quinta-feira, outubro 30


Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras de recente data.
Toda saudade é uma espécie de velhice...
Não é que faltem lembranças.
Estão espalhadas em toda a minha substância.
Meu corpo foi-se tornando um cemitério de tempo,
parece um desses bosques sagrados onde enterramos nossos mortos.
A saudade mistura tudo. A saudade não conhece o tempo.
Não se sabe o que é antes nem depois.
Tudo é presente.

(Rubem Alves)

terça-feira, outubro 28

Blogagem coletiva ABRE ASPAS II


Deveria ter participado, segunda-feira, dia 27 de outubro, da blogagem coletiva ABRE ASPAS II, proposta pela Lunna, cujo link está aí ao lado, logo no início da lista "gosto de visitar", por razões técnicas, alheias á minha vontade. Desta forma, mesmo com atraso, apresento um poeta gaúcho de mão-cheia, que provavelmente alguns não conhecem ainda.


Trata-se de Jaime Vaz Brasil, que além de poeta é médico psiquiatra e psicoterapeuta.


Tem vários artigos e ensaios publicados em antologias, revistas e jornais, além de mais de centenas de músicas já gravadas.


Recebeu o Premio Açorianos, na categoria Música especialmente composta para Teatro-Dança, em 1997, indicação para o mesmo prêmio, no mesmo ano para a categoria Literatura por seu livro os Olhos de Borges.


Em 1988 recebeu o Premio Nacional Paulo Sergio Gusmão, no gênero Poesia, com o LIVRO DOS AMORES, do qual fazem parte os dois poemas que estáo aqui, nesta blogagem , que deveria fazer parte da blogagem coletiva.








Falar de amor: em segredo,
em textos lidos e escritos,

silêncios, cartas, bilhetes...
Falar de paixão: aos gritos.


Ele: o silêncio dos séculos,
a constãncia dos metais.

Ela: arco-íris, cometa,
terremoto e vendavais.


Mas os cadernos do tempo
ditam o fôlego e o prazo:

ele corre maratona.
Ela, cem metros rasos.


******************************************************



Quando a saudade bater

digam que não estou.


Que murchei

que tenho lepra câncer virose grave

escarlatina lombriga

digam qualquer coisa.


Digam que sumi.


Que troquei de nome.


Que morri de fome.


Que roubaram

o que era meu.


Quando a saudade bater

troquem as fechaduras

coloquem grades na porta.


Mudem o número

do casulo. Não moro mais lá.


Agora é um número qualquer.

Um número assim: #$%#*&.


Uma rua qualquer,

uma chave perdida

no bolso da distância.


A saudade que escolha

o endereço.


Aqui não.





Mais informações sobre Jaime Vaz Brasil, você encontra aqui







domingo, outubro 26

Tela: La doma/ Juan Manuel Blanes



Hora dessas eu largo o freio
e laço aquele tordilho
me sento no seu arreio
e tiro ele dos trilhos.

Mas, nem que eu leve um tombo
e rasgue minhas meias finas,
ainda galopo naquele lombo
agarrada às suas crinas.

(Marilda Confortim)

sexta-feira, outubro 24


Imóvel

Meu coração tem vista pro mar.
Sacada ampla, bem iluminada.
Meu coração tem uma arquitetura intrincada.
Quebra-cabeça, jogo de armar..

Meu coração tem janelas pro norte
e portas pro sul.
Uma parede é vermelha,
outra amarela,
aquela azul.
Meu coração tem pomar, jardim e um roseiral.
Tem clarabóia e luz zenital.
É um coração tipo sítio, sabe?
Umas vaquinhas no pasto
e um pé de abacate.

Meu coração está sempre bem arrumado,
faxina todo santo dia.
Poeira não junta em minha prataria.

Meu coração já esteve à venda,
já foi alugado, já teve invasão.
Hoje, compadre, não entrego não...

Olha aqui o recibo de quitação!

moacir caetano

quinta-feira, outubro 23

Fernando Pessoa de forma diferente


wordle


Andorinha que vais alta,
Por que não vens me trazer
Qualquer coisa que me falta
E que te não sei dizer?







quarta-feira, outubro 22

Tela: Salvador Dali - Woman at the window

Nasci lá na Bahia
De Mucama com feitor
Meu pai dormia em cama
Minha mãe no pisador
Meu pai só dizia assim, venha cá
Minha mãe dizia sim, sem falar
Mulher que fala muito perde logo seu amor
Deus fez primeiro o homem
A mulher nasceu depois
Por isso é que a mulher
Trabalha sempre pelos dois
Homem acaba de chegar, tá com fome
A mulher tem que olhar pelo homem
E é deitada, em pé, mulher tem é que trabalhar
O rico acorda tarde, já começa resmungar
O pobre acorda cedo, já começa trabalhar
Vou pedir ao meu Babalorixá
Pra fazer uma oração pra Xangô
Pra por pra trabalhar gente que nunca trabalhou

Maria Moita
Nara Leão

Composição (Carlos Lyra e Vinícius de Moraes)




Ganhei mais um selinho! Desta vez, da blogueira Aline Christal, que é Porto-alegrense como eu e que descobri há pouco . Este daí:


Também gostaria de dizer que vou reunir minhas fotos daqui para frente
aqui
Apenas fotos. Sem poesia!
Sejam bem-vindos, sempre!

terça-feira, outubro 21

Presentes da amiga blogueira

Lunna que transcrevo abaixo da foto que é minha






"Fito os olhos pela janela

Entreaberta
Sempre ela...
Janela do mundo
Sem ponteiros
Sem pressa
Sem ausências.

Apenas janela
Aberta para o sol ...
que nem sempre esta lá
Quando espio o mundo por ali
No canto ausente de tudo!

E quando fecho suas persianas
Ouço o vento chamar meu nome
E cabisbaixa reluto...
Quero o mundo ausente por alguns segundos!

Feliz aniversário caríssima".



E dela também, mais um selo para meu cantinho:


Comecei bem a semana!


Vou passá-lo para os seguintes blogs:

cynthia lopes

aline christall

laurahlua

e

marcia(clarinha)

Pela originalidade, criatividade e conteúdo de seus blogs.

segunda-feira, outubro 20


o
silêncio
compensa
os gritos retidos no tempo

o
silêncio
é a palavra
dos que precisam
dizer nada

o
silêncio
é a recompensa
da alma lavada

domingo, outubro 19

Excepcionalmente, hoje tem duas postagens




Porquê???

Eduarda faz 3 anos
e
João Pedro está quase pronto.






Nick e o paninho-chupeta



:o)
até ele encontrar a posição correta leva um certo tempo.

sábado, outubro 18

Viver no interior

...tem lá seu encanto. Quando é Primavera por onde você anda, encontra maravilhas!
Tapetes de flores da Bougaivillea (Três-Marias) enfeitando as calçadas. É, ao invés de cocô de cachorro, pisa-se sobre flores!!!

quinta-feira, outubro 16

Putz!!

Desenho de Orlando, El Poderoso, que não me deixa esquecer esta verdade!

terça-feira, outubro 14

Foto sem crédito



em ausências me perdi

palavras passam por mim

não as alcanço

não as tenho

são como plumas

perfumadas feito brumas

em um bailar calendoscopico

um móbile a céu aberto

dos tamanhos mais diversos

tatuando o céu.

e eu de cá

daqui

nesse meu lugar

nessa minha ausência submersa

nesse caos organizado

observo.



aline

segunda-feira, outubro 13

Foto: Pixdaus



devia ser proibido
uma saudade tão má
de uma pessoa tão boa
falar, gritar, reclamar
se a nossa voz não ecoa
dizer não vou mais voltar
sumir pelo mundo afora
alguém com tudo pra dar
tirar o seu corpo fora
devia ser proibido
estar do lado de cá
enquanto a lembrança voa
reviver, ter que lembrar
e calar por mais que doa
chorar, não mais respirar (ar)
dizer adeus, ir embora
você partir e ficar
pra outra vida, outra hora
devia ser proibido...

Alice Ruiz

domingo, outubro 12








Foto: Pixdaus

poesia e boemia
se dão muito bem
começam trocando as letras
e acabam trocando as pernas
















daqui a pouco

cem mil anos

se passaram

e quem somos

nós

daqui a pouco

um segundo não é mais

nem muito

nem pouco

daqui a pouco

tudo tem outro nome

outra cor

outro

corpo


(arrudA)

sábado, outubro 11



Foto: Kosta Trimovski


Assombros

Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem no lado esquerdo do meu peito.

Fora, não se dão conta os desatentos.

Entre a aorta e o omoplata rolam
alquebrados sentimentos.

Os mais íntimos
Já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente asombro.


(Affonso Romano de Sant'Anna)

sexta-feira, outubro 10

De Mário Quintana para Érico Veríssimo


Havia uma escada que parava de repente no ar
Havia uma porta que dava para não se sabia o quê
Havia um relógio onde a morte tricotava o tempo

Mas havia um arroio correndo entre os dedos
buliçosos dos pés

E pássaros pousados nas pautas dos fios do telégrafo

E vento!

O vento que vinha desde o princípio do mundo
Estava brincando com teus cabelos

quinta-feira, outubro 9




"Nada de coisas impossíveis para que a vida possa ser mais bem vivida.
Apenas uma praia para janeiro, uma fantasia para fevereiro, um conhaque para junho, um livro para agosto e as mesmas vontades para dezembro.
No mais continuarei a manter certas esperanças incofessáveis porém passíveis - o quanto - de acontecer".

Sérgio Porto, o Estanislau Ponte Preta,
postado originalmente no blog da Márcia/Clarinha

quarta-feira, outubro 8

Foto: Bennystr, Fotothing Member

Voando baixo

Um dia sonhei
que podia voar
Estar acima
de toda loucura
desse mundo...
Voar...
Era tudo que eu mais queria
Em meio a tanta correria
Pairar no ar
Parar pra descansar...
Um caça passou rasgando os céus
E eu deixei essa idéia pra lá:
fui voando atrás dele!
Fui correndo!
Não posso parar!
Culpa da tecnologia
da engenharia
da supremacia
dos homens
Não precisaram cortar minhas asas:
só bastou virá-las...
Meu caça tem suas asas
de cabeça pra baixo
Não posso estar acima
Só à frente
Eu, a 300Km/h...
Fazendo curvas pra esquerda...
Não posso sair do chão...
Minha mente, a mil...
E sem rumo...
Só queria voar...

J.F. de Souza

terça-feira, outubro 7

Foto: Pixdaus

quando amar
não tem siso
n
a
u
f
r
a
g
a
r

é preciso


(Múcio Góes)




segunda-feira, outubro 6


"Como o tempo custa a
passar quando a gente espera!
Principalmente quando venta.
Parece que o vento maneia
o tempo"

(Érico Veríssimo)



domingo, outubro 5

Sou coruja assumida, ora....







Subir até o azul,
descer até o inferno,
são coisas simples
que no fundo, eu quero
Ir, sem ir. Ficar,
passando. Passar assim,
como quem passa,
amando.
A viagem que não fiz
dói dentro de mim
assim como a raiz
de uma árvore sem fim.

Paulo Leminski

sábado, outubro 4


isso tudo que você me diz

sem dizer nada

é o ponto cego dessa cicatriz

costura frágil

caminhada

isso tudo que você me diz

sem dizer nada

é o silencio que dói na raiz

é o silencio


pedindo a palavra


(arrudA)

sexta-feira, outubro 3

Repeteco de postagem

Foto: Roberto Cohen


Há ilusões perdidas mas tão lindas que a gente
as vê como esses balõezinhos de cor que
nos escapam das mãos e desaparecem no céu...

(Mario Quintana)

quinta-feira, outubro 2

Foto: escultura em mármore de Adamo Tadolini (1789/1868)

alvo errado


estúpido é o cupido,

pensando que sou alvo

em mim é bate e volta

não fica nada

sou imaginária

mudo, transmuto

fico translúcida

insana, demente

pessoa (in)certa

(…)

Não sobra nada

e nada existe

a não ser a lembrança

de tudo o que não vivi.



aline

quarta-feira, outubro 1

Jean Gabin - MAITENANT JE SAIS





Quand j'étais gosse, haut comme trois pommes,
J'parlais bien fort pour être un homme
J'disais, JE SAIS, JE SAIS, JE SAIS, JE SAIS

C'était l'début, c'était l'printemps
Mais quand j'ai eu mes 18 ans
J'ai dit, JE SAIS, ça y est, cette fois JE SAIS

Et aujourd'hui, les jours où je m'retourne
J'regarde la terre où j'ai quand même fait les 100 pas
Et je n'sais toujours pas comment elle tourne !

Vers 25 ans, j'savais tout : l'amour, les roses, la vie, les sous
Tiens oui l'amour ! J'en avais fait tout le tour !

Et heureusement, comme les copains, j'avais pas mangé tout mon pain :
Au milieu de ma vie, j'ai encore appris.
C'que j'ai appris, ça tient en trois, quatre mots :

"Le jour où quelqu'un vous aime, il fait très beau,
j'peux pas mieux dire, il fait très beau !

C'est encore ce qui m'étonne dans la vie,
Moi qui suis à l'automne de ma vie
On oublie tant de soirs de tristesse
Mais jamais un matin de tendresse !

Toute ma jeunesse, j'ai voulu dire JE SAIS
Seulement, plus je cherchais, et puis moins j' savais

Il y a 60 coups qui ont sonné à l'horloge
Je suis encore à ma fenêtre, je regarde, et j'm'interroge ?

Maintenant JE SAIS, JE SAIS QU'ON NE SAIT JAMAIS !

La vie, l'amour, l'argent, les amis et les roses
On ne sait jamais le bruit ni la couleur des choses
C'est tout c'que j'sais ! Mais ça, j'le SAIS... !

(Paroles: Jean-Loue Dabadie 1974)