Acordei cedo no domingo. A manhã estava bastante ensolarada, mas isso eu só vim descobrir depois, já que mantive a casa totalmente fechada e só abri as janelas quando o calor começava a se tornar insuportável. Eu gostava de acordar cedo no domingo, pois nada nem ninguém me cortava a paz nessas ocasiões. Não havia telefonemas, nem mendigos batendo a porta. Não havia garotas gritantes indo para a escola nas ruas. Nas calçadas, só se somava lixo. No asfalto, somente a poeira trazida de outros confins pelos carros. No ar, nada mais além do fedor da noite cheia de sábado, dos bares, traillers, dos transeuntes fumantes, maconheiros, das garrafas de álcool quebradas. A madrugada de sábado era movimentada na rua onde morava. A manhã de domingo, contudo, era o completo inverso. Todos estavam ressacados em suas casas. Na rua, só sobravam os estragos da noite.
O sossego das manhãs dominicais me permitia escrever livremente. E eu me sentia muito entusiasmado para escrever. Escrevia para blogs, escrevia para uma revista, era publicado em jornais, mandava meus contos para páginas na internet. A maioria publicava de graça, quando muito. Mas eu sabia, era um desejo, era, talvez, uma meta - ainda que não fosse uma meta tão bem traçada, mas era uma meta -, eu ainda haveria de receber pelo que compunha, sabia que ainda haveria de me tornar um escritor. Não um escritor amador, pois isto já sou, não um escritor de amenidades, mas um escritor profissional, destacado, eu apenas viveria para escrever e seria remunerado por isso. E não demoraria. Mas mesmo meu enstusiasmo não foi suficiente para que eu desse seqüência ao conto que estava produzindo. Isso porque eu teria um compromisso pela tarde, e eu não consigo começar a escrever sabendo que terei de parar num determinado momento. Não conseguia me recordar de que se tratava o compromisso. Fiquei tentando me lembrar. Enquanto isso, não tinha comida nem bebida em casa, não tinha sequer água. Peguei o copo e fui a uma torneira nos fundos para matar a sede. Precisava de dinheiro. Eu ainda estava muito emputecido, pois dois dias antes fora depositado em minha conta 1200 reais, contemplando três meses de salários atrasados. O meu saldo no banco, porém, era negativo e o valor da dívida se sobrepunha ao do depósito. Sendo assim, eles comeram todo o meu dinheiro, sem dó - e ainda permaneci devendo.
As minhas fontes de renda foram sempre muito incertas. Quando trabalhava, não recebia. Quando trabalhava e recebia, o valor era baixo. Quando não trabalhava, ralava com o que fosse possível. Não conseguia empregos em lugar nenhum; vivia pulando de estágio em estágio, não importa para que atividade fosse. No momento em que me vi outra vez com tão pouco dinheiro, não tinha muito a fazer. Só existia um lugar onde eu poderia comer e beber naquela situação. Fui, então, procurar um bar, poderia satisfazer minhas necessidades, claro, dependente da cortesia dos presentes ou do dono do estabelecimento.
Os bares estavam fechados.
Voltei pra casa extremamente contrariado. Queria beber ou comer algo, mas não havia nada. Só uma coisa poderia suprir minha míngua: a leitura. Mas em casa não seria possível. Todos os livros da estante já haviam sido lidos - e, boa parte, relidos -, ainda que o conteúdo nem sempre me agradasse. Eu não tinha dinheiro para comprar bons livros, quase todos eles haviam sido adquiridos em sebos - ainda assim, os bons livros disponíveis em sebos estão estrategicamente com valores mais elevados. Eu comprava, então, qualquer coisa que parecesse minimamente interessante às primeiras folheadas, e só em casa em descobriria que nada valia. Escritores americanos, asiáticos, europeus - quanta bobagem! Ou mesmo os brasileiros - mais ainda meus conterrâneos potiguares, dos quais ainda comprei algo esperando ver coisas boas. No fim das contas, tinha vários livros, talvez umas três centenas, mas nada que me alimentasse a inteligência. Quando eu achava que estava escrevendo mal, perdendo o jeito para a coisa, bastava que eu lesse tais escritores; eu veria que não tinha com que me preocupar. Ninguém tinha nada a dizer.
Tentei dormir, mas não cheguei a cair no sono. Sentia-me muito desconfortável. No momento, lembrei-me de uma velha piada, que dizia que "morar sozinho e fugir de casa era o cúmulo da rebeldia". Que asneira! Só mesmo quem nunca viveu sozinho para achar uma rebeldia o ato de querer fugir de casa nessas condições. A casa é um lugar tão sufocante... No meu caso pelo menos, já não conseguia mais me manter deitado e fingindo acreditar que estava seguro e confortável. Decidi sair.
Eu tinha uma motoca, muito econômica, que ao menos fazia com que o deslocamente não me fosse um problema. A hora já passava do meio-dia, peguei uns poucos trocados, então, e saí. Iria para o primeiro lugar que se me apresentasse.
Fui a uma livraria e detive-me a ler alguns autores consagrados, ansioso com o dia em que poderia tê-los em casa, numa biblioteca particular, sempre ali, disponíveis para oferecer seu talento à minha necessidade no momento em que eu achasse que precisava; mas, mais ainda, ansioso com o dia em que seria eu o escritor, eu o publicado, meu livro o manuseado. Meu nome não somente a enfeitar prateleiras de livrarias e bibliotecas, mas exigente de uma estante própria, de tantas edições destacadas que teriam, e de tantos ávidos leitores que entrariam no estabelecimento e seguiriam direto para ele.
Eu gostava de ler alguns clássicos, gostava da literatura marginal, e de tanta coisa. Mas até os escritores marginais de outrora são cult's hoje. O pop conseguiu embolar tudo no mesmo pacote, até mesmo aqueles que dizem nadar contra a corrente. E eu me preocupava com a banalização de meu nome, de meu belo e vigoroso nome, de minha literatura sagaz, ainda que imperfeita, sendo reduzida a um nicho cor-de-rosa, rotulado e movido a marketing de quinta categoria.
Pausei minha leitura para tirar esses pensamentos perturbadores da cabeça e fiquei a olhar para o ambiente, para os atendentes, os clientes. Notei especialmente uma garota, ali na seção de Literatura Estrangeira - eu me encontrava na seção de livros de bolso, aqueles que continham as traduções mais mixurucas, mas que eram os que eu vislumbrava adquirir. Observei a garota, cujo rosto não me parecia totalmente estranho. Era bonita, tinha o cabelo curto, bem curto, acima do pescoço, certamente muito cheiroso, e deixava a nuca à mostra. Enquanto a observava, ficava me culpando por ser tão preconceituoso com as garotas. Porque, de fato, eu o era bastante. Cresci sob um universo masculinizado. Até os 13 anos, pouco tivera contato com o mundo feminino. A única coisa que sabia - ou que pensava saber - das mulheres era a partir das revistas femininas da minha mãe. Com essa idade, recém-ingresso na vida adolescente, eu já achava que sabia de tudo delas, e já me considerava ciente de que não representavam muita coisa. Esses pensamentos somente se elevavam quando eu visitava sebos e notava que as próprias responsáveis nada sabiam de nada: "Rubem Fonseca? Olha... Não sei se tem". "Sartre? Como é?! Sar-tre? É brasileiro?" Que ignorantes!, exclamava eu em pensamento!
A garota saiu, então, da seção de Literatura e foi para as revistas. Levantei-me, então, e segui até ela, pondo-me ao seu lado. Fiquei passando as páginas de umas e outras revistas, enquanto, à espreita, a vigiava fazendo a mesma coisa. Notei que ela pegou uma revista, uma que incluía um conto meu. Isso me embaraçou num instante, fiquei nervoso, ainda que ela nem tivesse notado direito a minha presença. Mas ela era esperta.
- Está espionando o que faço? - perguntou. Achei que estivesse sendo simpática, mas sua face não nem demonstrava nenhum senso de humor. Não gosto desse ar meio enigmático, pensei na hora.
- Ah, não... É que escrevo para essa revista, essa que você está manuseando e, sabe...
- O que você escreve?
- Contos.
- Não gosto de contos; prefiro romances.
- Eu também - menti. - Mas não convinha colocar um romance numa revista...
- Você já escreveu algum romance?
- Ainda não.
Ela continuou a ler e eu não dei seqüência à conversa. Na verdade, sentia uma certa aflição. Ela ainda rompeu o mutismo entre nós, talvez tentando manter a conversa que eu imaginei morta desde o começo.
- Por que você não fala mais?
- Não tenho o que falar. Acho que por não falar tanto é que eu escrevo.
- Uma coisa tem a ver com a outra, para você?
- Claro... A Literatura é a rebelião organizada contra a fala, nunca ouviu dizer?
Ela riu e me deu um marcador de páginas com pensamentos sobre a Literatura. E me apontou um.
- Prefiro esse - disse. - "A Literatura é a confissão de que a vida não basta".
O celular dela tocou discretamente, o telefonema foi bastante breve, depois ela apenas me disse seu nome e se despediu em seguida.
Eu lhe propus acompanhá-la, mas ela assegurou não ser necessário. Permaneci na livraria, sozinho, absorto em divagações, quando foi a vez do meu celular tocar. Era uma outra garota. Lembrei-me, então, do compromisso que eu teria para o domingo! Eu sairia com essa que agora me ligava - aliás, somente sairia. O propósito do telefonema que recebi era justamente desmarcar o compromisso. Eu não fiz objeção, embora soubesse que a justificativa era falaz. Ela fez questão de que remarcássemos para algum outro dia, e assim fizemos, mas, de minha parte, sem grandes esperanças de que ele viesse a se concretizar.
Comi uma besteira barata num carrinho de lanches qualquer e fui pra casa, era o início da noite, e já estava com parte de meu apetite para comida e para leitura saciado. No longo caminho que traçava pela BR 101, eu observava as prostitutas que começavam a se acumular às margens da rodovia. Depois do compromisso cancelado via telefone, havia reflorescido em mim um desalento com as garotas. Seguia e observava agora as meretrizes e pensava o quanto eram sujas. Mas, por sujas que fossem, eram mais limpas do que eu, que tinha uma mente para vender, enquanto elas não vendiam mais do que um pobre pedaço de carne.
O sossego das manhãs dominicais me permitia escrever livremente. E eu me sentia muito entusiasmado para escrever. Escrevia para blogs, escrevia para uma revista, era publicado em jornais, mandava meus contos para páginas na internet. A maioria publicava de graça, quando muito. Mas eu sabia, era um desejo, era, talvez, uma meta - ainda que não fosse uma meta tão bem traçada, mas era uma meta -, eu ainda haveria de receber pelo que compunha, sabia que ainda haveria de me tornar um escritor. Não um escritor amador, pois isto já sou, não um escritor de amenidades, mas um escritor profissional, destacado, eu apenas viveria para escrever e seria remunerado por isso. E não demoraria. Mas mesmo meu enstusiasmo não foi suficiente para que eu desse seqüência ao conto que estava produzindo. Isso porque eu teria um compromisso pela tarde, e eu não consigo começar a escrever sabendo que terei de parar num determinado momento. Não conseguia me recordar de que se tratava o compromisso. Fiquei tentando me lembrar. Enquanto isso, não tinha comida nem bebida em casa, não tinha sequer água. Peguei o copo e fui a uma torneira nos fundos para matar a sede. Precisava de dinheiro. Eu ainda estava muito emputecido, pois dois dias antes fora depositado em minha conta 1200 reais, contemplando três meses de salários atrasados. O meu saldo no banco, porém, era negativo e o valor da dívida se sobrepunha ao do depósito. Sendo assim, eles comeram todo o meu dinheiro, sem dó - e ainda permaneci devendo.
As minhas fontes de renda foram sempre muito incertas. Quando trabalhava, não recebia. Quando trabalhava e recebia, o valor era baixo. Quando não trabalhava, ralava com o que fosse possível. Não conseguia empregos em lugar nenhum; vivia pulando de estágio em estágio, não importa para que atividade fosse. No momento em que me vi outra vez com tão pouco dinheiro, não tinha muito a fazer. Só existia um lugar onde eu poderia comer e beber naquela situação. Fui, então, procurar um bar, poderia satisfazer minhas necessidades, claro, dependente da cortesia dos presentes ou do dono do estabelecimento.
Os bares estavam fechados.
Voltei pra casa extremamente contrariado. Queria beber ou comer algo, mas não havia nada. Só uma coisa poderia suprir minha míngua: a leitura. Mas em casa não seria possível. Todos os livros da estante já haviam sido lidos - e, boa parte, relidos -, ainda que o conteúdo nem sempre me agradasse. Eu não tinha dinheiro para comprar bons livros, quase todos eles haviam sido adquiridos em sebos - ainda assim, os bons livros disponíveis em sebos estão estrategicamente com valores mais elevados. Eu comprava, então, qualquer coisa que parecesse minimamente interessante às primeiras folheadas, e só em casa em descobriria que nada valia. Escritores americanos, asiáticos, europeus - quanta bobagem! Ou mesmo os brasileiros - mais ainda meus conterrâneos potiguares, dos quais ainda comprei algo esperando ver coisas boas. No fim das contas, tinha vários livros, talvez umas três centenas, mas nada que me alimentasse a inteligência. Quando eu achava que estava escrevendo mal, perdendo o jeito para a coisa, bastava que eu lesse tais escritores; eu veria que não tinha com que me preocupar. Ninguém tinha nada a dizer.
Tentei dormir, mas não cheguei a cair no sono. Sentia-me muito desconfortável. No momento, lembrei-me de uma velha piada, que dizia que "morar sozinho e fugir de casa era o cúmulo da rebeldia". Que asneira! Só mesmo quem nunca viveu sozinho para achar uma rebeldia o ato de querer fugir de casa nessas condições. A casa é um lugar tão sufocante... No meu caso pelo menos, já não conseguia mais me manter deitado e fingindo acreditar que estava seguro e confortável. Decidi sair.
Eu tinha uma motoca, muito econômica, que ao menos fazia com que o deslocamente não me fosse um problema. A hora já passava do meio-dia, peguei uns poucos trocados, então, e saí. Iria para o primeiro lugar que se me apresentasse.
Fui a uma livraria e detive-me a ler alguns autores consagrados, ansioso com o dia em que poderia tê-los em casa, numa biblioteca particular, sempre ali, disponíveis para oferecer seu talento à minha necessidade no momento em que eu achasse que precisava; mas, mais ainda, ansioso com o dia em que seria eu o escritor, eu o publicado, meu livro o manuseado. Meu nome não somente a enfeitar prateleiras de livrarias e bibliotecas, mas exigente de uma estante própria, de tantas edições destacadas que teriam, e de tantos ávidos leitores que entrariam no estabelecimento e seguiriam direto para ele.
Eu gostava de ler alguns clássicos, gostava da literatura marginal, e de tanta coisa. Mas até os escritores marginais de outrora são cult's hoje. O pop conseguiu embolar tudo no mesmo pacote, até mesmo aqueles que dizem nadar contra a corrente. E eu me preocupava com a banalização de meu nome, de meu belo e vigoroso nome, de minha literatura sagaz, ainda que imperfeita, sendo reduzida a um nicho cor-de-rosa, rotulado e movido a marketing de quinta categoria.
Pausei minha leitura para tirar esses pensamentos perturbadores da cabeça e fiquei a olhar para o ambiente, para os atendentes, os clientes. Notei especialmente uma garota, ali na seção de Literatura Estrangeira - eu me encontrava na seção de livros de bolso, aqueles que continham as traduções mais mixurucas, mas que eram os que eu vislumbrava adquirir. Observei a garota, cujo rosto não me parecia totalmente estranho. Era bonita, tinha o cabelo curto, bem curto, acima do pescoço, certamente muito cheiroso, e deixava a nuca à mostra. Enquanto a observava, ficava me culpando por ser tão preconceituoso com as garotas. Porque, de fato, eu o era bastante. Cresci sob um universo masculinizado. Até os 13 anos, pouco tivera contato com o mundo feminino. A única coisa que sabia - ou que pensava saber - das mulheres era a partir das revistas femininas da minha mãe. Com essa idade, recém-ingresso na vida adolescente, eu já achava que sabia de tudo delas, e já me considerava ciente de que não representavam muita coisa. Esses pensamentos somente se elevavam quando eu visitava sebos e notava que as próprias responsáveis nada sabiam de nada: "Rubem Fonseca? Olha... Não sei se tem". "Sartre? Como é?! Sar-tre? É brasileiro?" Que ignorantes!, exclamava eu em pensamento!
A garota saiu, então, da seção de Literatura e foi para as revistas. Levantei-me, então, e segui até ela, pondo-me ao seu lado. Fiquei passando as páginas de umas e outras revistas, enquanto, à espreita, a vigiava fazendo a mesma coisa. Notei que ela pegou uma revista, uma que incluía um conto meu. Isso me embaraçou num instante, fiquei nervoso, ainda que ela nem tivesse notado direito a minha presença. Mas ela era esperta.
- Está espionando o que faço? - perguntou. Achei que estivesse sendo simpática, mas sua face não nem demonstrava nenhum senso de humor. Não gosto desse ar meio enigmático, pensei na hora.
- Ah, não... É que escrevo para essa revista, essa que você está manuseando e, sabe...
- O que você escreve?
- Contos.
- Não gosto de contos; prefiro romances.
- Eu também - menti. - Mas não convinha colocar um romance numa revista...
- Você já escreveu algum romance?
- Ainda não.
Ela continuou a ler e eu não dei seqüência à conversa. Na verdade, sentia uma certa aflição. Ela ainda rompeu o mutismo entre nós, talvez tentando manter a conversa que eu imaginei morta desde o começo.
- Por que você não fala mais?
- Não tenho o que falar. Acho que por não falar tanto é que eu escrevo.
- Uma coisa tem a ver com a outra, para você?
- Claro... A Literatura é a rebelião organizada contra a fala, nunca ouviu dizer?
Ela riu e me deu um marcador de páginas com pensamentos sobre a Literatura. E me apontou um.
- Prefiro esse - disse. - "A Literatura é a confissão de que a vida não basta".
O celular dela tocou discretamente, o telefonema foi bastante breve, depois ela apenas me disse seu nome e se despediu em seguida.
Eu lhe propus acompanhá-la, mas ela assegurou não ser necessário. Permaneci na livraria, sozinho, absorto em divagações, quando foi a vez do meu celular tocar. Era uma outra garota. Lembrei-me, então, do compromisso que eu teria para o domingo! Eu sairia com essa que agora me ligava - aliás, somente sairia. O propósito do telefonema que recebi era justamente desmarcar o compromisso. Eu não fiz objeção, embora soubesse que a justificativa era falaz. Ela fez questão de que remarcássemos para algum outro dia, e assim fizemos, mas, de minha parte, sem grandes esperanças de que ele viesse a se concretizar.
Comi uma besteira barata num carrinho de lanches qualquer e fui pra casa, era o início da noite, e já estava com parte de meu apetite para comida e para leitura saciado. No longo caminho que traçava pela BR 101, eu observava as prostitutas que começavam a se acumular às margens da rodovia. Depois do compromisso cancelado via telefone, havia reflorescido em mim um desalento com as garotas. Seguia e observava agora as meretrizes e pensava o quanto eram sujas. Mas, por sujas que fossem, eram mais limpas do que eu, que tinha uma mente para vender, enquanto elas não vendiam mais do que um pobre pedaço de carne.