiro fácil, hoje se tornara um refém de suas atitudes, a jogatina entrou de mansinho em sua vida como um canto de sereia dominando-o por completo. Nas apostas falsas e trabalhos escusos, acabara nas mãos de Natam, um homem poderoso, mesquinho e dono de quase todos os negócios sujos da noite. Ele fora avisado, esse homem agia com seus imensos tentáculos dominando todos e quem ficava á sua mercê, feliz daquele que perdia a vida, sim porque nesse caso estaria livre. Valorizou demais sua suposta sorte e competência e via agora; comportara-se como um estúpido e não podia voltar atrás.
Encostou-se á sacada e a amargura encheu seu peito, o prazo esgotara, faltavam apenas três dias para saldar sua dívida e se ver livre. E dinheiro não se tinha, enfiou a mão no bolso e pegou o bilhete do jogo do bicho, essa era sua única saída. Precisava; por obra de um anjo ou demônio, não importando a ordem, aceitava quem chegasse primeiro, era questão de vida ou morte tinha que dar urso na cabeça!
Beijou o papel colocando-o no bolso e caminhou para sua cama se jogando do jeito que estava, adormecendo logo em seguida. Meio sonolento tempo depois jogou o despertador nos pés da cama irritado, parecia que mal acabara de adormecer. Rolou para o outro lado e se perdeu no sono, mais tarde uma coceira nas narinas o fez despertar, era Susana a gata da velha ao lado que pulava a sacada e passeava por sua cama, em um salto percebeu o adiantado da hora. Pelo sol que entrava pela janela sem cortina passava-se do meio dia, abriu a porta e foi até o fim do corredor, colocou uma ficha no telefone que era na verdade seu único bem no momento.
Um...Dois...Três toques...Atenda Biro atenda! Sim...Sim...Sim...Deus existe! Repetia os números para o bicheiro, que do outro lado ria de gargalhar. Deu sim urso na cabeça! Largou o fone pendurado e saiu correndo para o apartamento em uma felicidade sem limites, pegaria a grana, pagaria a sua dívida e desapareceria por uns tempos. Desceu as escadas, como um louco atravessou a avenida de grande movimento nessa hora, sem ao menos se dar conta, ouviu um arrastar de pneus no asfalto, em seguida o som da batida.
Não havia tempo de ocupar-se com o possível acidentado, além do que pelas laterais dos olhos, percebia já a aglomeração de pessoas e ele estava tão veloz embusca de sua felicidade que nada o deteria agora. Ao chegar perto do bicheiro levou a mão no bolso e percebeu ter esquecido o bilhete, devia estar na outra camisa, deu meia volta e retornou-se ao apartamento. Ao chegar perto do local do acidente, a polícia e a ambulância já estavam fazendo sua parte, um caminhão atravessado na rua e vários carros engarrafados. Por entre as pernas das pessoas ele vislumbrou o defunto e parecia conhecido. Permitiu alguns segundo do seu tempo, já havia mesmo salvado sua vida, o bilhete estava seguro.
Não custava nada ver quem era o pobre diabo estirado no chão, ouviu as pessoas dizerem penalizadas; fora morte instantânea e estavam á procura de parentes da vítima. E para sua surpresa ao chegar perto era seu próprio corpo estirado no chão, o sangue escuro esvaia-se de seu crânio, em sua mão o bilhete amassado e seus dedos rijos apertava-o! Rodopiou em volta de si mesmo, tentando entender o que estava acontecendo, gritava dizendo á todos que dera urso na cabeça! Estava rico! Por entre as pessoas de repente sua mãe sorrindo aproximou abrindo seus braços dizendo: venha meu filho precisamos partir...De um lado sua mãe que já havia falecido, do outro alguém levava seu corpo e o bilhete....Seu desejado bilhete! E ele no meio sem saber a quem seguir....
Não podia contar com Matilde, esse amor era banal, um passatempo sem consequências cujos encontros se davam com seus bolsos recheados e a muito isso não acontecia.
Com uma das mãos pegou uma cerveja na geladeira vazia, e com a outra desatava o nó da gravata, caminhou em direção a sua pequena sacada, jogou o casaco no sofá gasto pelos anos, as paredes sujas e descascadas revelavam um descaso externo exatamente como era o seu interior. Abriu á porta e um dos vidros quebrado rangeu e o vento balançou a cortina desbotada e sebosa, lembrou-se de sua mãe com certa nostalgia passageira, ela não aprovaria sua vida em absoluto!
O que a princípio era dinheiro fácil, hoje se tornara um refém de suas atitudes, a jogatina entrou de mansinho em sua vida como um canto de sereia dominando-o por completo. Nas apostas falsas e trabalhos escusos, acabara nas mãos de Natam, um homem poderoso, mesquinho e dono de quase todos os negócios sujos da noite. Ele fora avisado, esse homem agia com seus imensos tentáculos dominando todos e quem ficava á sua mercê, feliz daquele que perdia a vida, sim porque nesse caso estaria livre. Valorizou demais sua suposta sorte e competência e via agora; comportara-se como um estúpido e não podia voltar atrás.
Encostou-se á sacada e a amargura encheu seu peito, o prazo esgotara, faltavam apenas três dias para saldar sua dívida e se ver livre. E dinheiro não se tinha, enfiou a mão no bolso e pegou o bilhete do jogo do bicho, essa era sua única saída. Precisava; por obra de um anjo ou demônio, não importando a ordem, aceitava quem chegasse primeiro, era questão de vida ou morte tinha que dar urso na cabeça!
Beijou o papel colocando-o no bolso e caminhou para sua cama se jogando do jeito que estava, adormecendo logo em seguida. Meio sonolento tempo depois jogou o despertador nos pés da cama irritado, parecia que mal acabara de adormecer. Rolou para o outro lado e se perdeu no sono, mais tarde uma coceira nas narinas o fez despertar, era Susana a gata da velha ao lado que pulava a sacada e passeava por sua cama, em um salto percebeu o adiantado da hora. Pelo sol que entrava pela janela sem cortina passava-se do meio dia, abriu a porta e foi até o fim do corredor, colocou uma ficha no telefone que era na verdade seu único bem no momento.
Um...Dois...Três toques...Atenda Biro atenda! Sim...Sim...Sim...Deus existe! Repetia os números para o bicheiro, que do outro lado ria de gargalhar. Deu sim urso na cabeça! Largou o fone pendurado e saiu correndo para o apartamento em uma felicidade sem limites, pegaria a grana, pagaria a sua dívida e desapareceria por uns tempos. Desceu as escadas, como um louco atravessou a avenida de grande movimento nessa hora, sem ao menos se dar conta, ouviu um arrastar de pneus no asfalto, em seguida o som da batida.
Não havia tempo de ocupar-se com o possível acidentado, além do que pelas laterais dos olhos, percebia já a aglomeração de pessoas e ele estava tão veloz embusca de sua felicidade que nada o deteria agora. Ao chegar perto do bicheiro levou a mão no bolso e percebeu ter esquecido o bilhete, devia estar na outra camisa, deu meia volta e retornou-se ao apartamento. Ao chegar perto do local do acidente, a polícia e a ambulância já estavam fazendo sua parte, um caminhão atravessado na rua e vários carros engarrafados. Por entre as pernas das pessoas ele vislumbrou o defunto e parecia conhecido. Permitiu alguns segundo do seu tempo, já havia mesmo salvado sua vida, o bilhete estava seguro.
Não custava nada ver quem era o pobre diabo estirado no chão, ouviu as pessoas dizerem penalizadas; fora morte instantânea e estavam á procura de parentes da vítima. E para sua surpresa ao chegar perto era seu próprio corpo estirado no chão, o sangue escuro esvaia-se de seu crânio, em sua mão o bilhete amassado e seus dedos rijos apertava-o! Rodopiou em volta de si mesmo, tentando entender o que estava acontecendo, gritava dizendo á todos que dera urso na cabeça! Estava rico! Por entre as pessoas de repente sua mãe sorrindo aproximou abrindo seus braços dizendo: venha meu filho precisamos partir...De um lado sua mãe que já havia falecido, do outro alguém levava seu corpo e o bilhete....Seu desejado bilhete! E ele no meio sem saber a quem seguir....