não abras.
Pode ser que encontres
o que não buscavas
nem esperavas.(...) Descuidosa, a porta
apenas cerrada
pode te contar
conto que não queres
saber.
Cuidado - Carlos Drummond
Sangue e navalha jogada ao chão: pedaços da cruz, ferramentas do ocaso.
Uma nuvem pairou dentro da cabeça do menino.
Criou-se um dilúvio e levou-lhe bons momentos:
(Revolução, utopia e Rock and Roll)
( Poesia, Platonismo e Marilyn Monroe)
Trinta anos, despedidas – um cachorro vai e volta.
E no quarto a cabeça semi nua e meio morta.
Qual a chuva destes tempos poderia despertá-lo?
Não há volta – tempestades se aproximam e vão roubá-lo.
(Saúde, tolerância e a bíblia na gaveta)
( Dinheiro, a família e nem ficou a escopeta)
Na cabeça sem escolha só o “diabo” atormenta.
Sem a casa e sem os filhos o mundo é a sentença.
Sair pelos becos à procura do ladrão.
A nuvem é esperta e sempre está na contra mão.
( Sem roupas, sem sapatos e sem documentos)
( Sem nome, sem templo e sem fundamentos)
Já velho, sozinho e sem esperança.
Encontrou seu inimigo e foi embora a vingança.
A nuvem era o óbvio – regras inconscientes.
Com a descoberta vieram os presentes:
Revolução, utopia e Rock and Roll
Poesia, Platonismo e Marilyn Monroe
Ter nascido me estragou a saúde
Não posso absover as dores de um mundo masoquista. Busco a paz, mas a moda assassinou a mulher que não quis entregar-se as ferramentas cirurgicas. Toda quinta-feira analiso o lixo da vizinhança: 80% alimento. Não sou ecologicamente correta, não sou biologicamente correta e nem logicamente correta. Não tenho cor, não tenho raça, meus braços são tortos, minha pele foi transformada em pergaminhos de propaganda. Abandonei bandeiras, silenciei meus votos, fechei as portas, dei descarga na minha ingenuidade. Cadê os deuses? Alguém de fato foi heroí? Existiu um Messias? Onde está sua casa? Você é saudável? Por quantas horas vendemos nossa força de trabalho? E depois? E agora? E antes? O que seus filhos herdarão? Senzalas?