sábado, janeiro 31

Lua adversa

Foto: Ismail Shaleem

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida.
Fases de vir para a rua..
Perdição da minha vida!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua)

No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega este dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles

sexta-feira, janeiro 30

Ainda

Foto: Pixdaus


nada de novo

e o nada
se desmanchando
em algo
velho

de novo

J. R. Lima

quarta-feira, janeiro 28

Calo



É onde somos sensíveis
Que dói
E é onde, quando acertam,
Não tem volta
É onde a gente se deforma
Se arma e se engrossa
Pra não sentir mais
É onde já fomos penugentos e ralos
É onde havia pele à mostra
Onde fomos macios e tenros
(e bobinhos!)
é assim que se formam os calos
então perdoa se sou grosseira
mas eu sou grossa
na medida em que me pisaram

(Czarina das Quinquilharias, do Blog de 7 Cabeças)

terça-feira, janeiro 27

Cantinho escondido

Dentro de cada pessoa
Tem um cantinho escondido
Decorado de saudade

Um lugar pro coração pousar
Um endereço que freqüente sem morar
Ali na esquina do sonho com a razão
No centro do peito, no largo da ilusão

Coração não tem barreira, não
Desce a ladeira, perde o freio devagar
Eu quero ver cachoeira desabar
Montanha, roleta russa, felicidade
Posso me perder pela cidade
Fazer o circo pegar fogo de verdade
Mas tenho meu canto cativo pra voltar

E posso até mudar
Mas onde quer que eu vá
O meu cantinho há de ir
Dentro


(Carlinhos Brown, Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Cézar Mendes)


sábado, janeiro 24

Vale a pena postar de novo...

Foto: PIXDAUS

tenho

seis

obses-

sões

sem

rosto


inventar uma cor que não exista. nem depois de inventada

coisar a solidão para um objeto que caiba na

terceiragaveta@domeuarmario

esquecer os caminhos dos meus cemitérios

fazer uma disneylândia das desistências. com brinquedos para todas as idades

viver uma vida sem sacolas

a sexta sou eu mesmo. em meus sonhos





tenho

seis

obses-

sões

sem

rosto


e uma fotografia sua


arrudA

sexta-feira, janeiro 23

Summertime


calores
dos corpos
que suam
e se insinuam
sabores
de verão

Mary, do Blog de 7 Cabeças

quinta-feira, janeiro 15

Foto: PIXDAUS

[..]

A minha Casa é guardiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavra
Paixão e veemência

E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.

A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
À uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta

Por que recusas amor e permanência?


Três luas, Dionísio, não te vejo.
Três luas percorro a Casa, a minha,
E entre o pátio e a figueira
Converso e passeio com meus cães

E fingindo altivez digo à minha estrela
Essa que é inteira prata, dez mil sóis
Sirius pressaga

Que Ariana pode estar sozinha
Sem Dionísio, sem riqueza ou fama
Porque há dentro dela um sol maior:

Amor que se alimenta de uma chama
Movediça e lunada, mais luzente e alta

Quando tu, Dionísio, não estás.

[...]


Hilda Hilst

quarta-feira, janeiro 14

Tela: Colombiana/1986 - Fernando Botero



Quisera eu também ser gorda e abundante.
De carnes fartas e macias...


terça-feira, janeiro 13

quando disse, na saída,
deixo meu sorriso,
disse bem,
até sorrir pra você
não vou sorrir pra mais ninguém

também disse,
o que se deixa é o que permanece
não esqueca, essa sou eu
que agora desapareceu

e se mais não disse
é que sorria
um sorriso que ficasse
para depois de ter ido
como se nunca partisse
como se tudo existisse

ah se eu soubesse
ah se você me visse

Alice Ruiz

domingo, janeiro 11

[...]

ao teu lado invento palavras
gosto dos verbos que me dás
são tuas
todas as minhas palavras nuas.



Aline

sábado, janeiro 10

Tela: La Cama/ Fernando Botero



Ah, por que me vejo vasta e inflexível
Desejando um desejo vizinhante
De uma fome irada e obsessiva?

Hilda Hilst





sexta-feira, janeiro 9

Só lá...


o que um rio sente
quando invade o mar
nem as águas sabem
até chegarem lá.

(J. R. Lima)



quinta-feira, janeiro 8

Biruta

Foto: Patricia Sako



a intensidade
dos ventos
se mede

com a vontade
de ficar

Paulo Madureira em POESIAS NO ÔNIBUS, 16ª edição




POSTAGEM EXTRA
às 14:50

Eduarda, agora cidadã do mundo!
Com os papis na nova vida em Milão abaixo de neve.



domingo, janeiro 4

Foto by Eduardo Kasper


todo o tempo é cais
memória além do mais.


Aline

sábado, janeiro 3

Fui vitima da Quinta, do Eduardo



Fui menos vítima, menos, mesmo. Fui é homenageada por Eduado P.L. no Vitima da Quinta. Eduardo, na verdade é dono de vários blogs. Meu preferido é o Varal de Idéias onde a tônica, como já sugere o nome, são reproduções de varais e prendedores de roupa. Belíssimo Blog pela criatividade do tema que só ele, Eduardo, poderia ter pensado em explorar.
Obrigada pela homenagem, amigo blogueiro!


sexta-feira, janeiro 2


primeiro verso do ano
é pra você
brisa que passa
deixando marca de brasa


(Alice Ruiz)




quarta-feira, dezembro 31

... um pássaro branco aterrizou trazendo meu presente de Ano Novo!



sexta-feira, dezembro 26

DESEJOS

Vou dar um time no meu clock.
Daí que me adianto postando uma mensagem de final de ano que recebi da etérea Lunna para todos que me dão o prazer de sua visita. Trata-se de um poema de autor desconhecido e que cabe muito bem nesta época em que todos paramos para planejar novo rumos e continuar projetos já em andamento.
Muito obrigada pelo carinho de todos e prometo voltar em 2009 para conviver com todos vocês.


Desejos


Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que elas escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.






quinta-feira, dezembro 25

O mico do Natal


Mariana e Carol com o mesmo modelito na festa.
... mas que são um belo par de vasos, ah são!!!





segunda-feira, dezembro 22

Minha amiga poética do Blog de 7

Participei da brincadeira criativa patrocinada pelo pessoal do Blog de 7 Cabeças, um blog que frequento diariamente e que seguidamente publico poemas aqui. Incríveis, únicos, feitos por 7 cabeças brilhantíssimas.
A seguir posto na íntegra, o presente de Aline, minha amiga poética de 2008.



De: Aline Araújo
(www.dashistorias.blogspot.com)
Para: Liz Kasper (http://lizkasper.blogspot.com)

Senhores cabeças!! A minha amiga poética é uma artista.Pinta, fotografa, desenha.... Daí que fazer para ela uma poesia é coisa difícil para fazer jus à sua sensibilidade.Mesmo poesia não sendo o meu forte, fiz um esforcinho...É de coração! Aí vai o presente da minha amiga poética secreta!=D

EXCESSIVA
O mundo pálido
Quase cálido
Amanheceu e nada quis
O mundo lânguido
Quase límpido
Fez chover na flor de Liz
O mundo mórbido
Quase inóspito
Arrancou-a do jardim
O mundo mau
Quase bom
Devolveu-te num jasmim
O mundo excesso
Como tu,
É uma tela colorida
Te fez exceto em preto e branco
Nas imagens que desvela
Tem tantas cores agora
Nesse mundo, nessa tela
Que se pinta em guache tinta
Nas tuas telas de aquarela



Não é lindo¿?¿?