quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Deu Urso na Cabeça

Guilherme chegou ao seu apartamento perto das duas e quinze da manhã, passou reto em direção á cozinha evitando olhar o caos que se instalara há tempos. Por sobre a pia nenhuma vasilha limpa e restos de alimentos apodrecidos pela mesa já de vários dias. Seu orçamento não permitia contratar uma faxineira e seu tempo era sagrado.
Não podia contar com Matilde, esse amor era banal, um passatempo sem consequências cujos encontros se davam com seus bolsos recheados e a muito isso não acontecia.

Com uma das mãos pegou uma cerveja na geladeira vazia, e com a outra desatava o nó da gravata, caminhou em direção a sua pequena sacada, jogou o casaco no sofá gasto pelos anos, as paredes sujas e descascadas revelavam um descaso externo exatamente como era o seu interior. Abriu á porta e um dos vidros quebrado rangeu e o vento balançou a cortina desbotada e sebosa, lembrou-se de sua mãe com certa nostalgia passageira, ela não aprovaria sua vida em absoluto!

O que a princípio era dinheiro fácil, hoje se tornara um refém de suas atitudes, a jogatina entrou de mansinho em sua vida como um canto de sereia dominando-o por completo. Nas apostas falsas e trabalhos escusos, acabara nas mãos de Natam, um homem poderoso, mesquinho e dono de quase todos os negócios sujos da noite. Ele fora avisado, esse homem agia com seus imensos tentáculos dominando todos e quem ficava á sua mercê, feliz daquele que perdia a vida, sim porque nesse caso estaria livre. Valorizou demais sua suposta sorte e competência e via agora; comportara-se como um estúpido e não podia voltar atrás.

Encostou-se á sacada e a amargura encheu seu peito, o prazo esgotara, faltavam apenas três dias para saldar sua dívida e se ver livre. E dinheiro não se tinha, enfiou a mão no bolso e pegou o bilhete do jogo do bicho, essa era sua única saída. Precisava; por obra de um anjo ou demônio, não importando a ordem, aceitava quem chegasse primeiro, era questão de vida ou morte tinha que dar urso na cabeça!
Beijou o papel colocando-o no bolso e caminhou para sua cama se jogando do jeito que estava, adormecendo logo em seguida. Meio sonolento tempo depois jogou o despertador nos pés da cama irritado, parecia que mal acabara de adormecer. Rolou para o outro lado e se perdeu no sono, mais tarde uma coceira nas narinas o fez despertar, era Susana a gata da velha ao lado que pulava a sacada e passeava por sua cama, em um salto percebeu o adiantado da hora. Pelo sol que entrava pela janela sem cortina passava-se do meio dia, abriu a porta e foi até o fim do corredor, colocou uma ficha no telefone que era na verdade seu único bem no momento.

Um...Dois...Três toques...Atenda Biro atenda! Sim...Sim...Sim...Deus existe! Repetia os números para o bicheiro, que do outro lado ria de gargalhar. Deu sim urso na cabeça! Largou o fone pendurado e saiu correndo para o apartamento em uma felicidade sem limites, pegaria a grana, pagaria a sua dívida e desapareceria por uns tempos. Desceu as escadas, como um louco atravessou a avenida de grande movimento nessa hora, sem ao menos se dar conta, ouviu um arrastar de pneus no asfalto, em seguida o som da batida.

Não havia tempo de ocupar-se com o possível acidentado, além do que pelas laterais dos olhos, percebia já a aglomeração de pessoas e ele estava tão veloz embusca de sua felicidade que nada o deteria agora. Ao chegar perto do bicheiro levou a mão no bolso e percebeu ter esquecido o bilhete, devia estar na outra camisa, deu meia volta e retornou-se ao apartamento. Ao chegar perto do local do acidente, a polícia e a ambulância já estavam fazendo sua parte, um caminhão atravessado na rua e vários carros engarrafados. Por entre as pernas das pessoas ele vislumbrou o defunto e parecia conhecido. Permitiu alguns segundo do seu tempo, já havia mesmo salvado sua vida, o bilhete estava seguro.

Não custava nada ver quem era o pobre diabo estirado no chão, ouviu as pessoas dizerem penalizadas; fora morte instantânea e estavam á procura de parentes da vítima. E para sua surpresa ao chegar perto era seu próprio corpo estirado no chão, o sangue escuro esvaia-se de seu crânio, em sua mão o bilhete amassado e seus dedos rijos apertava-o! Rodopiou em volta de si mesmo, tentando entender o que estava acontecendo, gritava dizendo á todos que dera urso na cabeça! Estava rico! Por entre as pessoas de repente sua mãe sorrindo aproximou abrindo seus braços dizendo: venha meu filho precisamos partir...De um lado sua mãe que já havia falecido, do outro alguém levava seu corpo e o bilhete....Seu desejado bilhete! E ele no meio sem saber a quem seguir....

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A felicidades é ter amigos!

Muitos de nós já tivemos o privelégio de observar ao amanhecer o cantos dos pássaros saudando o raiar do novo dia, como se fossem um canto de louvor ao Criador! Foi exatamente assim a noite de autógrafos do livro Espiral em Cuiabá, nossos amigos, entre sorrisos e abraços em um burburinho de felicidade como se eles fossem co-participantes dessa obra. E observando de forma especial, eles são de verdade uma parcela desse trabalho, sim porque sem eles seria uma noite vazia!
Para mim a noite do dia vinte de outubro de dois mil e nove será para sempre lembrada, o sorriso de cada um, os olhares de cumplicidade, as lágrimas de felicidade dos parentes, tudo isso compunha algo jamais esperado em minha vida.
Não encontro palavras para agradecer, me sinto pequena...
Espero corresponder, com atitudes, a altura da magnitude do sentimentos a mim dispenssados nesse dia!
Muito grata!

Léo Fernandes

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Aos amigos!

O livro Espiral encontra-se á disposição pela Editora no site www.editoraisis.com.br.
Grata pela visita!

sábado, 3 de outubro de 2009

Profundamente grata! Graças aos céus, família e amigos por tanto carinho á mim dedicado. "A semeadura é livre, mas, a colheita é obrigatória", de alguma forma semeei algumas sementes em terrenos férteis. Ao longo de minha vida, perdi inúmeros plantios, hora o terreno era árido, hora a semente era improdutiva e muitas vezes fui descuidada achando que meu fracasso advinha de terceiros. Mas dessa vez colhi um fruto de rara beleza! Dia 18/09/2009 na magnífica livraria Martins Fontes em São Paulo, na avenida Paulista, lançamos o livro Espiral. Uma obra mediúnica, feita com amor e responsabilidade. Jamais conseguirei agradecer á altura o carinho por parte dos presentes, desde os mais próximos até chegar naqueles que participaram como sendo um ilustre desconhecido! Esse momento de felicidade levarei para eternidade. Grata a todos!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Comunicação

Palavra interessante essa tal "comunicação".
Se olharmos criteriosamente, esse elo envolve toda magnitude do universo!
A comunicação planetária talvez seja o mais belo dos diálogos: os planetas e estrelas seguem suas rotas de maneira perfeita.
O sol comunica-se com as plantas e nossa terra mãe, nesse entrelace, surdo aos nossos ouvidos,ouve e replica suas falas independente e soberana.
As plantas comunicam-se com a chuva, que já dialogou com os mares, rios e geleiras, desenvolvendo-se e cobrindo nosso mundo de um verde que encanta os olhos, as flores multicoloridas como que agradecidas desabrocham para a luz e depois os frutos!
O mundo animal se comunica entre si, servindo e sendo servido. Uma espécie de relacionamento, às vezes cruel, mas de uma forma natural como se houvesse um pacto irrevogável.
E nós, seres humanos?
Nos primórdios da humanidade, entre tantas comunicações, uma delas fora à mola propulsora do progresso: a comunicação com a dor.
A natureza bruta, o clima agressivo, talvez seja por isso que não agüentamos uma simples unha lascada ou um cisco no olho!
Nessa viagem ininterrupta chegamos ao mundo de hoje, nos comunicamos e em nossa intimidade continuamos "incomunicáveis".
Talvez...porque as comunicações do amor e da solidariedade ficaram em segundo plano.
Mas, ainda há tempo e espaço para um olhar, um sorriso e quem sabe um abraço!
Estabelecendo o "incomunicável” em parceria com a boa vontade, quem sabe a comunicação seja finalmente inserida no contexto universal e seremos enfim irmãos de verdade!
E que nossas "comunicações" sejam de paz!